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Journal of Human Growth and Development

Print version ISSN 0104-1282On-line version ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.31 no.2 Santo André May/Aug. 2021

http://dx.doi.org/10.36311/jhgd.v31.11279 

ARTIGO ORIGINAL

 

A marcha de base alargada na síndrome de Down e a relação com o engatinhar e os primeiros passos: um estudo transversal

 

 

Camila ValeroI; Zan MustacchiII, III; Patrícia M. BezerraI; Francisco W. S. FigueiredoIV; Patricia Merly MartinelliIV; Alzira A. S. CarvalhoV; David FederVI

ICentro Universitário FMABC - Santo André/SP, Brazil;
IISetor de Genética do Hospital Infantil Darcy Vargas, São Paulo/SP, Brazil;
IIICentro de Estudos e Pesquisas Clínicas (CEPEC) - São Paulo (SP), Brazil;
IVDepartamento de Epidemiologia e Análise de Dados do Centro Universitário FMABC, Santo André/ SP, Brazil;
VDepartamento de Neurologia do Centro Universitário FMABC, Santo André/SP, Brazil;
VIDepartamento de Farmacologia do Centro Universitário FMABC, Santo André/SP, Brazil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: As pessoas com síndrome de Down (SD) apresentam diferentes padrões de marcha, incluindo algumas características específicas como a marcha de base alargada
OBJETIVO: O objetivo deste estudo foi analisar a relação entre a marcha de base alargada e a aquisição motora engatinhar em quatro apoios adquiridas antes da marcha em crianças com SD, bem como a provável associação desta marcha com gênero, etnia, comorbidades e tratamentos de fisioterapia e terapia ocupacional
MÉTODO: Neste estudo transversal, foram selecionados 361 indivíduos que apresentaram ou não marcha de base alargada. Um questionário on-line foi administrado para pais / responsáveis destas crianças
RESULTADOS: O engatinhar em quatro apoios diminuiu a prevalência da marcha de base alargada em crianças com SD. Quanto maior o tempo em meses para os primeiros-passos, maior a prevalência de base alargada, sendo que, a cada mês de atraso, a prevalência aumenta em 7%. Foi observada significância entre as alterações ortopédicas em joelhos e pés planos e a marcha de base alargada. Não foi encontrada significância relacionada a gênero, etnia, outras comorbidades, fisioterapia ou terapia ocupacional
CONCLUSÃO: Os achados deste estudo mostraram que o aparecimento da base alargada pode estar relacionado às aquisições motoras, engatinhar em quatro apoios, e aos primeiros passos

Palavras-chave: Síndrome de Down, marcha, locomoção, destreza motora, postura.


 

 

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

A síndrome de Down envolve características específicas no desenvolvimento motor que requerem uma intervenção precoce. A marcha torna-se um importante marco do desenvolvimento motor. Na verdade, indivíduos com SD apresentam diferentes padrões de marcha, como a base alargada. Este estudo investigou a possível relação entre o engatinhar em quatro apoios e este padrão de marcha, bem como a associação entre a marcha de base alargada e outras comorbidades e tratamentos específicos.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

Nós elaboramos um questionário online para pais e responsáveis da criança com síndrome de Down com questões relacionadas a gênero, etnia, complicações neonatais, alterações: cardíacas, ortopédicas, visuais, auditivas e neurológicas, intervenções de fisioterapia e terapia ocupacional, padrões motores e aquisições motoras. De acordo com a análise deste estudo, foi possível perceber a relação entre a marcha de base alargada e a aquisição do engatinhar em quatro apoios antes da marcha na síndrome de Down. Há uma associação entre os primeiros passos e a base alargada. Alterações ortopédicas em joelhos e pés planos demonstraram relação com a marcha de base alargada.

O que essas descobertas significam?

Os terapeutas devem priorizar as aquisições engatinhar em quatro apoios e os primeiros passos para prevenir futuras alterações na marcha. Os pais e responsáveis, por sua vez, devem também estimular a criança a alcançar todos os estágios do desenvolvimento motor.

 

INTRODUÇÃO

No Brasil, a síndrome de Down (SD), também definida como Trissomia 21 (T21) tem uma prevalência de 1 para cada 600/800 nascimentos, sendo uma das principais causas do aparecimento de deficiência1. A presença do cromossomo extra no par 21 está associada com características físicas e anatômicas facilmente identificadas, acompanhadas de alterações: cardíacas, ortopédicas, visuais, auditivas e neurológicas, desencadeando atraso no desenvolvimento motor2-4.

As pesquisas buscam encontrar parâmetros de desenvolvimento motor que acontece tardiamente para a criança com SD, quando comparado a crianças comuns. Estas alterações decorrem de uma deficiência de proliferação de dendritos e mielinização de estruturas corticais e subcorticais do cérebro, desencadeando disfunção sináptica generalizada5. Assim, a diferença de desenvolvimento motor aparece ao redor de quatro meses de idade, continuando a ampliar a complexidade de aumento de demandas motoras, sendo especialmente evidente em coativação muscular contra a gravidade, também dificultada pela hipotonia e frouxidão ligamentar decorrente da mesma4,6,7.

Um estudo envolvendo o Test of Infant Motor Performance (TIMP) e a Bayley Scales of Infant and Toddler Development (Bayley-III) mostrou que as crianças com SD têm dificuldades no controle postural precoce e em atividades que requerem velocidade, controle postural e balance8. Palisano et al.9 utilizaram a Gross Motor Function Measure (GMFM) para estudar o desenvolvimento motor entre crianças de 1 a 6 anos e concluíram que esta população necessita de mais tempo para o aprendizado de movimentos, sendo que a probabilidade do engatinhar (engatinhar reciprocamente para frente nas mãos e joelhos) aos 18 meses é de 34% e, aos 24 meses, é superior a 50%, de acordo com a GMFM.

Tudella et al.7 compararam a taxa de desenvolvimento motor em crianças com SD entre 3 e 12 meses, através da Alberta Infant Motor Scale (AIMS), concluindo que a sequência de desenvolvimento motor é a mesma em relação às crianças típicas, porém as crianças com SD necessitam de mais tempo para adquirir habilidades, principalmente as antigravitacionais, dentre elas as posturas prono, sentado e em pé. Outra pesquisa comparando bebês típicos e com SD revelou dificuldades destas crianças em prono, incluindo o engatinhar adquirido somente por 33%, sentadas e em pé, que requerem maior controle postural6.

Estes estudos descrevem os marcos do desenvolvimento motor nesta população, embora não relacionem determinadas aquisições motoras como o engatinhar e a marcha de base alargada com: gênero, etnia, comorbidades específicas e tempo de tratamento. Assim, planejamos um questionário para pais e/ou responsáveis por pessoas com SD com o objetivo de relacionar a marcha de base alargada e o engatinhar, com a hipótese que o engatinhar acarretaria menor risco ao desenvolvimento da marcha de base alargada. Esta pesquisa também analisou se a marcha de base alargada estaria relacionada com fatores como: gênero, etnia, comorbidades específicas associadas ao nascimento, alterações cardíaca, ortopédica, visual e auditiva; incluindo outras aquisições motoras e tratamentos de fisioterapia e terapia ocupacional.

 

MÉTODO

Desenho do estudo

Estudo transversal apresentado de acordo com as orientações do Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE) Guidance.

Cenário

Os dados foram coletados como parte de um grande estudo transversal na área de SD conduzido no Brasil nos anos de 2016 e 2017 durante 218 dias. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina do ABC sob nº 1.684.429.

De acordo com os requerimentos legais, o estudo foi discutido e aprovado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas de São Paulo (CEPEC), proprietário do site: www.sindromededown.com.br, onde o questionário para coleta de dados foi disponibilizado.

No site do CEPEC, uma pequena apresentação informou os pais e/ou responsáveis pelas pessoas com SD sobre o objetivo do estudo e voluntariado da participação. Para assegurar o anonimato, os nomes dos participantes não foram obtidos, impulsionando a abordagem de temas sensíveis10, expressando melhor os sentimentos, experiências e ações ao lidar com os filhos. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido estava no site e, ao iniciar o preenchimento do questionário, os participantes autorizaram automaticamente a análise e publicação dos resultados.

O questionário para a coleta dos dados da presente pesquisa foi disponibilizado de forma on-line, no idioma português, sob o título: "Pesquisa sobre o Desenvolvimento Motor em Crianças com síndrome de Down", incorporado ao conteúdo do site: www.sindromededown.com.br e divulgado na rede social Facebook, com a web link: https://www.survio.com/survey/d/B9P8H5G1U1X9Z1F5N. Um membro da equipe de pesquisa supervisionou o site até o término da coleta dos questionários. Todos os indivíduos que responderam às perguntas on-line foram selecionados para avaliação dos critérios de elegibilidade e, consequentemente, tornaram-se participantes da pesquisa.

Instrumento

Devido à lacuna da existência de ferramentas para as questões pesquisadas como instrumentos elaborados exclusivamente para a pessoa com SD, foi planejado pelos autores um questionário semiestruturado, abordando as áreas específicas de interesse. Para adequar o conteúdo, membros da equipe de pesquisadores especializados em SD discutiram os principais tópicos a serem abordados, havendo vários pré-testes antes da aprovação final.

O questionário contou com informações como data, hora e tempo para conclusão. Foi composto de perguntas abertas e fechadas em que os pais e/ou responsáveis assinalaram alternativas relacionadas ao gênero; apgar; intercorrências neonatais; etnia; alterações: cardíacas, ortopédicas, visuais, auditivas; tratamento de fisioterapia e terapia ocupacional; padrões motores: gato e em pé; aquisições motoras: engatinhar, marcha e marcha com base alargada. Entretanto, quando necessário, foram solicitadas respostas relacionadas a idades e/ou outras informações específicas. No caso particular do engatinhar, a figura de uma criança na postura gato em quatro apoios7 foi incluída, a fim de evitar qualquer tipo de divergência relacionada à compreensão do movimento engatinhar em quatro apoios.

O acesso online permitiu aos pais e/ou responsáveis a apresentação de informações de maneira mais abrangente, eficiente e econômica. Além disso, aquelas pessoas que anteriormente foram negligenciadas neste tipo de estudo, devido a longas distâncias que teriam que percorrer para participar, também puderam ser incluídas11.

Participantes

A amostra intencional foi representada por pais e/ou responsáveis por pessoas com SD, não havendo necessidade de confirmação de diagnóstico clínico em virtude das alterações fenotípicas serem bastante evidentes. Os participantes foram pais e/ou responsáveis por crianças que já haviam apresentado a aquisição motora engatinhar e a existência de base alargada ou não.

Variáveis

As variáveis independentes foram os dados referentes ao desenvolvimento motor da pessoa com SD, abordando informações referentes ao gênero; etnia; apgar; intercorrência neonatal; internação; alterações: cardíacas, respiratórias, neurológicas, visuais, auditivas e ortopédicas; tratamentos de fisioterapia e terapia ocupacional e as idades das aquisições de fases específicas do desenvolvimento motor: engatinhar, em pé com apoio e sem apoio, primeiros passos (alcance de três passos com independência12) e marcha independente. Todas estas variáveis citadas, em particular a aquisição motora, engatinhar em quatro apoios, foram relacionadas com a variável dependente marcha de base alargada..

Métodos estatísticos

Estatística descritiva padrão foi realizada. Para analisar a associação entre as características estudadas e a prevalência de base alargada das crianças com SD, utilizou-se o teste Qui-quadrado. Para estimar a magnitude dessa associação, utilizou-se regressão de Poisson com variância robusta.

Para as variáveis quantitativas, a aderência dos dados à distribuição normal foi analisada pelo teste de Shapiro-Wilk. Por não apresentar aderência à distribuição normal (Shapiro-Wilk, p<0,05), a mediana e intervalos de confiança de 95% foram utilizados para análise descritiva, e as diferenças medianas e respectivos intervalos de confiança de 95% foram estimadas por regressão interquartílica. O nível de significância foi de 5%. O software utilizado foi o Stata Student Lab Sciences (StataCorp LCC) versão 11.0.

 

RESULTADOS

Participantes

Neste estudo foram identificados 521 questionários preenchidos por pais e/ou responsáveis de pessoas com SD. Os 160 questionários que não relataram informações sobre a marcha de base alargada foram excluídos, resultando em uma amostra de 361 participantes, incluídos para análise. Dos 361 participantes estudados foi relatado o aparecimento de base alargada em 22,7% (n=82) (figura 1).

Descrição dos dados

De acordo com as características apresentadas na tabela 1, a maioria das crianças era do gênero masculino (52,9%; n=191), etnia branca (86%; n=310). As alterações cardíacas (58%) e visuais (43%) foram as mais expressivas. Em relação aos tratamentos relatados, a fisioterapia (96%) excedeu a terapia ocupacional (80%). Adicionalmente, não foram identificadas diferenças estatisticamente significantes entre as características sociodemográficas, comorbidades e tratamentos associados com a prevalência de base alargada na população estudada (tabela 1).

As alterações em joelhos (p=0,002) e pés planos (p=0,019) indicaram relação com a marcha de base alargada (tabela 2).

Foram encontradas significância entre as alterações ortopédicas de joelho e pés planos. A prevalência de base alargada aumenta em aproximadamente 2% o aparecimento de alteração em joelho. O valor de p=0,002 indica resultado estatisticamente significativo. O aparecimento de pés planos aumenta em aproximadamente 1,5% a prevalência de marcha de base alargada, sendo que o valor de p=0,01 indica significância entre as variáveis (tabela 2).

Entre as aquisições específicas do desenvolvimento motor estudado, o engatinhar foi relatado por 80,33% dos participantes, não sendo adquirido somente por 19,67%. O engatinhar em quatro apoios, antes ou depois da marcha, não revelou alteração, no entanto a relação entre os primeiros passos e a marcha de base alargada foi significante (p<0,001), como mostra a tabela 3.

Os resultados da análise multivariada dos fatores de desenvolvimento motor identificaram significância entre o engatinhar de quatro apoios e a marcha de base alargada (p<0,001) (tabela 4).

Principais resultados

A análise multivariada mostrou que o engatinhar em quatro apoios diminuiu a prevalência do aparecimento de base alargada em crianças com SD em 10% (IC 95%: 4% a 24%). Por outro lado, quanto maior o tempo em meses para iniciar os primeiros-passos, maior é a prevalência de base alargada (tabela 3).

 

DISCUSSÃO

Interpretação

A marcha de base alargada na SD foi vista em alguns estudos prévios, sendo mostrada como um dos diferentes padrões de marcha, destas pessoas13,14. Entretanto pesquisas que analisem a relação da marcha de base alargada e a aquisição específica do engatinhar em quatro apoios na SD não foram encontradas na literatura, havendo a importância fundamental desta investigação nesta população, pois, em crianças comuns, estudos recentes sugerem que o engatinhar em quatro apoios não tem relação apenas com o aumento de força muscular, mas também com a coativação dos músculos das pernas, favorecendo a progressão do desenvolvimento da locomoção quadrúpede para bípede15.

Uma das propostas deste estudo foi relacionar a marcha de base alargada e o engatinhar. Assim, os dados encontrados comprovaram que a prevalência do aparecimento da marcha em base alargada foi diminuída pela aquisição motora engatinhar em quatro apoios, confirmando a hipótese que o engatinhar acarretaria menor risco ao desenvolvimento da marcha de base alargada.

Angulo-Barroso et al.13 concluíram que, na SD, a redução da base alargada não teve interferência de tratamentos em esteira com alta ou baixa intensidade, porém outra investigação confirma que a largura da base diminui com a idade nesta população, mas continua alta quando comparada ao grupo controle14.

Esta pesquisa também analisou se a marcha de base alargada estaria relacionada com outras aquisições motoras constatando significância com os primeiros passos. Os resultados revelaram que, quanto maior o tempo em meses para os primeiros passos, maior a prevalência de base alargada, sendo que, a cada mês que estas crianças se atrasam a dar os primeiros passos, a prevalência aumenta em 7%. Lloyd et al.16 mostraram que a alta atividade em pernas está relacionada com os primeiros passos. No entanto, outro estudo mostrou que os níveis de atividade desta população, no início da intervenção, foram indiferentes para os primeiros passos, mas significativos ao final17.

O presente estudo não apresentou relação entre a marcha de base alargada, gênero, etnia, demais comorbidades e tratamentos de: fisioterapia e terapia ocupacional. Rihtman et al.18 também não observaram associação entre gênero e integração motora, porém outros estudos prévios na SD mostraram que meninas apresentaram melhor desenvolvimento motor e meninos com baixo peso e/ou alterações cardíacas tiveram maior lentidão no desenvolvimento19. Malak et al.20 desenvolveram um estudo com crianças com SD confirmando que as habilidades de ficar em pé e da marcha estavam atrasadas, mesmo quando realizada a fisioterapia. Todavia outras pesquisas abordando a SD nos primeiros meses de vida constataram a vital necessidade de tratamento de intervenção nas múltiplas áreas de desenvolvimento motor21,22.

Os dados desta pesquisa mostraram significância entre a comorbidade, alteração de joelho e a marcha de base alargada, confirmada por estudos anteriores que demonstraram que a instabilidade patelar influencia a função motora da pessoa com SD, comprometendo a marcha, diminuindo a força e absorção nesta articulação, embora a frequência desta alteração seja esporadicamente encontrada na literatura14,23.

Este estudo encontrou associação entre a presença de pés planos e a marcha de base alargada na SD, constatada em investigações onde os pés planos promoveram uma maior rotação externa dos pés e consequente piora da função, embora outros achados tenham mostrado que o pé plano não estava associado à limitação específica de atividades ou ao excesso de peso nesta população24-26. Os pés planos foram presentes em 58% da amostra. Perotti et al.27 também encontraram os pés planos em 46% das crianças com SD, através de observações clínicas. Entretanto, outros estudos encontraram pés planos em 88% e 76% dos participantes24-26.

De um ponto de vista clínico, a base alargada na SD foi observada frequentemente em crianças que não passavam pela aquisição do engatinhar, incentivando a investigação se os dados encontrados estariam relacionados a este fato. Desta forma, os resultados confirmaram esta observação e, surpreendentemente, mostraram a relação com os primeiros passos e não com o tratamento ministrado após o aparecimento da marcha, fato previsto na SD, sendo interessante que os estudos se concentrem nas aquisições alcançadas antes da marcha.

A utilização de um sistema de captura de movimento específico à aquisição do engatinhar e não somente da marcha16,17,28, objeto de estudo recente realizado com crianças comuns15, daria uma visão mais ampla dos músculos recrutados, bem como da força dos mesmos nas crianças com SD.

Os achados refletem a necessidade de priorizar todas as fases do desenvolvimento motor especialmente o engatinhar em quatro apoios e os primeiros passos para prevenir futuras alterações da marcha, incluindo a base alargada. Os resultados sugerem que os terapeutas direcionem especial atenção a estas aquisições, a fim de prevenir futuras alterações de marcha. Concomitantemente, os pais/responsáveis também devem incentivar que a criança vivencie todas as fases do desenvolvimento motor.

Considerações metodológicas

Esta pesquisa de coleta retrospectiva on-line possibilitou o alcance de uma grande amostra de pessoas com SD. No entanto, apesar da importância, o pesquisador não pôde estar presente no momento em que todas as respostas foram fornecidas, por razões óbvias. Portanto, dúvidas ocasionais quanto ao entendimento de algumas questões ou vieses de memória do entrevistado durante as respostas podem ser omitidos10,11. As idades dos participantes não foram colhidas devido ao interesse em fases retrospectivas do desenvolvimento motor.

Contribuição dos autores

CV: Teve contribuições substanciais para a concepção e desenho do estudo, aquisição, interpretação dos dados do trabalho e contribuiu para redação do trabalho. ZM: Teve contribuições substanciais para a concepção, desenho da pesquisa e aquisição de dados para o trabalho; ele revisou o artigo após a conclusão dando algumas sugestões. PMB e PMM: Contribuiu com a aquisição de dados para o trabalho, revisando o artigo durante a elaboração com novas sugestões. FWSF: Contribuiu para fazer todas as análises estatísticas e interpretação dos dados. Ele revisou o artigo durante a elaboração com importante conteúdo intelectual. AASC: Ela contribuiu com o desenho do estudo, revisando criticamente com conteúdo intelectual importante. DF: Orientou toda a pesquisa com contribuições substanciais para a concepção e desenho do estudo, revisando criticamente com conteúdo intelectual importante. Todos os autores aprovaram a versão final a ser publicada e concordaram em ser responsáveis por todos os aspectos do trabalho, garantindo que as questões relacionadas à precisão ou integridade de qualquer parte do trabalho sejam devidamente investigadas e resolvidas.

Financiamento

Esta pesquisa não recebeu nenhum subsídio específico de agências de concessão nos setores públicos, comercial ou sem fins lucrativos.

Agradecimentos

Gostaríamos de agradecer ao Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas de São Paulo (CEPEC) e ao Dr. Zan Mustacchi, em especial, por toda a confiança e apoio prestados. Gostaríamos também de agradecer a todos os pais e/ou responsáveis de pacientes com síndrome de Down pela participação neste estudo.

A viabilidade financeira do artigo se deve ao Governo do Estado do Acre - Projeto Saúde na Amazônia Ocidental (convênio multiinstitucional nº 007/2015 SESACRE-UFAC-FMABC).

Conflitos de interesse

Nenhum autor relatou qualquer conflito de interesse.

 

REFERÊNCIAS

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Endereço para correspondência:
Camila Valero
cavalero25@gmail.com

Manuscrito recebido: Janeiro 2021
Manuscrito aceito: Junho 2021
Versão online: Julho 2021

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