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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.31 no.2 Santo André maio/ago. 2021

http://dx.doi.org/10.36311/jhgd.v31.11509 

ARTIGO ORIGINAL

 

Educação em suporte básico de vida: o impacto da aula-demonstrativa em estudantes de graduação em ciências da saúde

 

 

Cyntia Souza Carvalho Castanha; Luis Fernando Barbosa Tavares; Claudio Leone; Laércio da Silva Paiva; Blanca Elena Guerrero Daboin; Natália da Silva Freitas Marques; Juliana Zangirolami-Raimundo; Rodrigo Daminello Raimundo

Laboratorio de Delineamento de Estudos e de Escrita Científica, Centro Universitário FMABC, Santo André, São Paulo, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: A parada cardíaca (PC) é um grave problema de saúde pública e uma das principais causas de morte em todo o mundo. De acordo com a American Heart Association (AHA), o suporte básico de vida (SBV) é a base para melhorar a sobrevivência das pessoas após uma parada cardiorrespiratória e a ressuscitação cardiopulmonar é um aspecto crucial. Por meio de evidências científicas, capacitar os profissionais de saúde com foco na educação em ressuscitação é fundamental para identificar e atender uma vítima de parada cardíaca. No Brasil, faltam dados que avaliem o conhecimento em SBV de estudantes de ciências da saúde. Este estudo analisou a retenção de conhecimento de estudantes de Enfermagem, Fisioterapia e Medicina, após um ano de realização de uma palestra-demonstração sobre SBV
MÉTODO: Estudo longitudinal. Estudantes de graduação em ciências da saúde que participaram da coleta de dados e responderam a um questionário baseado no SBV seguindo as diretrizes da AHA. Os dados foram recolhidos durante dois anos consecutivos, em três momentos distintos (uma avaliação, um teste após a aula e um teste de avaliação um ano após a aula
RESULTADOS: O grupo melhorou sua pontuação após a palestra sobre SBV; o número de acertos dobrou (p <0,001); no entanto, um ano depois, essa pontuação diminuiu significativamente (p <0,001
CONCLUSÃO: Não houve retenção de conhecimento após um ano de uma aula-demonstrativa sobre SBV em estudantes de ciências da saúde

Palavras-chave: educação; aprendizado, estudantes de profissões de saúde, ressuscitação cardiopulmonar.


 

 

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

O interesse pelo presente estudo se dá pelo alto índice de mortes por doenças cardiovasculares que é considerado um grave problema de saúde pública. As mortes por parada cardíaca dentro e fora do ambiente hospitalar poderiam ter outro desfecho que podemos alcançar, através da ciência da educação em ressuscitação. Nesse sentido, o objetivo é analisar o impacto de uma Aula-Demonstrativa sobre Suporte Básico de Vida em estudantes de graduação em ciências da saúde no período de 2017 a 2018 e fornecer de forma a ampliar a reflexão sobre a importância e uma possível prevenção deste problema.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

Neste estudo, aplicamos um questionário para 151 estudantes da área da saúde dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia e Medicina de um Centro universitário na cidade de Santo André, São Paulo, SP. Os resultados apontam que após um ano houve redução significativa no número de acertos, evidenciando que não houve retenção do conhecimento.

O que essas descobertas significam?

Estes achados confirmam a importância das habilidades motoras através da prática de ressuscitação cardiopulmonar (RCP), nos treinamentos de suporte básico de vida associadas as habilidades cognitivas para que haja a retenção do conhecimento.

Os achados do estudo sugerem que a educação efetiva é uma variável-chave e transformadora a fim de avançarmos na redução do número de mortes por parada cardiorrespiratória. Esses resultados podem ser alcançados se prepararmos nossos estudantes durante todo o período da graduação, isso se estende a todos os cursos da área da saúde.

 

INTRODUÇÃO

A parada cardíaca (PC) é um grave problema de saúde pública e uma das principais causas de morte no mundo1,2, sendo responsável por cerca de 15% a 20% de todas as mortes. Embora as taxas de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) estejam geralmente melhorando em todo o mundo, a maioria dos indivíduos que apresentam parada cardíaca súbita fora do hospital não recebe uma RCP adequada e não sobreviverá3.

Capacitar profissionais de saúde através dos embasamentos científicos é o foco da educação em ressuscitação para que numa eventual situação de PC, saibam reconhecer e tenham segurança para atender essas vítimas. A qualificação e o desempenho ideal desses futuros profissionais de saúde dependem das habilidades cognitivas, comportamentais e psicomotoras necessárias para realizar a RCP com sucesso4. É primordial que esses profissionais de saúde realizem uma RCP de alta qualidade5, é necessário que haja retenção do conhecimento e habilidades que lhes permitam executá-la adequadamente4,6-9. Apesar dos avanços contínuos na ciência de prevenção e ressuscitação, as taxas de sobrevivência de parada cardíaca permanecem abaixo do ideal para PC intra e extra-hospitalar5.

De acordo com a American Heart Association (AHA), o suporte básico de vida (SBV) é a base para melhorar a sobrevivência das pessoas após uma parada cardíaca, sendo a RCP um aspecto crucial do SBV associado a melhores resultados para salvar vidas. Embora tenhamos milhões de socorristas leigos e profissionais de saúde treinados em ressuscitação a cada ano, existem lacunas significativas na prestação de cuidados clínicos, assistência inadequada em SBV e RCP para vítimas de PC10.

No cenário global, é amplamente conhecido que o conhecimento do SBV aumenta as opções de sobrevivência das pessoas que sofrem de PC. É imperativo melhorar a experiência dos futuros profissionais de saúde neste campo. Portanto, este estudo tem como objetivo analisar o impacto de uma aula-demonstrativa sobre suporte básico de vida em estudantes de graduação em ciências da saúde de um Município do Estado de São Paulo.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

Design e localização

Trata-se de um estudo longitudinal realizado no Centro Universitário FMABC, em Santo André, São Paulo, Brasil.

Requisitos de participantes e elegibilidade para critérios de inclusão, exclusão e descontinuidade

Uma amostra de conveniência de 281 estudantes do primeiro ano de ciências da saúde consentiu. Foram excluídos os alunos que já haviam realizado treinamento em suporte básico de vida (SBV). Um ano depois, apenas 151 (figura 1) do grupo permaneceram na universidade em suas respectivas carreiras; eles compuseram a amostra final. Os outros 130 estudantes foram excluídos por terem mudado de curso, mudado para outra instituição de ensino, recusado a participar ou respondido a um questionário com dados demográficos incompletos.(Figura 1)

A amostra final foi composta por estudantes de ambos os sexos, maiores de 18 anos, matriculados nos cursos de graduação em Enfermagem, Fisioterapia e Medicina. A margem de erro amostral foi de cinco percentuais, com desvio padrão de 3 a 15 pontos. Com nível de confiança de 95%, poder de teste de 80% com teste bicaudal, para discriminar diferenças de correção entre as três etapas do estudo (de no mínimo dez respostas corretas), foi necessário amostrar no mínimo 35 indivíduos em cada grupo.

Aula - Demonstrativa

Seguindo os princípios dos métodos ativos de aprendizagem11-12, os estudantes assistiram a uma aula expositiva de 50 minutos sobre SBV. Os grupos foram divididos de acordo com a capacidade da sala de aula. Cada espaço tinha capacidade física para até 50 estudantes. Dois profissionais treinados (um médico e uma enfermeira certificada) realizaram as aulas-demonstrativas com experiência comprovada em SBV e RCP. A tabela 1 ilustra a estrutura da aula-demonstrativa.

O cenário foi criado a partir de um caso clínico para simular a sequência correta de RCP, incluindo uma demonstração com desfibrilador externo automático (DEA) (Laerdal Medical Corporation, New York, NY, USA).

Dois manequins Laerdal (Laerdal Medical Corporation, New York, NY, EUA), foram usados para demonstrar as manobras de RCP (compressões e ventilações) e uma interface (lenço protetor facial) para ventilar os manequins.

Coleta de dados

Os dados foram coletados por meio de questionário baseado nas diretrizes do SBV-AHA, método simplificado por Tavares e colaboradores (2015)9. Era composto por 20 questões objetivas, cada uma contendo quatro alternativas, sendo apenas uma a resposta correta. O questionário abrangeu etapas que podem salvar vidas como a cadeia de sobrevivência fora do hospital, identificar PCR, manobras de RCP e usar DEA.

Os dados foram coletados e compilados em três etapas durante dois anos consecutivos. Primeiramente, (Momento M1), os estudantes tinham até 30 minutos para responder a um questionário para avaliar seus conhecimentos sobre SBV, então, (M2) imediatamente após receber uma aula-demonstrativa de 50 minutos sobre SBV de acordo com as diretrizes da AHA, eles tinham até 30 minutos para responder ao mesmo questionário do M1. Um ano depois, os estudantes foram avaliados respondendo ao mesmo questionário sobre SBV aplicado em M1 e M2.

O mesmo pesquisador realizou os testes de RCP e corrigiu os questionários por meio de um gabarito. Os dados foram compilados e armazenados em banco de dados do programa Excel®.

Análise estatística

As variáveis qualitativas foram apresentadas por frequência relativa; as variáveis quantitativas foram descritas pela mediana e intervalos de confiança de 95% da mediana, por meio da avaliação da distribuição dos dados pelo teste de Kolmogorov-Smirnov.

As respostas corretas no teste de avaliação, pós-teste e teste após um ano, foram analisadas pelo teste de Friedman com o teste de comparações múltiplas de Dunn. O teste de Kruskal-Wallis com o teste de comparações múltiplas de Dunn foi usado para comparar o número de respostas corretas no teste após um ano.

O nível de significância adotado para análise foi p <0,05. A análise estatística foi realizada por meio do software MedCalc®.

Considerações éticas

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário FMABC (protocolo 557-716). Os participantes aceitaram voluntariamente e puderam desistir do estudo a qualquer momento. Eles receberam uma explicação dos detalhes do projeto, bem como dos procedimentos. Todos os alunos que compuseram a amostra assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

 

RESULTADOS

A maioria dos respondentes, 74 (49%), era estudante da faculdade de medicina, 42 (27,8%) da enfermagem e 35 (23,2%) da fisioterapia.

Conforme mostrado na Tabela 2, o número de sucessos aumentou após a aula-demonstrativa sobre SBV em M1 (p <0,001); porém, após um ano, houve redução significativa no número de acertos (p <0,001).

Ao estratificar a amostra, o desempenho por grupo foi semelhante ao resultado geral. Todos os grupos mostraram um aumento nas respostas corretas após a palestra do SBV (p <0,001). Por outro lado, ocorreu redução no número de acertos após um ano (p <0,001), sendo essas diferenças estatisticamente significativas (tabela 2). O grupo de enfermagem apresentou o maior número de acertos após um ano com mediana de 9,0 (95%; 8,0 a 10,0), e o grupo de fisioterapia obteve o menor número.

A maioria dos estudantes não conseguiram acertar as questões 1 e 19 (tabela 3) na avaliação (M1), teste após a aula (M2) e teste de avaliação após um ano (M3).

 

DISCUSSÃO

Quando analisamos a retenção de conhecimento dos estudantes de graduação em ciências da saúde após um ano de participação em uma aula-demonstrativa sobre SBV, os resultados revelaram que ela foi insatisfatória.

Nosso estudo mostrou que a acurácia geral do teste imediatamente após a aula-demonstrativa teve uma melhora relevante de quase o dobro de acertos em relação à avaliação inicial. Porém, um ano depois, foi evidenciada a retenção mínima de conhecimento em todo o grupo, os estudantes obtiveram 40% de acertos. Vale ressaltar que a norma de aprovação de curso da AHA exige 84% das respostas na avaliação teórica para certificação13.

Nossos resultados denotam que a maioria dos alunos não passou nas questões 1 e 19 (tabela 3), que são tópicos cruciais. Uma cadeia de sobrevivência executada corretamente; aumenta as chances de sobrevivência de uma vítima de PCR. Quando o DEA é manuseado corretamente no tórax da vítima, este aparelho analisa o ritmo do paciente e, imediatamente após o choque, devem ser iniciadas as manobras de RCP. Essas ações necessárias expostas nas questões 1 e 19 podem salvar vidas e ser conhecidas não apenas pelos profissionais de saúde, mas também pela comunidade.

O ensino de graduação em medicina prepara o estudante para a prática em diversas especialidades, e grande parte do conhecimento adquirido inevitavelmente não será utilizado em suas futuras profissões4. A literatura científica demonstra uma deterioração do conhecimento e das habilidades de SBV em menos de três meses após o treinamento inicial4,7. Ghee e colaboradores8 relataram um declínio na pontuação dos testes de retenção realizados por estudantes na Malásia avaliando a retenção de conhecimento sobre suporte básico de vida em trauma em estudantes do terceiro ano de medicina.

Pande e colaboradores6 relataram que os alunos tiveram desempenho pior do que o teste feito por eles um ano antes, quando realizaram um estudo com 42 alunos do primeiro ano de medicina para analisar a retenção de conhecimento sobre SBV.

Conforme mencionado anteriormente e indicado na tabela 2, a turma do curso de enfermagem obteve o maior número de acertos, apresentando um resultado estatisticamente significativo (p <0,001). Nesse sentido, o estudo de Nambiar e colaboradores14, realizado na Índia, por meio de um questionário baseado na AHA, avaliou o conhecimento de 461 profissionais de saúde sobre as diretrizes de SBV e suporte avançado de vida (SAV). Seus resultados refletidos nos escores mostraram que os enfermeiros sabiam mais sobre os guidelines.

Rajeswaran e colaboradores15 realizaram um estudo com enfermeiras de três hospitais distritais em Botswana. Eles aplicaram um teste pré-intervenção e um pós-teste. Após seis meses, um novo teste foi realizado para determinar a retenção do conhecimento sobre o SBV. Eles concluíram que os enfermeiros mostraram melhora significativa após o treinamento, mas evidenciaram um declínio na retenção de conhecimentos e habilidades de SBV após seis meses.

O estudo de Chandrasekaran e colaboradores16 teve como objetivo investigar o conhecimento sobre SBV entre estudantes, médicos e enfermeiras de escolas de medicina, odontologia, homeopatia e enfermagem. Um questionário com 20 perguntas incluiu conhecimento de abreviaturas, etapas sequenciais e técnicas de atendimento. Os resultados mostraram que os docentes de enfermagem que atuaram e ensinaram durante o estudo obtiveram melhores escores.

Aqel e colaboradores7 examinaram os efeitos da simulação de alta fidelidade na aprendizagem e retenção do SBV em estudantes de enfermagem. Foi um estudo experimental onde um pré-teste e um pós-teste foram realizados usando dois métodos de ensino: Um grupo fez uma aula tradicional de RCP seguida de simulação de baixa fidelidade. A segunda teve palestra sobre RCP acompanhada de treinamento de alta fidelidade. Como ocorreu em nosso estudo, os resultados do momento pós-teste tiveram um aumento significativo no número de acertos e na melhora do SBV; após três meses de treinamento, foram realizados testes de retenção, evidenciando a perda de conhecimentos e habilidades em ambos os grupos.

Estima-se que cerca de 1/3 do conhecimento será esquecido em um ano se não for usado ou reciclado, e entre 50% e 60% dele será perdido em dois anos. As diretrizes educacionais da AHA 2015 afirmam que os ciclos de reciclagem de dois anos não são ideais4,10,17 e mostraram, ao publicar uma declaração científica em 2018, que as habilidades dos estudantes diminuem com o tempo após a realização de cursos de ressuscitação padronizados, seja online ou presencial face a face, corroborando os estudos citados anteriormente18.

A deficiência de conhecimento sobre suporte básico de vida é um problema entre estudantes de graduação em ciências da saúde e profissionais da saúde. Tem sido relatado em vários estudos onde as habilidades profissionais estavam abaixo do esperado13,19,20. Nesse contexto, a AHA reforça que a importância de melhorar a retenção de longo prazo do conhecimento básico da ciência depende de seu papel percebido na vida do medico. Se esse conhecimento é visto como de relevância direta para a prática médica, desta forma faz sentido que esta aprendizagem esteja concentrada em um contexto apropriado, com ênfase na aplicação futura4.

De acordo com Kimble e colaboradores21, a teoria da aprendizagem de adultos é formada por questões e idéias que eles aprendem melhor quando a aprendizagem é autodirigida. O conteúdo estudado é de grande interesse, motivando-o internamente. Além disso, o aluno deve receber feedback relevante e uma reflexão quantitativa como parte do processo. Além disso, essas habilidades psicomotoras tornam-se fundamentais para o sucesso na prática dos profissionais de saúde, lembrando que deve ser uma prática de desenvolvimento contínuo.

A aprendizagem impacta positivamente no que os alunos fazem, sabem ou sentem como uma causa da experiência. Quando os estudantes estão ativamente envolvidos na aprendizagem, são mais influenciados provavelmente influenciados em três domínios de aprendizagem: cognitivo, que envolve a aquisição de novos conhecimentos, desenvolvimento intelectual, de habilidades e atitudes; psicomotor relacionado a habilidades físicas específicas e o domínio afetivo que envolve categorias relacionadas ao desenvolvimento da área emocional que incluem comportamento, atitude, responsabilidade, respeito, emoção e valores22-24.

Nossa pesquisa teve como foco analisar os processos que embasam a aprendizagem cognitiva (retenção de conteúdo) após receber uma aula-demonstrativa de 50 minutos com a aplicação de um questionário. A retenção é essencial no processo de autonomia, pois é um conceito bem compreendido pelos estudantes, sobre como armazenar esses conteúdos na memória e resgatá-los quando necessário25.

Tem sido documentado26 que por meio da consolidação cognitiva desses conteúdos sobre SBV, esses estudantes podem disseminar esse conhecimento. Kawakame e colaboradores27 ressaltam que avaliar o processo de ensino-aprendizagem em programas de treinamento em SBV é considerada imprescindivel, já que sem a avaliação dos resultados não podemos obter com precisão indicadores de ações passadas e nem definição de ações futuras. Em nosso estudo, os estudantes não realizaram habilidades práticas; portanto, não avaliamos a aprendizagem de capacidades motoras.

As estratégias de ensino da AHA de 201810 aponta como estratégia que se utilize a aprendizagem espaçada, sabe-se que um cronograma atual de 1 a 2 dias de treinamento de ressuscitação a cada dois anos é eficaz para a aprendizagem de curto prazo. No entanto, frequentemente os estudantes muitas vezes não retêm suas habilidades em longo prazo. Sessões mais curtas no intervalo de meses podem melhorar os resultados de aprendizagem.

No Brasil, os recursos variam significativamente de região para região. É uma dimensão continental e com desigualdades regionais, centros universitários localizados principalmente nas capitais e principais cidades de cada estado. A disseminação do SBV é vista ou percebida como uma prioridade de longo prazo em muitos de seus territórios28.

Os cursos de SBV não estão incluídos nas carreiras em ciências da saúde; portanto, qualquer treinamento ou palestra sobre SBV são atividades extracurriculares, o que implica em algumas limitações para planificar essas atividades. Assim, fica evidente a dificuldade em reter conhecimento após uma aula-demonstrativa isolada sobre SBV. Mesmo na área da saúde, há uma aparente demanda por treinamentos de atualização após uma aula-demonstrativa sobre SBV.

 

CONCLUSÃO

Concluiu-se que a retenção de conhecimento sobre Suporte Básico de Vida entre os estudantes de Medicina, Enfermagem e Fisioterapia de um município do Estado de São Paulo é insatisfatória.

Devido à importância do reconhecimento da parada cardíaca fora do hospital, das manobras de SBV e o uso de desfibrilador externo automático, são essenciais para aumentar a sobrevida das vítimas de parada cardíaca.

No curto prazo, sugerimos que os estudantes recebam avaliações contínuas para melhorar sua experiência em Suporte Básico de Vida com base nas diretrizes da AHA.

Financiamento

Nenhum financiamento foi recebido para esta pesquisa.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

Disponibilidade de dados e materiais

Conjuntos de dados que apóiam as conclusões estão incluídos neste artigo. Dados adicionais no nível de cada aluno não estão disponíveis conforme acordos de confidencialidade aprovados pelo Comitê de Ética.

Agradecimentos

Os autores agradecem aos estudantes de Enfermagem, Fisioterapia e Medicina do Centro Universitário FMABC, Santo André, que participaram deste estudo e ao apoio institucional que possibilitou a coleta de dados. À Secretaria de Estado de Saúde do Acre (SESACRE), à Universidade Federal do Acre (UFAC) e ao Centro Universitário Saúde FMABC, pela parceria interinstitucional através do convênio nº. 007/2015, para a formação de profissionais de saúde no Acre, Amazônia Ocidental, Brasil.

Contribuições dos autores

Concepção: CSCC LCA LFBT BEGD RDR. Planejamento: CL RDR LSP. Análise formal: CL RDR LSP JZR. Interpretação dos resultados: CSCC LFBT RDR. Metodologia: CSCC LCA BEGD RDR. Administração do projeto: RDR CSCC. Recursos: LCA RDR. Supervisão: RDR LC. Validação: CSCC CL LFBT RDR IMPB. Visualização: CSCC LFBT. Redação - rascunho original: CSCC LFBT RDR. Redação - revisão e edição: CL LSP BEGD JZR.

Cyntia Souza Carvalho Castanha https://orcid.org/0000-0002-1340-3955

Luis Fernando Barbosa Tavares https://orcid.org/0000-0002-7518-3900

Luiz Carlos de Abreu https://orcid.org/0000-0002-7618-2109

Claudio Leone https://orcid.org/0000-0003-1324-0401

Laércio da Silva Paiva https://orcid.org/0000-0003-3646-2621

Blanca Elena Guerrero Daboin https://orcid.org/0000-0001-9052-1923

Juliana Zangirolami-Raimundo https://orcid.org/0000-0001-6692-4810

Italla Maria Pinheiro Bezerra https://orcid.org/0000-0002-8604-587X

Rodrigo Daminello Raimundo https://orcid.org/0000-0002-3043-0728

 

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Endereço para correspondência:
Cyntia Souza Carvalho Castanha
cyntiacastanha@gmail.com

Manuscrito recebido: Março 2021
Manuscrito aceito: Maio 2021
Versão online: Julho 2021

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