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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.31 no.2 Santo André maio/ago. 2021

http://dx.doi.org/10.36311/jhgd.v31.10580 

ARTIGO ORIGINAL

 

Práticas sustentáveis como ações para promoção da saúde do adolescente

 

 

Sabrina Alaide Amorim AlvesI; Italla Maria Pinheiro BezerraII; Grayce Alencar AlbuquerqueIII; Edilma Gomes Rocha CavalcanteIII; Maria do Socorro Vieira LopesIII

IPrograma de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Regional do Cariri - URCA, Ceará, CE, Brasil, Bolsista CAPES;
IIPrograma de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local. Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM) - Vitória (ES), Brasil;
IIIPrograma de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Regional do Cariri - URCA, Ceará, CE, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: A adolescência é caraterizada como um período de construção sócio-histórica, com manifestações fortemente influenciadas pelos fatores socioeconômicos, políticos e culturais do meio onde o adolescente vive. Desta forma, destaque para elaboração e construção de políticas que direcione para práticas promotoras de saúde
OBJETIVO: Analisar as práticas sustentáveis utilizadas para fortalecer ações promotoras de saúde para adolescentes alinhadas ao Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 3
MÉTODO: Revisão integrativa, realizada no período de janeiro de 2020. O cruzamento foi realizado no Portal de Periódicos da CAPES, com uso dos descritores em saúde: Sustainable Development, Health Care, Adolescent, Sustainable Development Indicators, nas bases de dados MEDLINE, LILASC, W Web of Science, Scielo. Elencou como critérios inclusão: trabalhos completos, disponíveis e nos idiomas português, inglês e espanhol. Como critérios de exclusão: artigos que não disponibilizarem resumos, editoriais, reflexões teóricas, estudos duplicados, relatos de experiência, resenhas, monografias e resumos em anais de eventos. Todos os cruzamentos foram realizados em língua estrangeira, idioma inglês, com o uso do operador booleano AND. A amostra final foi composta por final de 12 artigos
RESULTADOS: Aponta a implementação práticas sustentáveis ao público adolescente que possa romper com uma assistência em saúde pontual e fragmentada, ressaltando a ampliação de práticas voltadas para o acesso aos serviços de saúde que possa de fato atender as suas reais necessidades de saúde, programas de geração de renda, e adoção de alimentação saudável, equidade nos serviços de saúde e educação em saúde. Evidencia que a implementação de práticas sustentáveis se apresenta como uma ferramenta para se alcançar a promoção da saúde e como uma mudança de paradigma na assistência a saúde do adolescente
CONCLUSÃO: Verificou a necessidade de políticas e ações em saúde para o adolescente que possa contribuir para o desenvolvimento de uma assistência em saúde voltadas para a promoção em saúde. Assim, evidencia a necessidade de ruptura de práticas de saúde pontuais com foco apenas na doença, tornando um desafio o desenvolvimento de práticas sustentáveis ao adolescente quanto a mudanças de ações em uma perspectiva promotora de saúde

Palavras-chave: adolescente, desenvolvimento sustentável, promoção da Saúde, ODS3.


 

 

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

O estudo foi realizado com o intuito de analisar as práticas sustentáveis utilizadas para fortalecer ações promotoras de saúde para adolescentes alinhadas ao ODS 3, haja vista que existem lacunas na assistência prestada a saúde dos adolescentes de acordo com os pressupostos da promoção da saúde.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

Os pesquisadores realizaram uma revisão integrativa utilizando as seguintes bases de dados MEDLINE, LILASC, W Web of Science, Scielo, com o objetivo de analisar quais práticas sustentáveis vem sendo realizadas para fortalecer ações promotoras de saúde para adolescentes alinhadas ao ODS 3, sendo a amostra final composta por 12 artigos. Aponta que dentre as principais práticas sustentáveis estão: acesso aos serviços de saúde, políticas de saúde menta e sexual e reprodutiva, programa de geração de renda, implementação de políticas públicas voltadas para a saúde, programa que visem adoção de alimentação saudável, equidade nos serviços de saúde e educação em saúde.

O que essas descobertas significam?

Foi revelado que mesmo existindo tais práticas sustentáveis que possibilita o desenvolvimento de ações promotoras de saúde para o público adolescente, observa que a realização dessas práticas se configura limitadas a uma assistência biomédica. A implementação de práticas sustentáveis ao público adolescente deve valorizar as suas escolhas, de modo a torna-los sujeitos com afirmações de autonomia, potentes a desenvolverem ações e posturas de produzir modelos de ser saudáveis.

 

INTRODUÇÃO

A adolescência é compreendida como um período caracterizado por mudanças de ordem biológica, psicológica e sociocomportamental, que o ato de tomada de decisões por ocasionar repercussões no curso de suas vidas, gerando necessidades especificas quanto aos cuidados relacionados ao seu processo saúde-doença1.

No entanto, depreende a necessidade de implementação de políticas de saúde voltadas para a (o) adolescente que possa indicar mudanças de paradigmas relacionados ao processo saúde-doença. De modo, que possa ocorrer o processo de reorientação do modelo de assistência à saúde prestada a essa população, mediante uma abordagem mais integral e holística2.

A visão fragmentada dos serviços de saúde ao adolescente direciona a ações em saúde restritas e pontuais, com cunho para uma assistência curativista. A compreensão das necessidades de saúde desse grupo tende a considerar não apenas os determinantes sociais da saúde, mas como estes interverem na condição de saúde, possibilitando reorientar práticas condizentes com os pressupostos da promoção da saúde3.

Nesse contexto, estudo aponta que a criação de políticas para a atenção a saúde do adolescente deve partir dos pressupostos de que os determinantes sociais da saúde incidi diretamente no alcance de práticas promotoras de saúde. Emergindo a necessidade do reconhecimento de aspectos sociais, políticos, étnicos, raciais, econômicos e de gêneros que determinam fortemente na distribuição de recursos, acesso e oportunidade quanto a condições de saúde do grupo adolescente4.

No intuito de fomentar medidas que busque reduzir as iniquidades existentes entre grupo populacionais no ano de 2015 a Organização das Nações Unidas (UNO), apresenta os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) como caminhos para alcançar a dignidade nos próximos 15 anos, por meios de metas que buscam reforças o compromisso multilateral para a erradicação de um conjunto de problemas sociais que ainda afligem a humanidade5,6.

A implementação de metas dos ODS representam uma oportunidade de promover saúde, em todas as idades, dentre esses grupos mais vulneráveis quanto a sua condição de saúde a exemplo do adolescente, mediante o reconhecimento da saúde como um elemento-chave ao desenvolvimento humano, com vastos e multidimensionais determinantes sociais a grupo em condições vulneráveis a saúde7.

Nessa direção, o desenvolvimento de práticas sustentáveis alinhadas ao ODS 3 para o grupo adolescente representa uma oportunidade para a criação e aprimoramento de políticas públicas, programas e ações governamentais que ampliem os direitos dos adolescentes em todos os níveis de governo, tornando que estes se tornem autônomos quanto ao reconhecimento e desenvolvimento de práticas sustentáveis8,9.

Visto que o desenvolvimento de práticas sustentáveis traz impactos na saúde e que, os adolescentes podem ser multiplicadores de informações e ações promotoras de saúde, o estudo teve como objetivo analisar práticas sustentáveis utilizadas para fortalecer ações promotoras de saúde para adolescentes alinhadas ao Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 3.

 

MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa, com definição do tema e formulação dos objetivos e da questão norteadora; busca na literatura e estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos; categorização dos estudos; avaliação dos estudos; interpretação dos resultados e apresentação da revisão/síntese do conhecimento10.

Para a formulação da questão de pesquisa foi utilizada a estratégia PVO (P - população, contexto e/ou situação problema; V - variáveis; O - desfecho). Considerou-se, assim, a seguinte estrutura: P - adolescentes; V- práticas sustentáveis; O - ações promotoras de saúde. Dessa forma, elaborou-se a seguinte questão norteadora: Quais práticas sustentáveis vêm sendo utilizadas para fortalecer ações promotoras de saúde para adolescentes alinhadas ao ODS 3?

A etapa de estratégia de busca foi realizada por meio do portal de periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), nas bases de dados do Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde LILACS), Web of Science, e na biblioteca Scielo.

Para chegar nas publicações sobre esta temática, buscou-se selecionar estudos utilizando os descritores em saúde (DeCs): "Sustainable Development'', ''Health Care'', ''Adolescent'' e ''Sustainable Development Indicators''. Utilizou-se os cruzamentos dos termos de busca com os descritores, com as seguintes estratégias de busca: Sustainable Development AND Health Care AND Adolescent e Sustainable Development AND Sustainable Development Indicators AND Adolescent. Todos os cruzamentos foram realizados em língua estrangeira, idioma inglês, com o uso do operador booleano AND.

A busca dos estudos foi realizada no mês de janeiro de 2020. Foram critérios inclusão: trabalhos completos, disponíveis e nos idiomas português, inglês e espanhol. Como critérios de exclusão: artigos que não disponibilizarem resumos, editoriais, reflexões teóricas, estudos duplicados, relatos de experiência, resenhas, monografias e resumos em anais de eventos.

Com a intenção de diminuir prováveis erros sistemáticos ou vieses de aferição dos estudos, por equívocos na interpretação dos resultados e no delineamento dos estudos, a pesquisa foi realizada por dois revisores de forma simultânea e independente, de modo a garantir o rigor metodológico e a fidedignidade dos resultados.

O cruzamento no Portal de Periódicos CAPES resultou em 471 itens. Após, realizamos a leitura individual dos títulos e resumos dos trabalhos encontrados. Restaram 81 artigos para leitura do material na integra. Destes, 06 não disponíveis online (free), 08 não atendaram aos critérios de inclusão, dos quais 30 atenderam aos critérios de inclusão. Os 30 estudos foram salvos em uma pasta, utilizando um código (ex: A01, sendo A de artigo e 01, número de ordem).

A segunda etapa da seleção correspondeu à leitura flutuante dos 30 documentos completos, dos quais foram encontrados 06 artigos duplicados, 08 artigos não responderam ao questionamento do estudo. Desta forma, o corpus final constituiu uma amostra de 12 artigos, a figura 1 demonstra o fluxograma do processo de seleção dos artigos.

A tabela 1 apresenta, código, onde cada artigo recebeu uma numeração (A1 a A12), autores e ano, objetivo, método, conclusão e novidade do estudo. A análise minuciosa dos artigos na integra permitiu ainda reconhecer de que forma os artigos abordam o desenvolvimento de práticas sustentáveis voltadas para a promoção da saúde ao público adolescente, sendo apresentadas na tabela 2, as práticas e código dos artigos.

 

RESULTADOS

Para apresentação dos resultados dos artigos encontrados, que passaram pelo crivo dos critérios de inclusão e exclusão, embasados pela temática ''práticas sustentáveis voltadas para a promoção da saúde aos adolescentes'', foram apresentados nas tabelas (tabela 1, tabela 2). A tabela 1 apresenta características de publicação (código, autores e ano, título, objetivo, método, conclusão e novidade do estudo).

Nos artigos analisados observa uma predominância para publicações internacionais, com práticas sustentáveis para a promoção da saúde do adolescente. Em relação a única publicação nacional (1%), o estudo apresenta o desenvolvimento de ações educativas em saúde ambiental com escolares adolescentes, como ferramenta para a implementação de práticas sustentáveis voltadas para a promoção da saúde. Comprovando-se a carência de estudos nacionais que abordem a temática em questão. Os artigos analisados foram publicados entre os anos de 2008 e 2019, tendo-se o ano de 2019 predominância correspondendo a 50%. O estudo não utilizou recorte temporal, apesar da implementação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) ter ocorrido no ano de 2015. Haja visto que antes dos ODS os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) contemplava questões ambientais.

Em relação ao delineamento dos estudos são variados: um (8,33%) estudo ecológico, um (8,33%) estudos longitudinais, dois (16,66%) estudos transversais, quatro (33,33%) artigos qualitativos com uso de entrevistas, pesquisa-ação e intervenção e quatro (33,33%) derivados de estudos quantitativos.

No que corresponde as práticas sustentáveis desenvolvidas para o público adolescente voltadas para ações promotoras de saúde (quadro 2), os estudos evidenciam a necessidade de uma cobertura universal de saúde11-16 capazes de desenvolver estratégias que atendam as reais necessidades de saúde dos adolescentes. Essas estratégias apontam para um conjunto de intervenções direcionadas a saúde mental12, saúde sexual e reprodutiva13,14,17 que possam abordar práticas sustentáveis norteadas nos princípios da equidade, responsabilidade, qualidade e multissetorialidade, alinhadas as metas do ODS 3.

A equidade nos serviços de saúde18 apontada como uma prática sustentável busca a ruptura de barreiras quanto ao acesso a políticas e programas multissetoriais quanto a sustentabilidade. O desenvolvimento de políticas públicas de saúde19 exprime a necessidade de sensibilizar os adolescentes quanto a mudanças comportamentais e estilo de vida saudáveis, com o rompimento de práticas em saúde curativistas. No tangente a programas para geração de renda20 relaciona-se ao desenvolvimento de práticas que permita aos adolescentes acesso à educação, renda e saúde por meio de políticas que possam reduzir as iniquidades sociais enfrentadas por essa população.

A implementação de programas de alimentação saudável para adolescentes permite mudanças que vão além da adoção de hábitos saudáveis, suscita políticas de consumo e compra de alimentos saudáveis21. A realização de educação em saúde22 é apresentada como uma prática sustentável capaz de empoderar os adolescentes quanto à tomada de decisões em relação a uma maior participação no que se refere ao seu processo saúde-doença, minimizando assim riscos à saúde e promovendo práticas promotoras de saúde.

 

DISCUSSÃO

De modo geral, as práticas sustentáveis destinadas ao adolescente devem identificar e reconhecer os determinantes sociais da saúde como fator que interfere no processo saúde-doença. No entanto, há uma necessidade de políticas e ações direcionadas aos adolescentes que possam de fato suprir as suas necessidades de saúde. Partindo de uma dimensão coletiva, que possa compreender como a representação social desse grupo pode interferir na execução de ações promotoras de saúde23,24.

O processo de construção dessas políticas deve incidir diretamente na identificação dos determinantes sociais da saúde que resigna diminuir as disparidades sociais, políticas, étnicas e raciais que interferem substancialmente na distribuição ao acesso às oportunidades e, consequentemente aos serviços de saúde4,19.

Nessa ótica, a elaboração de políticas públicas em saúde direcionadas a população adolescente devem ser conduzidas ao alcance das metas do ODS 3, considerando a adolescência como uma janela de oportunidades para o desenvolvimento de práticas sustentáveis que possam promover mudanças comportamentais em relação a sua condição de saúde25,26.

Nessa perspectiva, a saúde torna-se um indicador do progresso de nações no alcance ao desenvolvimento sustentável27, contudo promover saúde, em todas as idades, insere benefícios que se estendem através das gerações. Desse modo, ODS 3 traz o reconhecimento de ser um elemento-chave ao desenvolvimento humano, com vastos e multidimensionais determinantes sociais a grupo em condições vulneráveis a saúde7.

Aponta-se os ODS como uma possibilidade de tornar realidade o princípio da indivisibilidade dos direitos humanos quando exigem a realização prática dos direitos econômicos, sociais e culturais, mesmo em realidades tão distintas de países considerados desenvolvidos e em desenvolvimento. Assim, ao estabelecerem metas e prazos para seu alcance, os ODS podem representar mais um impulso para a realização dos direitos humanos e uma tentativa de romper com a postura de adiamento indeterminado de universalização dos benefícios do direito ao desenvolvimento para todos6.

Destaque para atenção integral por parte das políticas em saúde ao público adolescente, pois constituirão a futura população produtiva e economicamente ativa do país. As políticas públicas na adolescência devem ser seguramente atingidas tendo em vista que impactos positivos ou negativos nesta parcela da população acarretarão desdobramentos no futuro por longo período de tempo28.

Entretanto, revela-se a necessidade de uma assistência de saúde equânime, que possa ofertar um cuidado conforme as diversidades das necessidades de saúde desses (a) adolescentes. Assim, garantindo práticas de saúde que vão além de uma abordagem biológicas, nesse prisma incluindo a necessidade de compreender o contexto social na qual esses sujeitos estão inseridos18,29.

Dentre as principais barreiras relacionadas ao acesso do (a) adolescente aos serviços de saúde, está na dificuldade desse grupo encontrar atendimento, na qualidade assistência ofertada, na distância do serviço de saúde, além da falta de oferta de serviços, esses restritos a uma assistência voltadas apenas para as seguintes temáticas: sexualidade, gravides na adolescência e mudanças físicas. No entanto, é preciso romper com esse olhar curativista, implicando a necessidade do reconhecimento das desigualdades e barreiras quanto o acesso aos serviços de saúde18,26,29,30.

A necessidade da identificação dos determinantes sociais da saúde permite examinar a relação que tais condicionantes possuem no que concerne na interferência ao alcance das metas do ODS saúde aos adolescentes. Destacando maiores sinergias entre a saúde e outros setores, capazes de proporcionar a execução e implementação de políticas voltadas para outros setores ao alcance dessas metas, a saber: educação, geração de renda e programas direcionados a alimentação saudável20,21,31.

As iniquidades socioeconômicas enfrentadas por adolescentes, desigualdades que reúne os determinantes sociais da saúde e os modelos de estratificação social, inclui o não acesso ao trabalho e a renda interfere substancialmente em esferas que impedem o acesso aos serviços de saúde, afetando a qualidade de vida desse (a) adolescente. Assim, a estratificação social coloca esse grupo em posição de vulnerabilidade, promovendo barreiras no que concerne ao enfrentamento de desafios relacionados a saúde e ao desenvolvimento sustentável5,32.

A elaboração e construção de políticas públicas de promoção da saúde ao público adolescente deve buscar assegurar impactos positivos na sua condição de saúde, já que essa população dever ser vista como uma janela de oportunidades para o ser saudável e produtivo na idade adulta25.

Destaque para as práticas de educação em saúde como estratégia promotora de sustentabilidade, devendo ser voltadas para intervenções com foco não apenas na doença, mas, sim para ações que possam promover o desenvolvimento de um adolescente autônomo e crítico em relação a sua condição de saúde. Demandando a necessidade de articulações de políticas de saúde, em todos os seus níveis e com outros setores, a exemplo do ambiente escolar4.

Compreende-se o ambiente escolar como um espaço facilitador para o desenvolvimento e fortalecimento de práticas sustentáveis, caracterizado pela integração entre saúde e educação, mediante ações conjuntas entre setores de saúde, escolas e sociedade. Nesse prisma, deve-se reconhecer a escola como um cenário privilegiado para implementação de estratégias de promoção da saúde que possam proporcionar aos adolescentes habilidades individuais e sociais para lidas com aspectos referentes ao processo saúde-doença22,26,33,34.

A educação em saúde voltada para adolescentes nas escolas representa uma estratégia de reorganização das práticas de saúde, possibilitando trocas de experiências e reflexões, a fim de construir conhecimentos e hábitos de saúde e práticas promotoras de saúde. Promovendo sujeitos ativos no processo de cuidar e com expressão e representatividade de social35,36.

Aponta-se que tais práticas devem ser compreendidas sob ótica da promoção da saúde, proporcionando ações com um olhar ampliado no que concerne na identificação e reconhecimento dos determinantes sociais da saúde como fator que incidi diretamente no processo saúde-doença. Observou que dentre as principais práticas sustentáveis, destaque para o acesso aos serviços de saúde, políticas de saúde menta e sexual e reprodutiva, programa de geração de renda, implementação de políticas públicas voltadas para a saúde, programa que visem adoção de alimentação saudável, equidade nos serviços de saúde e educação em saúde. Porém, para que tais práticas sejam alcanças, emerge a necessidade de ações e políticas multissetorialidade, para que possa promover qualidade de vida ao público adolescente.

Assim, o desenvolvimento de práticas sustentáveis busca o rompimento de ações pontuais e fragmentadas quanto à saúde do adolescente, emergindo a implementação de políticas de saúde que possam romper com modelos de saúde hegemônicos predominantes em relação à assistência de saúde voltada para o adolescente.

Dentre os avanços no conhecimento, evidencia que se faz necessário avançar quanto ao desenvolvimento de práticas promotoras de saúde destinadas ao publico adolescente, em uma perspectiva de compreender a pluralidade dos elementos relacionados ao processo saúde-doença. Além disso, o estudo revela que práticas sustentáveis alinhadas ao ODS 3 amplia a capacidade do adolescente em atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde. Como perspectiva no campo da saúde pública, aponta a reorientação da assistência em saúde, como uma prática promotora de saúde, devendo esta responder as necessidades sociais em saúde do adolescente.

 

CONCLUSÃO

A partir dos resultados encontrados no estudo pode-se concluir que as principais práticas sustentáveis voltadas para o adolescente foram acesso aos serviços de saúde, politicas de saúde mental, sexual e reprodutiva, programa de geração de renda, implementação políticas para a saúde, programas para adoção de alimentação saudável, equidade nos serviços e educação em saúde. A implementação de práticas sustentáveis influencia no alcance da qualidade da saúde, de modo a ofertar uma assistência equânime, com transformação social. Contudo, destaca um desafio, visto a predominância de caraterísticas de práticas curativistas no modelo de saúde vigente, sem considerar os determinantes e condicionantes que o processo saúde-doença está associado, favorecendo, assim, ao desenvolvimento de comportamentos de riscos por parte dos adolescentes.

Contribuição dos autores

Sabrina Alaide Amorim Alves concepção e delineamento do estudo, análise e interpretação dos dados, redação do artigo. Italla Maria Pinheiro Bezerra orientação, supervisão da pesquisa, revisão crítica e aprovação da versão final do manuscrito. Grayce Alencar Albuquerque revisão crítica do artigo. Edilma Gomes Rocha Cavalcante, revisão crítica do artigo. Maria do Socorro Vieira Lopes orientação, supervisão da pesquisa, revisão crítica e aprovação da versão final do manuscrito.

Financiamento

O estudo não contou com financiamento.

Agradecimentos

À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela concessão de bolsa de estudos à Sabrina Alaide Amorim Alves.

Conflitos de nteresse

Declaramos que não há conflitos de interesse.

 

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Endereço para correspondência:
Sabrina Alaide Amorim Alves
sabrina1995amorim@gmail.com

Manuscrito recebido: Abril 2021
Manuscrito aceito: Junho 2021
Versão online: Julho 2021

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