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Journal of Human Growth and Development

Print version ISSN 0104-1282On-line version ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.31 no.3 Santo André Sep./Dec. 2021

http://dx.doi.org/10.36311/jhgd.v31.12604 

ARTIGO ORIGINAL

 

Escala de medo da COVID-19 - tradução e validação para a versão brasileira

 

 

Marcella Moreira AguiarI; Monalisa Nascimento dos Santos BarrosII; Antonio MacedoIII; Maria Inês Rosselli PucciaIV; Ana Telma PereiraV

IUniversidade Federal da Bahia (UFBA), Vitória da Conquista, Bahia. Aluna no Mestrado de Psicologia da Saúde da Universidade Federal da Bahia
IIUniversidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Departamento de Ciências Naturais - Vitória da Conquista, Bahia. Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal. Pós-doutoranda no Instituto de Psicologia médica da Universidade de Coimbra. Professora adjunta das graduações de medicina e psicologia na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Doutora em Psicologia
IIIUniversidade de Coimbra, Portugal. Diretor do Instituto de Psicologia Médica; Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Doutor em Medicina
IVCentro Universitário FMABC, Santo André, São Paulo. Professor Auxiliar. Doutora em Ciências
VUniversidade de Coimbra, Portugal. Investigadora Auxiliar no Instituto de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Doutora em Ciências da Saúde

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: o medo é um dos principais fatores associados aos transtornos psicopatológicos evidenciados no contexto da pandemia da COVID-19.
OBJETIVO: traduzir e validar a Fear of COVID-19 Scale (FCV-19S) na versão portuguesa (do Brasil), denominada como Escala de Medo da COVID-19 (EMC-19)
MÉTODO: estudo transversal com 364 indivíduos recrutados de maneira virtual através das redes sociais, considerando-se como critérios de inclusão na pesquisa: ter mais de 18 anos de idade e ser fluente em português. Após o consentimento informado, os participantes preencheram um formulário eletrônico, que incluía a versão portuguesa preliminar da EMC-19, além de variáveis sociodemográficas. O tratamento dos dados foi realizado através do pacote estatístico do SPSS versão 26. Para medidas paramétricas, utilizou-se o coeficiente de Pearson e o T de Student e nas medidas não-paramétricas U de Mann Whitney. A magnitude dos coeficientes de correlação foi classificada segundo os critérios de Cohen e a análise fatorial confirmatória por meio do AMOS 26.0. Para consistência interna, o alfa de Cronbach.
RESULTADOS: os participantes tinham idade média de 33,11 anos (±10,047), a maioria do sexo feminino (n=332; 91,2%), com escolaridade superior (n=286; 78,6%), casados (n=225, 61,8%) e com filhos (n=300, 82,4%). Da análise fatorial exploratória/AFE e da análise factorial confirmatória/AFC emergiu apenas um componente, com variância explicada de 55,49%, resultando num modelo unidimensional com índices de ajustamento satisfatórios (X2/gl=2.135; RMSEA=0,061; CFI, TLI, GFI<0,095). O coeficiente alpha de Cronbach foi de de 0,876
CONCLUSÃO: foi demonstrada validade de construto da estrutura unidimensional da EMC-19, bem como sua boa consistência interna.

Palavras-chave: COVID-19, medo, psicometria, estudo de validação.


 

 

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

É essencial ter uma ferramenta que permita medir o nível em que o medo de COVID-19 pode afetar indivíduos. A FCV-19S foi desenvolvida no início da pandemia, precisamente com esse objetivo23, tendo sido traduzida para diversas línguas e validada em diversos países. O presente estudo tem por objetivo traduzir e validar a versão Portuguesa (do Brasil) da FCV-19S23, a qual denomina-se Escala de Medo da Covid-19 (EMC-19). Depois de analisadas as suas principais propriedades psicométricas, como a validade e a fidelidade, além da aferição, esta escala poderá ser utilizada na clínica e na investigação, para melhor compreender e intervir sobre as repercussões psicossociais da COVID-19.

Ainda será possível realizar estudos comparativos transculturais entre os diversos países que já a traduziram e validaram. O conhecimento produzido por esta via pode ajudar a fomentar comportamentos de saúde para a prevenção dos impactos da COVID-19 sobre a saúde mental, e a fundamentar políticas públicas adequadas ao enfrentamento da pandemia.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

Foi demonstrada validade de construto da estrutura unidimensional da Escala do Medo do COVID-19 (EMC-19), bem como sua boa consistência interna.

O que essas descobertas significam?

Com a Escala do Medo do COVID validar para o Brasil será possível realizar estudos comparativos transculturais entre os diversos países que já a traduziram e validaram. O conhecimento produzido por esta via pode ajudar a fomentar comportamentos de saúde para a prevenção dos impactos da COVID-19 sobre a saúde mental, e a fundamentar políticas públicas adequadas ao enfrentamento da pandemia.

 

INTRODUÇÃO

Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde decretou a pandemia do vírus SARS-COV-2, responsável pela Covid-191. O primeiro caso no Brasil ocorreu em 26 de fevereiro de 2020, quando a pandemia já tinha demonstrado sua força de expansão e letalidade na China e em vários países da Ásia e da Europa.

No Brasil, apesar da pandemia ter chegado em final de fevereiro, em meados de março já ficou evidente a incapacidade do governo federal de gerir as informações epidemiológicas, contribuindo para o que se tem chamado de subnotificação2.

Após um ano e meio de pandemia, as informações oficiais dão conta de que o Brasil acumula mais de 20 milhões de casos notificados de COVID-19 e ultrapassou o número de 570 mil mortes pela doença, segundo dados do Ministério da Saúde3. O país ocupa o quarto lugar no ranking mundial de afetados pela pandemia4, ainda somando dificuldades na implementação de medidas para conter o avanço da infecção, em particular as ações de imunização da população.

A despeito de todas as medidas sanitárias adotadas para controlar a disseminação do coronavírus no território nacional, destaca-se o impacto psicossocial da pandemia COVID-19 que, em seu espaço de menor relevância dentre as medidas adotadas, representa uma questão significativa para o campo da pesquisa e da integralidade da atenção em saúde5.

Segundo Ornel et al.6, as repercussões de uma crise sanitária mundial desta magnitude, sob a perspectiva da saúde mental, podem perdurar por muitos anos, mesmo após a contenção da doença.

Observa-se que, na medida do avanço da pandemia, consolidaram-se vários elementos de significativa importância para a instalação de uma situação de crise sob o ponto de vista da saúde mental, considerando-se tanto os indivíduos que foram acometidos pela COVID-19, quanto a população em geral7,8.

A quarentena, o distanciamento físico, o risco de contaminação, o aumento do número de mortes, incluindo-se familiares e pessoas próximas, mudanças na rotina doméstica e de trabalho, perda de emprego, agravados pela solidão, medo e pelo próprio luto, aumentam a suscetibilidade a problemas como ansiedade, transtorno do estresse pós-traumático síndrome do pânico, isolamento social, entre outros transtornos6,8.

Por crise, entende-se, tal como definida por Slakieu, Mejía e López7, o estado de desorganização produzida pelo impacto de uma situação que altera a vida e que excede a capacidade habitual das pessoas para enfrentar problemas.

Os esforços para responder ao contexto de crise, exigem recursos de saúde mental efetivos para melhorar a qualidade da atenção, e reduzir a carga global de transtornos mentais causada pelas oportunidades perdidas para ações preventivas e tratamento oportuno, especialmente nos países em desenvolvimento9.

Discutindo a saúde mental frente à COVID-19 e o distanciamento físico, Galea, Merchant e Lurie10, alertam que, na medida em que as populações se isolam física e socialmente, deve-se lançar mão de estratégias para planejar a inevitabilidade da solidão e prevenir suas sequelas.

A primeira revisão sistemática e meta-análise das consequências psiquiátricas da infecção por coronavírus identificou 72 estudos independentes, que forneceram dados sobre as características psiquiátricas e neuropsiquiátricas agudas e pós infecção por coronavírus8.

Incialmente a revisão sugere que, a maioria das pessoas não sofre de nenhum distúrbio psiquiátrico após a infecção por coronavírus, e acrescenta que até o momento, há pouco que sugira que complicações neuropsiquiátricas comuns, além do delírio a curto prazo, sejam uma característica8. No entanto, esta revisão alerta os médicos para a possibilidade de desenvolvimento posterior de depressão, ansiedade, fadiga, transtorno de estresse pós-traumático e síndromes neuropsiquiátricas mais raras8.

Assim, o aumento de transtornos psicopatológicos11,12 pressiona os sistemas de saúde para o desenvolvimento de recursos e estratégias de resposta rápida para lidar com a pandemia de COVID-19. O risco iminente de sucessivas "ondas" de COVID-19, ou o agravamento ocasionado pelo surgimento de novas variantes do coronavírus, afetam ainda mais a saúde mental dos indivíduos13.

De fato, além do ressurgimento do vírus, em alguns meses os sistemas públicos de saúde podem ter que enfrentar, em simultâneo, as consequências da pandemia na saúde mental14. Os problemas de saúde mental (depressão, estresse, pânico, angústia etc.) podem, em situações mais extremas, resultar em ideação suicida, tentativas de suicídio e ocorrência real de suicídio15,16.

As repercussões mais comuns para a saúde mental, tais como a ansiedade e a depressão, também tendem a durar mais tempo, possivelmente seis meses após o término da doença) e estão associados a uma maior prevalência do medo6,17.

Cabe destacar que o aspecto psicológico dominante da pandemia do COVID-19 é o medo. Este constitui uma resposta emocional central a ameaças iminentes, como é o caso da COVID-1918. O medo é definido como um estado emocional desagradável que é desencadeado pela percepção de estímulos ameaçadores19.

Numa perspectiva evolutiva, esta resposta emocional constitui um componente básico da experiência humana, concebido como uma emoção-choque devido à percepção de perigo presente e urgente que ameaça a preservação daquele indivíduo; provocando uma série de efeitos fisiológicos, no organismo, que o tornam apto a uma reação de defesa, a exemplo da fuga20.

Assim, o medo pode ser adaptativo e determinar o grau de proteção e prevenção a ser adotado frente à ameaça, como é o caso da Covid-1919. Por outro lado, quando a intensidade do medo é muito intensa ou fraca demais, de maneira desproporcional ao que o estímulo representa em realidade, comportamentos mal adaptativos podem ser desencadeados, como excessiva exposição ao vírus ou paralisia frente à crise, dificultando o acesso aos recursos internos para o seu enfrentamento19,20.

O aumento do medo pode amplificar os danos da própria doença e pode estar diretamente associado à sua taxa de transmissão, bem como à sua morbimortalidade18. O desenvolvimento do medo não é um processo estritamente interindividual, mas o resultado de uma complexa interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais, que pode ainda ocasionar outros desafios psicossociais, incluindo estigmatização, discriminação e perda21.

Com os altos níveis de medo, os indivíduos podem não pensar clara e racionalmente ao reagir ao COVID-19, resultando em processamento irracional de informações relacionadas com a pandemia22, fato este que aumenta consideravelmente o sofrimento e os desafios psicossociais21,23-25.

No que diz respeito ao papel motivador do medo, verificou-se uma relação significativa entre as pontuações na Fear of COVID-19 Scale (FCV-19S) e a adesão às regras de mitigação implementadas na Nova Zelândia26, nomeadamente cumprimento do distanciamento social de dois metros e realização de atividade física em locais ao ar livre que podem ser facilmente acessados a pé. Esse achado é consistente com os resultados de Harper e colaboradores26, que relataram uma correlação positiva entre os escores no FCV-19S e a percepção dos participantes acerca do grau em que vários comportamentos e práticas foram alterados devido à pandemia (por exemplo, higiene, cuidado de crianças e idosos)26.

Efetivamente, foi demonstrado que níveis elevados de medo, juntamente com autoeficácia, afetam positivamente mudanças comportamentais adaptativas; baixos níveis de medo e autoeficácia foram associados com envolvimento de comportamentos esquivos27.

Desta forma, torna-se essencial ter uma ferramenta que permita medir o nível em que o medo de COVID-19 pode afetar indivíduos. A FCV-19S foi desenvolvida no início da pandemia, precisamente com esse objetivo23, tendo sido traduzida para diversas línguas e validada em diversos países, nomeadamente Itália28; Nova Zelândia29; Rússia e Bielorrússia30; Turquia31; Peru32; Israel33; Países Árabes34; Espanha35 e França36 sempre com resultados abonatórios das suas propriedades psicométricas.

Neste sentido, o presente estudo tem por objetivo traduzir e validar a versão Portuguesa (do Brasil) da FCV-19S23, a qual denomina-se Escala de Medo da Covid-19 (EMC-19). Depois de analisadas as suas principais propriedades psicométricas, como a validade e a fidelidade, além da aferição, esta escala poderá ser utilizada na clínica e na investigação, para melhor compreender e intervir sobre as repercussões psicossociais da COVID-19.

Ainda será possível realizar estudos comparativos transculturais entre os diversos países que já a traduziram e validaram. O conhecimento produzido por esta via pode ajudar a fomentar comportamentos de saúde para a prevenção dos impactos da COVID-19 sobre a saúde mental, e a fundamentar políticas públicas adequadas ao enfrentamento da pandemia.

 

MÉTODO

A Fear of COVID-19 Scale (FCV19S)23 é um questionário de autopreenchimento composto por sete itens a responder numa escala Liberte de 5 pontos, desde "Discordo fortemente" a "Concordo Fortemente". No estudo psicométrico original foi considerada uma escala unidimensional, com cargas fatoriais que variam de 0,66 a 0,74. Quanto à consistência interna, o alfa de Cronbach, de α= 0,82, foi favorável, bem como os coeficientes de correlação entre os itens e o total corrigido, de 0,47 a 0,74. A estabilidade teste-reteste, de 0,72, foi também aceitável. As pontuações na FCV19S correlacionaram-se significativa e positivamente com a vulnerabilidade percebida e a ansiedade e depressão, avaliadas através da escala Likert23.

O processo de tradução da FCV19S para português do Brasil foi o seguinte: primeiro, a escala original em inglês (v1) foi traduzida para o português por dois das pesquisadores brasileiros (v2). Em seguida, a versão em português traduzida (v2) foi traduzida novamente para inglês por um software de tradução Google Tradutor (v3). Finalmente, os 2 pesquisadores brasileiros compararam a versão em inglês (v3) com a versão original (v1), item por item, verificando-se a equivalência de significados. Subsequentemente, uma pesquisadora portuguesa procedeu uma nova revisão, de forma que a versão proposta pudesse ser utilizada no Brasil e em Portugal. Um total de 3 pesquisadores participaram do processo de tradução do instrumento de forma interdependente, obtendo-se então, a sua versão final em português (Brasil), denominada Escala de Medo da COVID-19 (EMC-19).

Os participantes foram recrutados online, através das redes sociais e convidados a participar do estudo, enunciando-se o seu objetivo e os critérios de inclusão, quais sejam: ter mais de 18 anos de idade e ser fluente em português. Os participantes que aceitaram participar voluntariamente deram o seu consentimento informado. A seguir preencheram um formulário em Google Forms, que, além da versão portuguesa da EMC19, questionava sobre algumas variáveis sociodemográficas, dentre as quais: idade em anos, sexo (masculino e feminino), escolaridade (fundamental, graduação, mestrado doutorado, outro), raça com a qual se identificavam (branca, preta, parda, indígena ou amarela), estado civil (solteira, união estável, casada, divorciada, outro), no caso de mulheres, se estavam gestantes no momento da pesquisa e o número de filhos vivos.

O tratamento estatístico foi realizado com o programa IBM SPSS Statistics, versão 26 para Windows. Iniciou-se o tratamento de dados pela determinação das estatísticas descritivas, medidas de tendência central e de dispersão.

Como o tamanho da amostra é suficiente, e tendo em conta o teorema do limite central, foram utilizados medidas e testes paramétricos, como o coeficiente de correlação de Pearson e o T de Student para comparação de pontuações medias.

A magnitude dos coeficientes de correlação foi classificada segundo os critérios de Cohen: baixa se inferior a 0,19; moderada se entre 0,20 e 0,49 e elevada se superior a 0,50.

Na Análise Fatorial Exploratória (AFE), guiou-se pelos Critério de Kaiser (1958)37 e do scree test de Cattell38. Seguindo a sugestão de Kline39, considera-se que os "pesos" (loadings) com valores > 0,30 estão associados com o fator e que "pesos" >0,60 são elevados.

Antes de proceder a análise fatorial, foi realizado o teste KMO (Kaiser-Meyer-Olkin) e o teste de esfericidade de Bartlett, que são dois procedimentos estatísticos que permitem aferir a qualidade das correlações entre as variáveis, de forma a saber se é plausível realizar a análise fatorial40. Para o proceder esta análise com segurança, o primeiro deve aproximar-se de um, sendo "bom" se for >0,80; o segundo deve levar a rejeitar a hipótese nula, o que também aconteceu com os nossos dados (p <0,001).

Utilizou-se o software AMOS 26.0 para a análise fatorial confirmatória (AFC). A violação da distribuição normal foi verificada com os coeficientes de assimetria e curtose. O ajustamento dos modelos foi feito a partir dos índices de modificação superiores a 11, p < 0,001, produzidos pelo AMOS e com base em considerações teóricas41. Para avaliar o ajustamento do modelo foram usados os seguintes índices de ajustamento: X2/gl, Comparative Fit Index (CFI), Goodness of Fit Index (GFI), Tucker-Lewis Index (TLI), Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA).

Para a análise de consistência interna, foi utilizado o coeficiente de alfa de Cronbach. De forma a determinar a contribuição particular de cada item para a consistência interna da dimensão, determinaram-se os coeficientes alfa de Cronbach excluindo os respetivos itens, para depois os comparar com o alfa global da dimensão. Para averiguar o poder discriminativo ou validade interna de cada item, os coeficientes de correlação foram analisados entre cada item e o total (excluindo o item).

O estudo foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Brasil - CONEP, de acordo com as atribuições definidas na Resolução CNS nº 510 de 2016, na Resolução CNS nº 466 de 2012 e n da Norma Operacional nº 001 de 2013 do CNS, que se manifestou pela aprovação do projeto de pesquisa proposto com o número do CAAE: 32934720.3.0000.5556, sob o título: Perturbação Psicológica Perinatal em tempos de COVID. Os dados foram tratados com condicionalidade, igualdade e justiça. Todos os procedimentos seguidos estavam de acordo com os padrões éticos. O consentimento informado foi obtido de todos os participantes incluídos no estudo. Número do processo: 4.179.143.

 

RESULTADOS

Caracterização da amostra

Durante o período da coleta de dados, compreendido entre dezenove de junho e vinte e três de julho de 2020 foram obtidas 364 respostas válidas.

A idade média dos participantes foi de 33,11 anos (±10,047), variando de 18 a 67 anos. A maioria era do sexo feminino (n=332; 91,2%), possuía como grau de escolaridade a graduação ou mais (n=286; 78,6%); quanto ao estado civil, a maior parte estavam casados ou em união estável (n=225, 61,8%) e tinham filhos e/ou estavam grávidas (n=300, 82,4%). Relativamente à raça com a qual se identificavam, a distribuição foi a seguinte: branca, n=182 (50,0%); parda, n=119 (32,7%); preta, n=52 (14,3%); indígena, n=2 (5,0%) e amarela, n=9 (2,5%).

Um pouco mais de um quarto dos participantes (n=95, 26,1%) era profissional de saúde, sendo que destes, 42 (11,5% da amostra total), são "profissionais da linha de frente", ou seja, com contacto direto com doentes.

Validade de constructo

Para estabelecer a validade do construto, foi feita uma divisão aleatória da amostra em duas subamostras; com uma delas, procedeu-se a AFE (n=192; 52,7%) e, com a outra, a AFC (n=172; 43,3%). A idade média (33,29±10,41 vs. 32.91±9,68; t=0,311, p=0,756) e as proporções de sexo feminino (91,3% vs. 90,4%; X2=0,002, p=0,557), de ter filhos (55,5% vs. 45,0%; X2=3,474, p=0,073), de ser profissional de saúde (22,4% vs. 30,2%; X2=2,889, p=0,067) e de ser de raça preta/parda (91,3% vs. 90,4%; X2=0,002, p=0,557) não variaram significativamente nestas duas subamostras, confirmando a sua equivalência.

Preliminarmente à AFE verificou-se que o KMO foi igual a 0,860 e que o teste de Bartlet resultou em significativo (p<0,001).

A exploração da análise fatorial, efetuada sem qualquer rotação e sem definir o número de fatores (o único critério foi que fossem extraídos os componentes com raízes latentes superiores a um), resultou em apenas um componente, com uma variância explicada de 55,49%. O gráfico correspondente ao scree plot de Catell apresenta-se abaixo (figura 1).

 

 

Também a observação do scree plot favorece a opção por uma estrutura unidimensional.

A Tabela 1 corresponde à matriz fatorial obtida com os itens dispostos por ordem decrescente do respectivo peso no (único) fator. Com esta subamostra, o coeficiente alpha de consistência interna foi de a=0,865.

 

 

Com a AFC obteve-se, a partir do modelo inicial unidimensional com os sete itens, índices de ajustamento insatisfatórios (tabela 2). Depois de correlacionados quartos pares de erros de itens (1 e 2, 1 e 7, 3 e 6 e 6 e 7) com índices de modificação superiores a 1140, houve um ajustamento globalmente muito bom (tabela 2, figura 2). O coeficiente alpha de Cronbach nesta subamostra (n=172) foi de a=0,898.

O coeficiente alpha de Cronbach na amostra total (N=364) foi de a=0,876.

A tabela 3 apresenta, além da pontuação média e desvio padrão de cada item, o alfa de Cronbach se cada item for excluído e a correlação item-total corrigido. Verificou-se que todos os itens da escala contribuem para a consistência interna, pois apresentaram correlações item-total corrigido superiores 0,40, variando de 0,589 (item 6) a 0,709 (item 7) e que a exclusão de cada um faria com que o alfa de Cronbach da escala total/ diminuísse ligeiramente.

A pontuação total média na EMC19 foi de 18,53 (±6,63), com uma variação de 7 a 35, ou seja, equivalente à variação teórica.

Na tabela 4 apresentamos os valores correspondentes aos percentis (e quartis) nesta amostra.

 

 

A pontuação total média foi significativamente mais elevada no sexo feminino (18,76±6,62) do que no sexo masculino (16,03±6,26) [t= 2,243 (362), p=0,026)].

Já por grupos etários, organizados em duas categorias, com idade inferior a 35 anos (n=192, 52,7%) vs. superior a 36 anos (n=172, 47,2%), não se verificou diferença significativa na pontuação total média na EMC19 [t= 2,017 (362), p=0,065)].

Ter filhos, não ter filhos ou estar grávida também não parece influenciar o medo da COVID19, medido pela EMC19 [t= 1,200 (362), p=0,231)].

A raça, categorizada em branca (n=182, 50,0%) vs. outras (n=171, 47,0%), também não resultou em pontuações significativamente diferentes de medo da COVID19 [t= -1,386 (351), p=0,167)].

Quando comparados a outras categorias profissionais, verifica-se que os profissionais da saúde não apresentaram pontuações superiores no total da EMC19 [t= -0,524 (362), p=0,601)]. No entanto, se forem considerados apenas os "profissionais da ponta", será possível notar que estes apresentam pontuações significativamente mais reduzidas de medo da COVID-19 (16,40±6,31) do que o restante da amostra (18,80±6,62) [t=-2,218 (362), p=0,027)].

 

DISCUSSÃO

O presente estudo buscou garantir a validade e confiabilidade da Escala de Medo da COVID-19, através de sua versão traduzida e validada para o português (Brasil), enquanto medida da gravidade do medo da COVID-19 entre uma população de adultos brasileiros, segundo variáveis psicométricas.

Os resultados confirmaram a validade de construto da estrutura unidimensional da EMC-19, bem como a sua boa consistência interna. Para além disso, apresentam-se os valores normativos, médias e percentís, que podem ser usados para comparar as pontuações de indivíduos ou grupos, inclusive entre países23.

As boas propriedades psicométricas da escala oferecem confiança, rigor e objetividade na avaliação deste importante componente da saúde mental da população durante a pandemia, tanto na clínica como na investigação23,42,43.

Não foram encontradas diferenças significativas nas pontuações quando comparadas segundo as variáveis sociodemográficas selecionadas no estudo, com exceção ao gênero. Ser mulher, também foi uma variável que se mostrou associada a maiores níveis de medo da COVID-19, nos resultados obtidos em outros estudos que utilizaram a FCV-19S, assim como estar casado44-46. Por outro os dados do presente estudo também corroboram os achados da literatura com relação escolaridade que não influenciou a percepção de medo das pessoas que integraram a amostra23,44,47.

É importante destacar que o medo representa um estímulo fortemente associado ao desencadeamento da resposta ao estresse que, por sua vez, interfere no processo adaptativo frente a situações potencialmente ameaçadoras da vida48.

A capacidade de resposta ao estresse é uma característica individual. Há pessoas que apresentam robustez ao estresse. Ou seja, são capazes de compreender sua experiência, acionam estratégias efetivas de autorregularão emocional e se adaptam com sucesso48-50.

Outras, por sua vez, apresentam um enfrentamento mal adaptativo que, além da negação ou naturalização do estresse, incluem-se condutas e atitudes como trabalhar demais; hiperatividade; uso abusivo de substâncias lícitas e ilícitas; comer excessivamente; cultivar pensamentos disfuncionais e depressivos48,50.

Verificou-se que o grupo de profissionais de saúde, particularmente os que atuam em linha diferente, apresentam níveis do medo da COVID-19 mais baixos, o que pode estar relacionado com um fenômeno de dessensibilização ou habituação, relacionadas com a diminuição do medo e com mudanças cognitivas49. Ou seja, um conjunto de estratégias para o enfrentamento, que algumas pessoas acabam desenvolvendo na tentativa de manter o equilíbrio e lidar com as pressões da vida49,50.

Por outro lado, estes baixos níveis de medo podem constituir um dos sinais de enfrentamento mal adaptativo que, em situações mais prolongadas, pode levar ao adoecimento físico e mental49,50.

Acrescenta-se que os indivíduos que apresentaram baixo nível de medo podem não aderir às medidas sanitárias recomendadas para a prevenção da COVID-19, aumentando a exposição ao risco de adoecer18.

Além dos riscos pessoais envolvidos na prestação dos serviços, os profissionais de saúde não têm, num futuro imediato, uma previsão sobre o término desta situação de pressão e sobrecarga psicoemocional.

Desta forma, é imprescindível a adoção de medidas preventivas e assistenciais em momento oportuno, considerando-se que o contexto da pandemia por si, interfere com os níveis de estresse e pode agravar a saúde mental dos indivíduos já predispostos a transtornos de ordem psicoemocional51.

Duan & Zhu (2020)52, propõem que as intervenções direcionadas ao cuidado à saúde mental, sejam amplas e baseadas na avaliação criteriosa de fatores de risco, tais como antecedentes de sofrimento mental, vivência de luto, autolesão ou comportamentos violentos em relação a outras pessoas, pânico, separação da família e baixa renda familiar.

A experiência emocional de profissionais da saúde, bem como o enfrentamento adaptativo ao estresse representam importantes questões para estudos futuros, tendo em vista que estilos de enfrentamento e de crescimento psicológico são importantes para a manutenção da saúde mental de todos42.

É importante compreender que a maior percepção de medo pode repercutir como um elemento motivacional na adoção de comportamento preventivos, que constituem uma resposta positiva e funcional no que diz respeito à contenção do avanço da pandemia26,53. Entretanto, estes indivíduos com maiores níveis de medo podem adotar medidas preventivas equivocadas e não fundamentadas em evidências científicas, tornando-se mais suscetíveis à infecção18, bem como ao desenvolvimento de transtornos mentais mais severos51.

Estes resultados sobrepõem-se aos de outros estudos de validação realizados no Irã, Nova Zelândia, Paraguay, Rússia, Arábia Saudita, Canadá, França, Itália, Bangladesh, Israel28-36; dentre os quais, foram incluídas escalas de depressão e/ou ansiedade para testar a validade convergente, com associações positivas, significativas e de magnitude moderada.

A disponibilidade de um instrumento válido e fidedigno, subsidiará estudos correlacionais futuros, já em curso, de forma a contribuir para a melhor compreensão dos correlatos do medo da COVID-19. Estes estudos correlacionais poderão servir também para validação adicional do instrumento.

Os achados do presente estudo devem ser considerados à luz de algumas limitações. Primeiramente, não se trata de um estudo populacional e, portanto, os resultados se aplicam tão somente à amostra selecionada e não permitem generalizações. A amostra foi majoritariamente representada pelo sexo feminino, o que afeta a sua representatividade. A coleta dos dados, através das redes sociais, embora facilite o recrutamento de voluntários para a pesquisa, pode induzir a um viés de seleção, sob o ponto de vista de variáveis sociodemográficas, como escolaridade e nível socioeconômico, não se podendo excluir que os problemas sociais e fatores de conveniência podem ter influenciado as respostas dos participantes ao questionário.

Ressalta-se que não foi devidamente analisada a estabilidade temporal, tendo em vista que tal análise exige um prazo mais longo que permita dispor de um instrumento válido para este quesito. Ou seja, considera-se que, dada a sua premência, não se justificava esperar dois meses para o reteste.

Estudos futuros também devem avaliar se indivíduos com condições médicas subjacentes associadas a um maior risco de morte por COVID-19 (por exemplo, diabetes, hipertensão, doença cardíaca coronariana, condições respiratórias pré-existentes) podem apresentar aumento níveis de medo COVID-19.

Importa recolher uma amostra mais representativa da população brasileira, para confirmar os resultados preliminares fornecidos pelo presente estudo. No entanto, a evidência de que as pontuações totais no EMCV-19 não se distinguem significativamente por idades, sugere que a EMC-19 possa ser usada para avaliar o medo da COVID-19 entre indivíduos de língua portuguesa. As frases utilizadas em cada um dos itens são exatamente iguais nas versões em português do Brasil e de Portugal, de forma a viabilizar estudos multicêntricos e transculturais.

 

CONCLUSÃO

A Escala do Medo do Covid-19 (EMC-19) em sua versão em português (Brasil) é uma ferramenta confiável e válida para avaliar a gravidade do medo de COVID-19 entre adultos brasileiros.

O processo de validação da EMC- 19 demonstrou a validade de construto e consistência interna do questionário, caracterizando-se pela robustez de suas qualidades psicométricas.

A EMC-19 constitui um instrumento de fácil aplicação por parte das equipes de saúde, que permitirá avaliar comportamentos diante da pandemia COVID-19, de forma a proporcionar subsídios para o cuidado à saúde mental, desde o planejamento até a implementação de ações preventivas, educativas e de reabilitação que objetivem a superação do medo e dos impactos das perturbações psicoemocionais da COVID-19.

Declaração de conflito de interesse

Declara-se a ausência de conflito de interesse, visto que até o presente momento é desconhecida a existência de conflitos, seja de ordem financeira ou outro.

Contribuições dos autores

Todos os autores contribuíram para a concepção e delineamento do estudo. Preparação de material, coleta e análise de dados foram realizadas por Monalisa N S Barros, Ana Telma Pereira, Marcella Aguiar e António Macedo. O primeiro rascunho do manuscrito foi escrito por Monalisa N S Barros e Ana Telma Pereira. Todos os autores comentaram versões anteriores do manuscrito. Maria Inês Puccia fez a revisão final do artigo. Todos os autores leram e aprovaram o manuscrito.

 

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Endereço para correspondência:
marcellaguiar@gmail.com

Manuscrito recebido: fevereiro 2021
Manuscrito aceito: julho 2021
Versão online: novembro 2021

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