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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.31 no.3 Santo André set,/dez. 2021

http://dx.doi.org/10.36311/jhgd.v31.12609 

ARTIGO ORIGINAL

 

Efeitos do isolamento social gerado pelo Covid-19 na qualidade de Vida da população de Rio Branco -AC e Santo André - SP

 

 

Francisco Naildo Cardoso LeitãoII, III; Carlos Roberto Teixeira FerreiraI, II; Katiuscia Larsen de AbreuII, III; Maura Bianca Barbary de DeusI, II; Hugo Macedo JuniorIII; Mauro José de Deus MoraisI, II

ICentro de Ciências da Saúde e do Desporto. Campus Rio Branco. Universidade Federal do Acre (UFAC) - Rio Branco, Acre, Brazil;
IILaboratório Multidisciplinar de estudos e Escrita Científica das Ciências da Saúde-LaMEECCS, UFAC - Acre, Brazil
IIIPós-Graduação em Ciências da Saúde do Centro Universitário Saúde do ABC (FMABC), São Paulo, Brasil;

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: o COVID-19 é um vírus altamente transmissível e que estar causando problemas gravíssimos na saúde do mundo, gerando com isso, grandes problemas políticos e financeiros. Existem inúmeros fatores de risco relacionados a esta doença, que vai desde morbidades até questões sociais e familiares.
OBJETIVO: avaliar os efeitos do isolamento social gerado pelo Covid-19 na qualidade de Vida na população de duas cidades Brasileiras.
MÉTODO: estudo transversal. A pesquisa foi realizada em duas cidades diferentes da confederação brasileira. Uma em Santo André - SP e a outra em Rio Branco-AC. Trata-se de uma pesquisa com uma plataforma online, utilizando a ferramenta do Google Formulários do drive para avaliar a qualidade de vida da população pelo protocolo SF-36. A seleção foi realizada de forma aleatória em ambos os grupos (Acre e São Paulo), tendo respectivamente 109 e 62 participantes neste primeiro momento.
RESULTADOS: em relação ao gênero, as mulheres estão em maior número participando na cidade de Santo André - SP do que em Rio Branco-AC, com (80,6% e 48,6%), respectivamente. Da mesma forma, em relação a faixa etária Santo André encontra-se com uma média de idade mais jovem do que em Rio Branco. Quando realizamos uma comparação das dimensões entre os dois estados realizando uma análise estatística de Mann-Whitney apareceram diferença estatística em três dimensões, que foram a capacidade funcional, a Dor e a vitalidade, apresentando nestes três domínios melhor qualidade de vida para a cidade de Rio Branco.
CONCLUSÃO: a cidade de Rio Branco-Acre encontra-se com um escore positivo quando comparado com a cidade de Santo André - SP na maioria dos domínios analisados.

Palavras-chave: qualidade de vida, COVID-19, isolamento Social, SARS-CoV-2.


 

 

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

O COVID-19 é um vírus altamente transmissível que vem causando graves problemas de saúde em todo o mundo, gerando grandes problemas políticos e financeiros. São inúmeros os fatores de risco relacionados a essa doença, que vão desde morbidades até questões sociais e familiares. Assim, quanto mais pesquisas são realizadas para entender melhor os efeitos desse vírus, mais a ciência se torna mais forte para novas epidemias.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

Avaliamos os efeitos do isolamento social gerado pela Covid-19 na qualidade de vida da população de dois estados brasileiros. A pesquisa foi realizada em dois diferentes estados da confederação brasileira. Em Santo André - SP e Rio Branco-Ac. A seleção foi realizada de forma aleatória em ambos os grupos (Acre e São Paulo), com 109 e 62 participantes, respectivamente, neste primeiro momento. Quando realizamos uma comparação das dimensões entre os dois estados por meio da análise estatística de Mann-Whitney, surgiu uma diferença estatística em três dimensões, que foram capacidade funcional, dor e vitalidade, apresentando nestes três domínios uma melhor qualidade de vida para os estado do Acre.

O que essas descobertas significam?

Isso demonstra que as atividades dos grandes centros quando se deparam com uma situação de isolamento, a qualidade de vida diminui. O que nos faz repensar para desenvolver melhores programas que desenvolvam aspectos de melhor qualidade de vida para os moradores das grandes cidades.

 

INTRODUÇÃO

Conhecida como SARS-CoV-2 (aguda grave síndrome respiratória coronavírus 2), onde se espalhou globalmente rapidamente até os dias atuais, sem até o presente momento não temos uma solução concreta e definitiva1,2. Apesar do genoma do vírus ter sido sequenciado, o que permitiu o desenvolvimento de vários testes de diagnósticos e o início de vacinas e os dados em torno das características clínicas crescem diariamente, o espectro clínico da doença continua a ser definido (incluindo o potencial de disseminação assintomática)3.

A quarentena e o isolamento imposto atualmente em quase todo o mundo devido ao COVID-19 que tem ação a separação e restrição das pessoas tanto sintomáticas como assintomáticas procurando evitar uma potencial exposição maior do vírus, reduzindo assim o risco de infectar outras pessoas como também de ser infectado geralmente é uma experiência desagradável para quem passa por ela. A separação dos entes queridos, a perda de liberdade, a incerteza sobre o status da doença e o tédio podem, ocasionalmente, criar efeitos dramáticos. O uso bem-sucedido da quarentena como medida de saúde pública exige que reduzamos, tanto quanto possível, os efeitos negativos a ela associados. Dada a situação em desenvolvimento com o coronavírus, os formuladores de políticas precisam urgentemente de síntese de evidências para produzir orientação para o público. Em circunstâncias como estas, as análises rápidas são recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS)4.

De acordo com a OMS, os casos de infecção por COVID-19 só aumentam no mundo todo, onde já se caracterizou uma pandemia globalizada. Inúmeros são os trabalhos realizados pelos cientistas procurando uma cura definitiva (a princípio uma vacina). As pesquisas são as mais variadas possíveis, não só na área clínica, como nos aspectos epidemiológicos, sociais, humanos, etc. Pois a população está sendo atingida em todas as suas dimensões1.

Desde a metade do século XX, Saúde e Qualidade de Vida (QV) das populações, com e sem diagnóstico clínico, têm sido discutidas juntas, ocorrendo muitas vezes à tomada conceitual de uma pela outra5,6. A investigação sobre a qualidade de vida (QV) é um tema de investigação crescente em estudos de saúde7. O estudo sobre QV vem assumindo importância sob vários aspectos, nos últimos anos, particularmente no que diz respeito à sua avaliação e mensuração, quer individualmente, quer coletivamente8.

O tema Qualidade de Vida (QV) constitui uma das grandes questões e desafios para a área da saúde neste início de século. Muito se tem falado sobre QV e muitas são as tentativas de se encontrar a melhor definição para o termo, abordado sob os mais diferentes olhares, seja pelo olhar da ciência ou pelo olhar dos indivíduos9. Diante da necessidade de formular um conceito voltado para a perspectiva da saúde a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu em 1994 QV como: A percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações4.

A Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS) é um subconjunto do termo Qualidade de Vida (QV), frequentemente utilizado para se distinguir QV em sentido mais geral e QV relacionada a parâmetros médicos e clínicos. A QVRS aborda aspectos relevantes que podem variar a cada estudo, mas em geral, englobam saúde, sintomas físicos, funções físicas, emocionais, cognitivas e sexuais, estado funcional e as possíveis consequências desses fatores10.

A avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) tem sido uma prática cada vez mais frequente na medicina atual. Esta avaliação objetiva monitorar a saúde de uma determinada população, diagnosticar a natureza, gravidade e prognóstico da doença, além de avaliar os efeitos do tratamento11.

Dentro desta perspectiva, a avaliação da QVRS é uma ferramenta capaz de verificar o impacto da doença, saúde e tratamento, sendo composta por indicadores multidimensionais, permitindo avaliar pessoas diferentes, que possuem a mesma problemática e que apresentam diferentes níveis de saúde e bem estar físico e emocional12. Apesar de não existir um consenso sobre o significado do termo QV, por se tratar de conceitos relativos à percepção subjetiva e individual, é possível mensurá-la através de instrumentos padronizados e validados para serem utilizados em determinada população13-15.

Apesar de haver diversas definições, o principal conceito a ser citado é a definição de qualidade de vida proposta pela Organização Mundial da Saúde16. A QV não se relaciona apenas à resolução dos problemas básicos de sobrevivência, deve contemplar, também, a garantia de condições de conforto e satisfação psicológica, física, individual e familiar dos indivíduos, devendo ser entendida como a sensação de bem-estar de cada um, isto é, deve ser entendida no que concerne aos aspectos materiais objetivos e aos aspectos emocionais subjetivos17.

QVRS é o valor atribuído ao tempo de vida quando alterado pela percepção de limitações físicas, psicológicas, funções sociais e oportunidades influenciadas pela doença, tratamento e outros agravos, tornando-se o principal indicador para a pesquisa avaliativa sobre o resultado de intervenções18.

A avaliação a qualidade de vida relacionado a saúde (QVRS) e aspectos que a cercam é de suma importância para compreender o cidadão como um todo nos aspectos associado as enfermidades ou ligado as intervenções terapêuticas. Esse tipo de avaliação tende a manter um caráter multidimensional, ainda que a ênfase recaia sobre os sintomas, incapacidades ou limitações ocasionadas por enfermidades19.

Levando em consideração ao exposto anteriormente sobre a quarentena e seus possíveis efeitos colaterais, bem como que a região Norte (Acre) é considerada a mais carente do País, onde existem muitas dificuldades nas condições que variam desde moradias, saneamento, questões financeiras, sociais, de assistência e apoio governamental, como será que está a qualidade de vida desta população afetada pelo COVID-19 no Estado do Acre? Quais as principais características epidemiológicas e clínicas desta população? Como será a qualidade de vida da população do Acre comparada a outra população de outro estado do Brasil?

Diante do apresentado, tivemos como objetivo avaliar os efeitos do isolamento social gerado pelo COVID-19 na qualidade de Vida da população de dois Estados Brasileiros.

 

MÉTODO

Estudo transversal. A pesquisa foi realizada em duas cidades diferentes da confederação brasileira. Em Santo André - SP e Rio Branco-Ac. Trata-se de uma pesquisa com uma plataforma online, utilizando a ferramenta do Google Formulários do DRIVE para avaliar a qualidade de vida da população, a seleção foi realizada de forma aleatória em ambos os grupos (Rio Branco - Acre e Santo André - São Paulo), tendo respectivamente 109 e 62 participantes neste primeiro momento.

Este estudo foi realizado seguindo as diretrizes que regulam a pesquisa em seres humanos, na Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina do ABC/Fundação do ABC - FMABC sob o número 4.184.251. Todos os participantes que concordaram em participar da pesquisa assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Critérios de inclusão

Participaram desta pesquisa maiores de 18 anos, alfabetizados de ambos os sexos e que estejam em plena saúde mental. Pessoas que se encontravam em isolamento social ocasionado pelo COVID-19.

Critérios de exclusão

Menores de idade, indígenas e pessoas não alfabetizadas, bem como pessoas incapacitadas mentalmente não poderiam participar da pesquisa. Também pessoas que não se encontravam em isolamento social.

Instrumento Utilizado

O SF-36 avalia a qualidade de vida da população, onde temos a "Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida - SF-36". Este protocolo trabalha com 8 dimensões, a seguir: funcionamento físico (10 itens), limitações causadas por problemas da saúde física (4 itens), limitações causadas por problemas de saúde emocional (3 itens), função social (2 itens), bem-estar emocional (5 itens), dor (2 itens), energia/fadiga (vitalidade) (4 itens), percepção da saúde geral (5 itens) e um item sobre o estado de saúde atual comparado há um ano atrás que é computado à parte. Em termos gerais, para a avaliação dos resultados é dado um escore para cada item (ou questão), posteriormente transformado numa escala de 0 a 100, na qual o valor 0 reflete uma pior QV e o valor 100 reflete uma melhor QV. A consistência interna estimada pelo SF-36 excedeu 0,80 (variação de 0,61 a 0,90). O SF-36 é considerado uma medida genérica e é suplementado com escalas do tipo multi-itens.

Neste estudo, os escores das dimensões presentes serão distribuídos em faixas: 1ª faixa - escores de 0% a 25%; 2ª faixa - escores de 25,001% a 50%; 3ª faixa - scores de 50,001% a 75%; 4ª faixa - escores de 75,001% a 100%. Para a análise da prevalência dos participantes nas diferentes dimensões, a 1ª, e 2ª faixas representarão baixa QV e as 3ª e 4ª faixas, boa QV.

O SF-36 foi desenvolvido pelo com o objetivo de mensurar a QVRS, satisfazendo duas propriedades essenciais: a avaliação das dimensões que são importantes para a condição de saúde e a integração da informação oriunda dos domínios, possibilitando uma análise mais completa. O procedimento de pontuação e feita por dimensão sendo, portanto, analisadas separadamente. Sendo assim, não existe um valor único resultante da avaliação global da qualidade de vida relacionada a saúde, mas escores médios para cada dimensão. Essa análise possibilita identificar os reais problemas relacionados a saúde dos participantes, e verificar quais causam impacto na qualidade de vida.

Análise Estatística

Os dados foram analisados utilizando-se o programa Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 23.0. A análise descritiva foi realizada para todas as variáveis. Os dados foram expressos em média ± desvio-padrão ou mediana (intervalo interquartil), quando apropriado. Para comparação dos valores iniciais e finais em cada grupo, foram realizados o teste t pareado e o teste de Wilcoxon, para os dados não paramétricos. As comparações entre os grupos foram realizadas pelo teste t não pareado ou o teste de Mann-Whitney, quando apropriados. Neste sentido, realizamos tanto avaliações de um mesmo grupo amostral, como comparar no que for possível duas amostras relacionadas. Para a comparação entre grupos foi aplicado o teste de Mann-Whitney para distribuições não-paramétricas. O significado estatístico foi considerado no nível de p <0,05 (ou 5%). A distribuição da amostra foi testada com o teste de Shapiro-Wilk. Os dados coletados foram realizadas as analises: a) descritiva: tabelas de frequência, com medidas de posição (media, mediana, mínima e máxima) e desvio padrão; coeficiente Alfa de Cronbach: verifica a consistência interna do KDQOL-SF. Considera-se boa confiabilidade para valores de alfa iguais ou superiores a 0,6020.

 

RESULTADOS

As características sociodemográficas encontradas neste estudo estão descritas na tabela 1. Em relação ao sexo, proporcionalmente, os participantes de Santo André - São Paulo têm uma quantidade bem mais elevada de mulheres do que na cidade de Rio Branco - Acre (80,6% e 48,6%) respectivamente. Também a nível proporcional, a faixa etária da cidade de Santo André - São Paulo é bem mais jovem do que a cidade de Rio Branco - Acre, não tendo, por exemplo, nenhum participante na faixa acima de 65 anos. Já na escolaridade as médias se equiparam. Um dado bastante interessante é sobre renda familiar, pois o estado do Acre tem um percentual de quase 50% dos participantes com renda até um salário mínimo, enquanto ao contrário, São Paulo tem um percentual somente de 6,5% nesta faixa.

Na tabela 2 temos as características antropométricas dos participantes dos dois estados, a média de todas as variáveis se equiparam (altura, peso e IMC), sendo que a avaliação do Índice de Massa Corporal em Santo André se encontra um pouco acima da classificação ideal segundo a literatura.

A tabela 3 ao avaliar as oito dimensões do SF-36 referente ao Estado do Acre identificamos somente dois domínios considerados de "Baixa Qualidade de Vida", que foram os de limitação por aspectos físicos e limitação por aspectos emocionais com médias de 35,55 e 40,96 respectivamente. Lembramos que as dimensões "Estado geral de saúde", "Vitalidade", "Aspectos Sociais" e "Saúde Mental" apesar de ter ficado em uma classificação de boa qualidade de vida, seus valores ficaram próximos da média de 50%. Quanto à consistência interna do SF-36, as dimensões obtiveram valores de Alpha de Cronbach satisfatórios (0,60).

Já na tabela 4 onde foi avaliado as dimensões do SF-36 dos participantes de São Paulo três domínios se classificaram em "Baixa qualidade de vida", que foram "Limitação por Aspectos Físicos", "Vitalidade" e "Limitação por Aspectos Emocionais", com médias 39,11; 44,03 e 42,99 respectivamente. Também, ao avaliar à consistência interna do SF-36, as dimensões obtiveram valores de Alpha de Cronbach satisfatórios (0,60).

Na tabela 5, quando realizamos uma comparação das dimensões entre as duas cidades realizando uma análise estatística de Mann-Whitney apareceram diferença estatística em três dimensões, que foram a capacidade funcional, a Dor e a vitalidade, apresentando nestes três domínios melhor qualidade de vida para o estado do Acre. O teste de Mann-Whitney mostrou que a posição do domínio capacidade funcional do Estado do Acre encontra-se melhor do que o estado de São Paulo (U = 2186,00; p< 0,01) na Dor (U = 2522,00; p< 0,01) e na vitalidade (U = 2604,00; p< 0,01), mas não nas outras dimensões.

 

DISCUSSÃO

Em geral, a população que se encontra em isolamento devido ao COVID-19 na cidade de Rio Branco - Acre encontra-se com melhor qualidade de vida do que a população da cidade de Santo André - São Paulo quando se avalia a partir dos domínios do protocolo SF-36. As dimensões com baixa qualidade de vida na cidade de Rio Branco - Acre foram "limitação por aspecto físico" e "limitação por aspecto emocional", com um escore médio de 35,55 e 40,96 respectivamente. Enquanto a cidade de Santo André - São Paulo obteve como baixa qualidade de vida nas dimensões "Limitação por aspectos físicos", "Vitalidade" e Limitação por aspecto emocional" com escore médio de 39,11; 44,03 e 42,99 respectivamente.

Ao realizar uma análise comparativa entre as duas cidades, o Rio Branco - Acre obteve melhores resultados na qualidade de vida. Três dimensões tiveram uma diferença estatística significante, sendo todas positivas com boa qualidade de vida para a cidade de Rio Branco em comparação a Santo André, que foram: "capacidade funcional", "Dor" e "Vitalidade". Os demais domínios não tiveram diferença estatística, apesar que em um escore geral, as médias foram melhores para o estado do Acre em relação ao estado de São Paulo.

As características sociodemográficas em relação ao sexo, proporcionalmente, os participantes de São Paulo têm uma quantidade bem mais elevada de mulheres do que no Acre. Também a nível proporcional, a faixa etária da cidade de Santo André é bem mais jovem do que a cidade de Rio Branco, não tendo, por exemplo, nenhum participante na faixa acima de 65 anos. Já na escolaridade as médias se encontram homogêneos. Um dado bastante interessante é sobre renda familiar, pois o estado do Acre tem um percentual de quase 50% dos participantes com renda até um salário mínimo, enquanto que ao contrário, São Paulo tem um percentual somente de 6,5% nesta faixa, mostrando com isso, um poder aquisitivo bem maior. O índice de massa corporal da população de Santo André se encontra maior, ficando um pouco acima da classificação recomendada pela literatura cientifica.

O SARS-CoV-2 está atingindo todas as faixas etárias, classes sociais e etnias em todo o mundo, indistintamente21. Uma grande parte dessa população estão se recuperando em casa, e, muitas vezes estão em isolamento com o vírus sem saber, pois passa despercebida21,22. Outro público especifico, como os idosos, doenças pré-existente tem um risco maior de desenvolver doenças graves e até a morte21, incluindo grávidas que podem também ser mais suscetíveis a COVID-19, pois em geral, são vulneráveis à infecção respiratória23. Uma grande parte desta população se encontra em isolamento social. É o que demonstra nossa pesquisa, tendo dois grupos de locais distintos do Brasil.

Um dado interessante a ser analisado em nossa pesquisa foi a dimensão "limitação por aspecto físico", onde nos dois estados analisados deram um escore baixo classificado como "Baixa Qualidade de Vida", ficando a cidade de Rio Branco - Acre com 35,55 e Santo André - São Paulo com 39,11. O que representa que eles não estão tomando os devidos cuidados em se exercitarem de alguma forma, afetando assim esta dimensão. Corroborando com estes resultados, a dimensão "Vitalidade" no resultado de São Paulo encontra-se também com Baixa qualidade de vida, com um escore de 44,03. O que se correlaciona com a primeiro domínio citado.

Atividade física bem orientada e desenvolvida ser como benefícios pra todo o organismo, auxiliando inclusive em prevenções de doenças24,25, como também na defesa do organismo26,27. O isolamento social ocasionado pela pandemia do COVID-19 pode ocasionar de várias funções do corpo, consequentemente, afetando possíveis aspectos na qualidade de vida28. Desta forma, a grande importância de desenvolver alguma pratica desportiva, mesmo que seja de forma adaptada neste isolamento, pode auxiliar em benefícios de outras dimensões da qualidade de vida que andam paralelo nesta fase de isolamento, como questões psicológicas, cognitivas, entre outras29, bem como na melhora nos aspectos físicos30.

As dimensões emocionais nas duas cidades (Rio Branco - Acre/Santo André - SP) encontravam-se com baixa qualidade de vida, o que demonstra o alto impacto que estar causando psicologicamente a preocupação em estar em isolamento. Corroborando com os estudos de Li Z, et al.31, ao avaliar profissionais da saúde que se encontravam em contato com pacientes com COVID-19 tiveram grandes problemas emocionais, angustia e ansiedade devido aos mesmos estarem inseguros com a doença, bem como por estarem em contato direto com pacientes infectados. Outro fator a ser levado em consideração com esses profissionais é saber que não existe ainda uma cura definitiva, bem como poucas informações sobre o assunto32.

Em seu estudo, CHEN Q, et al.33 com uma equipe médica, identificou muitos profissionais demonstraram um Estado de saúde geral ruim devido a possibilidade de serem transmissores da doença para outras pessoas, bem como a falta de material de proteção e ineficiência perante os pacientes. Diferentemente, em nosso caso, o domínio "Estado Geral de Saúde" se encontravam com uma boa qualidade de vida. Isso pode ser devido as circunstâncias serem adversas ao ambiente hospitalar, quando se fala de isolamento social.

O medo de morrer, a insegurança pela falta de vacina que cure a doença causadas pela pandemia na Itália tem causado grandes impactos psicológicos na população34. Apesar de nossos estudos terem dado uma boa qualidade de vida nas duas cidades (Rio Branco - Acre e Santo André - SP), em ambos os casos, os escores nos domínios Aspecto Social foram próximos, ficando com 52,75 e 56,25 respectivamente, demonstrando com isso que existe uma insegurança também na população que se encontra em isolamento social sobre o assunto.

No aspecto saúde mental de nosso estudo, as médias foram consideradas com boa qualidade de vida em ambos estados, o que demonstra que estar população está suportando o momento de isolamento social em suas casas. Contraditoriamente, estudos apresentaram casos de suicídio entre profissionais da saúde que foram infectados pelo COVID-19 na Índia e Itália. Possíveis problemas psiquiátricos se intensifique com o desgaste psicológico, aumentando com isso a taxa de suicídio35-37.

Ornell F, et al.36 considera que haverá alterações no dia a dia das famílias, em seus trabalhos, ambientes culturais, entre outros. Nossos estudos demonstram que apesar das mudanças do cotidiano devido ao isolamento, nos aspectos sociais em ambos estados as pessoas continuam mantendo a relação social ativa, mesmo que seja com outros mecanismos como lives, conversas virtuais, etc. este domínio foi classificado como boa qualidade de vida.

O componente qualidade de vida é considerado para muitas áreas do conhecimento como importante para saber como que podemos identificar, avaliar e tratar as chamadas doenças silenciosas. Nesta fase que o mundo estar passando, todos os aspectos devem ser levados em consideração para atenuar a vida da população em um momento de isolamento social. Em nosso caso, a cidade de Rio Branco - Acre apresentou uma melhor qualidade de vida em média do que a cidade de Santo André - São Paulo. São vários aspectos que podem ser levados em consideração, como por exemplo, os aspectos de moradia, onde no Acre a maioria das habitações são de casas com terrenos e não apartamentos como São Paulo. Assim, as pessoas têm mais mobilidades, que foi demonstrado nos domínios "capacidade funcional", "Dor" e "vitalidade", onde essas três variáveis deram inclusive diferenças significativa positivas ao Estado do Acre quando comparadas com o Estado de São Paulo. Todos relacionados por aspectos de maiores espaços físicos.

 

CONCLUSÃO

Os resultados indicam que as duas cidades estão com a qualidade de vida comprometidas devido ao isolamento social. Sendo que a cidade de Rio Branco-Acre apresentou melhor qualidade de vida em comparação a cidade de Santo André - SP nas capacidades Funcional, Dor e Vitalidade. O restante dos domínios apresentou resultados próximos entre as cidades.

Contribuições do autor

Francisco Naildo Cardoso Leitão. escrever o manuscrito, seguir as orientações da revista; Maura Bianca Barbary de Deus. escreva o manuscrito; Carlos Roberto Teixeira Ferreira. coletou dados, realizou os experimentos e redigiu o manuscrito; Ocilma Barros de Quental. coletou dados, realizou os experimentos e redigiu o manuscrito; Mauro José de Deus Morais. coletou dados, realizou os experimentos e redigiu o manuscrito.

Financiamento

Os autores não receberam apoio financeiro para a pesquisa, autoria e / ou publicação deste artigo.

 

Agradecimentos

A viabilidade financeira do artigo se deve ao Governo do Estado do Acre - Projeto Saúde na Amazônia Ocidental (convênio multiinstitucional nº 007/2015 SESACRE-UFAC-FMABC)..

Conflitos de interesse

Declaramos nenhum conflito de interesse potencial.

 

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Endereço para correspondência:
mauro.morais@ufac.br

Manuscrito recebido: janeiro 2021
Manuscrito aceito: junho 2021
Versão online: novembro 2021

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