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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.32 no.1 Santo André jan./abr. 2022

http://dx.doi.org/10.36311/jhgd.v32.12618 

ARTIGO ORIGINAL

 

Aglomerados espaciais de condições crônicas infantis no estado da Paraíba, Brasil

 

 

Malu Micilly Porfírio Santos PintoI; Luciana Moura Mendes de LimaII; Rackynelly Alves Sarmento SoaresII; Simone Elizabeth Duarte CoutinhoIII; Ana Tereza de MedeirosIV; Ronei Marcos de MoraesIV

IMestre em Modelos de Decisão e Saúde, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil
IIDoutora em Modelos de Decisão e Saúde, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil
IIIDocente do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil
IVDocente do Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão e Saúde, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: as condições crônicas são problemas de saúde complexos que exigem tratamento contínuo e multiprofissional. Quando se referem às crianças/adolescentes, demandam internações hospitalares e acompanhamentos periódicos e duradouros. A compreensão da distribuição geográfica desses agravos proporcionará uma maior visibilidade ao problema e subsídios para o processo de tomada de decisão
OBJETIVO: detectar os aglomerados espaciais das condições crônicas de saúde que acometem crianças e adolescentes no estado da Paraíba, Brasil
MÉTODO: trata- se de estudo ecológico, retrospectivo com dados secundários do Sistema de Informação de Crianças e Adolescentes com Doença Crônica provenientes de um hospital de referência do estado da Paraíba, Brasil, no período de 2015 a 2017. Para análise dos dados foram estimadas Razão de Incidências Espaciais e a estatística Scan espacial
RESULTADOS: foi verificada uma concentração de aglomerados espaciais na mesorregião da mata paraibana, área onde se encontra o serviço hospitalar público que atua como referência estadual nas recorrentes internações dessa população em condição de cronicidade
CONCLUSÃO: a detecção dos aglomerados espaciais pode ajudar gestores públicos a reconhecer as áreas prioritárias para o monitoramento dos casos de condições crônicas em crianças e adolescentes

Palavras-chave: condição crônica, criança, adolescente, análise espacial.


 

 

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

O reconhecimento de aglomerados espaciais contribui para identificar e visualizar as áreas prioritárias para o monitoramento das condições crônicas infantis, auxiliando a gestão no processo de tomada de decisão frente ao atendimento dessa população, bem como subsidiar na manutenção ou ampliação do acesso aos serviços de saúde e na elaboração de políticas públicas eficazes.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

Sendo assim, este estudo se propôs a detectar os aglomerados espaciais das condições crônicas de saúde que acometem crianças e adolescentes no estado da Paraíba, estado do nordeste brasileiro que não possui até o momento, pesquisas científicas que contemplem a distribuição geográfica desses casos. Verificou-se, portanto, uma concentração maior de aglomerados espaciais na mesorregião da mata paraibana, área onde se encontra o serviço hospitalar público que atua como referência estadual nas recorrentes internações dessa população em condição de cronicidade.

O que essas descobertas significam?

Talvez este fato tenha contribuído para a maior concentração de aglomerados espaciais nessa mesorregião em específico, o que leva a uma reflexão sobre e complexidade da problemática do adoecimento crônico infantil e sua demanda por serviços de saúde que forneçam assistência complexa e resolutiva. A proximidade da família do serviço de saúde específico favorece a continuidade do cuidado à criança, todavia, nem sempre essa opção é válida para as famílias de crianças que residem em outro munícipio ou até mesorregião, ressaltando a necessidade de uma atenção de qualidade em todos os níveis de assistência, da atenção primária ao serviço terciário de referência, a fim de garantir que as necessidades específicas da criança/adolescente sejam contempladas tanto no município/mesorregião de origem do paciente quanto nos serviços de referência.

 

INTRODUÇÃO

As condições crônicas constituem problemas de saúde complexos que demandam tratamento contínuo, multidisciplinar e gerenciamento prolongado do cuidado, contados até em anos ou décadas. Tais condições são caracterizadas, sobretudo, por sua natureza não limitada a problemas de saúde e pela persistência e recorrência dos problemas de saúde longevos1. Em crianças e adolescentes, essas condições crônicas apresentam duração geralmente superior a três meses ou a recorrência do quadro clínico ultrapassando três vezes2. Além disso, demandam internações hospitalares e acompanhamentos periódicos por equipes de saúde especializadas3.

No que tange ao perfil epidemiológico desse agravo, existe um aumento no número de casos4,5, como mostra a Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílios (PNAD), em que 9,1% das crianças de 0 a 5 anos, 9,7% de 6 a 13 anos e 11% dos adolescentes de 14 a 19 anos, do total geral da população brasileira, apresentam alguma condição crônica6. Concomitantemente, o número de casos novos de internações hospitalares tende a aumentar, registrando no Brasil, em 2013, uma taxa de 331 por 100.000 habitantes, e mais especificadamente entre menores de um ano de idade, um número superior a 1.000 por 100.000 habitantes5.

Essa situação epidemiológica de cronicidade infantil e de consequentes hospitalizações recorrentes também remete a um forte impacto na dinâmica familiar desses indivíduos, que vivenciam em sua rotina diária uma dificuldade em compreender o diagnóstico, em lidar com os preconceitos, além de enfrentar obstáculos na busca por uma assistência adequada que a criança dependerá por anos para que tenha uma melhor qualidade de vida7.

Dessa forma, a elaboração de políticas públicas efetivas se faz necessária com o intuito de proporcionar melhores condições de saúde ao binômio mãe-filho. Para tanto, para subsidiar essa necessidade acredita-se que informações espaciais possam balizar esse processo de tomada de decisão, através do conhecimento de como esses indivíduos estão distribuídos geograficamente8.

A análise espacial possibilita a identificação de características relacionadas a estes eventos no território com vistas ao planejamento de medidas de prevenção e controle por meio de políticas públicas específicas. Nesse sentido, o contexto geopolítico e social pode influenciar na determinação dos processos saúde/doença1.

Na literatura, poucos estudos abordam a distribuição geográfica dos casos de condições crônicas infantis no Brasil. Além disso, não foram encontradas pesquisas científicas em que contemplasse o estado do Nordeste, Paraíba, e nem com características semelhantes. Portanto, este estudo propõe-se detectar os aglomerados espaciais das condições crônicas de saúde que acometem crianças e adolescentes no estado da Paraíba.

 

MÉTODO

Este estudo é caracterizado por ser ecológico, retrospectivo, de abordagem quantitativa, que utilizou dados do tipo secundário do Sistema de Informação de Crianças e Adolescentes com Doença Crônica (SICADC), provenientes de um hospital de referência para esse agravo no estado da Paraíba, no período de 2015 a 2017.

O estado da Paraíba, uma das 27 unidades federativas do Brasil, localizada no leste da região nordeste do país, tendo como capital o município de João Pessoa. O estado apresenta 223 municípios distribuídos em quatro mesorregiões, conforme pode ser visualizado na figura 1 As mesorregiões são: Mata Paraibana, Agreste Paraibano, Borborema e Sertão Paraibano, assim divididas de acordo com suas características e formas de organização socioeconômica e política6.

Para análise dos dados foram usados: a Razão de Incidências Espacial (RIE) e a estatística Scan espacial com o intuito de detectar os aglomerados espaciais das condições crônicas na infância.

A RIE é uma medida espacial que possibilita a padronização das informações em função da população de uma determinada área, permitindo análises comparativas mais consistentes8,9. Para tanto, se faz necessário compreender duas importantes entidades: geo-objeto e região geográfica. A região geográfica refere-se a uma área geográfica delimitada de estudo, sobre a qual os eventos de interesse ocorrem. Pode ser representada por uma coleção de objetos distintos e localizáveis geograficamente dentro dela, denominados de geo-objetos10. Para o presente estudo, foi utilizado o agravo das condições crônicas entre crianças/adolescentes no território paraibano, sendo desenvolvido a partir do total de casos registrados de doença crônica em cada município. Dessa forma, a Paraíba corresponde à região geográfica e cada município, a um geo-objeto.

Formalmente, seja uma região geográfica A formada por um conjunto N de geo-objetos, ou seja, ai ϵ A, i=1, ..., N. Seja X, uma variável aleatória que corresponde ao número total de casos registrados em um determinado intervalo de tempo dentro de geo-objeto em ai, na região geográfica A. Por fim, seja G a população sob risco na região geográfica A. A RIE em cada geo-objeto ai é dada pela seguinte equação:

ou seja, a RIE do geo-objeto ai é dada por uma razão de incidências, em que o numerador corresponde à incidência entre um evento epidemiológico no geo-objeto, e o denominador, à incidência em toda a região geográfica.

A interpretação da RIE é feita por meio da sua divisão em intervalos de classes, em que se associa uma cor a cada intervalo pré-estabelecido, de modo que as áreas no mapa sejam coloridas de acordo com sua classe. A explanação dos seus valores é feita da seguinte forma: RIE igual a zero quando não existe incidência do evento epidemiológico no geo-objeto ai; maior que 0 e menor que 0,5, significa que a RIE é inferior à metade da incidência global na região geográfica no geo-objeto ai; maior ou igual a 0,5 e menor que 1,0 significa que a RIE é superior à metade, mas inferior à incidência global na região geográfica no geo-objeto ai; maior ou igual a 1,0 e menor que 1,5, significa que a RIE é superior à incidência global e inferior a 1,5 à incidência global na região geográfica no geo-objeto ai; maior ou igual a 1,5 e menor que 2,0, a RIE é superior a 1,5 vezes da incidência global, mas inferior a 2,0 à incidência global na região geográfica no geo-objeto ai, por fim, quando for maior ou igual a 2,0, a RIE é superior a 2,0 vezes ou mais à incidência global na região geográfica no geo-objeto ai8,11.

A detecção dos aglomerados espaciais ocorreu por meio da estatística Scan espacial. Essa estatística foi proposta em 1995 por Kulldorff e Nagarwalla, corresponde a um método que tem como objetivo detectar e identificar aglomerados espaciais, ou seja, faz uma busca por toda região para encontrar áreas cuja ocorrência de um fenômeno seja significativamente mais provável de acontecer. É empregada em dados que não necessitam de uma distribuição que se aproxime da normal. Dentre os modelos probabilistas possíveis de uso na estatística Scan espacial, foi adotado o modelo de Poisson12 em virtude de se tratar de dados de contagem13.

Nesse método faz-se uma associação da informação da área com um único ponto dentro de um polígono, seja ele um círculo14, uma elipse15, um retângulo16 ou outra forma geométrica17. Este ponto é chamado de centroide e representa o centro de cada área da região. Neste estudo foi utilizado o formato circular, uma vez que facilita a observação da funcionalidade do método.

A estatística Scan circular gera uma janela Z em cada centroide das sub-regiões, em que uma janela consiste no círculo criado a partir do centroide. Para qualquer destes centroides, o raio do círculo varia continuamente desde zero até um percentual da população em risco a ser coberta, estabelecido pelo usuário. Logo, se uma janela contém o centroide de uma sub-região, o raio do círculo crescerá até englobar, nesta janela, o percentual da população estabelecido18.

Em relação ao percentual da população sob risco, no qual o raio de busca aumenta até englobar um percentual máximo da população, não existe na literatura uma padronização, apenas é recomendado que não ultrapasse 50% da população19. Para o estudo foram analisados os percentuais 0,1%, 0,2%, 0,3%, 0,4%, 0,5%, 0,7%, 1%, 3%, 5%, 7% e 10% da população sob risco nos mapas da estatística Scan para cada ano do estudo, utilizando como referência os mapas da RIE.

Os dados foram armazenados em uma planilha eletrônica e analisados no software R. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa conforme parecer consubstanciado de número 2.729.054 (CAEE nº 91161118.3.0000.5188), respeitando os critérios estabelecidos na Resolução n. 466, de 12 de dezembro de 2012, que regulamenta a pesquisa em seres humanos.

 

RESULTADOS

Foram notificados 116 casos de doença crônica na infância/adolescência cadastrados no SICADC de um hospital de referência no período de 2015 a 2017, no estado da Paraíba. Os principais diagnósticos de condições crônicas entre as crianças e adolescentes no período citado, foram: asma, diabetes mellitus tipo I, nefropatias, neuropatias, cardiopatias e lúpus eritematoso sistêmico. Sendo a faixa etária predominante as crianças até um ano de idade.

Na figura 2é possível verificar a RIE e a estatística Scan circular da condição crônica em crianças e adolescentes, no ano de 2015. A RIE da condição crônica variou entre 0 e 39,78 por mil habitantes, em que o maior registro ocorreu no município de Santo André situado na mesorregião da Borborema. No estado, 27 cidades apresentaram uma RIE diferente de zero em sua maioria apresentaram uma RIE superior a 2,0 vezes ou mais à incidência global na região geográfica no geo-objeto ai. Em relação à estatística Scan circular foi usada 0,3% da população sob risco detectando dez aglomerados espaciais com maior concentração ao leste do estado da Paraíba, mesorregião da Mata Paraibana.

A RIE e a estatística Scan circular da condição crônica em crianças e adolescentes, ano 2016, estado da Paraíba, podem ser visualizadas na figura 3 A RIE com o maior registro ocorreu na cidade de Poço Dantas, localizada na mesorregião do Sertão Paraibano. Dos 223 municípios, 32 demonstraram uma RIE diferente de zero com maior concentração ao leste do estado. A estatística Scan circular com o percentual de 0,3% da população sob risco identificou oito aglomerados espaciais com maior concentração ao leste do estado, na mesorregião da Mata Paraibana.

Na figura 4(a), é possível visualizar o mapa da RIE de condição crônica em crianças e adolescentes no estado da Paraíba, ano de 2017, cujos valores tiveram variação de 0 a 19 por mil habitantes. No estado da Paraíba, 29 municípios apresentaram RIE diferente de zero e, destes, 23 evidenciaram uma RIE igual ou maior que a 2,0 vezes, e estavam em maior concentração ao leste do estado, mesorregião da Mata Paraibana. Com a estatística Scan circular foram detectados nove aglomerados espaciais com uma população sob risco de 0,2% e maior concentração na mesorregião supracitada.

 

DISCUSSÃO

No presente estudo foram averiguados os casos de condição crônica em crianças e adolescentes no estado da Paraíba no período de 2015 a 2017. Por meio da estatística Scan circular foi possível identificar e detectar que os aglomerados espaciais apresentaram uma maior concentração na mesorregião da Mata Paraibana nos três anos do estudo e coincidiram com os maiores índices da RIE. Na mesorregião citada anteriormente existe um hospital público que atua como referência para a Paraíba, no que tange ao atendimento, diagnóstico e tratamento de crianças e adolescentes em condição crônica. Talvez este fato tenha contribuído para a maior concentração de aglomerados espaciais nessa mesorregião em específico.

Essa coincidência geográfica entre os aglomerados espaciais de crianças/adolescentes acometidos por condições crônicas e o hospital remete a uma reflexão sobre e complexidade da problemática do adoecimento crônico infantil e sua demanda por serviços de saúde que forneçam assistência complexa e resolutiva. A proximidade da família do serviço de saúde específico favorece a continuidade do cuidado à criança, todavia, nem sempre essa opção é válida para as famílias de crianças que residem em outro munícipio ou até mesorregião, acarretando às vezes em dificuldade de acesso ao serviço e até descontinuidade do cuidado.

Nesse contexto, ressalta-se a necessidade de uma atenção de qualidade em todos os níveis de assistência, da atenção primária ao serviço terciário de referência, através de um efetivo sistema de referência e contrarreferência dentro da rede de atenção à saúde, garantindo que as necessidades específicas do binômio criança/adolescente-família, sejam contempladas tanto no município/mesorregião de origem do paciente quanto nos serviços de referência20.

Estudos evidenciam que crianças e adolescentes em situação de adoecimento crônico necessitam, em sua rotina, de consultas periódicas nas diversas especialidades além de internações hospitalares recorrentes3. Em geral, as hospitalizações são delongadas e frequentes, limitando as relações sociais e familiares do binômio criança/adolescente-família. Trata-se de uma experiência desagradável, desgastante, cansativa com consequências psicológicas pela constante tensão de expectativas, marcada por frequentes exames e diversos procedimentos invasivos, necessários para salvaguardar a criança de danos e agravos21. É uma trajetória terapêutica caracterizada pela busca de uma solução para a situação de saúde, em que os serviços hospitalares de referência ou universitários constituem-se como pontos de acolhimento em busca de resolutividade22.

Desse modo, este estudo torna evidente a distribuição espacial do evento do adoecimento crônico infantil no estado da Paraíba, principalmente por indicar as mesorregiões que devem sem priorizadas nos seus monitoramentos. Assim, esse conhecimento pode ajudar os gestores a subsidiar na manutenção ou ampliação do acesso aos serviços de saúde, na elaboração de políticas públicas eficazes para sua prevenção e/ou enfrentamento. Na literatura científica, as análises espaciais em saúde têm se tornado uma importante ferramenta de pesquisa na área da epidemiologia devido a capacidade de proporcionar uma investigação detalhada na propagação de doenças e apontar novos subsídios para o planejamento e a avaliação das ações em saúde. Portanto, as técnicas de análise espacial permitem a análise estatística de forma simultânea de variáveis sociais, econômicas e ambientais que atuam sobre determinada população, sendo úteis na detecção de áreas vulneráveis, nas quais os problemas de saúde ocorrem com maior frequência, assim como a influência de cada variável na determinação da ocorrência do evento23,24.

Sendo assim, os métodos de aglomerados espaciais podem auxiliar os gestores na adoção de medidas eficazes de prevenção e controle de agravos com identificação dessas áreas prioritárias23. A estatística Scan Espacial tem sido empregada em pesquisas na área da saúde com o objetivo de compreender a distribuição espacial de diversos agravos considerados relevantes no âmbito da saúde pública, a saber: infarto agudo do miocárdio19, doenças hematológicas24, hanseníase25, dengue18,26, tuberculose27, entre outros. No que se refere às condições crônicas, ainda são escassos os estudos que buscam identificar, descrever e compreender a importância do componente espacial frente ao desenvolvimento do processo saúde-doença, principalmente quando se restringe ao período da infância e adolescência.

Uma limitação encontrada neste estudo refere-se à fonte de dados secundária utilizada, o SICADC. Trata-se de uma base de dados de abrangência local o que talvez não tenha contemplado todos os casos de crianças e adolescentes crônicos existentes no estado da Paraíba. Além disso, a população total, referente aos anos de 2015 a 2017, fornecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e necessária para a implementação dos métodos - é dividida por categorias de faixa etária (0 a 19 anos) e não por idade. Enquanto o SICADC utiliza a divisão por idade (de 0 a 17 anos).

 

CONCLUSÃO

O presente estudo possibilitou detectar aglomerados espaciais de pacientes crianças e adolescentes com condições crônicas no estado da Paraíba, no período de 2015 a 2017. A metodologia empregada mostrou-se adequada e de fácil entendimento, principalmente para o gestor em saúde.

O reconhecimento desses aglomerados contribui para identificar e visualizar as áreas prioritárias para o monitoramento das condições crônicas. Desse modo, pode auxiliar para o planejamento, manutenção e/ou ampliação dos serviços de saúde dessa população que requerer uma atenção especializada. Ainda, pode subsidiar ações de políticas públicas em saúde.

 

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Endereço para correspondência:
Malu Micilly Porfírio Santos Pinto
malu.porfirio@ifpb.edu.br

Manuscrito recebido: abril 2021
Manuscrito aceito: junho 2021
Versão online: janeiro 2022

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