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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.32 no.1 Santo André jan./abr. 2022

http://dx.doi.org/10.36311/jhgd.v32.12864 

ARTIGO ORIGINAL

 

Os efeitos da vibração de corpo inteiro na cognição: uma revisão sistemática

 

 

Ana Clara de Souza FreitasII; Juliana Ferrari GasparII; Giovanna Calixto Rossi Marques de SouzaI; José Hugo InamonicoI; Cynthia Kallas BachurI; Ana Carolina Coelho-OliveiraIII; Danúbia da Cunha de Sá CaputoIII; Redha Taiar5; Mario Bernardo FilhoIII; Anelise SonzaIV; José Alexandre BachurI

IUniversidade de Franca;
IIUniversidade do Estado do Rio de Janeiro;
IIIUniversité de Reims Champagne-Ardenne;
IVUniversidade do Estado de Santa Catarina

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

OBJETIVO: Revisar sistematicamente os mecanismos pelos quais a vibração de corpo inteiro (VCI) melhora a capacidade de aprender, pensar, memorizar e todos os outros processos que envolvem a cognição
MÉTODO: O presente estudo coletou dados de três bancos de dados usando as palavras-chave "vibração de corpo inteiro" e "cognição". Ensaios clínicos randomizados com foco na associação de WBV e cognição foram considerados. O estudo foi registrado no banco de dados de protocolos de revisões sistemáticas PROSPERO. Todos os estudos incluídos usaram pacientes saudáveis, expostos à VCI. Os artigos incluídos foram avaliados quanto ao risco de viés de acordo com os critérios da Colaboração Cochrane, nível de evidência e força de recomendação segundo a classificação GRADE e Oxford
DISCUSSÃO E RESULTADOS: Dos 89 artigos publicados, de acordo com os critérios de elegibilidade, quatro foram submetidos à extração de dados. Os parâmetros cognitivos, atenção, memória e aprendizagem demonstraram melhora em quase todos os artigos avaliados nesta revisão sistemática.
CONCLUSÃO: A intervenção com VCI teria efeitos positivos na capacidade cognitiva dos indivíduos, embora mais ensaios clínicos randomizadas devam ser realizados para avaliação de tais parâmetros
Número de registro PROSPERO: CRD42020203679

Palavras-chave: exercício, aprendizagem, memória, atenção, vibração.


 

 

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

Revisar sistematicamente os mecanismos pelos quais a vibração de corpo inteiro (VCI) melhora a capacidade de aprender, pensar, memorizar e todos os outros processos que envolvem a cognição.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

O presente estudo coletou dados de três bancos de dados usando as palavras-chave "vibração de corpo inteiro" e "cognição". Ensaios clínicos randomizados com foco na associação de WBV e cognição foram considerados. O estudo foi registrado no banco de dados de protocolos de revisões sistemáticas PROSPERO. Todos os estudos incluídos usaram pacientes saudáveis, expostos à VCI. Os artigos incluídos foram avaliados quanto ao risco de viés de acordo com os critérios da Colaboração Cochrane, nível de evidência e força de recomendação segundo a classificação GRADE e Oxford. Dos 89 artigos publicados, de acordo com os critérios de elegibilidade, quatro foram submetidos à extração de dados. Os parâmetros cognitivos, atenção, memória e aprendizagem demonstraram melhora em quase todos os artigos avaliados nesta revisão sistemática.

O que essas descobertas significam?

A intervenção com VCI teria efeitos positivos na capacidade cognitiva dos indivíduos, embora mais ensaios clínicos randomizadas devam ser realizados para avaliação de tais parâmetros.

 

INTRODUÇÃO

Os benefícios da atividade física nos sistemas cardiovascular e musculoesquelético têm evidências sólidas. Recentemente isso tem sido associado à melhora das funções cognitivas, bem como à ativação de áreas do sistema nervoso central relacionadas à atenção, memória, emoções e aprendizagem, como o córtex pré-frontal e a amígdala1. Tanto exercícios físicos ativos como corrida, aeróbicos e esportes em geral, como passivos, por exemplo, exercícios de vibração de corpo inteiro (VCI) apresentam tais efeitos2.

Embora a exposição do organismo à vibração mecânica (VM) possa ser prejudicial, estima-se que as intervenções com VM gerada na plataforma vibratória tenham benefícios tanto no processo de reabilitação física quanto na melhora do desempenho físico, sendo objetivo de diversos estudos3-5, entretanto parâmetros biomecânicos e protocolos de aplicação devem ser considerados.

Ressalta-se que a sensibilidade do corpo à VM está ligada a diversos fatores estruturais e funcionais, como postura e tensão muscular, bem como a frequência, amplitude, direção da VM e tempo de exposição5. Ao considerar o fato de que os órgãos humanos têm naturalmente um padrão vibratório que ocorre em um espectro de frequência que varia de 5 a 20 Hz, presume-se que, quando o corpo é submetido a vibrações dentro dessa faixa, pode haver a possibilidade de ressonância e danos potenciais aos órgãos, sendo mais seguras exposições vibratórias entre 20 e 70 Hz. Porém, VM acima de 70 Hz, principalmente por períodos prolongados, aumentam o risco de incidência de danos estruturais6.

A VM gerada na plataforma vibratória, produzindo o exercício VCI, pode ser considerada um estímulo estressante ao indivíduo que está em contato com o aparelho. Em consequência, respostas mediadas pelo sistema nervoso, por meio de estruturas neurais, a partir da ativação dos respectivos receptores, como o fuso muscular, entre outros6. Postulou-se que os efeitos fisiológicos decorrentes da estimulação vibratória de todo o corpo deveriam ser categorizados nas funções: cardiovascular, respiratória, endócrina e metabólica, motora, sensorial e musculoesquelética5.

Com base na análise de diversos estudos, observou-se que após o uso terapêutico da VCI em idosos, há uma melhora na funcionalidade desses indivíduos, associada à melhora do equilíbrio, agilidade e qualidade da marcha, além do aumento da força muscular3, incluindo aquelas pessoas com sequela físico-funcional pós acidenta vascular encefálico (AVE)7. Além disso, a VCI promove um aumento do fluxo sanguíneo médio associado a uma redução da resistência vascular periférica em membros inferiores em adultos saudáveis submetidos à VCI, bem como um aumento agudo nas concentrações plasmáticas de testosterona e hormônios de crescimento, e uma redução do cortisol em homens submetidos ao mesmo tipo de tensão vibratória4. Verificou-se também que esse modelo de estimulação causa melhora na capacidade inspiratória, na força respiratória e na qualidade de vida de idosos8.

Os modelos de plataforma de vibração de corpo inteiro (WBV) permitem que a vibração seja aplicada verticalmente e lateralmente alternando ou transmitindo / transmitindo vibração. As ondas são definidas de acordo com sua intensidade, amplitude, forma de onda, seja senoidal ou vertical, e frequência de frequência (geralmente entre 20-60 Hz). Durante a aplicação do método as formas como o paciente pode permanecer variam, sendo em pé, sentado ou ainda realizar algum tipo de atividade dinâmica. O número de combinações e o tempo de exposição à vibração podem ser variáveis9.

Considerando os efeitos decorrentes da VCI no organismo, pode-se inferir sobre a possibilidade de que esses efeitos influenciem o funcionamento do sistema nervoso central com uma gama de funções diferentes, como a capacidade cognitiva, conforme apontado em algumas publicações8.

Cognição é definida como um ato ou processo de aquisição de conhecimento, que envolve aspectos mentais subconscientes ou conscientes baseados na experimentação sensorial, memória, aprendizagem e formulação de pensamentos10. O estudo dos processos cognitivos e de aprendizagem abrengem tanto aspectos psicopedagógicos quanto da neurociência. Este segundo tenta pragmatizar e estabelecer correlações anatomofisiológicas. A evolução das técnicas de neuroimagem tem levado a descobertas sobre os circuitos neurais e áreas do cérebro envolvidas na formação do pensamento e no desenvolvimento da cognição11.

Explicar a cognição circuitalmente como um processo único é extremamente complexo, por isso é mais esclarecedor entendê-la como uma integração da percepção sensorial, atenção, memória e suas eferências como linguagem e funções executivas11,12. Esses circuitos integrados têm altas capacidades adaptativas por meio células neuronais, que apesar de não sofrerem mitose ao longo da vida, são conhecidas como neuroplasticidade e envolvem processos tanto da neuro quanto da sinaptogênese e angiogênese, aumentando assim metabolismo e reforçando uma determinada via neural em detrimento de outras12.

Considerando as evidências de associação entre a terapia WBV e seus efeitos sobre a capacidade cognitiva, esta revisão sistemática tem como objetivo avaliar o efeito sobre essa terapia disponíveis na literatura.

 

MÉTODO

Esta revisão sistemática seguiu as recomendações propostas pelo PRISMA (Main Items for Reporting Systematic Reviews and Meta-analysis)13.

A decisão pelo tema se deu pela importância da capacidade cognitiva no desenvolvimento do indivíduo em sociedade. Associado a isso, o fato de que o conhecimento sobre os padrões vibratórios do corpo e do ambiente em que está inserido, demonstram que os estímulos vibratórios podem ser facilitadores ou não, do funcionamento corporal.

Desde o início do processo de desenho deste estudo, optou-se por incluir apenas estudos randomizados, por considerar a melhor estratégia para verificar as evidências sobre a influência do exercício VCI na capacidade cognitiva, devido ao maior rigor metodológico. Porém, dependendo do tipo de população a ser estudada, os estudos clínicos não randomizados também podem contribuir significativamente para o adequado entendimento dos fatos relacionados ao assunto.

Estratégia de busca: Trata-se de um estudo de revisão sistemática da literatura, motivado e desenvolvido a partir de uma questão clínica, estruturada a partir da sigla PICO (Paciente, Intervenção, Comparação e Resultados)14-17: "qual é o efeito da vibração de corpo inteiro terapia na cognição?" De onde foram extraídas as palavras-chave científicas, identificadas com os Termos definidores (DeCS) (http://decs.bvs.br/) e os Termos definidos (MeSH) (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/mesh /) sistemas como: "whole body vibration" AND "cognition".

As buscas de documentos científicos foram realizadas (julho de 2020) no PubMed (Medline) (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/), Scopus (http://www.scopus.com) e EMBASE (https://www-embase.ez67.periodicos.capes.gov.br/) utilizando as palavras-chave citadas intercaladas pelo operador booleano 'AND'.

Critérios de elegibilidade e seleção dos estudos

Como critérios de elegibilidade foram incluídos apenas ensaios clínicos randomizados com humanos adultos ou idosos, com ou sem transtornos mentais ou neurológicos, considerando a cognição relacionada às habilidades de aprender, pensar e memorizar desses indivíduos. Não houve restrições de idioma. Porém, estudos em animais, ausência de aprovação pelo comitê de ética e uso de outras metodologias além da plataforma vibratória (metodologia incorreta), estudos publicados antes do ano 2000, além de estudos não relacionados ao objetivo principal foram considerados motivos de exclusão, tal como estudos que não permitem a identificação completa do grupo controle. A seleção dos critérios de inclusão e exclusão mencionados foi realizada de acordo com os princípios propostos na literatura especializada17,18, com o objetivo de orientação e objetividade no processo de triagem documental.

A identificação de duplicatas entre os documentos relacionados nas diferentes bases de dados foi realizada por meio do aplicativo Quatar Computing Research Institute (Rayyan QCRI) (https://rayyan.qcri.org/welcome)19. Após a realização da exclusão das duplicatas, os revisores (JAB, ACSF, ACCO), individualmente, fizeram a seleção dos documentos, com base nos critérios de elegibilidade descritos acima. Em relação aos documentos em que houve discrepância na seleção entre os revisores, eles foram reavaliados e a decisão sobre a seleção foi feita por consenso, conforme recomendado na literatura18.

Os dados relativos às variáveis primárias ou secundárias, tais como: tipos de estudo, participantes e intervenção, bem como os métodos de exame propostos, foram selecionados e extraídos de forma independente entre os examinadores do presente estudo, a fim de evitar viés durante o processo de extração de dados. Nos casos em que houve discrepância entre os revisores, ela foi resolvida por consenso entre eles16, 18.

A "literatura cinzenta" (gray literature) (materiais, documentos e pesquisas produzidos por organizações fora da publicação comercial ou acadêmica tradicional) não foram considerados nesta revisão.

Dados cadastrais

Ao final do processo de seleção de documentos (outubro de 2020), e antes da extração dos dados, este estudo de revisão foi cadastrado no banco de dados de protocolos de revisões sistemáticas denominado Registro Prospectivo de Revisões Sistemáticas Contínuas (PROSPERO) (https://www.crd.york.ac.uk/prospero) com o número de registro CRD4202020367916, 18-21.

Dados de extração

Os dados (outubro de 2020) escolhidos para serem extraídos consideraram aspectos subdivididos em: dados sociodemográficos (idade média dos participantes, espaço amostral22, proporcionalidade entre gêneros e comorbidades),

Os dados extraídos sobre os aspectos técnicos da aplicação do exercício WBV foram determinados a partir das Diretrizes de Relatórios para Estudos de Vibração de Corpo Inteiro em Humanos, Animais e Culturas Celulares: Uma Declaração de Consenso por um Grupo Internacional de Especialistas8 (padronizado do estímulo vibratório, posicionamento do corpo durante a vibração, protocolo de vibração (intensidade e duração), periodicidade de estimulação e dispositivos operacionais.

Os dados do resultado (ferramenta de avaliação cognitiva, quadro cognitivo (memória, atenção, aprendizagem e / ou outros, efeitos positivos, adversos e outros).

Avaliação do risco de viés

A avaliação do risco de viés dos documentos (figura 2) foi realizada pelo sistema eletrônico desenvolvido por um editor de planilhas do Microsoft Excel, com base nos critérios da Colaboração Cochrane para o Desenvolvimento de Revisões Sistemáticas de Intervenção, versão 5.1 com acesso online gratuito por meio do site (http://www.cochrane-handbook.org/). A análise do risco de viés em ensaios clínicos foi realizada com base nas avaliações dos domínios de seleção, desempenho, detecção, seguimento, notificação e outros. Considerando a variação na classificação do viés em: alto, incerto e baixo23.

Avaliação do nível de evidência e força de recomendação: A avaliação do nível de evidência e força de recomendação deste artigo foi feita usando as escalas de Oxford e Grade. O primeiro divide os estudos em oito níveis (1a, 1b, 1c, 2a, 2b, 2c, 3a, 3b, 4 e 5) de acordo com cinco parâmetros de terapia, prevenção e etiologia, dano, prognóstico, diagnóstico, diagnóstico diferencial ou estudo de prevalência de sintomas e análises econômicas e de decisão22. Na escala de Grade, existem quatro níveis de evidência: muito baixo, baixo, moderado e alto. As evidências de ensaios clínicos randomizados começam com alta qualidade e, devido à confusão residual, evidências que incluem dados observacionais são inseridas como um baixo nível de evidência, por exemplo24.

 

RESULTADOS

Resultados da busca na literatura: Desde a identificação dos documentos nas bases de dados (PubMed, Scopus e EMBASE) até etapa de exclusão, o processo de seleção, inclusão e exclusão dos documentos a serem analisados é descrito no fluxograma (figura 1).

Um total de 89 artigos foi recuperado das bases de dados eletrônicas. Após a remoção de 35 duplicatas e dos 54 artigos restantes, 4 ensaios clínicos randomizados foram incluídos. Os principais motivos de exclusão têm sido população errada (estudos com animais), não direcionada ao objetivo principal, não ensaios clínicos randomizados e metodologia errada.

Descrição dos estudos incluídos: A extração dos dados dos estudos incluídos está disponível nas tabelas 1, 2 e 3, subdivididos em dados sociodemográficos, dados de intervenção e desfechos de cada um deles.

População do estudo: duzentos e treze indivíduos participaram dos estudos das publicações selecionadas distribuídas em Paddan (2012)25 com uma amostra de 20 participantes (50% mulheres e 50% homens), Regterschot (2014)26 com uma amostra total de 145 (20% homens e 80% mulheres), Amonette (2015)27 com 12 obrigações (66,6% homens e 33,3% mulheres) e Boerema (2018)28 com 36 participantes, todos saudáveis, sem comorbidades , são uma história de distúrbios gastrointestinais, musculoesqueléticos, daltonismo ou doenças neuropsiquiátricas.

Intervenção e resultados

estudo de Paddan (2012), no qual o padrão de vibração era vertical, com frequências variando de 2 a 20 Hz, com o indivíduo sentado e as costas em graus variados de inclinação, expostos a sessões de cerca de 30-40 minutos (3 minutos sendo vibração), revelaram que não houve prejuízo no desempenho cognitivo nas mais diversas situações de exposição à vibração quando comparada ao controle e mesmo participantes expostos a inclinação de 45 ° e vibração de 14-20Hz tiveram melhor desempenho. Apesar disso, a vibração mostrou-se um obstáculo para o desempenho das atividades de controle visual e tarefas manuais25.

Descrição dos estudos incluídos

A extração dos dados dos estudos incluídos está disponível nas tabelas 1, 2 e 3, subdivididos em dados sociodemográficos, dados de intervenção e desfechos de cada um deles.

População do estudo: duzentos e treze indivíduos participaram dos estudos das publicações selecionadas distribuídas em Paddan (2012)24 com uma amostra de 20 participantes (50% mulheres e 50% homens), Regterschot (2014)25 com uma amostra total de 145 (20% homens e 80% mulheres), Amonette (2015)26 com 12 obrigações (66,6% homens e 33,3% mulheres) e Boerema (2018)27 com 36 participantes, todos saudáveis, sem comorbidades , são uma história de distúrbios gastrointestinais, musculoesqueléticos, daltonismo ou doenças neuropsiquiátricas, conforme descrito na tabela 1.

Em Regterschot (2014), em que o padrão vibratório era vertical e sinusoidal, com frequência de 30Hz e os participantes colocados na posição sentada e expostos por 2 minutos, variando apenas a sequência dos testes de cognição, concluiu-se que a vibração tem efeito positivo nas funções executivas, mas por um curto período após a exposição, levantando assim uma possível aplicabilidade da vibração passiva na terapia de indivíduos com déficits cognitivos e incapazes de realizar exercícios físicos26.

Os voluntários em Amonette (2015) fizeram 5 séries de agachamentos estáticos de 2 minutos cada na plataforma em vibração vertical e alternados a uma frequência de 30 Hz e após cada sessão notou-se que o processamento e a velocidade da resposta motora melhoraram após a vibração vertical, embora a memória verbal, visual e o tempo de reação não sejam afetados quando comparados ao grupo controle27.

Em Boerema (2018), em que o padrão vibratório era vertical, com frequência de 30Hz e os participantes eram colocados na posição sentada e expostos durante 4 minutos, 4 vezes por semana a cada 5 semanas, a memória era avaliada por três, concluiu que a vibração melhorou o desempenho no teste Stroop Color-Word, mas não em outras condições do teste Stroop e intervenção WBV é uma intervenção segura para melhorar o funcionamento do cérebro28.

Nos quatro artigos incluídos nesta revisão, os respectivos autores relataram que não possuíam apoio financeiro para pesquisa, autoria ou publicação.

Avaliação do risco de viés

Conforme descrito na figura 2, o alto nível de viés foi percebido em dois dos estudos e apenas no critério de risco 1, que diz respeito à sequência de randomização. Todos os estudos apresentaram baixo risco para os critérios 5 e 6, ou seja, apresentam baixo risco para vieses de atrito. O critério 7 (outros riscos) era incerto nos três estudos incluídos.

Ao analisar quantitativamente a incidência dos níveis (alto, incerto e baixo) de riscos dos diferentes tipos de vieses em cada artigo incluído, podemos, através dos dados da Figura 3, que os artigos 1 e 3 têm os mesmos valores percentuais, enquanto que nos artigos 2 e 4, nenhum risco elevado de viés foi atribuído a nenhum dos parâmetros avaliados, sugere melhor evidência científica.

Ainda assim, com base na observação global dos dados resultantes da análise pareada sobre os riscos de viés nos documentos anexos, a prevalência média do nível alto foi de 7,1%, enquanto a média dos níveis incerto e baixo foram, respectivamente, 32,1 e 60,7 percentuais, de acordo com os dados indicados na figura 3.

Avaliação do nível de evidência e força de recomendação

Ao avaliar os níveis de evidência de acordo com a escala de Oxford, todos os estudos apresentaram nível de evidência 1B e força de recomendação A. Seguindo a classificação de Grade, Paddan e Amonette tiveram um nível de evidência moderado e um forte grau de recomendação, enquanto Regterschot e Boerema apresentaram alto nível de evidência, conforme descrito na tabela 4.

 

DISCUSSÃO

Sabendo que a cognição compreende os processos de atenção, aprendizagem e memória e inclui todos os estímulos internos e externos que os circundam, esta revisão teve como objetivo compreender os efeitos da vibração corporal sobre ela12.

Atenção, dentro do processo cognitivo, é a capacidade do ser humano de filtrar, entre os vários estímulos aos quais está constantemente exposto, aquele em que descobrirá maior foco e concentração, tornando o cérebro capaz de selecionar o que deseja interpretar e o que você vai ignorar29.

Um excesso de estimulação sensório-motora leva à fragmentação da percepção e a atenção no processo de aprendizagem é essencial. Tal processo é gerado pela capacidade de reter determinado conteúdo ou processo que é ensinado, copiado ou condicionado30.

Assim, a memória, no processo de cognição, seria o fim, o que resta da aprendizagem, ou seja, o que pode ser levado à vida e evocado no futuro mais oportuno. Portanto, é de extrema importância para o desenvolvimento das atividades cotidianas e para a construção de novas percepções a partir do que já se sabe29. Portanto, estabelecer estratégias para melhorar a capacidade cognitiva em indivíduos saudáveis ou mesmo tratar pacientes com condições em que tais aspectos estejam comprometidos, como demências ou TDAH, é de interesse clínico e científico para a comunidade.

O questionário NASA-Task Load Index (NASA-TLX) utilizado no estudo de Paddan auxilia no entendimento da carga de trabalho ao abordar aspectos como demanda mental, física e temporal, desempenho, esforço e nível de frustração. Tais aspectos podem ser entendidos como cognição, principalmente por serem difíceis de manter a atenção e sua consequente implicação na aprendizagem31.

Já Amonette utilizou o teste ImpAct, que é um questionário desenvolvido inicialmente para avaliar pacientes pós-concussão. Possui também a versão "ImpAct baseline Test" que pode ser utilizada em pacientes saudáveis, sendo a mais ideal para aplicação em ensaios clínicos para avaliação da cognição frente às terapias aplicadas32, 33.

Ainda não existem na literatura protocolos específicos sobre a melhor forma de VCI com o objetivo de melhorar a cognição, porém os protocolos são voltados para melhorias físicas, como perda de peso, ganho de massa óssea ou melhora da estabilidade e equilíbrio21, 34. Estudos demonstram que a eficácia da terapia VCI é maior com o uso de múltiplas sessões quando comparada a uma única exposição à vibração34. Dos estudos selecionados, todos foram expostos a múltiplas sessões, porém, em Regterschot foram avaliados cognitivamente após cada uma das sessões de vibração, o que pode ter influenciado os resultados do estudo.

Quanto à frequência de vibração da plataforma, os melhores desempenhos ocorreram com uma exposição entre 30-35Hz, oscilando com amplitude de 2mm (baixa amplitude e alta frequência)21,34. Nesse contexto, Regterschot, Amonette e Boerema utilizaram tais padrões vibratórios em seus estudos, porém Paddan utilizou frequências mais baixas, o que pode ter impactado negativamente a resposta motora dos participantes do estudo.

As plataformas vibratórias de corpo inteiro podem ser do tipo vertical, sinusoidal ou alternado 34,35. Segundo os protocolos da VCI, o estímulo sinusoidal (multidirecional) seria o mais eficaz para melhorar o equilíbrio, perda de peso e melhora cardiovascular31. Nos estudos desta revisão, os padrões sinusoidal e vertical foram positivos sobre a cognição. Assim, novos estudos clínicos poderiam ser realizados para elucidar a influência de tal parâmetro dentro dos protocolos ou mesmo que não tenha influência nos padrões de treinamento para melhorar a cognição.

Quando utilizado para melhorar a aptidão física, ambos os protocolos com exercícios dinâmicos e estáticos se mostraram eficazes21. Ao avaliar os estudos acima, o posicionamento corporal (sentado ou fazendo agachamentos estáticos) apresentou bons resultados.

Observou-se que, dentro dos parâmetros de cognição avaliados, sejam eles memória (Amonette e Boerema), atenção, aprendizagem e / ou outros (Amonette, Paddan e Regterschot), houve alguma melhora no desempenho ou pelo menos não houve perda, conforme esperado por Paddan. Apesar dos bons resultados obtidos, Boerema conclui que os protocolos ainda estão abaixo do ideal, ou seja, devem continuar com novas investigações para se chegar a um protocolo clínico eficaz e aplicável em larga escala.

Nos três estudos selecionados, os autores atribuem a melhora da atenção e da memória à vibração de todo o corpo, visto que essa foi a única intervenção imposta à amostra. Além disso, os parâmetros dos protocolos de vibração não são um consenso entre os quatro artigos, reforçando que possivelmente tal vibração realmente afeta positivamente os aspectos cognitivos.

A melhora das funções cognitivas associada ao exercício físico já foi demonstrada por diversos estudiosos e presume-se que esteja intimamente ligada à repressão do declínio da função cardiovascular, aumentando a oxigenação do sistema nervoso central e assim seu maior aporte energético, o tecido é responsável pelo aumento do consumo de oxigênio e nutrientes no corpo humano36, 37. Assim, a teoria de que a VCI influencia positivamente esses aspectos é reforçada pela presente revisão.

Esta revisão, apesar de constatar os efeitos positivos e não prejudiciais e suas possíveis aplicações terapêuticas da VCI na cognição, também revela a carência de estudos randomizados com grande espaço amostral sobre o assunto.

Estudos com maior número de participantes e com maior rigor metodológico devem ser realizados a fim de tirar conclusões quanto ao uso dessa terapia em pacientes com distúrbios neurológicos como demência ou transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e / ou transtornos psiquiátricos como esquizofrenia ou depressão.

Outro fato interessante sobre os efeitos da estimulação pela VCI é a observação de melhora significativa no padrão cognitivo e na ativação do eletroencefalograma em idosas com suspeita de demência leve, após serem submetidas a um período de oito semanas de intervenção terapêutica por meio de VCI38.

Apesar da qualidade metodológica e do consequente significado clínico de suas evidências científicas a limitação da presente revisão se deve principalmente à ausência de estudos selecionados com pacientes com comorbidades cognitivas nos espaços amostrais, uma vez que os quatro ensaios clínicos incluídos têm como participantes indivíduos saudáveis sem nenhuma comorbidade.

O ponto forte desta revisão é indicar inovação relacionada ao uso da VCI para melhorar as respostas cognitivas e apresentar potencial de aplicação em algumas situações clínicas com uma perspectiva importante para ser usado em todo o mundo. Apesar da qualidade metodológica e da consequente significância clínica de suas evidências científicas, consideramos que a quantidade de estudos que podem ser incluídos pode ser considerada como um fator de fragilidade da presente revisão de literatura.

 

CONCLUSÃO

O uso da terapia de vibração de corpo inteiro, independentemente do padrão de vibração, tem um alto potencial de interferência positiva na melhoria do pensamento, aprendizagem e memorização da capacidade cognitiva em indivíduos saudáveis.

Declaração de conflito de interesses

O(s) autor(es) não declararam nenhum potencial conflito de interesse com relação à pesquisa, autoria e/ou publicação deste artigo.

 

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Endereço para correspondência:
Ana Clara de Souza Freitas
anasoitas@hotmail.com

Manuscrito recebido: dezembro 2021
Manuscrito aceito: dezembro 2021
Versão online: janeiro 2022

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