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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.32 no.1 Santo André jan./abr. 2022

http://dx.doi.org/10.36311/jhgd.v32.10262 

ARTIGO ORIGINAL

 

Características associadas à prática de esporte em adolescentes de uma cidade do sul do Brasil

 

 

Carlos Alencar Souza Alves JuniorI; Andressa Ferreira da SilvaI; Eduarda Valim PereiraII; Joni Marcio de FariasII; Diego Augusto Santos SilvaI

IUniversidade Federal de Santa Catarina, Núcleo de Pesquisa em Cineantropometria e Desempenho Humano. Floranópolis, Santa Catarina, Brasil
IIUNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense. Criciúma, Santa Catarina, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: a inatividade física é um dos principais problemas de saúde pública. É necessário adquirir comportamentos saudáveis na infância, pois os hábitos adquiridos tendem a durar até a vida adulta
OBJETIVO: o objetivo deste estudo foi estimar a prevalência e as características relacionadas à prática esportiva em adolescentes de uma cidade do sul do Brasil
MÉTODO: foi realizado um estudo epidemiológico transversal com 582 adolescentes de 11 a 17 anos. Variáveis independentes e dependentes e covariáveis foram avaliadas por meio de questionário. O índice de massa corporal (IMC) e a circunferência da cintura (CC) foram medidos. Regressão logística multinomial foi usada para estimar odds ratio (OR) e intervalo de confiança de 95%
RESULTADOS: estudantes de escolas públicas e privadas que não participaram de nenhuma equipe esportiva apresentaram maior probabilidade de apresentar obesidade abdominal (OR: 2,17; IC95%: 1,16-5,09 e OR: 2,15; IC95%: 1,13-4,09, respectivamente) e não praticar esportes na infância (OR: 1,38; IC95%: 0,98-2,45 e OR: 1,87; IC95%: 1,98-2,80, respectivamente), e aqueles que participaram de uma equipe esportiva apresentaram maior probabilidade de não praticar esportes na infância. (OR: 2,60; IC95%: 1,45-4,65 e OR: 1,26; IC95%: 1,20 -1,33, respectivamente), quando comparados aos que participaram de duas ou mais equipes esportivas. Alunos da escola pública que participaram de uma equipe esportiva apresentaram maior probabilidade de ter obesidade abdominal (OR: 3,50; IC 95%: 1,02-12,92) quando comparados aos adolescentes que participaram de duas ou mais equipes esportivas
CONCLUSÕES: os resultados podem ajudar em possíveis intervenções escolares para promover a prática esportiva

Palavras-chave: adolescentes, educação física, esporte, escola.


 

 

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

Os pesquisadores descobriram que adolescentes de escolas públicas e privadas que não participavam de nenhuma equipe esportiva e aqueles que participavam de uma única equipe tinham maior probabilidade de não praticar esportes na infância. Adolescentes de escolas públicas e privadas que não participaram de nenhuma equipe esportiva e de escolas públicas de uma mesma equipe apresentaram maior chance de apresentarem obesidade abdominal.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

Os pesquisadores descobriram que adolescentes de escolas públicas e privadas que não participavam de nenhuma equipe esportiva e aqueles que participavam de uma única equipe tinham maior probabilidade de não praticar esportes na infância. Adolescentes de escolas públicas e privadas que não participaram de nenhuma equipe esportiva e de escolas públicas de uma mesma equipe apresentaram maior chance de apresentarem obesidade abdominal.

O que essas descobertas significam?

A prática esportiva na infância, período crítico para o desenvolvimento de comportamentos saudáveis, deve ser incentivada na escola por meio de aulas de Educação Física para prevenir possíveis agravos, como a obesidade abdominal.

 

INTRODUÇÃO

A inatividade física é um dos principais problemas de saúde no mundo1. Estudo de revisão sistemática demonstrou que indivíduos pouco ativos fisicamente apresentaram maiores chances de obesidade que, por sua vez, é o principal fator de risco e precursor de doenças crônicas2. Por essa razão é necessário a construção de comportamentos saudáveis ainda na infância, pois os hábitos adquiridos tendem a perdurar até a vida adulta3. Assim, a atividade física é importante fator para promoção da saúde, de modo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda para crianças e adolescentes (5-17 anos), o envolvimento diário em pelo menos 60 minutos de atividade física de intensidade moderada a vigorosa por dia para obter benefícios à saúde4.

Um dos aspectos que contribuem para o maior envolvimento de crianças e adolescentes em atividades físicas é a prática esportiva5,6. A prática esportiva é definida pela execução de jogos com a utilização de regras estabelecidas por federações, podendo ter como intuito a educação, o lazer, a saúde ou o rendimento7. Revisões sistemáticas demonstraram que a prática de esporte proporciona benefícios aos jovens, como o aumento da aptidão física, redução da gordura corporal, menor risco de doenças cardiovasculares, melhora da saúde óssea e redução de sintomas de depressão e ansiedade8,9.

A prevalência de prática de esportes é considerada baixa entre as crianças e os adolescentes brasileiros (58,1%)10, quando comparados a adolescentes de outros países como República Tcheca (66%)11 e Austrália (60%) 12. Em diferentes localidades do Brasil, as prevalências de prática de esportes também são discrepantes. Em Londrina, PR, foi reportada prevalência de crianças e adolescentes engajados em esportes de 32,4%13. Em Presidente Prudente, SP, e Florianópolis, SC, a prevalência foi de 67.8%13. Embora o Brasil tenha vários programas governamentais designados a promover a participação esportiva para crianças e adolescentes, os dados disponíveis não são consistentes ao redor do país e mais pesquisas para explorar esse tema se fazem necessárias10.

O envolvimento de pessoas jovens em esportes está associado com diferentes fatores10. Revisões sistemáticas evidenciaram que as características dos adolescentes que praticavam esportes foram ser do sexo masculino, de nível econômico alto e ativos fisicamente6,14. No entanto, outros fatores devem ser mais bem investigados, como as condições de espaços físicos da escola para a prática de esporte e a frequência nas aulas de Educação Física. O levantamento nacional sobre prática de atividade física em crianças e adolescentes do Brasil revelou que as condições físicas das escolas são precárias, sendo que a falta de espaços para a prática esportiva, como quadras poliesportivas, piscinas e campos, foi um dos fatores mais frequentemente reportados como precários10.

Nesta perspectiva, o estudo apresentou como objetivo estimar a prevalência e características correlatas à prática de esporte em adolescentes de uma cidade do sul do Brasil.

 

MÉTODO

Delineamento do estudo

Esta pesquisa se caracteriza como epidemiológica, de base escolar com delineamento transversal, realizada em 2016 na cidade de Criciúma, Santa Catarina, sul do Brasil. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade do Extremo Sul Catarinense em 26/06/2015 e integra a pesquisa "Associação entre o estado de saúde, comportamentos de risco e nível de atividade física de escolares de escolas públicas da Cidade de Criciúma - SC". Todo o estudo foi elaborado seguindo os preceitos elencados pelas recomendações Strengthening the reporting of observational studies in epidemiology (STROBE) para estudos transversais15. Os adolescentes que participaram da pesquisa assinaram o Termo de Assentimento e os pais/responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido autorizando a participação dos escolares na pesquisa.

População e amostra

A população-alvo deste estudo foi composta por 17.000 escolares da rede pública estadual, municipal e do ensino privado, integrantes do 5º ano do nível fundamental ao 3º ano do nível médio da cidade de Criciúma, Santa Catarina, Brasil. Para o cálculo do tamanho da amostra do macroprojeto foram considerados como desfechos principais o excesso de peso, os baixos níveis de atividade física e os baixos níveis de aptidão aeróbia. Considerando as publicações anteriores na cidade investigada16, 17, estimou-se uma prevalência para esses desfechos de 30% (excesso de peso) ou de 70% (baixos níveis de atividade física e os baixos níveis de aptidão aeróbia). Estas prevalências têm o mesmo efeito em termos de informações para o cálculo amostral. O nível de confiança adotado foi de 95%, o erro estimado em cinco pontos percentuais, efeito de delineamento de 1,5 e acréscimo de 20% para eventuais perdas e recusas. Diante desses parâmetros estimou-se amostra de 570 escolares.

Variável dependente

A prática de esportes foi avaliada por meio de uma questão do questionário Youth Risk Behavior Survey (YRBS), traduzido e validado para adolescentes brasileiros18. Este questionário apresentou índice de concordância kappa, com média de 68,3% e mediana de 68,5%, considerado relativamente alto para reprodutibilidad10. A questão utilizada foi: "Durante os últimos 12 meses, em quantas equipes de esporte você jogou? (Incluir equipes da escola, do clube ou do bairro) ". Este item apresentava como opções de resposta: 0) Nenhuma equipe, 1) 1 equipe, 2) 2 equipes, 3) 3 ou mais equipes. Os resultados foram categorizados em "nenhuma equipe", "uma equipe" e "duas ou mais equipes".

Variáveis independentes

As variáveis independentes foram: percepção do adolescente sobre as condições atuais de espaços físicos para prática de esporte na escola, frequência de participação nas aulas de Educação Física, índice de massa corporal (IMC), perímetro da cintura e prática de esporte no período da infância do adolescente.

A percepção do adolescente sobre as condições de espaço físico da escola para prática de esporte foi identificada por meio da pergunta: "De uma maneira geral, os espaços físicos existentes em sua escola estão em que condições?" As respostas para este item foram: 1) excelente, 2) boa, 3) regular, 4) ruim, 5) péssima. Esta questão foi retirada do questionário Comportamento do Adolescente Catarinense (COMPAC)19, que apresentou valores de reprodutibilidade que variaram de 0,64 a 0,99 por unidade temática. A variável foi dicotomizada em "adequado" para os estudantes que responderam as opções de resposta 1, 2 ou 3; e "inadequado" para os estudantes que responderam as opções 4 ou 5.

A frequência semanal de participação nas aulas de Educação Física foi investigada por uma questão retirada do questionário COMPAC19: ""Durante uma semana normal (típica), você participa de quantas aulas de Educação Física?". As opções de resposta foram: 1) eu sou dispensado das aulas de Educação Física; 2) eu participo de uma aula; 3) eu participo de duas aulas; 4) eu participo de três aulas; 5) eu participo de quatro aulas. A variável foi categorizada em "nenhuma" para os estudantes que optaram pela alternativa 1; "uma ou duas aulas" para os estudantes que optaram pelas alternativas 2 e 3 e "três aulas ou mais aulas", para os estudantes que escolheram a alternativa de resposta 4 e 5.

A estatura foi coletada por meio de estadiômetro com tripé da marca Sanny® (São Paulo, Brasil) e a massa corporal com balança digital da marca G-tech® (Zhongshan, China). Para a classificação dos resultados em relação ao IMC, utilizou-se os pontos de corte em score-Z propostos pela Organização Mundial de Saúde 20 (ONIS et al., 2007), em que a definição de sobrepeso é de > + 1 desvio padrão e obesidade é de > +2 desvios padrões. Na presente pesquisa, os escolares classificados acima > + 1 desvio padrão foram considerados com "excesso de peso" e aqueles abaixo desta classificação como "eutróficos".

O perímetro da cintura foi medido na porção mais estreita do tronco, entre a borda costal inferior e a crista ilíaca, com fita antropométrica da marca Sanny® (São Paulo, Brasil). Para classificar os adolescentes com obesidade abdominal usaram-se os pontos de corte propostos anteriormente para crianças e adolescentes21 (TAYLOR et al., 2000) que definiram como excesso de obesidade abdominal os valores com score-Z 1. Tais pontos de corte foram propostos de acordo com a idade e o sexo21.

A prática de esporte na infância foi analisada por meio da pergunta: "Durante a infância (sete a 10 anos de idade) você praticou alguma atividade esportiva, com supervisão de professor, por pelo menos seis meses sem interrupção? (Não considerar Educação Física escolar)". As opções para esta questão foram: 1) sim e 2) não. A prática de esporte na infância foi categorizada em "sim" (praticou esporte na infância) e "não" (não praticou esporte na infância), seguindo metodologias prévias22,23.

Covariáveis

As covariáveis dessa pesquisa foram o nível de atividade física, a idade, o nível econômico e o sexo. O sexo e a idade foram coletados por meio de questionário autoadministrado. O sexo foi categorizado em "masculino" e "feminino"; a idade foi coletada em anos completos e posteriormente dicotomizada em "11 a 13" e "14 a 17" anos. O nível econômico foi investigado por meio do poder de compra das famílias dos adolescentes, em que os próprios escolares responderam o questionário da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa24 e categorizou-se em poder de compra alto ("A1", "A2", "B1", "B2") e baixo ("C1", "C2", 'D' e "E').

O nível atividade física foi avaliada por questão da versão brasileira do questionário de Vigilância do Comportamento de Risco de Jovens (YRBSS) utilizado nos Estados Unidos, traduzido e validado para o Brasil18. A questão utilizada foi: "Nos últimos sete dias, em quantos dias você foi fisicamente ativo por pelo menos 60 minutos por dia? (Considere atividade física de intensidade moderada e ou vigorosa). As opções de resposta foram: 1) nenhum dia; 2) um dia; 3) dois dias; 4) três dias; 5) quatro dias; 6) cinco dias; 7) seis dias; 8) sete dias. Os adolescentes que praticavam atividade física cinco dias ou mais na semana foram classificados como "Ativos fisicamente" e menos do que cinco dias/semana como "Pouco ativos fisicamente"25.

Análise estatística

Inicialmente foi realizada normalidade dos dados por meio dos valores de assimetria e curtose. Os dados apresentaram distribuição normal. Foi realizada a análise descritiva (média, desvio padrão e distribuição de frequências). Empregou-se a regressão logística multinomial para examinar as associações entre o desfecho com as variáveis independentes, estimando-se a odds ratio (OR) e intervalo de confiança de 95%, sendo que a categoria duas ou mais equipes de esporte foi considerada como referência. Na análise ajustada, todas as variáveis foram introduzidas no modelo, independente do p-valor da análise bruta. Na análise ajustada permaneceram as variáveis com p-valor 0,20, segundo o método backward. Em relação à análise ajustada, as covariáveis (nível de atividade física, idade, nível econômico e sexo) foram introduzidas em conjunto com as variáveis independentes. O nível de significância foi estabelecido em 5%. As análises foram estratificadas por tipo de escola (pública e privada) e realizadas no software Statistical Package for the Social Scienses (IBM SPSS Statistics, Chicago, Estado Unidos), versão 22.0.

 

RESULTADOS

A maioria dos adolescentes da rede pública era composta por meninos (52,8%), enquanto na rede privada, apresentava maior número de meninas (57,0%). Mais da metade dos adolescentes da rede pública (50,6%) e privada (66,7%) apresentava faixa etária de 14 a 17 anos. Quanto ao nível econômico, metade dos adolescentes de escolas públicas (51,2%) e privadas (52,3%) pertencia ao nível econômico baixo. Nove a cada dez adolescentes de escola pública (97,2%) e privada (93,0%) relataram condições de espaço físico na escola adequado. Em relação à frequência nas aulas de Educação Física, aproximadamente todos os alunos da escola pública (97,8%) e da escola privada (95,8%) relataram frequência em duas ou mais aulas de Educação Física por semana. Ademais, na infância, 37,9% dos adolescentes da escola pública não praticavam atividades esportivas e 47,0% dos adolescentes de escola privada não realizaram atividades esportivas na infância. Quanto ao nível de atividade física, 91% dos adolescentes da escola pública e 88% da escola privada eram pouco ativos fisicamente. Em relação ao excesso de peso, três a cada dez adolescentes apresentavam excesso de peso (38,6% na escola pública e 31,0% na escola privada). Adolescentes de escolas públicas apresentaram maior prevalência de obesidade abdominal (39,1%), em comparação à escola privada (32,8%). A prevalência de prática de esporte foi de 40,7% e 44,7% para os adolescentes de escolas públicas e privadas, respectivamente, que estavam inseridos em uma ou mais equipes de esporte (Tabela 1).

A característica dos adolescentes de escolas públicas que não participavam de nenhuma equipe de esporte quando comparados àqueles que participavam de duas ou mais equipes de esportes era que eles apresentavam obesidade abdominal (análise bruta, OR: 2,41; IC95%: 1,77-3,40; análise ajustada, OR: 2,17; IC95%: 1,16-5,09) e tinham maiores chances de não ter praticado esportes na infância (análise bruta, OR: 1,90; IC95%: 1,57-3,90; análise ajustada OR: 1.38; IC95%: 0,98-2,45). A característica dos adolescentes de escolas públicas que participavam de uma equipe de esporte quando comparados àqueles que participavam de duas ou mais equipes de esportes era que eles também apresentavam maiores chances de ter obesidade abdominal (análise bruta, OR: 2,48; IC95%: 1,77-3,49; análise ajustada, OR: 3,50; IC95%: 1,02- 12,92) e de não ter praticado esporte na infância (análise bruta, OR: 1,58; IC95%: 1,09-2,29; análise ajustada, OR: 2,60; IC95%: 1,45-4,65) (Tabela 3).

Os adolescentes da escola privada que não participavam de nenhuma equipe de esporte, quando comparados àqueles que participavam de duas ou mais equipes esportivas apresentaram maiores chances de terem obesidade abdominal (análise bruta, OR: 2,49; IC95%: 1,77-3,49; análise ajustada, OR: 2,15; IC95%: 1,13-4,09) e maiores chances de não ter praticado esporte na infância (análise bruta, OR: 1,72; IC95%: 1,56-2,73; análise ajustada, OR: 1,87; IC95%: 1,98-2,80). Além disso, os adolescentes da escola privada que participavam de uma equipe de esporte quando comparados àqueles que participavam de duas ou mais equipes esportivas apresentaram maiores chances de não ter praticado esporte na infância (análise bruta, OR: 1,45; IC95%: 1,05-1,99; análise ajustada, OR: 1,26; IC95%: 1,20-1,33) (Tabela 2).

 

DISCUSSÃO

Os principais achados deste estudo foram: 1) aproximadamente, quatro em cada 10 adolescentes da rede pública (40,7%) e privada (44,7%) participavam de uma ou mais equipes de esporte; 2) os estudantes de escolas públicas e privadas que não participavam de nenhuma equipe de esporte tinham a característica de apresentar obesidade abdominal e de não praticar esportes na infância quando comparados àqueles adolescentes que participavam de duas ou mais equipes esportivas; 3) os estudantes de escolas privadas e públicas que participavam de uma equipe esportiva tinham a característica de não praticarem esporte na infância quando comparados àqueles que participavam de duas ou mais equipes esportivas; 4) os estudantes de escolas públicas que participavam de uma equipe esportiva tinham a característica de ter obesidade abdominal quando comparados àqueles adolescentes que participavam de duas ou mais equipes esportivas.

Neste estudo, quatro a cada 10 adolescentes relataram praticar esportes (42,7%). Revisão sistemática que apresentou como objetivo identificar o envolvimento de adolescentes brasileiros de 10 a 18 anos em práticas esportivas demonstrou prevalência de 58,1% de adolescentes envolvidos em esportes no Brasil10,13. Quase metades dos indivíduos relataram praticar esporte, sendo explicado pelo fato de que o esporte pode ser considerado atividade de entretenimento e divertimento, quando considerado de forma lúdica, em que as ações podem ser mais flexíveis e de menor rigor, promovendo modos agradáveis de ocupar o tempo livre14,. Em relação à outra metade que não se envolvia em prática esportiva (57,3%) pode ser explicado pela maior frequência e tempo dedicado a hábitos como assistir televisão, uso excessivo de computador, celular e vídeo game, tornando mais frequente a dedicação a estas atividades e diminuindo o envolvimento em esportes26.

O presente estudo encontrou que adolescentes de escolas públicas e privadas que não participavam de nenhuma equipe de esporte e os estudantes de escolas públicas que participavam de uma equipe esportiva tinham a característica de apresentar obesidade abdominal quando comparados àqueles que se envolviam em duas ou mais equipes esportivas. A prática esportiva é um aspecto importante para o acúmulo de atividade física semanal dos jovens e aumento do gasto energético, sendo que a prática esportiva deve ser incentivada com o objetivo de aumentar a proporção de jovens que atendem à recomendação de atividade física moderada a vigorosa semanal7,27. Indivíduos em âmbito escolar apresentam maior possibilidade de se envolver em práticas de esportes, sendo alternativa para se atingir as recomendações de atividades físicas, culminando em maior equilíbrio entre consumo e gasto energético27. Deste modo, os indivíduos que não praticam esporte podem ter menor envolvimento em atividades físicas, e por consequência ter menor gasto energético, o que pode acarretar acúmulo de gordura corporal27. Nesta pesquisa também se evidenciou que a obesidade estimada por meio do IMC não foi associada à prática de esporte. A faixa etária examinada neste estudo encontrava-se em fase de crescimento e desenvolvimento, em que os ganhos de massa corporal e estatura, podem resultar em alterações no IMC28, sendo, portanto, o perímetro da cintura mais relacionado às alterações ligadas ao excesso de gordura corporal6.

Os estudantes de escolas públicas e privadas que não participavam de nenhuma equipe esportiva e aqueles que participavam de uma equipe esportiva tinham a característica de não praticarem esporte na infância. Estudo de revisão sistemática demonstrou resultado semelhante29. Na infância, a não realização de práticas de esporte, pode estar relacionada à ênfase excessiva nos esportes coletivos existentes nos currículos escolares, que podem ocasionar efeitos colaterais não intencionais para as crianças, incluindo desânimo e desengajamento para os indivíduos menos habilidosos, o que gera menor envolvimento em prática esportiva ao longo da vida14,29.

No presente estudo não foram encontradas associações entre as condições e espaços físicos nas escolas e prática de esporte em adolescentes. Este achado corrobora com outro estudo realizado com adolescentes de uma cidade do Sul do Brasil7. Possível justificativa remonta-se ao fato de que mesmo com condições e espaços físicos adequados, os adolescentes diminuem o tempo destinado à atividade física com o aumento da idade, culminando em menor participação esportiva, pois o esporte escolar desenvolve as modalidades esportivas mais conhecidas e que desfrutam de prestígio social, como futebol voleibol e basquete, sendo encaradas pelos adolescentes como atividades repetitivas e mecânicas em detrimento da liberdade de movimento, da criatividade e da ludicidade30.

Da mesma forma, não foram encontradas associações entre frequência nas aulas de Educação Física e prática de esporte em estudantes. Este fato se justifica porque os estudantes podem praticar esportes em outros contextos como em clubes, parques e praças7. Acrescenta-se que as aulas de Educação Física abordam além dos esportes, todos os elementos da cultura corporal, como jogos, danças, lutas e ginástica, o que não permite intervenção consistente para aprimoramento de habilidades técnicas e táticas dos esportes5.

Destacam-se como limitações do estudo o fato de não ter sido verificada a duração, frequência e tipo de esportes praticados, além do delineamento transversal. Como pontos fortes da pesquisa têm-se as contribuições para a área educacional, de saúde e esporte ao se identificar características associadas à prática de esporte em adolescentes. Além disso, se destaca a utilização do sexo, atividade física, idade e nível econômico como variáveis de controle no modelo ajustado objetivando encontrar resultados mais precisos sobre a relação entre características dos espaços físicos escolares, frequência em aulas de Educação Física, obesidade, prática de esporte na infância e envolvimento em equipes esportivas na adolescência.

 

CONCLUSÃO

Conclui-se que menos da metade (42,7%) dos adolescentes estavam envolvidos em prática esportiva. Além disso, os adolescentes da rede pública e privada que não se envolviam em nenhuma equipe esportiva e os que se envolveram em uma equipe esportiva não praticaram esportes na infância. Jovens de escolas públicas e privadas que não estavam envolvidos em nenhuma equipe esportiva e aqueles de escolas públicas envolvidos em uma equipe esportiva tinham maiores chances de obesidade abdominal. Portanto, as práticas esportivas durante a infância, que é um período crítico para o desenvolvimento de comportamentos saudáveis, devem ser incentivadas no âmbito da escola, por meio das aulas de Educação Física, para prevenir possíveis agravos à saúde, como a obesidade abdominal.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

 

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Endereço para correspondência:
Carlos Alencar Souza Alves Junior
alvesjunior.cas@gmail.com

Manuscrito recebido: maio 2021
Manuscrito aceito: dezembro 2021
Versão online: janeiro 2022

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