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Mudanças

versão impressa ISSN 0104-3269versão On-line ISSN 2176-1019

Mudanças vol.28 no.1 São Paulo jan./jun. 2020

 

ARTIGOS EMPÍRICOS

 

Idosos frequentadores de clubes de dança possuem maior propósito na vida do que os não frequentadores

 

Older adults' dance club members have a higher purpose in life than non-members

 

 

Daniel Vicentini OliveiraI; Edimar Gomes BarbosaII; Maura Fernandes FrancoIII; Cristina Cristóvão RibeiroIV; Sonia Maria Marques Gomes BertoliniV; Rogéria Vicentini OliveiraVI; José Roberto Andrade Nascimento JúniorVII

IFisioterapeuta e Educador Físico, Doutor em Gerontologia pela UNICAMP, docente do Centro Universitário Metropolitano de Maringá e pós-doutorando em Promoção da Saúde pelo UNICESUMAR
IIEducador Físico pelo Centro Universitário Metropolitano de Maringá
IIIFisioterapeuta, Doutoranda em Gerontologia pela UNICAMP e docente da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro
IVFisioterapeuta, Doutora em Gerontologia pela UNICAMP e docente do CESUFOZ
VFisioterapeuta, Doutora em Ciências Morfológicas, coordenadora e docente do programa de pós-graduação Stricto Sensu em Promoção da Saúde do UNICESUMAR
VIDentista, mestranda em Promoção da saúde pelo UNICESUMAR
VIIProfissional de educação física, docente no mestrado em educação física da UNIVASF

 

 


RESUMO

Este estudo transversal teve o objetivo comparar o propósito de vida entre idosos frequentadores e não frequentadores de clubes de dança. Foram avaliados 100 idosos, sendo 50 frequentadores de clubes de dança e 50 não frequentadores. Foi utilizado um questionário sociodemográficas e a Escala de Propósito de vida. Os dados foram analisados por meio dos testes Kolmogorov-Smirnov, Qui-quadrado de Pearson, "U" de Mann-Whitney e correlação de Spearman (p<0,05). Os idosos frequentadores de clubes de dança apresentaram maior escore de propósito de vida do que os idosos não frequentadores (p=0,010. Não foi encontrada correlação significativa (p > 0,05) entre a idade e o propósito de vida dos idosos frequentadores e não frequentadores de clubes de dança. Pode-se concluir que a frequência em clubes de dança de salão parece ser um fator interveniente no propósito de vida dos idosos.

Palavras-chave: Envelhecimento; Psicologia; Comportamento; Atividade motora; Socialização.


ABSTRACT

This cross-sectional study aimed to compare the purpose of life between older-adult members and non-members of a dancing club. A total of 100 older adults were evaluated, which included 50 dance club members and 50 non-members. An instrument with sociodemographic questions and the Life Purpose Scale was used. Data were analyzed using the Kolmogorov-Smirnov, Pearson Chi-square, Mann-Whitney "U" and Spearman correlation tests (p <0.05). Older adults who attended dance clubs had a higher life purpose score than those who did not attend (p = 0.010. No significant correlation (p> 0.05) was found between age and life purpose of older adults who did not attend the dance club. It can be concluded that attendance at ballroom dance clubs seems to be an intervening factor in the life purpose of older adults.

Keywords: Aging; Psychology; Behavior; Motor activity; Socialization.


 

 

Introdução

O envelhecimento é um processo natural, fisiológico e biológico marcado pelas modificações cognitivas, fisiológicas, patológicas, biológicas e socioeconômicas (Ferreira, Maciel, Costa, Silva, & Moreira, 2012). Estas alterações podem impossibilitar uma vida independente e saudável (Hermann, & Lana, 2016), e afetar a qualidade de vida e o bem-estar do idoso (Santos, Cachioni, Yassuda, Melo, Falcão, Neri & Batistoni, 2019).

Dentre as variáveis determinantes do bem-estar, destacam-se o bem-estar subjetivo (BES) e psicológico (BEP). O BES é representado pela a avaliação que a própria pessoa faz da sua qualidade de vida em relação à satisfação com a vida, afetos positivos e negativos (Sposito, Diogo, Cintra, Neri, Guariento, & Sousa, 2010).

O BEP reúne conceitos de diversas áreas da psicologia e é determinado através da auto avaliação dos domínios: autonomia, domínio ambiental, crescimento pessoal, relações positivas, auto aceitação e propósito de vida (Silva, 2018).

O propósito de vida é considerado um dos principais domínios, pois se refere à sensação de que a vida tem sentido, além de apresentar relação com uma visão mais positiva sobre a vida, percepção de crescimento pessoal, felicidade, satisfação, autoestima e motivação para viver (Ribeiro, Neri, & Yassuda, 2018). A manutenção de um senso de propósito de vida na velhice tem se destacado como uma variável interveniente entre o envelhecimento e desfechos positivos em saúde, bem-estar e qualidade de vida (Santos et al., 2019). O propósito de vida elevado pode agir como fator de proteção contra o desenvolvimento de psicopatologias, estresse e depressão (Kim, Strecher e Ryff, 2014).

Deste modo, a manutenção de um senso de propósito de vida ao longo da vida tem se destacado como uma variável interveniente entre o envelhecimento e bem-estar, qualidade de vida e desfechos positivos em saúde (Santos, 2019). Logo, há uma necessidade de busca por estratégias de favorecimento do propósito de vida e, consequentemente, do envelhecimento saudável (Melo, Costa, Boletini, Freitas, Costa, Arreguy & Noce 2018).

Neste sentido, a prática de atividade física traz benefícios psicológicos que podem potencializar os estados de ânimo integrantes da saúde mental, influenciar a prevalência de afetos positivos e estimular melhoras cognitivas e comportamentais. Ao mesmo tempo em que a música também é um fator de grande interferência na melhora da saúde global e na relação interpessoal (Oliveira, Pivoto, & Vianna, 2009). Assim, dentre os diversos tipos de exercício físico que contribuem para o envelhecimento saudável, a dança tem se mostrado como uma boa opção para os idosos (Melo et al., 2018).

A dança é citada na literatura como um método eficaz na melhora da qualidade de vida de pessoas que apresentam algum comprometimento motor ou mesmo para idosos saudáveis (Carvalho, Santos, Silva, Cavalli, Corrêa, & Corrêa, 2012). Como toda arte é expressiva e comunicativa pode ser uma atividade prazerosa e de grande interesse por parte dos idosos (Aliatti & Rossato, 2017). Reúne atividade corporal e artística, sendo um forte atrativo para aqueles que não gostam de fazer exercícios, e pode resultar numa vivência de grande bem-estar (Varregoso, Machado, & Barroso, 2016), visto que, além dos benefícios fisiológicos ela é capaz de influenciar positivamente o BEP dos praticantes (Guimarães, & Caldas, 2006).

Sua prática permite aos idosos traduzirem sentimentos, ansiedades e necessidades, e, assim, mostra-se como uma estratégia positiva e preventiva, a nível físico, psicológico, social, expressivo e comunicativo (Varregoso, Machado, & Barroso, 2016). Associa o processo de envelhecimento a uma experiência enriquecedora e social (Varregoso, Machado, & Barroso 2016; Melo et al., 2018) e melhorando a qualidade de vida dessa população (Guimarães, Pedrini, Matte, Monte & Parcias, 2017). Por meio da expressão corporal com movimentos de dança é possível transformar sensações e pensamentos em movimentos que se comunicam (Aliatti, & Rossato, 2017).

Com base no exposto, é possível inferir que a prática da dança também pode ser um recurso psicoterápico, aumentando o sentimento de vitalidade e promovendo saúde psicológica (Santos, 2019). Considerando a importância dos fatos, este estudo teve por objetivo analisar as diferenças no propósito de vida entre idosos frequentadores e não frequentadores de clubes de dança. Devido à escassez de pesquisas gerontológicas com tal temática, parece ser este o primeiro estudo a investigar a relação do propósito de vida com a participação de idosos em clubes de dança.

 

Material e método

Participantes

A amostra foi escolhida de forma intencional e por conveniência, e composta de 100 idosos, sendo, 50 frequentadores dos clubes de dança de salão, e 50 não frequentadores destes locais. Foram incluídos idosos (60 anos ou mais), de ambos os sexos, ativos fisicamente (avaliados pelo Questionário Internacional de Atividade física - IPAQ versão curta), que frequentam os clubes de dança de salão avaliados, assim como os que não os frequentam. Foram excluídos os idosos com possíveis déficits cognitivos, segundo a escolaridade, avaliados pelo Mini Exame do Estado Mental (Folstein, Folstein, & McHugh, 1975; Brucki, Nitrini, Caramello, & Bortolluci, 2003).

Instrumentos

Foi aplicado um questionário sociodemográfico, de saúde e de frequência (ou não) nos clubes de dança de salão. As questões eram referentes a idade, faixa etária (60 a 70 anos; 71 a 80 anos; 81 a 90 anos; mais de 90 anos), sexo (masculino; feminino), estado conjugal (com companheiro; sem companheiro), cor (branca; preta; amarela), escolaridade (não estudou; fundamental incompleto; fundamental completo; médio completo; superior), renda mensal em salário mínimo (SM) (1 a 2 SM; 2,1 a 3 SM; mais de 3 SM), aposentadoria (sim; não), percepção de saúde atual (boa; regular; ruim), uso de medicamentos (nenhum; 1 a 2; 3 a 4; 5 ou mais), histórico de quedas nos últimos seis meses (sim; não), histórico de quase queda nos últimos seis meses (sim; não), quantidade de doenças crônicas (nenhuma; 1 a 2; 3 a 4; 5 ou mais).

Especificamente para os idosos frequentadores dos clubes de dança, também foi questionado por meio deste instrumento: frequência semanal de ida ao clube de dança (1; 2; 3 dias ou mais), tempo que frequenta clubes de dança (até 6 meses; 6 meses a 1 ano; mais de 1 ano).

O nível de atividade física dos idosos foi avaliado utilizando-se a versão curta do Questionário Internacional de Atividade Física- (IPAQ). Ele é composto por sete questões abertas e suas informações permitem estimar o tempo despendido, por semana, em diferentes dimensões de atividade física (caminhadas e esforços físicos de intensidades moderada e vigorosa) e de inatividade física (posição sentada). O nível de atividade física foi classificado em sedentário, irregularmente ativo, ativo ou muito ativo (Matsudo, Araújo, Matsudo, Andrade, Andrade, Oliveira, & Braggion. 2002).

O propósito de vida dos idosos foi avaliado através de um instrumento com 10 perguntas, de acordo com a versão adaptada pelo grupo de pesquisadores da Rush University Medical Center, em Chicago. O instrumento de propósito de vida é uma medida de autorrelato, que contém 10 perguntas, com respostas indicadas em escala Likert de 6 pontos, de acordo com o nível de concordância (concordo totalmente, concordo, concordo parcialmente, discordo parcialmente, discordo e discordo totalmente) (Ribeiro, Neri, & Yassuda, 2018).

Procedimento

Trata-se de um estudo transversal, aprovado pelo comitê de ética em pesquisa do Centro Universitário de Maringá, por meio do parecer número 2.091.893/2017.

Primeiramente, foi feito contato com os responsáveis pelos clubes da dança de salão para idosos, do município de Maringá, Paraná, para que pudesse autorizar a coleta dos dados. Foram coletados dados em três clubes de dança de salão.

Após a autorização, os pesquisadores iniciaram a coleta dos dados, que ocorreu nos horários informados pelos responsáveis dos locais, os quais tinham uma maior frequência do público idoso (manhã e tarde, de segunda a sexta feira).

Os pesquisadores abordaram os idosos e explicaram os objetivos e princípios da pesquisa. Idosos que aceitaram participar da pesquisa, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Cada coleta (individual) durou, em média, sete minutos.

Análise dos dados

A análise dos dados foi realizada por meio do Software SPSS 23.0, mediante uma abordagem de estatística descritiva e inferencial. Foi utilizado frequência e percentual como medidas descritivas para as variáveis categóricas. Para as variáveis numéricas, inicialmente foi verificada a normalidade dos dados por meio do teste Kolmogorov-Smirnov. Como os dados não apresentaram distribuição normal, foram utilizadas Mediana (Md) e Quartis (Q1; Q3) para a caracterização dos resultados. O teste de Qui-quadrado de Pearson (X2) foi utilizado para se observar às possíveis diferenças nas proporções das variáveis sociodemográficas e das condições de saúde idosos frequentadores e não frequentadores de clubes de dança. A comparação do propósito de vida entre idosos frequentadores e não frequentadores de clubes de dança foi efetuada por meio do teste "U" de Mann-Whitney. A correlação entre a idade e o propósito de vida dos idosos frequentadores e não frequentadores de clubes de dança foi efetuada por meio do coeficiente de correlação de Spearman. Foi adotada a significância de p < 0,05.

 

Resultados

Dos 100 idosos avaliados, nota-se a prevalência de idosos do sexo feminino (61,0%), com companheiro (52,0%), com idade entre 60 e 70 anos (64,0%), da cor branca (52,0%), com renda mensal de um a dois salários mínimos (75,8%), e que são aposentados (91,9%). Observou-se também que a maioria dos idosos possui no mínimo ensino fundamental completo (80,0%).

Ao comparar as proporções das variáveis sócio demográficas de acordo com a participação em clubes de dança, foi encontrada diferença significativa (p > 0,05) nas proporções entre os grupos somente com estado civil (p = 0,001) e aposentadoria (p = 0,025), indicando maior proporção de idosos sem companheiro (68,8%) e aposentados (53,8%) que frequentam os clubes de dança. Não foi encontrada diferença significativa (p > 0,05) na proporção entre os grupos nas demais variáveis sociodemográficas

Não houve diferença significativa (p > 0,05) entre os idosos frequentadores e não frequentadores de clubes de dança em razão das condições de saúde, indicando a homogeneidade entre os idosos frequentadores e não frequentadores de clubes de dança em relação às condições de saúde. No entanto, verificou-se maior proporção (p = 0,001) de idosos muito ativos e que são frequentadores de clubes de dança.

Dos 50 idosos frequentadores de clubes de dança, nota-se que a maioria dos idosos frequenta os clubes de dança há mais de três anos (50,0%) e com frequência de pelo menos duas vezes por semana (84,0%).

Verificou-se diferença significativa no escore de propósito de vida (p = 0,010) frequentadores e não frequentadores de clubes de dança (Tabela 4), indicando que os idosos frequentadores de clubes de dança (Md = 44,0) apresentaram maior escore de propósito de vida do que os idosos não frequentadores de clubes de dança (Md = 41,5)

Não foi encontrada correlação significativa (p > 0,05) entre a idade e o propósito de vida dos idosos frequentadores e não frequentadores de clubes de dança (Tabela 5), indicando que não existe associação linear entre a idade e o propósito de vida dos idosos em ambos os grupos.

 

Discussão

Os principais achados deste estudo apontaram que idosos frequentadores de clubes de dança apresentaram maior propósito de vida do que os idosos não frequentadores de clubes de dança, e que parece não existir associação linear entre a idade e o propósito de vida dos idosos.

A tabela 4 mostrou que os idosos que frequentam os clubes de dança possuem maior propósito na vida do que os não frequentadores, porém, vale lembrar que os idosos frequentadores são mais ativos fisicamente do que os não frequentadores, como visto na tabela 2, além de serem um grupo com maior proporção de aposentados e sem companheiros (as) (tabela 1).

O fato dos idosos frequentadores serem mais ativos e aposentados podem justificar, em parte, o maior propósito na vida. Confirmando essa justificativa, Hookers e Masters (2016), ao avaliarem idosos por meio de acelerômetro, identificaram que o propósito de vida estava associado com o aumento da atividade física.

Em contrapartida, outro estudo mostrou que não há diferença no propósito de vida de idosos em relação ao nível de atividade física (Oliveira, Nascimento, Ribeiro, Nascimento Júnior, 2019a). Estes autores encontraram apenas uma correlação fraca entre propósito de vida e minutos de caminhada por dia. Ainda, em outro estudo Oliveira, Ribeiro, Pico, Murari, Freire, & Contreira 2019b), verificaram que idosos que praticam hidroginástica a mais tempo (um a cinco anos), possuem maior propósito na vida do que aqueles que fazem a modalidade a menos de um ano.

Cabe lembrar que a hidroginástica é uma modalidade realizada em grupo, muito procurada para a socialização, assim como a dança de salão avaliada no presente estudo, e que não a prática do exercício em si impacta no propósito de vida do idoso, mas sim a convivência em grupo. Diante disto, podemos inferir que a frequência em clubes de dança pode ser sim um fator que impacta no propósito de vida dos idosos, visto que ainda não há um consenso pontual em relação ao propósito de vida, nível de atividade física, e participação social. Destaca-se que o envelhecimento ou o aumento da idade em si não respondem sozinhos pelas alterações em participação social (Santos et al. 2019).

A participação social impacta no propósito de vida, além de compor os principais paradigmas de envelhecimento bem-sucedido, ativo, saudável e produtivo (Santos, et al., 2019). As manifestações de mudança ou estabilidade nos indicadores de participação social trazem efeitos sobre diversos domínios da vida e, também, sobre a qualidade de vida em geral do idoso (Aw, Koh, Oh, Wong, Vrijhoef, Harding, Geronimo & Lai, 2017). O propósito de vida positivo mais alto e estável é considerado um benefício a longo prazo, e tem relação com um estilo de vida responsável e saudável e a participar de atividades sociais (McAdams, 2012).

Muitas vezes, a participação em atividades em grupo, como a dança de salão, é um hobbie para o idoso. Estudos de idosos residentes na comunidade relataram que o alto envolvimento em hobbies estava associado a diminuição significativa da mortalidade (Konlaan, Bygren, & Johansson, 2000; Hyyppä, Mäki, Impivaara, & Aromaa 2006; Fushiki Ohnishi, Sakauchi, Oura, & Mori, 2012), e que a falta de propósito na vida foi significativamente associada a um risco aumentado de mortalidade (Koizumi, Ito, Kaneko, & Motohashi, 2008; Sone, Nakaya, Ohmori, Shimazu, Higashiguchi, Kakizaki & Kikuchi, 2008).

O propósito de vida é um potencial explicativo para os níveis de participação social de idosos, uma vez que, por prover intencionalidade a ações e direção a metas que guiam o comportamento, podem influenciar decisões diárias sobre o uso dos recursos pessoais (Ibrahim e Dahlan, 2015). Na velhice, a disponibilidade de recursos internos representados por condições fisiológicas, saúde, funcionalidade, cognição e reservas emocionais são mais escassos, necessitando gerenciá-los de forma adaptativa para manutenção dos níveis de bem-estar.

Conforme a tabela 5, parece não existir associação linear entre a idade e o propósito de vida dos idosos, ou seja, o aumento da idade não está relacionado ao aumento no propósito de vida. Estes resultados vão ao encontro de Oliveira et al. (2019b), que ao avaliarem idosos praticantes de hidroginástica, perceberam que não há diferença no propósito de vida em relação a faixa etária. Mas vai contra o encontrado por Oliveira et al. ((2019a), visto que os autores chegaram à conclusão que idosos longevos (80 anos ou mais), apresentaram menores escores de propósito de vida do que os idosos mais jovens (menos de 80 anos). Estas diferenças levantam a hipótese de que o propósito na vida varia de indivíduo para indivíduo, e que pode sofrer influência da cultura, do ambiente, do momento em que o idoso está, e não apenas o passar da idade. Conforme Ribeiro, Neri e Yassuda (2018), o propósito de vida tende a ser menor, principalmente na transição da meia-idade para a velhice. Porém, essa variabilidade existente entre os idosos permite identificar benefícios do propósito de vida, pois, em estudo prospectivo de Cohen, Bavishi e Rozanski (2016), os com maior propósito demonstraram, em estudos prospectivos, serem mais longevos, por exemplo.

Experiências que ocorreram e ocorrem na vida do idoso e que proporcionam sentimentos de felicidade, prazer e afeto positivo, como a dança, além da ausência de afeto negativo, são essenciais para a satisfação com a vida e propósito de vida (Oliveira, Favero, Codonhato, Moreira, Antunes, & et al. 2017). Conforme apresentado (tabela 3) a maioria dos idosos frequentam os clubes de dança à mais de um ano, com maior frequência daqueles que frequentam há mais de três anos. Além disso, frequentam estes clubes, no mínimo, duas vezes na semana. proporcionar um ambiente de descontração e divertimento, no qual os idosos acabam se identificando com indivíduos de características culturais semelhantes, interagem socialmente com os demais praticantes, além de expressarem suas emoções e reviverem sentimentos do passado. Deste modo, a prática da dança e a alta frequência neste grupo pode estar beneficiando a qualidade de vida desses indivíduos, que acabam deixando de lado problemas, como a timidez, a ansiedade e a depressão, colaborando consequentemente para um maior bem-estar subjetivo e, consequentemente, propósito na vida. Isto se fortalece com as palavras de Cavalcante, Oliveira, Antunes e Prati (2018), que reforça que a atividade física, como a prática de dança, está diretamente ligada às facetas do bem-estar subjetivo, sugerindo a necessidade da inclusão de programas de atividade física regular para a promoção de um estilo de vida no envelhecimento saudável.

Mesmo diante dos resultados inéditos apresentados, nosso estudo possui limitações: a não heterogeneidade entre os grupos em relação a atividade física, aposentadoria e situação conjugal, já discutida anteriormente; o desenho transversal do estudo, o que impede inferir causalidade. Além disso, os resultados expostos são de idosos de uma região específica do país, não podendo generalizar os dados. Diante disso, sugere-se novos estudos na temática, principalmente longitudinais e experimentais, que possam reforçar os efeitos da frequência em clubes da dança, assim como da prática de dança nas variáveis do bem-estar subjetivo de idosos.

 

Conclusão

Pode-se concluir que a frequência em clubes de dança de salão parece ser um fator interveniente no propósito de vida dos idosos. Ressalta-se que idosos frequentadores de clube de dança apresentaram maior propósito de vida do que idosos não frequentadores de dança. Do ponto de vista prático, aponta-se a necessidade da recomendação dos profissionais da saúde e das autoridades públicas para a frequência de idosos em grupos sociais, como os de dança, assim como a ampliação destes grupos, para promoção da saúde do idoso.

 

Referências

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Submetido em: 3-12-2019
Aceito em: 12-2-2020

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