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Revista Brasileira de Psicodrama

versão On-line ISSN 2318-0498

Rev. bras. psicodrama vol.20 no.1 São Paulo jun. 2012

 

Resenha

Book reviews

 

Psicossociologia crítica – A intervenção psicodramática

 

Critical psycho-sociology – The psychodramatic intervention

 

Ellen Lamberg Carneiro Bond

LUIZ CONTRO CURITIBA: EDITORA CRV, 2011

Endereço para correspondência

 

Com prazer recebi o convite de Luiz Contro para fazer a resenha de seu livro para a revista da FEBRAP. Exatamente no momento em que nossa entidade, a Associação Paranaense de Psicodrama, vinha debatendo sobre metodologia e epistemologia psicodramática. São essas coisas que nos fazem crer cada vez mais no psicodrama... o "co-inconsciente" atuando...

Incumbidos de analisar a disciplinaridade e a interdisciplinaridade existente entre as diversas disciplinas do currículo do curso de formação em Psicodrama e, ao mesmo tempo, lidar com as tarefas advindas das questões que envolvem a micropolítica existente nas diversas relações institucionais que se sobrepõem: Diretoria, Corpo Docente, Corpo Discente, Funcionários, Usuários etc., procurávamos um consenso em nosso conhecimento que ordenasse nossas ideias a respeito das diretrizes que norteariam nossa prática profissional como gestores da Instituição.

Psicossociologia crítica: a intervenção psicodramática nos mostra que, de fato, não há saber sem trabalho, pois o percurso disciplinado de Contro em seu livro nos assegura de sua fidelidade à metodologia científica. A cada relato, ele busca incansavelmente a apropriação de conceitos, a dimensão histórico-política das questões, cita muitas vezes outros autores debatendo com clareza diversos posicionamentos.

Sua obra vem no momento em que o movimento psicodramático brasileiro debate, por intermédio da FEBRAP, em Fórum Gestor, as novas diretrizes para o currículo do curso de Formação em Psicodrama, procurando, em seu desenvolvimento e evolução, um caminho que garanta sua inserção no meio científico, sem que se perca a essência de suas proposições.

O livro inicia com prefácio de José Fonseca, que relata memórias históricas da década de 1970, seguido por apontamentos que fez da obra de Contro: "Pontalis caricaturou as ideias de Moreno", diz Fonseca, referindo-se ao capítulo do autor francês, intitulado "Um novo curandeiro: J. L. Moreno". Alega existirem críticas télicas, transferenciais e contratransferenciais e que o texto de Pontalis mira em seus adversários políticos, acertando Moreno. Trata-se de crítica transferencial. Em outra passagem do mesmo texto citado, Pontalis relata que Moreno estaria reduzindo os conflitos reais para o nível da brincadeira; Fonseca responde que esse comentário revela entendimento meramente intelectual da questão e mostra total desconhecimento acerca da experiência existencial psicodramática.

Contro introduz sua obra esclarecendo que seu interesse pelo assunto se iniciou quando, ao pesquisar para sua tese de doutorado, percebeu a necessidade de contra-argumentar o posicionamento de alguns autores, como o psicanalista J.B. Pontalis e o analista institucional René Lourau. Este último, baseando-se nos relatos pontalianos, escreveu que o Psicodrama, como proposta, se restringia aos motes internos de um grupo. Contro confronta ideias esmiuçando-as exaustivamente, comprovando que a arguição de que o Psicodrama se insere no âmbito de uma Psicossociologia alienada do contexto não encontra razão de ser. Oferece uma bibliografia extensa que tem o primor de uma pesquisa refletida em incansável busca pela origem, pelo conhecimento conceitual e metodológico.

Nos cinco primeiros capítulos, ocupa-se dos meandros da intervenção psicodramática para se opor aos julgamentos dos autores citados. Levanta a história do desenvolvimento do Psicodrama a partir de Moreno, com a Sociometria, nos moldes como inicialmente foi concebida e os reflexos que isso causou no meio científico da época. Continua na vertente sóciohistórica levantando dados significativos sobre a institucionalização do Psicodrama no Brasil. Procura, passo a passo, aspectos importantes para contra-argumentar os autores citados em suas afirmações. No sexto e último capítulo, trata das formas de realizar pesquisa, capítulo superatual e assunto abordado hoje por diversos autores psicodramatistas, diante do desenvolvimento, da evolução do Psicodrama e das ofertas de trabalhos em projetos sociais compatíveis com as políticas públicas em vigor.

No capítulo 1, o autor relata que, ao pesquisar as conexões entre Análise Institucional e Psicodrama, encontrou a Sociometria como uma das proposições que veio a influenciar o nascimento e o desenvolvimento das ideias institucionalistas. Entretanto, além da parte (Sociometria) ter sido tomada como o todo (Psicodrama), ela foi inserida no bojo de uma Psicossociologia, ou psicologia dos grupos, que apenas abordava os conteúdos manifestos e restringia-se aos fenômenos internos de um grupo, camuflando temas relevantes. Apenas a AI daria conta da dimensão do inconsciente.

No capítulo 2, Contro faz relatos significativos sobre a institucionalização do Psicodrama no Brasil, sinalizando que foi permeada pelo mundo do trabalho, da saúde e das relações sociais. Situa o leitor apontando registros que vão desde 1943 e 1944 até 2003, citando fatos históricos acrescidos de linhas e fluxos que se conformaram em determinados períodos. Demonstra o passeio permanente entre individual e grupal trilhado, encontrando aí aspectos importantes para contra-argumentar nos capítulos seguintes.

O capítulo 3 inicia localizando que a Sociometria, em seus primórdios, ofereceu subsídios por meio dos quais o Psicodrama foi inserido, por Lourau, em obra de 1969, no bojo desse tipo de Psicossociologia. Desenvolvendo sua contra-argumentação diante desse tipo de inserção, Contro escreve que, já nos anos de 1960, Lapassade (também um dos expoentes da análise institucional e parceiro teórico de Lourau) citou o surgimento da sociometria como fator que teria vindo a contribuir para diminuir os riscos desta Psicossociologia Industrial. Isso além de outras afirmações relevantes e positivas a respeito da capacidade libertadora oferecida pelo Psicodrama, feitas pelo mesmo Lapassade.

Os capítulos 4 e 5 atingem talvez as questões principais, eles trazem as intervenções grupais e o grupo como continente de desafios coletivos e angústias individuais. Aqui o autor relata o percurso histórico que a Análise Institucional seguiu, descaracterizando a inserção do Psicodrama em uma Psicossociologia que carregaria a ideologia das "boas relações sociais", ou que reprimiria a dimensão institucional. Encontra em sua argumentação pontos comuns entre o Psicodrama e a Análise Institucional, último capítulo, trata das formas de realizar pesquisa, capítulo superatual e assunto abordado hoje por diversos autores psicodramatistas, diante do desenvolvimento, da evolução do Psicodrama e das ofertas de trabalhos em projetos sociais compatíveis com as políticas públicas em vigor. No capítulo 1, o autor relata que, ao pesquisar as conexões entre Análise Institucional e Psicodrama, encontrou a Sociometria como uma das proposições que veio a influenciar o nascimento e o desenvolvimento das ideias institucionalistas. Entretanto, além da parte (Sociometria) ter sido tomada como o todo (Psicodrama), ela foi inserida no bojo de uma Psicossociologia, ou psicologia dos grupos, que apenas abordava os conteúdos manifestos e restringia-se aos fenômenos internos de um grupo, camuflando temas relevantes. Apenas a AI daria conta da dimensão do inconsciente. No capítulo 2, Contro faz relatos significativos sobre a institucionalização do Psicodrama no Brasil, sinalizando que foi permeada pelo mundo do trabalho, da saúde e das relações sociais. Situa o leitor apontando registros que vão desde 1943 e 1944 até 2003, citando fatos históricos acrescidos de linhas e fluxos que se conformaram em determinados períodos. Demonstra o passeio permanente entre individual e grupal trilhado, encontrando aí aspectos importantes para contra-argumentar nos capítulos seguintes. O capítulo 3 inicia localizando que a Sociometria, em seus primórdios, ofereceu subsídios por meio dos quais o Psicodrama foi inserido, por Lourau, em obra de 1969, no bojo desse tipo de Psicossociologia. Desenvolvendo sua contra-argumentação diante desse tipo de inserção, Contro escreve que, já nos anos de 1960, Lapassade (também um dos expoentes da análise institucional e parceiro teórico de Lourau) citou o surgimento da sociometria como fator que teria vindo a contribuir para diminuir os riscos desta Psicossociologia Industrial. Isso além de outras afirmações relevantes e positivas a respeito da capacidade libertadora oferecida pelo Psicodrama, feitas pelo mesmo Lapassade. Os capítulos 4 e 5 atingem talvez as questões principais, eles trazem as intervenções grupais e o grupo como continente de desafios coletivos e angústias individuais. Aqui o autor relata o percurso histórico que a Análise Institucional seguiu, descaracterizando a inserção do Psicodrama em uma Psicossociologia que carregaria a ideologia das "boas relações sociais", ou que reprimiria a dimensão institucional. Encontra em sua argumentação pontos comuns entre o Psicodrama e a Análise Institucional,último capítulo, trata das formas de realizar pesquisa, capítulo superatual e assunto abordado hoje por diversos autores psicodramatistas, diante do desenvolvimento, da evolução do Psicodrama e das ofertas de trabalhos em projetos sociais compatíveis com as políticas públicas em vigor. No capítulo 1, o autor relata que, ao pesquisar as conexões entre Análise Institucional e Psicodrama, encontrou a Sociometria como uma das proposições que veio a influenciar o nascimento e o desenvolvimento das ideias institucionalistas. Entretanto, além da parte (Sociometria) ter sido tomada como o todo (Psicodrama), ela foi inserida no bojo de uma Psicossociologia, ou psicologia dos grupos, que apenas abordava os conteúdos manifestos e restringia-se aos fenômenos internos de um grupo, camuflando temas relevantes. Apenas a AI daria conta da dimensão do inconsciente. No capítulo 2, Contro faz relatos significativos sobre a institucionalização do Psicodrama no Brasil, sinalizando que foi permeada pelo mundo do trabalho, da saúde e das relações sociais. Situa o leitor apontando registros que vão desde 1943 e 1944 até 2003, citando fatos históricos acrescidos de linhas e fluxos que se conformaram em determinados períodos. Demonstra o passeio permanente entre individual e grupal trilhado, encontrando aí aspectos importantes para contra-argumentar nos capítulos seguintes. O capítulo 3 inicia localizando que a Sociometria, em seus primórdios, ofereceu subsídios por meio dos quais o Psicodrama foi inserido, por Lourau, em obra de 1969, no bojo desse tipo de Psicossociologia. Desenvolvendo sua contra-argumentação diante desse tipo de inserção, Contro escreve que, já nos anos de 1960, Lapassade (também um dos expoentes da análise institucional e parceiro teórico de Lourau) citou o surgimento da sociometria como fator que teria vindo a contribuir para diminuir os riscos desta Psicossociologia Industrial. Isso além de outras afirmações relevantes e positivas a respeito da capacidade libertadora oferecida pelo Psicodrama, feitas pelo mesmo Lapassade. Os capítulos 4 e 5 atingem talvez as questões principais, eles trazem as intervenções grupais e o grupo como continente de desafios coletivos e angústias individuais. Aqui o autor relata o percurso histórico que a Análise Institucional seguiu, descaracterizando a inserção do Psicodrama em uma Psicossociologia que carregaria a ideologia das "boas relações sociais", ou que reprimiria a dimensão institucional. Encontra em sua argumentação pontos comuns entre o Psicodrama e a Análise Institucional, citando outros autores e abordagens para embasar seu pensamento. Dialoga com o leitor fazendo reflexões significativas sobre o método psicodramático, reavivando conceitos como os de protagonista, papel, personagem, espontaneidade-criatividade, conserva cultural, cena, catarse de integração, realidade suplementar, a arte teatral, que afastam a ideia de que o Psicodrama poderia estar incluído no quadro de uma abordagem grupalista (denominação dada às metodologias que se ocupam apenas das cercanias de um grupo). Relata ainda que Pontalis deixa de fazer considerações significativas em suas críticas ao Psicodrama. Inúmeras vezes, Contro comenta a experiência de Hudson, colorindo-a com suas observações e as de autores como Knobel, Naffah, Milan e outros.

Nosso autor adverte aos que comungam com as críticas feitas para a revisão necessária do Psicodrama, uma vez que, a partir dos anos de 1970, diversificou-se e estruturou-se em perspectivas diferenciadas da que originalmente se constituiu.

Conclui o capítulo 5, afirmando que a proposição psicodramática não se enquadra na ótica de uma Psicossociologia restrita às dinâmicas internas de um grupo, mesmo no período em que as críticas foram feitas e muito menos agora, que se desenvolveu mais.

Oferece-nos um método que nos respalda a lidar com as singularidades institucionais e os temas subjacentes, seja com um indivíduo, um grupo ou uma equipe, uma instituição ou uma comunidade.

No capítulo 6, discorre sobre o nascimento e o desenvolvimento do método e a pesquisa Sociopsicodramática. Contro nomeia as intervenções realizadas nos diversos contextos de método sociopsicodramático, partindo do pressuposto de que a intersecção entre o individual e o coletivo coloca-se como objeto de estudo primordial sobre o qual se debruça. Faz uma explanação sobre as diversas terminologias utilizadas por Moreno e, posteriormente, por autores como Nery, Fleury, Marra e Rodrigues a respeito da metodologia e da pesquisa. Reflete sobre os desafios referentes à conexão entre teoria e prática, sobre pesquisa qualitativa e/ou quantitativa.

Situa a pesquisa qualitativa em seu contexto histórico demonstrando o início de uma nova ética, na qual mudanças significativas promoveram ressonâncias nos procedimentos metodológicos. Aponta um rol relevante de peculiaridades da pesquisa-ação, segundo Thiollent (1985/2005), Barbier (1985) e El Andaloussi (2004).

Conclui expondo que o papel do método, usado atualmente para conduzir a pesquisa, é de fundamental importância na pesquisa-ação. Portanto, "a pesquisa-ação pode ser vista não como método, mas como estratégia geral de pesquisa, que pode congregar diversas técnicas e modos de pesquisa social, originando um agenciamento coletivo, ativo e participativo, além de paradigmático por suas contraposições à pesquisa positivista". Pode, também, ser colocada como corrente de pesquisa que abarca variadas acepções.

Nas interfaces com a pesquisa-ação, Contro cita diversos autores psicodramatistas que focalizam pontos similares e significativos entre a pesquisa-ação e a pesquisa sociopsicodramática, dentre eles, "o objetivo de transformação das relações sociais, da micropolítica de grupos e organizações que visa sociedades mais igualitárias".

Lembra que a pesquisa intervenção surge em contraposição ao entendimento de uma pesquisa-ação caracterizada como alienante por seu caráter de adaptação. E, também, que a pesquisa-ação já está distante daquela que Lewin postulou, e que, portanto, podemos falar de muitas concepções, distintas daquela que as originaram.

Contro finaliza sua obra concluindo que a pesquisa Sociopsicodramática, inserida no âmbito das pesquisas qualitativas e participativas, tendo seu caminho próprio, transita pelas interfaces com a pesquisa ação crítica e a pesquisa intervenção: "Trata-se de uma Psicossociologia crítica, pois, busca as metamorfoses do instituído ou do processo de conserva, em seu estado cristalizado e paralisante, postura esta referendada pela ideia de que, como acontece com qualquer outro método, vai depender da maneira como dele nos apropriamos".

Método que "busca as transformações, ocupa-se da micropolítica das relações, das correntes que atravessam indivíduos, grupos e comunidades que almejam o mais democrático projeto comum".

Esse capítulo representa a síntese natural que leva o pesquisador incansável a continuar seu processo de elaboração, buscando preencher lacunas, afinando o curso de seu raciocínio, associando fatos, paradigmas e conceitos extremamente ligados à prática da abordagem psicodramática.

Em consonância com o movimento que está em vigor em todas as entidades formadoras brasileiras, o livro de Luiz Contro, é uma obra-prima que certamente contribuirá para a evolução do Psicodrama no Brasil.