EDITORIAL

A Revista Brasileira de Psicodrama tem enorme potencial: os últimos 19 volumes circularam de forma regular, com periodicidade de dois fascículos ao ano, atendendo a critérios cada vez mais próximos das referências internacionais de qualidade científica. Ela apresentou a evolução do psicodrama brasileiro e deu visibilidade aos nossos pesquisadores.

A história começou com Moyses Aguiar, em uma breve experiência que transformou a antiga Revista da Febrap. A seguir, vieram Wilson Castello de Almeida em parceria com Murillo Viotti. No decorrer de 11 anos melhoraram a qualidade e o reconhecimento acadêmico, consolidando a publicação. Em 2005, Devanir Merengué assumiu a Revista e implementou várias transformações, com destaque para a criação das Seções Temáticas.

Fico muito grata pela dedicação desses amigos que me precederam e a consolidaram como uma publicação reconhecida pela comunidade acadêmica.

A Federação Brasileira de Psicodrama (Febrap) identificou a ressonância no Brasil da proposta de J. L. Moreno, o criador do Psicodrama, de fortalecimento da Saúde Social com o tratamento do Socius, a Sociatria. Por mais de duas décadas, a Febrap apoiou a expansão de um psicodrama brasileiro plural, inclusivo, diferenciado em psicoterapêutico e socioeducacional. O resultado dessa política foi o desenvolvimento dos métodos sociátricos com especificidades adaptadas ao contexto históricopolítico- cultural da sociedade brasileira. Coube à Revista a divulgação dessas pesquisas e dos estudos relativos ao desenvolvimento teóricometodológico do psicodrama. Pretendemos fortalecê-la nessa missão, porém com uma política editorial voltada para os novos desafios que estamos enfrentando.

Hoje, a Febrap se confronta com a urgência de identificar e formar lideranças aptas a buscar novos diferenciais para o psicodrama brasileiro. A Revista deverá tornar-se um veículo de desenvolvimento de novas demandas transformadoras que possam tensionar mudanças. A construção do conhecimento através da pesquisa e da reflexão teórica poderá promover discussões que contribuirão para o desenvolvimento e a organização de um psicodrama cada vez mais alinhado com princípios democráticos, aberto à diversidade cultural do brasileiro e sintônico com a realidade atual. A Revista poderá estimular a identificação de questões ideológicas e políticas na perspectiva de organização, desenvolvimento e encorajamento de lideranças para uma Febrap mais prospectiva. A explicitação de diferenças entre os autores poderá sensibilizar as lideranças para o desenvolvimento de novos referenciais para o psicodrama contemporâneo, mais inserido e confirmado como metodologia que conflui e inclui novas discussões e abordagens, em processo contínuo de fertilização e transformação.

Enviamos uma pesquisa de interesse às Instituições Federadas. A diversidade de temas confirmou a criação das seções "Artigos Inéditos" (textos teóricos baseados na literatura psicodramática, apresentação de novas abordagens metodológicas ou modificação de métodos existentes, descrição de procedimentos ou estratégias de intervenção, que contêm evidência de interesse para a atuação do psicodramatista em diferentes áreas) e "Comunicações Breves" (relatos de pesquisa sucintos, mas completos, de uma investigação específica). Procuramos atender aos pedidos de diversidade de áreas e temas, com discussões que tragam respostas às dúvidas apresentadas por novas e antigas gerações de psicodramatistas.

A Revista e muitas teses acadêmicas têm discutido a aplicação e a avaliação dos métodos sociátricos. O desenvolvimento de instrumentos de avaliação rigorosos é uma condição necessária para conquistar o reconhecimento pela comunidade acadêmica e pelos órgãos de incentivo à pesquisa e aos projetos sociais. Os resultados clínicos do psicodrama psicoterapêutico têm sido avaliados principalmente na Europa, onde a Federação Europeia de Organizações Formadoras em Psicodrama (Federation of European Psychodrama Training – FEPTO) tem promovido, através de um Comitê de Pesquisa, o desenvolvimento de instrumentos de avaliação da prática e da supervisão clínicas. A Revista apresenta um desses instrumentos para que possamos avaliar a relevância dessa abordagem em nossas pesquisas.

Qual é o principal público-alvo da Revista? A formação de psicodramatistas tem sido a principal meta das Instituições Federadas, por isso, os profissionais em formação e aqueles que enfrentam as dificuldades inerentes a um mercado de trabalho cada vez mais exigente tornaram-se nosso principal público-alvo. Apresentamos um psicodrama contemporâneo que pode ser a abordagem de escolha dos jovens que buscam uma prática transformadora. Os escritos inaugurais de jovens psicodramatistas poderão sinalizar as atualizações do psicodrama e as inovações necessárias nos Cursos de Formação de Psicodramatistas.

O avanço das tecnologias de comunicação tornou a pesquisa bibliográfica em bancos de dados digitalizados a primeira (e quase a única) opção para a comunidade universitária. Temos buscado com muito empenho indexar a Revista no Lilacs, o mais respeitado banco de dados digitalizados da América Latina. Essa conquista aumentará a visibilidade do psicodrama para pesquisadores das áreas clínica, educacional, social, institucional, organizacional etc., tanto em outras abordagens teóricas como também entre os próprios psicodramatistas, se considerarmos a dificuldade histórica de distribuição da Revista. Ao mesmo tempo, isso a valorizará para os autores que buscam periódicos de maior impacto científico.

Nesse contexto, a capacitação de nossos autores para produzir manuscritos que atendam com maior rigor aos critérios da redação científica, sem perder seu compromisso com a criatividade, torna-se imperiosa. A Revista pretende contribuir com os esforços da Febrap nessa direção.

Esperamos que a maturidade conquistada nesses últimos 20 anos favoreça o enfrentamento dos novos desafios com respostas mais ousadas e desafiadoras. Contamos com o apoio de todos para a construção de um novo patamar de avaliação da pujança científica do psicodrama brasileiro.

Agradeço à minha mais próxima colaboradora, Paula Freire, que na função de Secretária Administrativa da Revista tem liderado ativamente o processo de finalização dos manuscritos para a impressão, à Kathya Mutti Tilieri, que na função de Diretora de Produção garante todo o percurso desde a impressão até a distribuição e a promoção. Sou muito grata também à Secretaria da Febrap, aos pareceristas, que colaboraram na avaliação e na formulação de sugestões para o aprimoramento de cada manuscrito, à equipe editorial e aos nossos assinantes. Um agradecimento especial a todos os autores, que compartilharam seus conhecimentos para mais um marco no fortalecimento da Revista e no desenvolvimento do Psicodrama.

Coube a toda essa equipe criar o maior diferencial da Revista, que é ter uma abrangência nacional! Representamos diferentes cantos de nosso país e trazemos as mais ricas nuances de todos os temperos que compõem nossa imensa diversidade cultural.

Heloisa Fleury
Editora