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Revista Brasileira de Psicodrama

versão On-line ISSN 2318-0498

Rev. bras. psicodrama vol.22 no.1 São Paulo  2014

 

RESENHAS
Book reviews

 

Psicodrama em espaços públicos, práticas e reflexões

 

Psychodrama in public spaces, practical approaches and reflections

 

 

MARIÂNGELA PINTO DA FONSECA WECHSLER E REGINA FOURNEAUT MONTEIRO (ORGS.) SÃO PAULO: ÁGORA, 2014

 

 

Antônio Carlos Souza (Tom)

Psiquiatra clínico, diretor de Teatro Espontâneo e Psicodrama, professor da Associação Bahiana de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo (ASBAP) e da Profint – Profissionais Integrados, criador e realizador do evento Psicodrama Na Livraria.

Endereço para correspondência

 

 

RESENHA EM DOIS ATOS

PRIMEIRO (OU SEGUNDO) ATO

"Tudo o que surge do grupo é cena."

Cida Davoli, coautora

 

"A agulha do Real nas mãos da fantasia."

A linha e o linho, Gilberto Gil

 

MARIÂNGELA PINTO DA FONSECA WECHSLER E REGINA FOURNEAUT MONTEIRO (ORGS.) SÃO PAULO: ÁGORA, 2014

Este livro registra as impressões e as reflexões de organizadores, diretores, participantes do programa Psicodrama Público, que acontece há dez anos todos os sábados no Centro Cultural São Paulo, e também conta com alguns filhos que nasceram ao longo dessa trajetória. Essa ideia de Antonio Carlos Cesarino, divulgado e sustentado por muitos psicodramatistas, criou um espaço de acolhimento, inclusão, mudança, reflexão, de verdadeira saúde psíquica. E, ao mesmo tempo, desperta em cada participante, que exerce qualquer papel, uma pergunta: existe uma fronteira rígida que separa terapêutico, pedagógico, político, artístico e lazer? Essa é a transgressão proposta pelo Psicodrama em grupos públicos. Quando uma imagem, uma cena, um diálogo ou um movimento cênico qualquer será capaz de gerar uma mudança? Quando a diversão se transformará em terapia? Quando o choque estético será uma forma de iluminar politicamente uma situação? Quando o conhecimento produzirá uma catarse de integração? Em atos como o que acontece no Centro Cultural São Paulo, Sociopsicodramas, Psicosociodramas ou Teatro Espontâneo em quaisquer de suas modalidades, existe sempre a questão dessa transgressão. Sempre surgirá a questão: "E depois, o que acontece com o protagonista? Quem cuidará dele?". Todo ato humano em relação ao outro surte efeito. Mesmo quando não percebemos, espalhamos intervenções que podem mudar uma vida. Para melhor ou para pior. Não há forma de não comunicarmos algo quando estamos em contato com pessoas. E elas se auto-organizam, se autocuram simplesmente com o contato humano. Contudo, isso não exclui a rigorosa postura ética de quem assume a direção de um ato socionômico em grupos sem limite de participantes. Em uma praça, um espaço aberto, em que a entrada e a saída das pessoas são livres, cada pessoa ficará o tempo permitido por seu aquecimento e do todo acontecido, cada um pinçará, se apropriará daquilo que lhe for significativo. Em situações dessas, ou em todo Psicodrama, atira-se no que se viu, mas é possível matar o não visto. E a nossa responsabilidade ética? O Diretor/Condutor que se propõe a realizar atos psicodramáticos precisa ter algo que não saberia definir, mas quem realiza esses atos sente: a confiança de que o produzido pelo grupo pode ser resolvido por ele; a confiança no método psicodramático; o discernimento de saber quando e como parar. No entanto, lembremos que o mais atingido pela flecha psicodramática pode ser que não seja o protagonista, mas, sim, um participante que não falou, não dramatizou, não chorou, ficou apenas sentado lá em seu canto. Enfim, o Psicodrama é arriscado. Como o viver.

 

SEGUNDO (OU PRIMEIRO) ATO

"peguei um pedacinho de cada cena

e montei um buquê."

Cida Camargo (participante)

Este livro é um painel. Painel de formas. Painel de conteúdos. Painel da versatilidade do Psicodrama. Quem ler este livro, além de um registro de tudo que vem acontecendo no Centro Cultural São Paulo e em outros locais, dispõe também de uma exposição do fazer psicodramático. Lemos e vimos dúvidas, percalços, surpresas. O livro é quase um solilóquio do Diretor de Psicodrama em seu papel. De vários Diretores. De vários tipos de Direção. É o Psicodrama em seu status nascendi. É documento, é registro, mas também é fonte de aprendizado pela honestidade e pela transparência dos autores. Os formatos do Psicodrama Público apresentados variam. Talvez a mesma definição não caiba em todos os atos acontecidos. "É um buquê". Contudo, algumas coisas podem ser afirmadas: "cada indivíduo representa um grupo. Cada grupo representa uma sociedade". Isso é nuclear ao Psicodrama, porém a atuação exclusivamente clínica pode perder essa visão. A ênfase na coconstrução. A atenção especial com o aquecimento grupal e sua manutenção ao longo do ato. O ato socionômico não apenas como terapêutico, mas como político, instigante, transformador, vitalizante. Capaz de recuperar em cada participante a vivência da potência criativa e criadora do grupo. É o que este livro resgata: a utopia moreniana e a paixão em seu fazer.

 

 

Endereço para correspondência

Antônio Carlos Souza
Rua Humberto de Campos, 282 - sala 302
Salvador, BA
CEP 40150130
Tel. (71) 3245-0734
E-mail: antoniocarlos53@hotmail.com

 

Recebido em 08/05/201
Aceito em 14/05/2014