SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.22 número1Psicodrama em espaços públicos, práticas e reflexõesE se o psicodrama tivesse nascido no cinema? índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Revista Brasileira de Psicodrama

versão On-line ISSN 2318-0498

Rev. bras. psicodrama vol.22 no.1 São Paulo  2014

 

RESENHAS
Book reviews

 

Por todas as formas de amor: o psicodramatista diante das relações amorosa

 

For all forms of love: the psychodramatist facing love relationships

 

 

ADELSA CUNHA & CARLOS ROBERTO SILVEIRA (ORGANIZADORES) SÃO PAULO: ÁGORA, 2014.

 

 

Maria Cecília Veluk Dias Baptista

Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), psicodramatista supervisora docente, terapeuta de casal e família, diretora do Delphos Espaço Psicossocial, no Rio de Janeiro (RJ).

Endereço para correspondência

 

 

Os organizadores, Adelsa Cunha e Carlos Roberto Silveira, conceberam este livro abrindo importante espaço de reflexão entre diversos psicodramatistas, que colocaram suas ideias em dez capítulos sobre temáticas bastante mobilizadoras: o amor, o ser amado e as relações amorosas.

Os autores, motivados pela proposta do livro, dispuseram-se, a partir das próprias vivências pessoais, da formação de terapeutas, dos atendimentos clínicos, de estudos e pesquisas, a expor suas ideias sobre a diversidade das formas de amar.

O prefácio, de Wilson Castello de Almeida, visa esclarecer os significados das palavras amor e amar, fazendo um relato histórico da compreensão dessas palavras, bem como de termos correlatos, mostrando a complexidade envolvida nesse fenômeno em uma visão psicodramática, filosófica e cultural.

No primeiro capítulo, o mestre Dalmiro Bustos dá uma aula da construção da identidade das pessoas, entre a indiferenciação e a diferenciação de sua matriz de identidade, destacando a importância do relacional para as experiências de amar e ser amado. E atualiza a visão das ciências e da cultura sobre o assunto.

Os primeiros amores são lembrados no texto de Maria Luiza Vieira Santos, no qual a autora apresenta o processo de desenvolvimento dos vínculos amorosos nos jovens adolescentes, diante das teorias de Moreno, Spitz, Le Doux. Ela aborda as angústias dos primeiros beijos, dos namoros, de encontros e desencontros dos envolvimentos amorosos dos jovens.

Suzana Modesto Duclós traz, de forma poética, sua visão feminina do amor, a partir de suas experiências pessoais, em que casar era a meta de toda mulher e a busca era pelo amor romântico. Percorre um caminho, com citação de diversos autores, até os desafios, que a mulher de hoje, enfrenta para viver uma vida amorosa satisfatória.

A visão masculina do amor coube a Irany Baptistela Ferreira, que também deu sua contribuição a esta obra. Com base em dois casos clínicos, que foram atendidos em Psicoterapia Psicodramática, o autor mostra como a ação dramática pode liberar a espontaneidade e auxiliar os homens a lidar com a complexidade das relações amorosas.

O quinto e o sexto capítulos abordam os vínculos amorosos homoafetivos e os preconceitos que enfrentam na expressão do amor. O organizador Carlos Roberto Silveira faz reflexões sobre o papel social do homossexual masculino e a desqualificação sofrida, que existe em grande parte das sociedades. Destaca a importância do compartilhar experiências com outros que vivem situações semelhantes para enfrentar esse drama.

No sexto capítulo, a autora Maria do Carmo Mendes Rosa abre outra janela do amar, o de mulheres que amam mulheres. Mostra o percurso histórico das relações homoafetivas femininas, desde a Grécia antiga até nossos tempos; como é encarada hoje, no Brasil, pela mídia e no ambiente social. Aborda aspectos teóricos do desenvolvimento de papéis e da orientação sexual. A autora encerra seu artigo com dois depoimentos de mulheres que relatam o caminho percorrido para poderem amar outras mulheres.

Elizabeth Sene-Costa e Rosilda Antônio são as autoras do artigo seguinte, que trata das relações amorosas na orientação bissexual e do estigma imputado a estas pela sociedade. Discorrem, com base em algumas pesquisas, casos clínicos e aspectos teóricos sobre os fatores psicossexuais da bissexualidade; e qual a contribuição de Moreno e de psicodramatistas brasileiros sobre o tema.

O oitavo capítulo traz um tema da atualidade, pouquíssimo abordado, que são os amores virtuais, escrito por Eni Fernandes. Com base em entrevistas que realizou, com reflexões de pensadores atuais, aliado ao Psicodrama apresenta sua compreensão sobre o mundo de hoje e as consequências geradas para as relações amorosas. Destaca os limites do presencial e do virtual com suas particularidades e dificuldades. Concluindo que o imaginário é o fator preponderante nos amores virtuais e que pode ser um primeiro momento de encontro de subjetividades, para um posterior encontro real, presencial.

A organizadora do livro, Adelsa Cunha, adentra no tema do amor na maturidade, na etapa do ciclo vital das pessoas acima dos 50 até os 70 anos, que estão reconstruindo sua vida amorosa. Colocando, de forma apropriada, que este recorte reflexivo parte de suas experiências pessoais e como terapeuta. Na medida em que a população brasileira está envelhecendo este tema torna-se bastante importante. Depois de apresentar algumas características dessa etapa da vida, posições teóricas e reflexivas de diferentes estudiosos, a autora confirma que em qualquer idade há a busca do amor, do afeto, da sexualidade, do olhar confirmador do outro. Observando que, nesse período essas relações amorosas têm características próprias e que podem ser mais simétricas, na busca de um compartilhar a vida, referindo-se à teoria de papel de Moreno e Bustos.

No último capítulo, coube a Carlos Calvente desenvolver uma difícil temática: a da dor da separação amorosa e todo o seu sofrimento. Enfim, quem não sofreu por amor? Como amar e não sofrer pelo medo da perda desse amor? O autor inicia o capítulo lembrando quanto os poetas fazem referência à dor do amor. Ele parte de suas experiências, como médico plantonista de um setor de emergência, em que atendia casos de tentativa de suicídio, pela perda da pessoa amada. Amplia seu olhar clínico sobre dois relatos: um que traz a dor por não encontrar a pessoa amada, na visão romântica; e outro da mulher que persiste em amar a vida inteira um mesmo homem, com muito sofrimento. Desses recortes, o autor desenvolve uma leitura psicodramática de identidade e amplia com ideias mais abrangentes da subjetividade, da autoestima fundada na relação consigo e com o outro. Destaca a ideia da existência do narcisismo bom, que busca investir em relações, na vida e não na dependência, no não desejo. Enfatizando a importância de tratar a ferida narcisista das perdas e do luto das dores de amor.

Considero que este livro, com uma escrita fácil e agradável, aborda uma temática complexa com profundidade. A organização dos capítulos segue uma ordenação que permite que o leitor percorra as muitas formas de amar, com explanações de múltiplas visões, de maneira bastante interessante. Vale muito a pena conferir, pois esta é uma leitura que enriquecerá e ampliará o olhar de terapeutas e psicodramatistas, e das pessoas em geral.

 

 

Endereço para correspondência

Maria Cecília Veluk Dias Baptista
Rua João Afonso, 20
Humaitá / RJ
CEP 22261-040
Tels, (21) 2527-1933 / (21) 2537-6534
E-mail: mbaptis@uol.com.br

 

Recebido em 10/06/2014
Aceito em 10/07/2014