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Revista Brasileira de Psicodrama

versão On-line ISSN 2318-0498

Rev. bras. psicodrama vol.22 no.1 São Paulo  2014

 

CARTA AO EDITOR
Letter to the editor

 

Psicodrama no século XXI – Integrar ou morrer

 

Psychodrama in the 21ST century – Integrate or die

 

 

Daniel C. R. GulassaI; Arthur KaufmanII

IPsicólogo (PUC-SP), psicoterapeuta, psicodramatista-didata, professor-supervisor em formação (SOPSP), colaborador no PRO-AMITI do IPq-HC-FMUSP.
II
Professor doutor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Defendeu sua tese de doutorado, "Reflexões sobre educação médica: uma abordagem socionômica", com base na metodologia psicodramática.

Endereço para correspondência

 

 

Cara editora da RBP,

No meio científico atual, quem deseja publicar um trabalho de pesquisa ou mesmo de revisão de literatura vai imediatamente em busca de revistas indexadas e com alto nível de impacto. Bem compreensível, aliás, pois quem publica quer ser lido e citado.

O psicodrama, entretanto, encontra-se no desconfortável e desproporcional lugar de ser uma metodologia com ampla eficácia, porém com estreito reconhecimento perante a comunidade, em particular nos universos acadêmico e científico – que são grandes formadores de opinião e difusores de conhecimento. Nossa era é a da revolução tecnológica, da informação e das redes sociais. Percebemos, no entanto, que certo isolamento sociométrico paira sobre nós na medida em que nosso conhecimento, nossas pesquisas, são praticamente difundidos e compartilhados apenas no restrito círculo de psicodramatistas. Diante disso, nos questionamos como a comunidade psicodramática se posiciona diante dessa realidade.

É frequente no discurso de parcela dos profissionais, que praticam o psicodrama, o argumento de que a adequação à metodologia e à linguagem científicas "poda a criação". No entanto, esse raciocínio, para nós autores, pode ter o efeito de um tiro no pé. Por vezes, é difícil angariar reconhecimento do método socionômico na comunidade científica geral. E a missão torna-se mais difícil quando não há apoio dentro da própria comunidade de psicodramatistas. Certamente, é possível encontrar na literatura científica textos de alta relevância e profundamente criativos. As adequações ao método científico têm uma função clara: adaptação a um padrão comum de formatação, de linguagem e de qualidade de conteúdo. Isso facilita que o autor seja lido e entendido por pesquisadores de outras áreas do conhecimento e de outras regiões do mundo. Diante dessa consequência positiva, será que essa adaptação não pode ser encarada – em vez de uma trava à criação – como um desafio para que o psicodramatista seja até mais criativo? E ainda com um benefício secundário de se tornar integrante da comunidade científica internacional? Não podemos ficar parados no tempo!

O psicodramatista pode e deve sempre buscar produzir e se expressar nos mais diversos meios de comunicação e nas mais variadas formas, até onde sua criatividade espontânea o permitir. Por outro lado, devemos reconhecer que a ciência é um dos melhores métodos – e o mais reconhecido – de investigação da natureza e não podemos negligenciar a presença do conhecimento psicodramático nessa empreitada. Somos o País que mais ensina e produz literatura psicodramática. Precisamos garantir uma plataforma de produção literária regular que siga uma linha científica, tecnológica, moderna e integrada com nosso mundo atual. Não tê-la é perpetuar uma dívida com o psicodrama do reconhecimento pelo qual ele tanto clama. Tê-la é nos autoexigir construtivamente com o intuito de desenvolver maior clareza e qualidade de produção escrita do conhecimento psicodramático. A RBP é nossa candidata natural a preencher essa lacuna e está seguindo esse caminho. Ela tem buscado indexações cada vez melhores e seus artigos estão sendo disponibilizados na internet.

Um artigo é atualmente considerado de maior valor científico e curricular do que um livro, pois, para ser aceito, passa por um método mais claro, rigoroso e imparcial de seleção literária. Ser um periódico científico indexado é agregar valor à publicação, pois significa que esta segue uma metodologia considerada mais eficaz para garantir que somente aqueles de grande qualidade conseguem ser publicados, lidos e citados, o que lhes confere o chamado "índice de impacto". É também integrar-se a uma rede (sob a forma de bibliotecas eletrônicas) que utiliza a tecnologia para compartilhar conhecimento, o que aumenta sua visibilidade e sua acessibilidade. Significa participar do debate científico e do avanço da ciência em escala global. A comunidade científica é um imenso formador de opinião, e novos campos para a pesquisa e a aplicação do psicodrama podem ser abertos. Quem sabe tornar-se bilíngue pode ser o próximo passo? Afinal, incluir o inglês significa poder ser lido, compreendido e citado por muito mais leitores e pesquisadores ao redor do mundo.

Moreno, durante sua evolução como criador, já entendia naquela época a importância da ciência, da tecnologia e do compartilhar conhecimento: criou e foi editor de revistas e jornais, buscou cada vez mais alinhar sua obra à metodologia científica, também incorporou tecnologias ao seu trabalho, a exemplo do gravador sonoro (uma inovação para sua época).

Enfim, torna-se evidente que reservar o conhecimento socionômico apenas para nós mesmos é até perigoso para a sobrevivência do psicodrama. Hoje, as pessoas e as organizações bem-sucedidas são aquelas que sabem compartilhar o conhecimento adequadamente. O método científico e a tecnologia podem ser nossos grandes aliados para isso. Vamos aprimorar e compartilhar melhor o conhecimento socionômico!

 

Endereço para correspondência

Daniel C. R. Gulassa
Rua Monte Alegre, 428 – cj. 76
São Paulo, SP
05014-000
Tel.: 99981-4837
E-mail: danielgulassa@hotmail.com

Arthur Kaufman
Rua Saint Hilaire, 87
Jardim Paulista – São Paulo, SP
01423-040
Tel.: 3885-3381
E-mail: akaufman@mandic.com.br