RESENHAS
Book reviews

 

Psicoterapia psicodramática com crianças: uma proposta socionômica

 

Psicoterapia psicodramática con niños: una propuesta socionómica

 

Psychodrama psychotherapy with children: a socionomic proposal

 

 

Rosana Maria de Sousa Rebouças¹

Associação Bahiana de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo (Asbap) – e-mail: roreboucas@hotmail.com

Endereço para correspondência

 

 

ROSALBA FILIPINI
SÃO PAULO: ÁGORA, 2014

 

Finalmente a biblioteca do Psicodrama tem sua lacuna preenchida: um livro sobre psicoterapia psicodramática com crianças, cuja originalidade reside na forma como a autora o embasou teoricamente sem utilizar referenciais teóricos outros, senão a Teoria Moreniana.

Diante dos desafios que a clínica com crianças coloca ao psicodramatista, não é incomum a busca de outros referenciais teóricos para a compreensão principalmente do desenvolvimento infantil e do intrapsíquico, uma vez que Moreno não construiu uma teoria do desenvolvimento nem privilegiou o intrapsíquico, mas, sim o inter-relacional.

A autora, que escreve de forma didática e entusiasmada, convida o leitor a (re)- conhecer os alcances e os limites da teoria aplicada à clientela da infância e segue articulando conceitos com a harmoniosa maestria de quem domina a teoria e a técnica revelando dessa forma que o Psicodrama moreniano com crianças é possível e existe a partir do olhar Socionômico: a criança como um ser em relação.

A primeira parte do livro está dividida em três capítulos, apresenta uma visão histórica da psicoterapia com crianças, um panorama mundial até o surgimento das contribuições no Brasil, inserindo o Psicodrama nesse processo através de um passeio histórico que vai ganhando força no início dos anos 1980, na Sociedade de Psicodrama de São Paulo (SOPSP) com a criação do Núcleo de Psicodrama com Crianças, coordenado pela psicodramatista Camila Sales, e cujos integrantes publicaram o livro Psicodrama com Crianças que embora tivesse apresentado um modelo psicanalítico, o psicodrama analítico iniciado na França na década de 1940, o livro se tornou referência no meio Socionômico brasileiro por apresentar principalmente as bases teóricas de Moreno em especial a teoria dos papeis.

O livro revela a suficiência da Teoria de Moreno como sólido embasamento para o trabalho com crianças e para isso faz uma preciosa revisão em todo o arcabouço teórico e técnico, articulando sempre com a prática, detendo-se cuidadosamente em cada conceito guiando-se criteriosamente pela especificidade da clientela.

Na segunda parte a autora discute o processo psicoterapêutico com crianças tomando como referencial o Psicodrama clássico proposto por Moreno e suas adaptações ao atendimento com crianças e segue discutindo sobre os contextos social, grupal e dramático sem perder de vista o foco Socionômico, o conceito de homem como um ser em relação, evidencia a importância da inserção não apenas dos pais como de praxe em qualquer psicoterapia com crianças, mas, destaca que o psicodramatista de crianças não pode perder de vista a rede sociométrica da criança, seu status sociométrico e a sociodinâmica da família e propõe as sessões vinculares, nas quais podem ser tratados os vínculos com determinados membros da família ou mesmo sessões que incluem todo o grupo familiar.

Apresenta os cinco instrumentos: cenário, protagonista, diretor, plateia e ego-auxiliar de forma peculiar à infância, e destaca a flexibilidade do diretor cujo, papel de ego-auxiliar deve ser bem desenvolvido, pois no tratamento com crianças torna-se necessária certa habilidade para transitar entre os dois papeis (diretor e ego-auxiliar). Rosalba não tem medo de abrir a porta do seu consultório e mostrar o que faz e como faz, psicodramatistas iniciantes vão se beneficiar deste presente ao Psicodrama, e também os experientes podem encontrar caminhos para repensar a prática clínica.

No capitulo oito, a autora abre seus protocolos clínicos e escreve de forma agradável vinhetas de casos de forma criativa, mostrando as três etapas da sessão de Psicodrama, aquecimento, dramatização e compartilhamento, discute o uso de brinquedos estruturados e enfatiza o jogo do faz de conta (dramatização, jogo de papéis) como eixo central do trabalho moreniano com crianças ao tempo em que vai desfilando uma série de recursos interventivos, lançando luz ao uso das técnicas psicodramáticas com as crianças de forma tão cuidadosa e criteriosa, respeitando esse ser em construção, analisa o uso das técnicas e sua adequação em cada caso de forma ética e amorosa.

Não trabalha para diagnosticar, como desejam muitos profissionais da saúde, mas, para compreender o funcionamento do seu pequeno cliente em suas relações com a família e com o mundo e os conflitos pessoais vivenciados nessas relações.

Durante muito tempo uma pergunta circulou em nosso meio: existe Psicodrama com crianças? Fica agora o convite a conhecer a resposta.

Um brinde ao Psicodrama Brasileiro, mas, com crianças! Tintim!

 

 

Endereço para correspondência

Rosana Maria de Sousa Rebouças
Rua Altino Serbeto de Barros, 173 -
Edifício Atlantis Multiempresarial, sala 305 - Itaigara
CEP 41830-492 - Salvador, BA.
Tel.: (71) 3351-8843 / (71) 9272-7908

Recebido em: 16/2/2015
Aceito em: 27/2/2015

 

 

¹ Psicóloga graduada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); psicodramatista/didata/supervisora membro da Associação Bahiana de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo (Asbap); professora especialista no curso de pós-graduação em Psicologia e Ação Social e na graduação em Psicologia da Faculdade São Bento – Salvador, BA.