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Revista Brasileira de Psicodrama

versão impressa ISSN 0104-5393versão On-line ISSN 2318-0498

Rev. bras. psicodrama vol.23 no.1 São Paulo  2015

 

ARTIGOS INÉDITOS

 

Grupo autodirigido: uma estratégia para o desenvolvimento do papel de diretor e ego-auxiliar

 

The Self-directed Group: a strategy for developing the roles of director and auxiliary ego

 

Grupo Autodirigido: una estrategia para el desarrollo del rol de director y ego auxiliar

 

 

Nadir Haguiara-Cervellini*; Danielle Girotti Callas**; Suzi Meire Paes Ferreira***

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo apresenta uma experiência de grupo autodirigido visando ao desenvolvimento do papel de diretor e ego-auxiliar em Psicodrama, em um curso de formação de Pós-Graduação lato sensu. A formação das duplas de direção deu-se por livre escolha, de acordo com seus interesses, suas afinidades, com base em suas áreas de atuação profissional. As direções foram tematizadas atendendo às demandas profissionais das duplas, ou segundo as necessidades do grupo. Os resultados evidenciaram ganhos significativos no desenvolvimento do papel de diretor e ego-auxiliar dos alunos em processo formativo na área de Psicodrama.

Palavras-chave: Grupo autodirigido. Diretor. Ego-auxiliar. Psicodrama.


ABSTRACT

This article presents the experience of a self-directed group aiming to develop the roles of director and auxiliary ego in Psychodrama, as applied in a post-graduate training programme. Pairs of directors were formed through free choice, according to their interests, affinities, and areas of professional practice. The action was focused around themes, in response to the professional needs of the pairs or in accordance with the needs of the group. The results showed significant gains in the development of the director and auxiliary ego roles for Psychodrama trainees.

Keywords: Self-directed group. Director. Auxiliary ego. Psychodrama.


RESUMEN

Este artigo presenta una experiencia de grupo autodirigido que tiene como meta el desarrollo del rol de director y de ego auxiliar en Psicodrama, en un curso de formación de Posgrado sin título. Las parejas de dirección se formaron por libre elección, de acuerdo a sus interés, sus afinidades y a partir de sus áreas de actuación profesional. Las direcciones se tematizaron para satisfacer las demandas profesionales de las parejas, o según las necesidades del grupo. Los resultados mostraron avances significativos en el desarrollo del rol de director y ego auxiliar de los estudiantes en proceso de formación en el campo del Psicodrama.

Palabras-clave: Grupo autodirigido. Director. Ego auxiliar. Psicodrama.


 

 

INTRODUÇÃO

Este artigo explicita a experiência de um grupo autodirigido voltado para a formação dos papéis de diretor e ego-auxiliar. Além desses papéis-chave também foi considerado o desempenho dos alunos como processadores e plateia, na disciplina de Role Playing II, do setting socioeducacional, na Pós-graduação latu senso em Psicodrama.

O desafio pedagógico dessa disciplina é desenvolver o auto e o heteroconhecimento, a percepção e a compreensão do outro, o comprometimento com a atualização e a produção do conhecimento, a percepção e a construção dos diferentes papéis (diretor, ego-auxiliar, plateia e processador), o ser espontâneo e criativo e, por fim, a tomada de consciência das dimensões ética, social e política no exercício do papel profissional.

Pautado em Bustos, Amato (2005) afirma que "o desenvolvimento de diretor em Psicodrama se dá por meio do contínuo aprender 'fazendo e vivendo' Psicodrama no exercício dos diversos papéis: protagonista, ego-auxiliar, diretor e processador, e posteriormente o papel de coordenador do grupo autodirigido" (AMATO, 2005, p. 207).

O grupo autodirigido – role playing do papel de Psicodramatista – é um modelo pedagógico desenvolvido por Bustos (2005), que se dá nos moldes que Moreno utilizava para ensinar Psicodrama no Instituto de J. L. Moreno em Beacon. Esse modelo, criado por Moreno, envolvia um processo que contemplava três bases: teoria, habilidade e crescimento pessoal, prestando-se ao desenvolvimento do papel de Psicodramatista, com grande eficiência.

Com o mesmo propósito – ou seja, a formação do Psicodramatista –, foi desenvolvido o presente trabalho com um grupo de treze alunos em processo de formação. Esses alunos alternaram os papéis de diretor, ego-auxiliar, plateia e processador, durante quinze encontros semanais, com duração de duas horas cada um.

 

O CAMINHO PERCORRIDO

Os dois primeiros encontros foram dirigidos pela professora-coordenadora, visando, no contexto grupal, conhecer o conjunto dos participantes, aproximá-los, fortalecer seus vínculos, apresentar a proposta de trabalho de grupo autodirigido e estabelecer o contrato educacional. Em seguida, os demais encontros versaram sobre a construção de conhecimento com base no texto resenhado, sobre as sessões de auto e heteroconhecimento e sobre as sessões baseadas nas práticas profissionais dos próprios alunos. Essas últimas sessões envolveram trabalhos com foco na comunidade, nas organizações e nas instituições de reintegração social de apoio. Além disso, puderam se vincular a outras técnicas, como a de coaching.

O diferencial nessa proposta de grupo autodirigido é que as duplas de diretor e ego-auxiliar – que passaremos a denominar de unidades funcionais – se inscreviam a priori, por livre escolha, para poderem desenvolver suas direções, com base nas diferentes áreas de atuação profissional e temas de interesse. Essa proposta difere daquela de Bustos (2005) que se baseia na escolha télica do grupo quanto ao participante que assume o papel de diretor no dia da sessão.

A definição das unidades funcionais, além da percepção télica, é estabelecida pelas afinidades e pelos interesses profissionais dos sujeitos. Esse momento do curso assume uma relevância na formação do Psicodramatista, na medida em que traz o aluno à prática, sempre com embasamento teórico, retirando os "fantasmas" que assombram o papel de diretor, permitindo a estreia desse papel em um contexto acolhedor de "iguais", em que vivenciar é aprender. Ao mesmo tempo, essa proposta de grupo autodirigido busca possibilitar a todos os alunos vivenciarem os papéis de diretor, ego-auxiliar, plateia e processador com a mesma intensidade e multiplicidade de facetas. Cada unidade funcional exercita, em alternância, todos os papéis, ou seja, cada um desempenha ora o papel de diretor, ora o papel de ego-auxiliar, ou de processador. Por vezes, a unidade chegou a atuar em codireção.

A professora-coordenadora atuava como observadora, podendo intervir na cena, se fosse necessário. Juntamente a ela, duas monitoras egos-auxiliares alternavam-se semanalmente no registro do vivido, para posterior processamento, e podiam intervir na cena, estando a serviço da unidade funcional em exercício.

 

ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS

Estando em um contexto pedagógico e formativo, foi necessário o desenvolvimento de uma estratégia para dar suporte aos alunos que formavam a unidade funcional de direção.

Após cada sessão, a professora-coordenadora e seus egos-auxiliares reuniam-se previamente com a unidade funcional que dirigiria a sessão da semana seguinte, com o propósito de orientação quanto ao planejamento da proposta, da fundamentação teórica e da definição do tema central do trabalho. Em sequência a esse encontro, a unidade funcional de alunos elaborava seu plano de atividade contemplando: tema, foco, objetivos e etapas, segundo o Psicodrama, e compartilhava-o previamente com a unidade funcional de professores.

No início de cada encontro, o grupo compartilhava, sistematicamente, o diário de bordo individual, que consiste no registro pessoal do aluno, articulando os temas abordados com a prática vivenciada em aula, com o seu dia a dia profissional, além de poder fazer reflexões desencadeadas com base no que foi vivido na semana anterior.

Os processamentos foram realizados pela própria unidade funcional composta por alunos e, posteriormente, na aula seguinte, apresentados e discutidos com o grupo. Os processadores deveriam contemplar em seus processamentos uma descrição detalhada do cenário, leitura da sociodinâmica grupal, descrição das etapas psicodramáticas, leitura dos bastidores, ou seja, daquilo que estava por trás da cena, bem como articulações entre o vivido e a teoria psicodramática. Esse processamento estimulou também uma reflexão sobre o próprio desempenho, enquanto unidade funcional, apontando dificuldades, facilidades, superações e ganhos, constituindo um momento de grande aprendizagem para todos.

Visando à fundamentação teórica, foram recomendados textos de referência, e foi solicitada a elaboração de resenhas destes durante o semestre letivo. Alguns textos eram trabalhados em aula, no contexto dramático, dirigidos por alunos. Deve-se enfatizar que essas resenhas, assim como os processamentos, compõem uma importante prática educacional, estimulando o aluno a envolver-se na produção científica.

 

TRÊS AMOSTRAS DE DIREÇÃO DE GRUPOS AUTODIRIGIDOS

Seguem três exemplos de direções que demonstram diferentes trabalhos: foco na construção do conhecimento com base em um texto teórico, desenvolvimento do auto e heteroconhecimento e articulação Psicodrama e Coaching. Visando à manutenção do sigilo, os nomes citados são fictícios.

1. Uma das experiências de grupo autodirigido teve como foco a construção de conhecimento sobre grupo e foi desenvolvida a partir dos textos "O que é grupo?" e "Movimentos de construção de grupo" (FREIRE-WELFORT, 1997). Após aquecimento inespecífico, a dupla solicita aos membros do grupo para que montem uma árvore no chão, utilizando as almofadas. Filipetas de papel representando flores, frutos, raízes, adubo são disponibilizadas para que escrevam e coloquem na árvore o que desejam colher durante o desenrolar da disciplina. Explicitam: sinceridade, companheirismo, esforço, dedicação, ideias, vitalidade, alegria, espontaneidade, convivência, conhecimento, entre outras percepções e sentimentos.

Fazendo o gancho com o conhecimento desejado, a diretora propõe iniciar o trabalho com os textos resenhados. A técnica utilizada é o Jornal Vivo. Moreno (MORENO, 1993, p. 415), integrando jornal e teatro, retirava notícias dos jornais sobre o que se passava no mundo e propunha que os sujeitos dramatizassem essas notícias. O jornal dramatizado era a própria vida sendo representada. Pautada na técnica criada por Moreno, a direção solicita ao grupo que se divida em dois subgrupos para que escolham a notícia que desejam dramatizar. Um grupo dramatiza um casal que não se comunica. Denunciam a ansiedade que permeia a relação comprometida pela falta de comunicação. O outro grupo constrói a planta de uma casa no chão. Evidenciam a falta de sintonia, os conflitos, o não ver nem ouvir o outro. O compartilhar evidencia o desconforto, a falta de flexibilidade e a não definição de papéis. Relacionam com os papéis que surgem na vida de um grupo: líder de mudança, líder de resistência, bode expiatório, líder do silêncio e porta-voz. Dessa forma, vivem dramaticamente os conceitos presentes nos textos resenhados. O grupo aponta como o vivido tem relação com o que acontece no dia a dia de cada um, com os fenômenos que afetam a vida corporativa e as relações familiares.

2. Outra experiência de grupo autodirigido teve como foco o auto e o heteroconhecimento, pautando-se no vivido na semana anterior sob a direção da professora e seus egos-auxiliares. Naquele encontro, realizou-se um mergulho interno, na busca do autoconhecimento, utilizando-se da técnica do desenho de uma casa (HAGUIARACERVELLINI, GIRO, VILLELA, 2008). Essa técnica visa à representação do Eu por meio do desenho de uma casa – a casa que sou eu – constituída por uma planta baixa, fachada e áreas externas. A etapa seguinte é desenvolvida em cenas de uma Bienal de Arquitetura imaginária.

A dupla que assume essa direção (Tábata e Elena) inicia o aquecimento com uma brincadeira infantil intitulada "Corre Cotia". A brincadeira anima e descontrai o grupo e possibilita a emergência da espontaneidade. Segundo Monteiro (1994), a espontaneidade é a essência do jogo e esse possibilita a vivência da liberdade, o desabrochar da imaginação e da criatividade.

A seguir, a direção inicia um aquecimento específico com um Sarau de Poesias, em que uma seleção de poesias sobre o tema "Casa" é lida pelos diversos sujeitos do grupo. Em continuidade, a direção passa à dramatização de uma ida à Pinacoteca de São Paulo, para visitar a exposição das CASAS. Distribui os ingressos e todos embarcam em um trem imaginário que sai de Paranapiacaba com destino à Estação da Luz. Todos permanecem sentados, com os olhos fechados, enquanto toca a música "O Trenzinho do Caipira" de VillaLobos. Terminada a música, todos abrem os olhos, pois já chegaram à Pinacoteca para a visita à exposição. Um repórter (ego-auxiliar) apresenta-se e pede autorização para filmar e fotografar as obras e os "arquitetos". As plantas das casas encontram-se penduradas em um varal estendido pela sala. Duas obras são apresentadas nesse dia (Roberta e Rosangela).

Para ilustrar, trazemos a apresentação da casa de Roberta. Esta tem um cantinho para reflexão ou meditação (quarto), espaço para muitos livros sobre grupo, espaço para irmã e amigos, para diversão, para o Psicodrama, que é o recheio do bolo, para a família e para os parentes. A casa não tem paredes divisórias – ela não gosta de paredes. A fachada mostra que é um sobrado, estilo tradicional, simples, mas com muita alegria. Existe somente um banheiro (última característica concretizada no desenho) que pode ser usado pelas pessoas que estiverem na casa. O banheiro é um espaço criativo, onde se tem várias ideias, se pode cantar, imitando instrumentos musicais. Em volta da casa, há um jardim com muitas plantas. Somente as pessoas boas podem entrar na casa.

A seguir, Rosangela apresenta sua casa dizendo que foi difícil desenhá-la. Tem a ver com o momento que está vivendo. O espaço psicodramático é descontraído, criativo e espontâneo. Apresenta o ambiente do escritório, de trabalho e também uma sala de treinamento. Pretende investir no uso do Psicodrama para treinamento. A sala e os quartos são amplos, arejados e receptivos. O quarto é bem bagunçado e meio aberto. Não tinha banheiro. Não pensou nele. A casa é aberta. Tem família pequena e quer ter bastante gente em casa. A turma de Role Playing é uma nova família. Tem espaço para o budismo onde tem um oratório e faz suas orações. A fachada é colorida, com o sol brilhando. A casa é bem grande, as janelas estão abertas. A porta está fechada, mas não está trancada. Quem pode entrar na casa são os amigos e as pessoas em quem confia. Tem intuição para selecionar as pessoas. Não fez a cozinha porque seus dotes culinários não permitem explorar esse espaço.

No compartilhamento, o grupo valoriza esse momento de aprendizagem dos papéis de diretor e ego-auxiliar, bem como a profunda experiência de auto e heteroconhecimento que a exposição das casas propiciou. Valorizaram a criatividade da direção em propor uma viagem de trem até a Pinacoteca, bem como o uso de um varal para expor as obras. A unidade funcional apontou a riqueza da experiência, a espontaneidade da parceria, a cumplicidade, a entrega e o grande aprendizado.

3. A terceira experiência de grupo autodirigido focou o Psicodrama e o coaching. Fernanda conduziu o grupo, acompanhada pela ego-auxiliar da equipe de professores, visto que sua parceira teve um problema pessoal que a impediu de comparecer à aula.

Coaching e Psicodrama foram os meios utilizados para sua condução. Coaching é um processo que visa à capacitação, ao aperfeiçoamento e ao desenvolvimento profissional dos sujeitos, utilizado nas organizações (COSTA, 2014). É empregado visando ajudar os indivíduos a lidarem com dificuldades relacionais e desenvolverem atitudes e competências para atingir as metas da organização. Busca a transformação do profissional, desenvolvendo a auto e a heteropercepção dos sujeitos no contexto em que atuam. Coacher é o profissional facilitador do processo. Coaching é o processo. Coachee é o sujeito que se submete ao processo de Coaching.

O Psicodrama, por sua vez, propicia a vivência afetivo-emocional dos dramas que permeiam as relações interpessoais e, por meio da ação dramática, possibilita a transformação e a reflexão sobre o vivido. A conexão entre o agir, sentir e pensar constitui a chave dessa transformação.

Tanto o aquecimento específico como o inespecífico foi realizado com músicas. Em continuidade dá início a um Psicodrama interno. Trata-se de uma dramatização, cuja ação é interna e simbólica, por meio de visualizações. Pode ser visto como um exercício de atenção do sujeito sobre si mesmo, em que a imagem prevalece sobre a palavra, com um esforço consciente de busca desta (FONSECA, 2000).

É feito o convite para olharem para dentro deles, entrarem em contato com o papel profissional ali presente, o local onde cada um atua, seus desafios, o que fazem para agregar algo à vida das pessoas, suas trajetórias profissionais até o momento presente. Ainda são questionados: Qual o espaço que o Psicodrama ocupa no ambiente profissional? Ainda são convidados a fazerem uma projeção de suas vidas em dez anos. Onde e como querem estar? Como querem trabalhar com o Psicodrama? Quem estará nessa cena daqui a dez anos? Como estarão vestidos? Que sentimento se faz presente? Que tipos de valores foram agregados? Que contribuições deram e fizeram diferença da vida das pessoas? Qual o tamanho do Psicodrama na vida?

A seguir, Fernanda pede para cada um se sentar e desenhar no papel o sonho vivido. A dramatização, por meio de desenhos, é uma forma de Psicodrama interno que foi proposta por Altenfelder Silva Filho (1992). Os solilóquios explicitam: "vou estar com dois empregos"; "sonho de trabalhar com pessoas deficientes"; "estou me divertindo"; "como é bom construir, colocar no papel nossos sonhos". A diretora solicita que cada um coloque três ações factíveis, aproximando-os de seus sonhos. Isso feito, passam a trabalhar com brasões pessoais, ou seja, um desenho cujos sinais e ornamentos identificam e simbolizam seu dono. Mostram seus brasões, uns aos outros, e passam à dramatização de uma caminhada rumo ao futuro. A direção coloca várias almofadas, definindo um caminho de dez anos. Ao som de "Simple of the Best", com Tina Tuner, os sujeitos mergulham de diferentes formas nesse caminho. Cada um dramatiza sua chegada na meta dos dez anos. Palavras de avaliação revelam: experiência, esperança, vitórias, mergulho no futuro, jeito novo de aprendizado. O brasão de uma aluna indica que vai fazer Psicologia e continuar nas duas áreas. Outro se vê fazendo treinamento e as pessoas aplaudindo-o de pé. Outra se vê no momento da aposentadoria e dando início a trabalhos voltados para inclusão, como consultora. Outra se vê como terapeuta de família e de casal e abrindo uma empresa de consultoria.

O processamento da direção explicita que, com o Psicodrama interno, propunha-se um mergulho interno, proporcionando aos participantes a oportunidade de olhar para o próprio papel profissional de forma crítica, analisando os ganhos e o que ainda tinham pela frente para alcançar. Foi notado que muitos alunos têm planos a médio e a longo prazos. O Psicodrama interno corresponde à técnica de visualização guiada do Coaching, e o desenho corresponde à âncora, na qual se ajuda o sujeito a entrar em contato rapidamente com a cena da conquista e se resgata a energia necessária para pôr as ações em prática.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência de um grupo autodirigido voltado para a formação dos papéis de diretor, ego-auxiliar e processador na disciplina de Role Playing II, do setting socioeducacional, em um curso de Pós-graduação lato sensu em Psicodrama, mostrou-se de pertinente relevância para a formação dos alunos. As evidências são expressas tanto nos processamentos das unidades funcionais que dirigiram as sessões, quanto nos depoimentos dos diários de bordo do grupo. Além disso, a autoavaliação final, realizada por todos os alunos individualmente, ao final do semestre letivo, aponta a importância do planejar, os ganhos obtidos com essa experiência de grupo autodirigido, assim como projeta as metas para seu futuro como psicodramatista.

A construção dos papéis de diretor e ego-auxiliar, rompendo com a falsa dicotomia entre prática e teoria, contribuiu para que os alunos desenvolvessem novos olhares, para que aprendessem a lidar com a complexidade das questões emergentes e conquistassem a segurança necessária para suas atuações psicodramáticas nos próprios contextos profissionais. Alguns alunos mencionam a tomada de consciência de seu desenvolvimento como psicodramatista em consequência desse trabalho de grupo autodirigido. Essa experiência propiciou reflexões, aprendizados ao trabalharem as questões coletivas, com base nas dramatizações. Uma aluna dá o seguinte depoimento:

[...] quando assistia de longe, tinha a sensação de que algo mágico acontecia. Ao mesmo tempo me questionava de quanto seria capaz de praticar essa magia no meu dia a dia. Confesso que imaginei ter de estudar anos para conseguir praticar um pouco do que via nos atos, no Daimon e lia nos textos. De repente me vi "fazendo a mágica". Foi uma sensação indescritível ver na prática quanto as propostas construídas agregavam para as pessoas e funcionavam. Passei a olhar a dramatização como método de transformação, e não mais como entretenimento somente. [...] No meu contexto profissional, posso aplicar tudo o que aprendi, principalmente para trabalhar conflitos e necessidades coletivas. Apliquei em situações de grupo muito do que vivi em Role Playing, tanto das minhas construções em parceria quanto do que foi apresentado por outras duplas; vi que as pessoas responderam de forma mais efetiva, e também resultados de vendas, integrações e aderência à escala de trabalho vieram em curto espaço de tempo. Tenho buscado cotidianamente trabalhar as demandas que recebo a partir de uma mescla entre o Psicodrama e o Coaching (Fernanda).

As autoavaliações finais dos alunos, como é o caso dessa citação de Fernanda, são a evidência de como o grupo autodirigido contribuiu, de modo relevante e marcante, para o desenvolvimento dos papéis de diretor e ego-auxiliar deles, na disciplina de Role Playing II de um Curso de Formação em Psicodrama – Pós-graduação lato sensu.

 

AGRADECIMENTOS

A todos os alunos do curso de Formação em Psicodrama que participaram deste estudo.

 

REFERÊNCIAS

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Endereço para correspondência

Nadir Haguiara-Cervellini
Email: nadirhc@uol.com.br
R. Dr. Adhemar Queiroz de Moraes, 240
Brooklin Paulista – São Paulo.
CEP 04623-060.
Tel.: (11) 5093-4077. Cel.: (11) 99611-1989.

Danielle Girotti Callas
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R. Curupacê, 140 – ap. 23.
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Suzi Meire Paes Ferreira
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R. Leandro Bassano, 93 – São Paulo.
CEP 02804-180.
Tel.:(11) 3976-7201. Cel.: (11) 99258-8801.

 

Recebido: 30/03/2015
Aceito: 26/09/2015

 

 

* Fonoaudióloga pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Psicodramatista Didata Supervisor pela Federação Brasileira de Psicodrama (Febrap). Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professora associada da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da PUC-SP. Professora do curso de pós-graduação (lato sensu) de Formação em Psicodrama da Sociedade de Psicodrama de São Paulo (SOPSP) convênio com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
** Internacionalista. Psicodramatista pela Sociedade de Psicodrama de São Paulo (SOPSP) convênio com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre em Educação pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
*** Enfermeira formada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e funcionária da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, na área da Saúde da Família. Psicodramatista pela Sociedade de Psicodrama de São Paulo (SOPSP) convênio com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

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