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Revista Brasileira de Psicodrama

Print version ISSN 0104-5393On-line version ISSN 2318-0498

Rev. bras. psicodrama vol.24 no.2 São Paulo Dec. 2016

http://dx.doi.org/10.15329/2318-0498.20160027 

RESENHAS

 

De que cor será sentir?

 

What color is to feel?

 

¿De qué color será sentir?

 

 

Wilson Castello de Almeida

Sociedade de Psicodrama de São Paulo (SOPSP). e-mail: castellowa@terra.com.br

 

 

Costa, M. O. (2016). De que cor será sentir? Método psicanalítico na psicose. São Paulo: Manole.

Eu acabara de ler Os cem melhores poemas brasileiros do século, quando me dei conta de meu compromisso com Heloisa Fleury, editora da Revista Brasileira de Psicodrama, em sua versão digital, para comentar o livro de Marina de Oliveira Costa, De que cor será sentir?

Começo com poesia porque, para o bom entendedor, uma palavra basta: o livro de Marina é pura poesia. Poesia pictórica, sentimental, plena de significados robustos, envolvida nas palavras, como quis Heidegger e determinou Lacan.

Marina vem do Psicodrama, caminha para a Psicanálise contemporânea e passa por autores heroicos, sendo ela mesma autora sensível, inovadora, inteligente e corajosa. Trata-se de uma pesquisadora moderna que supera a simples psicologia para adentrar os enigmas da experiência humana.

Com brilho, convoca poetas, artistas plásticos e filósofos para ajudá-la a compor uma literatura sui generis, exaurida do trabalho clínico de pacientes difíceis.

Em seu texto delicado, estão registrados Saramago, Winnicott, Roussillon, Mia Couto, Antonino Ferro, Cyrulnick, Fédida, Matisse, Ferenczi e outros que a nossa curiosidade vai descobrindo em seus contornos simbólicos.

Tenho a felicidade de acompanhar a autora desde os seus escritos inaugurais, hoje somados nesse livro excepcional, que releio com carinho.

A psicanálise brasileira enriqueceu-se de um método cuidadoso e novidadeiro. Diria mesmo que estamos falando de outra psicanálise, que supera as antigas interpretações freudianas, para traduzir, através das pinturas, os enigmas buscados na magia.

Na página 313, Marina define, amparada em Antonino Ferro, a significação do novo analista: "com a capacidade de desenvolver em uníssono com o paciente, à espera de seus movimentos".

Permito-me citá-la: "Será então essa qualidade da presença do terapeuta a responsável, não por um eco, porém por um rosto, uma face, que corresponde ao conceito de 'inversão positiva'". Somente entenderá esse escrito o leitor que se dispuser a mergulhar nessa leitura encantadora.

A autora não foge às dificuldades a que se propõe enfrentar. Sabe fazer germinar a gestação subjetiva, em tempo de conferir as imagens vivas que marcam o ponto nuclear da psicose e da medicação terapêutica.

Da leitura feita, somos remetidos à comovente imagem de Picasso (Os desamparados, 1903), onde no sopé da dor se encontra a oferta da representação possível: "A todos aqueles cujo abandono induziu à clivagem".

O texto de Marina é aquele capaz de presentificar a emoção. Por isso, cito Mia Couto, registrado na oferta que a autora me faz: "Só é olhado pelo céu, quem olha para as estrelas".

Foi este meu sentimento na leitura: "De que cor será sentir".

Obrigado, amiga!

 

 

Recebido: 30/11/2016
Aceito: 02/12/2016

 

 

Wilson Castello de Almeida: Médico pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP). Exerceu docência nas Faculdades de Medicina da UFMG e da USP. Editor da Revista Brasileira de Psicodrama de 1994 a 2004 e autor de vários livros e artigos científicos. Rua João Moura, 627, cj. 124, Pinheiros, CEP 05412-001. São Paulo, SP. Tel.: (11) 3064-5329.

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