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Revista Brasileira de Psicodrama

versão On-line ISSN 2318-0498

Rev. bras. psicodrama vol.26 no.1 São Paulo jan./jun. 2018

http://dx.doi.org/10.15329/2318-0498.20180001 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

Heloisa Fleury

Editora

 

 

O 26º volume da Revista Brasileira de Psicodrama reflete o sucesso do 21º Congresso Brasileiro de Psicodrama. Apresentações ganhadoras do Prêmio Febrap constarão dos dois números deste volume. Nesse primeiro, temos também Cartas ao Editor inspiradas em atividade do Congresso e Resenhas de alguns dos livros lançados por nossos colegas autores.

Recebemos várias sugestões em uma das questões incluídas em pesquisa observacional do Psicodrama brasileiro, relativas ao papel da Revista no desenvolvimento do Psicodrama brasileiro. Além de muitos elogios pela inserção cada vez maior da Revista entre os interessados em práticas grupais e psicoterapêuticas (em maio de 2018, atingimos 16.151 acessos aos artigos publicados), as sugestões mais frequentes foram relativas à maior divulgação e à facilitação do acesso aos artigos. Atendendo a essa demanda, criamos a página da Revista no Facebook, com o objetivo de divulgar para um público maior e difundir instruções para submissão e acesso aos artigos. Também passamos a enviar esse conteúdo para os grupos de mídia social.

O pedido de maior visibilidade para os artigos publicados estava sendo implementado com a organização do Suplemento Internacional 2018, resultado de uma primorosa seleção, abrangendo os últimos cinco volumes, realizada pela editora convidada Anna Maria Knobel. Os artigos traduzidos para o inglês e para o espanhol estão disponíveis on-line, com livre acesso para todos os interessados, nas bases de dados PePsic (http://pepsic.bvsalud.org) e Lilacs (http://lilacs.bvsalud.org/). Esperamos aumentar o número de citações da Revista, o que melhorará nossa avaliação de desempenho.

Em relação aos temas publicados, muitos leitores solicitaram artigos que abrangessem uma diversidade de áreas de aplicação do Psicodrama. Esperamos atendê-los parcialmente com os artigos publicados neste número, que traz uma quantidade maior de artigos na área educacional, além da clínica, organizacional, hospitalar e socioeducacional.

Essa pesquisa sobre o Psicodrama brasileiro explicitou, principalmente, que nosso maior desafio será atingir mais e mais psicodramatistas, estimular a leitura dos artigos por professores e alunos, como um importante recurso para a educação continuada e a atualização, condições importantes para o desenvolvimento teórico-prático do Psicodrama.

Neste volume, houve uma mudança das Normas para Publicação da Revista, que passou a aceitar Artigos Inéditos de até 25 páginas. Foi uma demanda do Conselho Editorial, para garantir mais espaço para as reflexões próprias dessa modalidade de artigos.

Recentemente, nos Estados Unidos, a American Group Psychotherapy Association (AGPA) anunciou o reconhecimento oficial da Psicologia de Grupo e da Psicoterapia de Grupo como uma especialidade pela American Psychological Association (APA). Esse reconhecimento é conferido após um longo processo de petição que demonstre, entre outros pontos, robustos fundamentos científicos, diretrizes para a educação e a formação, teoria e prática baseadas em evidência de eficácia e aplicável em uma variedade de públicos-alvo, da infância até adultos mais velhos. Foi uma vitória muito celebrada, pois garante um reconhecimento no mundo acadêmico e nos programas das políticas públicas de saúde e educação.

Um movimento semelhante iniciou-se na década de 1990 na Europa, quando a Psicoterapia Psicodramática foi validada cientificamente para ser acreditada pelo governo e pelo Sistema de Seguridade Social da Áustria, inicialmente, e depois se estendeu a vários outros países. Houve um grande estímulo para essas iniciativas, e hoje muitos países europeus produzem pesquisa em várias áreas, muitos com subsídios governamentais e de organizações não governamentais. A Federação das Organizações Europeias que dão formação em Psicodrama (Fepto) criou um Comitê de Pesquisa, que tem crescido em importância pela valorização crescente do reconhecimento da pesquisa em psicologia clínica. A Sociedade Americana de Psicoterapia de Grupo e Psicodrama (ASGPP) também reconheceu a importância dessa tendência. Buscou artigos da Revista Brasileira de Psicodrama com relatos de pesquisas porque precisam acessar um maior grau de reconhecimento nas comunidades acadêmicas e nos sistemas de tratamento.

A Revista Brasileira de Psicodrama ainda tem poucos artigos publicados comprovando a eficácia do Psicodrama. Predominam os estudos de caso e as pesquisas qualitativas utilizando o Sociodrama. Convido nossos autores a se engajarem nessa cultura de valorização dessa tendência mundial, pois seus artigos poderão constituir excelentes pesquisas quali-quantitativas comprovando a eficácia do Psicodrama. O curioso é que temos praticamente todo o conteúdo para garantirmos a visibilidade de um Psicodrama científico, valorizado pelo Estatuto da Febrap e por muitos de nossos professores, porém ainda não há uma sensibilização da comunidade psicodramática sobre a importância dessa questão.

Na década de 1980, quando os brasileiros começaram a desenvolver pesquisa qualitativa nos trabalhos comunitários, geralmente com o uso do Sociodrama, foi um grande avanço para a avaliação de resultados, um reconhecimento do potencial do Sociodrama no desenvolvimento social. Hoje, em 2018, temo nossa marginalização em relação à adesão a essa tendência mundial de avaliação da eficácia das psicoterapias. Poderíamos estar ocupando um lugar de destaque, se considerarmos o aspecto vivencial do Psicodrama, comprovadamente relevante para a mudança terapêutica.

Precisamos da sensibilização da comunidade psicodramática brasileira para o fato de que a nova geração de psicodramatistas necessariamente terá que buscar uma prática sintonizada com essa tendência internacional.

Neste número, os artigos publicados ilustram a diversidade e o potencial do Psicodrama, mas ainda sem a preocupação formal de nos inserir naquele movimento.

Inicia-se com a seção Artigos Inéditos, com o relato do atendimento psicoterápico de uma criança, sob referencial teórico psicodramático. Segue-se uma reflexão sobre a construção da identidade étnico-racial da menina mulher negra durante a adolescência, baseada na narrativa do filme "Jennifer". Na sequência, uma intervenção educacional em sala de aula ilustra o fortalecimento do protagonismo de alunos, na construção coletiva do conhecimento, com a aplicação de metodologias que valorizam experiências intersubjetivas em aprendizagem significativa.

Os fundamentos teóricos e a aplicabilidade de um novo recurso para a Construção de Imagens Psicodramáticas, com o uso técnico de bonecos pouco estruturados, são discutidos no artigo seguinte, que toma como foco o potencial dessa nova modalidade de manejo clínico para gerar novas redes nos circuitos neuronais. Também com base na neurociência, direcionadores de manejo do psicodrama interno em situações traumáticas são apresentados.

Na sequência, é apresentado um estudo de caso que desvenda os complexos afetivos do paciente por meio dos mitos revelados, no que foi denominado mitodrama. Segue-se o relato de uma intervenção terapêutica com acompanhamento terapêutico.

Essa seção é finalizada com o registro da aplicação do Sociodrama, indicado como método pelo Ministério da Saúde para o Ministério da Justiça. O autor reflete sobre essa experiência de ação sociodramática para o desenvolvimento de uma nova postura das polícias no trato com os usuários de crack e outras drogas.

Segue-se a seção Artigos de Reflexão. No primeiro artigo, o autor discute a mítica técnica da cadeira vazia. O segundo aborda a atuação clínica do psicólogo na contemporaneidade.

A seguir vem a seção Comunicações Breves. Inicia-se com uma intervenção grupal sociodramática, caracterizada como uma pesquisa-intervenção de natureza qualitativa, realizada em uma escola pública municipal, com crianças entre cinco e dez anos. O segundo artigo relata a utilização de recursos psicodramáticos, em ato terapêutico, para criar um espaço de acolhimento e escuta para pacientes hospitalizados e seus familiares. A seguir vem o relato de um Sociodrama de preparação para a aposentadoria, sinalizando a importância da diversificação de papéis para o desempenho de diferentes papéis sociais após a aposentadoria. Essa seção finaliza com a apresentação das contribuições da Pedagogia Psicodramática como facilitadora da aprendizagem em curso de formação do psicodramatista.

J. L. Moreno e sua esposa Zerka Moreno foram homenageados durante o 21º Congresso Brasileiro de Psicodrama. Nessa atividade, alguns psicodramatistas foram convidados para relatar suas experiências com Zerka Moreno, incluindo o filho do casal Jonathan Moreno. Na plateia, muitas mulheres relembraram momentos significativos com Zerka, das quais duas delas compartilham suas experiências na Seção Cartas ao Editor.

Este número finaliza com quatro resenhas de livros lançados durante o Congresso. Na primeira delas, Cybele Ramalho apresenta o livro "Essência e personalidade - Elementos de psicologia relacional", de autoria de José Fonseca. Ela afirma que o "livro exala o caráter ponderado do autor, que não se situa nem de um lado nem do outro da margem; mas entre a experiência (sabedoria dos que já construíram muitas pontes, idas e vindas) e a inovação (eterna-juventude, na busca da reconstrução de saberes)".

Na sequência, o livro "Vida e clínica de uma psicoterapeuta" de autoria de Rosa Cukier, resenhado por Maria Luiza Vieira Santos, que assim o descreve "a autora apresenta temas resultantes de seu interesse, estudos e pesquisas ao longo dos últimos anos em sua trajetória profissional".

O terceiro é o livro "Sociodrama na educação", de autoria das colegas Andrea Claudia Souza e Joceli Drummond. Ana Cristina Benevides Pinto comenta que as autoras versam pela "conjugação intrínseca entre educação e saúde, partindo dos profissionais da educação e ampliando na inserção da comunidade, como entorno estruturante da saúde biopsicossocial-espiritual de todos".

A última resenha, escrita por José Fonseca, do livro "A relação educador-educando: um projeto psicodramático baseado em Morin e Moreno", de autoria da atual presidente da Febrap fecha com chave de ouro este número. A obra traz novas propostas educacionais, em uma perspectiva da educação como "um processo em que o conhecimento intelectual é digerido no fogo lento das emoções e sentimentos".

Para viabilizar um processo editorial cuidadoso, precisamos criar uma equipe especial de apoio. Meus agradecimentos à Annatalia Gomes Amorim, Marlene Marra, Roseane Lisboa, Rosely Cubo e Oriana Hadler, parceiras que trouxeram leveza e competência ao processo editorial deste número. Meus agradecimentos aos protagonistas da Revista: autores e leitores, responsáveis pela continuidade desse importante veículo de divulgação do Psicodrama. Também meu agradecimento à Febrap, representada por suas federadas e sua diretoria executiva, pelo contínuo apoio à nossa Revista.

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