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Revista Brasileira de Psicodrama

versão On-line ISSN 2318-0498

Rev. bras. psicodrama vol.26 no.1 São Paulo jan./jun. 2018

http://dx.doi.org/10.15329/2318-0498.20180018 

RESENHAS

 

Sociodrama na educação

 

Sociodrama in education

 

Sociodrama en la educación

 

 

Ana Cristina Benevides Pinto

Psicóloga. Psicodramatista pela SOPSP. Psicoterapeuta e diretora do CENTISER - Centro de Tratamento e Integração do Ser. E-mail: anacristina@centiser.com.br

 

 

Souza, A. C., & Drummond, J. (2018). Sociodrama na educação. Rio de Janeiro: Wak Editora.

Borboletas na capa convidam-nos às incríveis metamorfoses que a Educação nos conclama a todo tempo e que o livro propõe, com reflexões, acerca da escola "mais interativa e útil na vida de quem dela participa" (p. 24). Com esse propósito, as autoras Andréa Claudia de Souza e Joceli Drummond nos convidam a adentrar no livro "Sociodrama da educação", publicado neste ano pela Wak Editora.

De forma clara e concernente, a obra permite-nos transitar entre a educação dos sonhos, pautada em nossos desejos por práticas saudáveis e competentes, e a educação facilmente exequível por meios tão eficazes e eficientes veiculados pelo Sociodrama. As autoras versam pela conjugação intrínseca entre educação e saúde, partindo dos profissionais da educação e ampliando na inserção da comunidade, como entorno estruturante da saúde biopsicossocial-espiritual de todos, sendo a formação e a capacidade espontânea criativa dos profissionais da educação o pilar basal para a saúde coletiva a curto, médio e longo prazos.

Em muitas práticas relatadas pelas autoras, salta-nos convocações de como precisamos propagar espaços para superação dos medos de represálias ao levantarmos questionamentos críticos ou exposições de incômodos. Parece que ainda remanescemos dos papéis de colonizados e destituímos o hábito de trocas coletivas de experiências.

O estudo testemunhal delas, porém, clama-nos, com a alegria peculiar do Sociodrama, à tomada do lugar da escola como corresponsável pela prevenção de doenças e pela promoção de saúde em amplo espectro conceitual e vivencial. Atualizadas na concepção de saúde, as autoras postulam o papel social da Escola Promotora de Saúde, resgatando suas competências como reduto fértil de consciências ativas e transformadoras da Sociedade no exercício da cidadania, veiculadas e dinamizadas pelas ações sociodramáticas.

Assim, elas nos levam a passear com naturalidade entre teóricos da educação como Piaget, Vygotsky, Paulo Freire, entre outros. Em seguida, destrincham com habilidade didática conceitos socionômicos, inserindo-os no contexto educacional, desde os relacionados ao manejo sociodramático, como os instrumentos, as técnicas e até o Psicodrama Pedagógico, sempre entremeados com exemplos práticos. São composições que explicitam o surgimento, no contexto sociodramático, de novas reflexões e ações individuais e coletivas com base no desenvolvimento do potencial espontâneo criativo dos participantes.

As experiências práticas relatadas conduzem o leitor a tocar nas dificuldades reincidentes ou comuns no âmbito do trabalho com grupos e naquelas peculiares aos papéis do meio educacional e de saúde, com suas identidades próprias, formativas ou não. Concomitantemente, as autoras vão alinhando as contribuições de todos os teóricos citados, em especial de Moreno, como fundamentos para a construção e o desenvolvimento da Escola Promotora de Saúde, na conciliação de visões processuais diferentes entre os profissionais da educação e os da saúde, bem como das dimensões mais racionais e mais emocionais de administração das questões relacionadas aos seus projetos. Dessa forma, conseguimos deslizar com suavidade nas opções terapêuticas no sentido de aprendizagem de novas respostas aos desafios apresentados, destacando-se a atenção para a construção da autonomia dos participantes com zelo coerente às proposições teóricas.

Com versatilidade, as autoras nos motivam mais ainda, mostrando trabalhos com diversos grupos, faixas etárias ou papéis dentro da comunidade, abanando o leque de ação e de intervenção do Sociodrama e ventilando nossas angústias com possibilidades exequíveis e seguras, mesmo que trabalhosas. Temas transversais bailam com segurança e leveza nos trabalhos compartilhados.

Diversas vezes, as reflexões fluem de dentro para fora, fazendo-nos penetrar nas questões de identidades profissionais e grupais, que transcendem categorizações para alcançar transformações cujo destinatário certamente é a comunidade. O livro traz uma generosidade nos assuntos abordados, que abrange o leitor mais jovem com várias demonstrações detalhadas de trabalhos, dinâmicas e manejos; ao mesmo tempo, ao leitor/profissional mais experiente propõe revisões e ponderações sobre os obstáculos no mundo educacional e da saúde, que, de tão cristalizados, por vezes, geram desânimo ou acomodação.

De diversas formas, o livro fricciona nossa bagagem conceitual e prática, seja fazendo-nos repensar ou reafirmar postulados teóricos, seja ampliando nosso repertório de intervenções sociodramáticas. Cai-nos sempre a indagação se nos apropriamos com contundência e destreza do arsenal de ações transformadoras do Sociodrama, contemplando seu objetivo, como nos diz Moreno (1998, p. 146), citado pelas autoras: "O objetivo do Sociodrama não é oferecer psicoterapia para qualquer indivíduo, mas, sim, melhorar o bem-estar do grupo, geralmente, pelo encorajamento de sua coesão e pelo potencial para uma atividade cooperativa".

Concluo esta resenha com um aperitivo retirado do corpo do livro e que pode, certamente, alimentar nossa alma: "A possibilidade de admirar o mundo implica estar não apenas nele, mas com ele; consiste em estar aberto ao mundo, captá-lo e compreendê-lo; é atuar de acordo com suas finalidades a fim de transformá-lo" (Drummond & Souza, 2008)

Deliciem-se!

 

REFERÊNCIAS

Drummond, J., & Souza, A. C. (2008). Sociodrama nas organizações. São Paulo: Ágora.         [ Links ]

Moreno, J. D. (1998). Sobre a moral ética e os encontros. In P. Holmes, M. Watson, & M. Karp, O Psicodrama após Moreno: Inovações na teoria e na prática. (cap. 5). São Paulo: Ágora.         [ Links ]

 

 

Recebido: 01/07/2018
Aceito: 07/07/2018

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