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Revista Brasileira de Psicodrama

versão On-line ISSN 2318-0498

Rev. bras. psicodrama vol.26 no.2 São Paulo jul./dez. 2018

https://doi.org/10.15329/2318-0498.20180022 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

Heloisa Fleury

Editora

 

 

EDITORIAL Em 1994, há quase 25 anos, Wilson Castello de Almeida escreveu o primeiro editorial da nova Revista Brasileira de Psicodrama, publicada no estilo científico, que a Federação Brasileira de Psicodrama vem perpetuando desde então. Wilson atendeu ao desejo de um grupo pioneiro de psicodramatistas, que visava à universalização do saber psicodramático e de suas correlações. Nessa época, o mercado de editoração científica valorizava a Revista impressa para garantir acesso facilitado aos psicodramatistas e aos interessados em práticas grupais e psicoterapia. Várias bibliotecas do País assinavam a Revista, disponibilizando em suas estantes esse patrimônio do saber psicodramático. Hoje, a Revista está disponível apenas on-line, com livre acesso para todos os interessados, nas bases de dados PePsic (http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_serial&pid=0104-5393&lng=pt&nrm=iso) e Lilacs (http://lilacs.bvsalud.org/).

Este volume traz contribuições de muitos desses pioneiros, por meio de seus escritos e em citações coletadas pela nova geração. A Revista mantém-se divulgando as novas tendências do movimento psicodramático nacional e internacional.

A missão, os valores e os objetivos da Federação Brasileira de Psicodrama (Febrap) estão sendo redesenhados pelos representantes das Instituições federadas, assessorados por uma consultoria profissional. O grupo elegeu o Congresso Brasileiro de Psicodrama e a Revista Brasileira de Psicodrama como os dois principais pontos fortes da Febrap contemporânea. A Revista participou ativamente dos 42 anos de história da Febrap, eternizando a grande produção científica e garantindo o desenvolvimento técnico-científico, alguns dos pontos fortes elencados. Hoje, buscamos novos avanços para a Revista, fortalecendo seu importante papel como veículo do desenvolvimento do psicodrama brasileiro, e criamos grupos de trabalho, que estão buscando novas ações estratégicas para o futuro.

Os artigos publicados neste volume mapeiam o psicodrama contemporâneo em diferentes regiões do Brasil. Esse é o psicodrama comprometido com a cientificidade. A seção Artigos Inéditos traz algumas modalidades de pesquisa, ilustrando o contexto em que a nova geração de psicodramatistas está inserida. A primeira delas é uma pesquisa qualitativa e quantitativa que confirmou maior espontaneidade em alunos que frequentam aulas de teatro, com mudanças em suas relações sociais e na expressão de sentimentos e pensamentos. Segue-se uma pesquisa qualitativa sobre a reconfiguração sociométrica nas redes relacionais do cônjuge masculino após o estabelecimento do vínculo conjugal. Na sequência, uma revisão sistemática identifica a falta de consenso na literatura sobre os constructos Resiliência e Transtorno do Estresse Pós-Traumático, permitindo a formulação de uma compreensão psicodramática destes.

Ainda nessa seção, o artigo seguinte ilustra o psicodrama na abordagem do mecanismo de evolução da dependência do comportamento patológico de jogar e comprar, a psicodinâmica do jogador/comprador e a utilização das técnicas psicodramáticas no tratamento dessa condição. No seguinte, as autoras propõem o uso de peças de xadrez como instrumento psicodramático e sociométrico e exemplificam esse uso com a construção do átomo social em psicoterapia individual.

Na área de educação, segue-se o relato do psicodrama no curso de Medicina, facilitando o desenvolvimento de habilidades comunicacionais e de atitudes mais humanizadas do futuro médico.

Os dois artigos que finalizam essa seção contribuem com uma vertente mais teórica. O primeiro explora articulações entre as ideias do filósofo Friedrich Nietzsche e o método psicodramático, com destaque para as noções de vontade de poder e espontaneidade. O autor avalia que essas conexões se mostram fecundas, porém exigem cuidados pela interlocução entre diferentes campos de saber. O outro, a partir de uma revisão teórica e crítica do conceito de momento de Moreno, a autora empreende uma preciosa contextualização histórica e dialoga com outras teorias filosóficas, discutindo o enriquecimento do psicodrama com uma teoria da temporalidade fundada na noção de momento.

A seção Comunicações Breves traz relatos nas áreas da psicoterapia, da saúde e da educação. Começa com uma reflexão sobre o conceito de cluster de papéis, com foco no fraterno (terceiro cluster), visando enriquecer a clínica psicoterápica com subsídios para a compreensão da dificuldade atual para vivenciar a paridade. Segue-se a apresentação do método psicodramático em grupos de mulheres protagonistas da Lei Maria da Penha em que o conjunto temático explicitado nas dramatizações facilitou a criação de novas perspectivas para a vida dessas mulheres. Em seguida, um sociodrama, em que os participantes constroem um personagem grupal e vivenciam o processo de transformação desse protagonista em oito etapas, mostrou-se valioso para o desenvolvimento pessoal e profissional.

Em contexto hospitalar, segue-se a confirmação da diminuição da intensidade da dor em 90% dos casos estudados, por meio da mediação do psicodramatista em uma negociação entre o indivíduo com relatos de dor aguda ou crônica e ele próprio no papel de sua dor.

Essa seção finaliza com dois artigos em que o psicodrama enriquece a educação. No primeiro, aplicado a um grupo de pacientes oncológicos, mostrou-se uma experiência promissora para o desenvolvimento do papel profissional em estágio do curso de Psicologia. No segundo, as etapas de sociodrama, aplicado em programa de pós-graduação, são bem detalhadas e ilustram o processo de desenvolvimento do papel de estudante, facilitando essa caminhada acadêmica.

Este número traz duas Resenhas. A primeira discute a prática grupal psicanalítica institucional, alinhada à tradição do pensamento grupal argentino (Pichon-Rivière) e francês (René Käes). Interessante lembrar que o primeiro influenciou o início do nosso psicodrama, e a tradição psicanalítica de grupo francesa é inaugurada com as experimentações que Didier Anzieu faz com o psicodrama na década de 1950. Essas influências psicodramáticas na tradição francesa ressurgem nas teorizações, mais recentes, sobre o uso de objetos mediadores em grupo, cujos aprofundamentos são um dos grandes traços distintivos dessa obra, o que pode abrir novas possibilidades de intercâmbio entre essa abordagem e o psicodrama contemporâneo.

A segunda fecha com chave de ouro este número. O pioneiro e sempre editor da Revista, nosso querido Wilson Castello de Almeida, está presente neste volume com a Resenha de seu último livro, na qual se destaca seu estilo muito próprio na apresentação aos psicoterapeutas como Lacan foi construindo sua visão sobre o homem contemporâneo e como aplica as ideias lacanianas à sua prática profissional, alinhada à filosofia fenomenológica-existencial. Ao saber dessa publicação, Wilson disse: "fiquei deveras comovido com a oportuna e correta resenha do Luís, amigo e colega de sempre. A minha aposentadoria e a vinda para o 'exílio' de Ouro Fino não me afastaram das boas lembranças, dos bons tempos do Daimon, e do benquerer que sempre dediquei aos valorosos companheiros". Wilson, nossa gratidão é enorme pelo seu legado, principalmente pelo seu "filho científico", a Revista Brasileira de Psicodrama.

Neste volume, o novo Conselho Editorial teve uma atuação decisiva para a viabilização do processo de avaliação de um número crescente de manuscritos. Meus agradecimentos a essa equipe valorosa: Annatália Meneses de Amorim Gomes, Marlene Marra, Roseane Lisboa, Rosely Cubo, Oriana Hadler e Valéria Brito. Meus agradecimentos aos autores, pareceristas e leitores, os principais responsáveis pela continuidade desse importante projeto. Estendo meu agradecimento à Febrap, representada por suas federadas e sua diretoria executiva, pelo contínuo apoio à nossa Revista.

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