SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.27 issue2Psychodrama, ethics and the otherNew directions for psychological emergency attendance: psychodrama as a reference author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Revista Brasileira de Psicodrama

On-line version ISSN 2318-0498

Rev. bras. psicodrama vol.27 no.2 São Paulo July/Dec. 2019

http://dx.doi.org/10.15329/2318-0498.20190021 

https://doi.org/10.15329/2318-0498.20190021
ARTIGO ORIGINAL

 

Marcas da maternidade: do ventre para a vida toda

 

Maternity marks: of the belly for life

 

Marcas de la maternidad: del vientre para toda la vida

 

 

Kathleen Adriane Forlin1, Amanda Castro1.*, Nerilza Volpato Beltrame Alberton1, Fernanda de Souza Fernandes1

1.Universidade do Extremo Sul Catarinense - Departamento de Psicologia – Criciúma (SC), Brasil.

 

 


RESUMO

Este trabalho teve por objetivo compreender a relevância do vínculo mãe-bebê para o desenvolvimento infantil na perspectiva de mães e gestantes. Para tal, foi utilizada a técnica do Psicodrama Interno, em que as participantes estabeleceram conversas com a mãe no passado, o filho atual e o filho no futuro; também utilizou-se questionário semiestruturado. Diante da realização da pesquisa, percebeu-se que as participantes entendem o papel de mãe como o papel de cuidar, proteger, apoiar, educar e amar, compreendendo que se constituem como exemplo. Além disso, há a ideia de que o que ocorre na gestação afeta tanto a formação do feto como o desenvolvimento de sua personalidade após o nascimento.

Palavras-chave: Maternidade; Vínculo; Desenvolvimento infantil


ABSTRACT

This work aimed to understand the relevance of the mother-baby bond for child development from the perspective of mothers and pregnant women. For this, the Internal Psychodrama technique was used, where the participants established conversations with the mother in the past, the current child and the child in the future, also a semi-structured questionnaire was used. Before the research was realized, the participants understood the role of mother as the role of caring, protecting, supporting, educating, and loving, understanding that they are an example. In addition, there is the idea that what occurs in gestation affects both the formation of the fetus and the development of its personality after birth.

Keywords: Maternity; Bond; Child development.


RESUMEN

Este trabajo tuvo por objetivo comprender la relevancia del vínculo madre-bebé para el desarrollo infantil en la perspectiva de madres y gestantes. Para ello, se utilizó la técnica del Psicodrama Interno, donde las participantes establecieron conversaciones con la madre en el pasado, el hijo actual y el hijo en el futuro, también se utilizó un cuestionario semiestructurado. Ante la realización de la investigación se percibió que las participantes entienden el papel de madre como el papel de cuidar, proteger, apoyar, educar y amar, entendiendo que se constituyen como ejemplo. Además, hay la idea de que lo que ocurre en la gestación afecta tanto la formación del feto, como el desarrollo de su personalidad después del nacimiento.

Palabras-clave: Maternidad; Vínculo; Desarrollo infantil.


 

 

INTRODUÇÃO

BEBÊ A BORDO: E AGORA? NASCE UMA MÃE!

Desde o momento em que uma mulher engravida ou entra em processo de adoção, uma série de mudanças psíquicas começa a acontecer (Machado, 1998). A partir de então, surgem os medos, as dúvidas, os sentimentos de insegurança e o aumento da sensibilidade (Machado, 1998).

A maternidade é uma novidade, uma experiência única, que não pode ser comparada a vivências anteriores (Caron, 2000). Perceber-se mãe, desenvolver esse papel, é algo de extrema importância no ciclo vital, permitindo até mesmo uma reestruturação de personalidade (Maldonado, 2013), implicando em um novo reconhecimento do eu.

No entanto, aceitar a presença desse outro ser em papel complementar, um ser que possui características que também são singulares, com vida, ritmo, movimentos, sexo e outras, que são unicamente suas e independentes, não é uma tarefa fácil (Caron, 2000).

Segundo Figueiredo, Costa e Pacheco (2002), fatores significativos são relatados após o nascimento biológico ou emocional (em caso de adoção), como o momento em que a mãe vê e pega o bebê pela primeira vez. Apresentando aí fortes indícios da interação dessa relação que começa a acontecer após a vinda do bebê, que já é um reflexo da relação que a mãe e o bebê experimentaram durante a gestação. Pois, como comenta Milanello (2005), todo o período gestacional tem, além da função de desenvolvimento do feto, a função de preparar a mãe para o que virá, em que a mãe terá que desenvolver um estado de identificação com o bebê de tal forma que possa compreender e saber as necessidades dele.

Tendo em vista que culturalmente o cuidado parece delegado à mulher, o primeiro vínculo do bebê tende a ser com a mãe ou com o seu principal cuidador (Brum & Schermann, 2004). Já para o pai, esse vínculo pode ser construído de forma mais lenta, tendo em vista que o papel de pai não é algo culturalmente treinado pelos homens, que brincar de "casinha" parece algo mais estimulado nas meninas. O envolvimento nos cuidados do bebê pode ser uma oportunidade relevante ao pai para o desenvolvimento e manutenção de vínculos (Matos et al., 2017), auxiliando na saúde emocional da criança (Caron, 2000).

É importante mencionar que a gestação biológica ou emocional de um filho engloba expectativas e emoções que são igualmente relevantes para a consolidação e manutenção de um vínculo saudável, que corresponda a uma futura segurança afetiva na vida adulta (Caron, 2000).

 

A RELAÇÃO MÃE E BEBÊ: UMA CONSTRUÇÃO

Desde o nascimento e ao longo de toda a nossa vida, desempenhamos diversos papéis, que estão diretamente ligados a quem nós somos e às funções que exercemos, tudo relacionado ao nosso "eu". Sendo assim, a nossa personalidade é o resultado dos vínculos que estabelecemos ao longo da vida e do conjunto de papéis que desempenhamos (Nery, 2014).

O bebê sempre buscará reconhecer em alguém um cuidador, alguém que reconheça e lhe satisfaça as necessidades, formando uma unidade. Nesse sentido, o bebê depende totalmente da mãe para realizar sua integração no todo. É partindo do toque, ao segurar o bebê, do contato de pele, que o bebê irá registrar as sensações corporais e irá estabelecer a noção de limite e diferenciação, permitindo-lhe existir e se separar da mãe de forma lenta ao longo de seu desenvolvimento (Milanello, 2005).

A presença contínua da mãe dará segurança ao bebê. Propiciará uma memória de presença, um sentido do real e do mundo subjetivo. . . . O bebê precisa da presença concreta da mãe para preservar sua continuidade de ser, manter sua criatividade e a vida do mundo subjetivo. . . . A presença da mãe é fundamental para que o amadurecimento ocorra e são as experiências que permitirão ao bebê ter memórias é, portanto, o que define o início do ser humano (p. 57).

Dessa forma, entende-se que o desenvolvimento humano de um bebê sofre muitas influências. Como afirma Caron (2000), elas estão presentes desde a ideia de se ter um filho e da história passada dos pais, os seus desejos, as suas fantasias e o lugar destinado a esse bebê na vida de ambos.

Além disso, é importante saber que as experiências dos primeiros anos de vida de uma criança, sejam elas boas ou ruins, são a base e o fundamento para a articulação do cérebro, que possui bilhões de neurônios e trilhões de sinapses, o que faz com que esse período da existência seja tanto uma oportunidade de proporcionar um desenvolvimento emocional saudável como também um fator de risco, podendo afetar o desenvolvimento emocional e os processos de aprendizagem (Maldonado, 2013).

Segundo Maldonado (2013), a qualidade do ambiente em que a criança está inserida, incluindo os primeiros anos de vida, os relacionamentos que se constroem entre a criança, sua família e cuidadores, irão produzir impactos significativos para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional da criança. Continuando com o mesmo autor, percebe-se que o desenvolvimento da criança se dá a partir de uma rede de relações, que, quando acontecem de forma saudável, constituem vínculos seguros e que vão contribuir para o desenvolvimento de diversas competências da criança, como a boa autoestima, o prazer em aprender, a facilidade da compreensão das emoções e sentimentos, a empatia. Resumindo, esses relacionamentos contribuem para que a criança tenha a capacidade de se relacionar bem com as outras pessoas ao longo de sua vida.

Para Moreno (2015), o pai do psicodrama, o bebê ao nascer, e nos primeiros meses de vida, não consegue reconhecer as coisas como sendo individuais e separadas umas das outras; para ele tudo está interligado. Assim, esse período é denominado como fase de indiferenciação ou duplo, em que ocorre a dependência total do bebê em relação à mãe, que se constitui em seu primeiro ego auxiliar, sendo a mediadora entre a criança e o mundo que a cerca. Dessa forma, todos os comportamentos do bebê, que nessa fase são instintivos, serão organizados na troca de experiência com esse ego auxiliar. A mãe, então, funciona como um apoio vital para que tanto as necessidades corporais como as psicológicas do bebê sejam satisfeitas (Milanello, 2005).

Ainda segundo Moreno (2015), durante a primeira fase da matriz de identidade, o bebê não faz distinção entre pessoas e objetos, não os vendo como coisas separadas, mas como unidades que se fundem. A mãe passa a ser vista apenas como uma extensão do seu próprio corpo, uma extensão de suas próprias ações. Para Moreno (2015), "a primeira fase consiste em que a outra pessoa é, formalmente, uma parte da criança, isto é, a completa e espontânea identidade" (p.112). Sendo assim, compreende-se que a criança, nesse primeiro momento, é altamente dependente da mãe, e é nessa relação e a partir dela que a criança se constitui enquanto pessoa.

Para ampliar essa compreensão, torna-se importante delimitar a sistematização das fases da matriz de identidade realizada por Fonseca (1980), tendo em vista os dois universos propostos por Moreno (2015), detalhando-a em dez etapas:

1.  Indiferenciação: o indivíduo ainda não separa o eu do tu, confunde suas coisas com as do mundo que o rodeia, considerando sua mãe como extensão de si mesmo. Nessa fase, o indivíduo necessita de alguém que cuide dele, com uma função de ego-auxiliar, como duplo.

2.  Simbiose: o indivíduo começa a identificar o outro, mas não completamente, havendo assim uma forte ligação entre a mãe e a criança. A continuidade dessa ligação influenciará muito na personalidade do futuro adulto e em seu modo de ser no mundo.

3.  Reconhecimento do eu: nessa etapa, o indivíduo descobre sua própria identidade, percebe-se separado da mãe, das demais pessoas e dos objetos. Corresponde à técnica do espelho psicodramático, que propõe o auxílio para que o protagonista possa se ver por meio do desempenho de seu papel pelo ego-auxiliar.

4.  Reconhecimento do tu: o indivíduo, nessa etapa, está no processo de perceber o outro e de estabelecer contato com o mundo. A criança mantém-se dirigida ao tu, percebendo o que o outro sente e como este reage em relação às suas ações.

5.  Relações em corredor: aqui, ocorre a brecha entre a fantasia e a realidade. O indivíduo diferencia a fantasia da realidade e separa o eu do resto do mundo.

6.  Pré-inversão: nessa etapa, inicia-se o processo de inversão de papéis, em que é possível jogar com o seu papel no mundo, fazendo de conta que é outra pessoa ou animal e, posteriormente, jogando com o papel do outro, embora ainda não suporte ver o tu em seu lugar.

7.  Triangulação: a criança compreende que não é a única para o seu tu, que há um ele em relação com o seu tu. Nessa etapa, é primordial que os demais membros dessa relação ajudem a criança a aceitar a realidade de que os outros têm relacionamentos independentemente dela e que isso não se constitui em uma ameaça de perder o afeto do seu tu.

8.  Circularização: aqui, a criança inicia o processo de socialização, que representará uma relevante experiência para que seus futuros relacionamentos sociais sejam satisfatórios.

9.  Inversão de papéis: nessa fase, a criança já consegue inverter papéis, colocar-se no lugar do outro, permitindo que esse outro se coloque em seu lugar. Assim, adquire um melhor conhecimento da realidade de outras pessoas e da sua. Dessa etapa, decorre o processo de desenvolvimento do fator tele, que sustentará a qualidade das relações do indivíduo no mundo.

10. Encontro: a culminância dessa etapa consiste na capacidade para estabelecer relações télicas. As pessoas que alcançam essa etapa mantêm-se firmadas e revigoradas em suas próprias identidades.

Considerando as fases da matriz, para o psicodrama, a saúde psíquica engloba o jogo de papéis, a capacidade de jogar e inverter diversos números de papéis. Portanto, o desenvolvimento do primeiro papel da criança, o papel de filho, engloba seus contrapapéis: pai e mãe. A capacidade da criança de estabelecer vínculos, jogar e inverter papéis depende necessariamente daqueles que foram seus primeiros cuidadores, de modo que as dificuldades que a criança terá nessas áreas serão, na maior parte das vezes, compatíveis com as dificuldades dos seus pais, tendo em vista o cacho de papéis (Carvalho & Limaverde, 1994).

Assim, considerando a relevância do vínculo mãe-bebê, essa pesquisa se propõe a responder: qual a relevância do vínculo mãe-bebê para o desenvolvimento da criança na perspectiva de mães e gestantes?

 

METODOLOGIA

TIPO DE PESQUISA

Esta pesquisa se configura como pesquisa de caráter qualitativo do tipo exploratória. Segundo Minayo (2008), a pesquisa qualitativa tem por finalidade responder a questões particulares, preocupando-se com um nível de realidade não quantificável. Trabalha mais dentro das ciências sociais, buscando motivos, aspirações, atitudes, valores e crenças, aprofundando- se no universo dos significados, das ações, das relações e em um nível de realidade que não pode ser observado e captado por equações, medidas e estatísticas, pois não são quantificáveis (Minayo, 2008).

Já o estudo exploratório busca proporcionar maior familiaridade com o problema (explicitá-lo). Pode desenvolver levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes no problema pesquisado. Geralmente, assume a forma de pesquisa bibliográfica e estudo de caso (Gil, 2002). No caso da pesquisa proposta, permite investigar os aspectos que estão associados à relação estabelecida entre a mãe e o bebê.

 

PARTICIPANTES

Os sujeitos-alvo desta pesquisa foram quatro mulheres, duas em período gestacional e duas mães com filhos que se encontram na idade entre 7 e 10 anos. A escolha das participantes deu-se pelo fato de que elas estão vivenciando e/ou vivenciaram a maternidade, tendo implicações pessoais com o tema abordado por esta pesquisa, permitindo que os objetivos fossem cumpridos.

Critérios de inclusão: duas participantes estão no último trimestre de gestação, já tendo então pensado a respeito do seu papel de mãe; todas as participantes têm mais de 18 anos de idade e estão na primeira experiência de gestação ou possuem um único filho, a fim de que a entrevista não fosse enviesada pela vivência anterior no papel de mãe. Duas participantes têm um filho cada, entre 7 e 10 anos, período em que já ocorreu a estruturação da personalidade da criança para a maioria das abordagens psicológicas.

Critérios de exclusão: ser menor de 18 anos, ter mais de um filho, apresentar déficit cognitivo que impeça a compreensão da entrevista, não ter participado da educação do filho.

 

PROCEDIMENTOS

Inicialmente, foram selecionadas as mulheres participantes da pesquisa. Posteriormente, foi feito o contato com essas mulheres delimitando datas e horários de encontros. As participantes foram escolhidas a partir da metodologia bola de neve, que consiste em:

Uma forma de amostra não probabilística, que utiliza cadeias de referência. . . . utilizada principalmente para fins exploratórios, usualmente com três objetivos: desejo de melhor compreensão sobre um tema, testar a viabilidade de realização de um estudo mais amplo, e desenvolver os métodos a serem empregados em todos os estudos ou fases subsequentes (Vinuto, 2014, p. 205).

Assim, a primeira participante foi da rede social da pesquisadora e as demais indicadas pelas próprias participantes. Em etapa seguinte, foram realizadas entrevistas no papel de forma individual semiestruturada. Portanto, foram utilizadas técnicas do psicodrama para que as mães estabelecessem uma conversa imaginária com um filho no futuro, já adulto, bem como com o filho atual e também uma conversa com sua mãe no passado. Assim, foram convidadas a pensar em como o filho estará no futuro e qual foi a importância do vínculo para esse futuro. Além disso, também foram convidadas a refletir sobre as semelhanças e diferenças entre o seu papel de mãe e o papel de mãe desempenhado por sua genitora. Também foram aplicados questionários com tópicos relacionados ao tema abordado.

As entrevistas iniciaram com um aquecimento inespecífico com as seguintes consignas:

Feche os olhos, respire profundamente, preste atenção nos barulhos externos, carros passando, pessoas falando. Deixe virem os sons. O som dos pássaros, das crianças lá fora. Ouça agora o seu corpo, os barulhos da sua respiração, as batidas do seu coração.

Posteriormente, deu-se início ao aquecimento específico, e logo após a técnica do psicodrama interno em si, com as consignas a seguir: 

Agora, ainda com os olhos fechados, vou pedir que você entre em contato com o seu filho, sinta-o no seu colo (nesse momento, foi entregue às entrevistadas uma almofada enrolada em um cobertor de bebê, com um cheirinho que lembra o assunto em questão; uma canção de ninar também foi introduzida), sinta-o no seu colo, o cheirinho que ele tem, sinta a alegria de tê-lo com você, perceba como você se sente segurando esse ser pequeno e frágil, e sinta seu coração, o que ele te diz nesse momento, vá embalando o seu bebê e, enquanto o embala, você lembra de ter sido embalada também. O colo quentinho, seguro, o medo vai embora, dá um soninho. Como é ser filha da minha mãe? Como esse colinho é para mim? Como eu me sinto quando sou embalada? Será que eu fui embalada? Será que fui cuidada? Agora, de olhos fechados, gostaria que você imaginasse que está num campo de trigo e que, do outro lado, sua mãe se aproxima, sinta como seu coração reage à aproximação deste ser. Ela vai ficando perto, cada vez mais perto, até que vocês estão bem próximas. Gostaria agora que, de olhos fechados, você falasse para sua mãe, em voz alta, como é ser filha dela. Como foi esse colo? Do que eu sinto falta? (Nesse momento foi oportunizado um tempo para as entrevistadas falarem.) Qual a importância da relação com sua mãe, essa figura que está na sua frente? (nesse momento foi oportunizado um tempo para as entrevistadas falarem.) Agora, se despedindo dela, como você quiser, você continua caminhando por esse campo de trigo. Vai caminhando e, de repente, você vê um berço. Vai se aproximando, você sabe que lá está alguém que você ama muito e por quem você tem esperado tanto... E você vê aquele rostinho, aquele sorriso gostoso, sem dentes, aquele cheirinho que te convida a pegá-lo no colo. E, assim, você continua embalando ele, ao mesmo tempo que se embala. Agora, de olhos fechados e em voz alta, fale para o seu filho o que você está sentindo. O que você sente por ele e como é ser mãe dele. (Nesse momento, foi oportunizado um tempo para as entrevistadas falarem.) Filho querido, como sua mãe é minha responsabilidade. (Nesse momento, foi oportunizado um tempo para as entrevistadas falarem.) Agora, coloque-o no berço, despeça-se dele, ele sabe que vais voltar. É só um "até breve". Continue caminhando pelo campo de trigo... Olhe as folhagens, o céu azul. Perceba que lá adiante vem um jovem. Um jovem de 21 anos. Ao se aproximar, você percebe aquele sorriso inconfundível, o mesmo sorriso do berço... É seu filho querido, grande, forte, preparado para a vida... Permaneça de olhos fechados, agora, gostaria que você falasse para esse jovem como foi ser mãe dele. Ele te deu trabalho? Era muito festeiro? Estudou? Como você imagina que você o auxiliou nesse caminho? (Nesse momento, foi oportunizado um tempo para as entrevistadas falarem.) Despeça-se dele como quiser, daqui a alguns anos vocês vão se reencontrar. Enquanto isso, haverá muitos brinquedos pela casa, muitos choros e risos também... É só um até logo. Vá caminhando pelo campo, sentindo-se completa, plena, preenchida. Ouça os barulhos do mundo externo, carros passando, pessoas falando, o som dos pássaros, das crianças lá fora. Ouça agora o seu corpo, os barulhos da sua respiração, as batidas do seu coração. E, quando estiver pronta, abra os olhos.

 

Após a realização da técnica a pesquisadora questionou como as entrevistadas estavam se sentindo, oportunizando um momento para se expressarem, visto que a técnica poderia mexer com emoções importantes para elas. Depois, deu-se início aos questionários com as perguntas abaixo:

11. Na sua opinião, qual o papel da mãe na criação dos filhos?

12. Para você, qual a influência de uma mãe no desenvolvimento de seus filhos?

13. Você acha que os sentimentos que a mãe tem na gestação afetam o filho de alguma forma?

14. Na sua opinião, em que momento se forma o vínculo entre mãe e filho? Por quê?

15. Quais os benefícios e malefícios que o vínculo mãe-bebê pode acarretar para o desenvolvimento da criança?

 

Posteriormente, na análise de dados, os dados obtidos foram submetidos a uma classificação hierárquica descendente (CHD) com auxílio do software IRaMuTeQ 0.7 alpha 2, que, de acordo com Camargo e Justo (2013), visa obter classes de segmentos de texto (ST) que, ao mesmo tempo, apresentam vocabulário semelhante entre si e vocabulário diferente dos ST das outras classes. A CHD fornece os contextos textuais que se caracterizam pelo seu vocabulário, e também ST que compartilham esse vocabulário. O corpus de análise foi formado por textos que corresponderam às respostas dos participantes. Inicialmente, o software reconhece os textos e, na análise standart, o programa os separa em ST, que constituem o ambiente de enunciação da palavra, dando origem à unidade sobre a qual são feitos os cálculos estatísticos (Camargo & Justo, 2013).

 

ASPECTOS ÉTICOS

Para atender às normas da Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS 466/2012), sobre pesquisas envolvendo seres humanos, foi solicitado o parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Extremo Sul Catarinense. Após a aprovação, foi estabelecido o contato inicial com as participantes que atendem aos critérios de inclusão propostos pela pesquisa.

Quanto aos riscos e benefícios do estudo, esta pesquisa não envolveu riscos de natureza física. Porém, pelo caráter interacional da coleta de dados poderia incorrer em possíveis desconfortos que se restringem a problemas de comunicação. Entretanto, as participantes tiveram a liberdade de se recusarem a participar ou de retirarem seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem implicação de ônus ou bônus. Os benefícios do estudo são visualizados no sentido de fornecer maiores dados a respeito do tema e possíveis esclarecimentos para todos os envolvidos na pesquisa, contribuindo, dessa forma, para a compreensão da relevância do vínculo entre mãe e bebê.

As participantes não foram identificadas em nenhum momento do estudo, sendo informadas sobre a pesquisa e sobre seus procedimentos, considerando a participação facultativa. Todas as participantes que aceitaram participar do estudo assinaram, juntamente com a pesquisadora, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, composto por duas vias.

Antes de encerrar a coleta de dados, foi realizada uma pergunta de dessensibilização, em que a participante foi convidada a falar sobre como foi a experiência da entrevista. Porém, visto que algumas perguntas podem abordar questões pessoais e gerar algum desconforto, as participantes poderão ser encaminhadas para o Serviço de Atendimento Psicológico da região.

A pesquisadora, ao final da aplicação, esclareceu as dúvidas remanescentes em relação aos objetivos da pesquisa, assegurando futura devolutiva acerca dos resultados obtidos.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A média de idade das participantes foi de 29,5 anos. A escolaridade variou de ensino médio completo a ensino superior incompleto. Os salários variaram de um salário mínimo e meio até cinco salários mínimos. Apenas uma participante planejou a gestação, duas delas são gestantes e duas são mães.

As entrevistas semiestruturadas e os dados obtidos com a técnica de psicodrama interno foram transcritos em um único corpus. Este corpus foi submetido a uma CHD simples, com o auxílio do programa informático IRaMuTeQ versão 0.7. O programa IRaMuTeQ reconheceu a separação do corpus em quatro textos ou comentários. A CHD reteve os quatro textos e os separou em 126 segmentos de texto, que foram selecionados por apresentarem frequência mínima de 3,0 por palavra e qui-quadrado mínimo de 3,84. O software dividiu o corpus em seis classes, conforme indica a Fig. 1.

 

 

Em um primeiro momento (1ª partição), o corpus foi separado em dois subcorpus (de um lado, um conjunto formado pelas futuras classes 3 e 4 e, de outro, pelas classes 1, 6, 5 e 2). Uma 2ª partição separou a classe 1 das classes 6, 5 e 2; posteriormente, em uma 3ª partição, a classe 6 se separou das classes 5 e 2, e uma 4ª partição separou as classes 5 e 2.

A classe 3 denominada "Como me imagino como mãe" constitui-se por 12,75% dos segmentos de texto, representada majoritariamente pelas participantes mais jovens. Essa classe traz a perspectiva de como serão como mães, quais qualidades imaginam que desenvolverão e como serão reconhecidas por seus filhos no futuro. Nesse contexto, imaginam-se como aquelas que cuidam, protegem, educam e auxiliam nas dificuldades e que constituem-se como exemplos para que os filhos se guiem. O trecho abaixo exemplifica o exposto:

A mãe tem total influência no desenvolvimento. Acredito que cada um nasce com uma personalidade praticamente "formada". Porém, com bons exemplos, comunicação e uma boa criação, a "essência da pessoa pode ser melhorada ou piorada", de acordo com o que vivencia. A vida na infância reflete muito na vida quando adulto (L.C.G., 21 anos, ensino superior incompleto, evangélica, gestante, renda de um salário mínimo e meio).

Percebe-se que, nessa classe, a maioria foi mãe na juventude ou na adolescência. A gravidez na juventude e na adolescência é um fator de desajuste emocional, na medida em que implica na vivência concomitante de fenômenos importantes do desenvolvimento: o ser adolescente, a preparação para a vida adulta e o ser mãe (Levandowski, Piccinini & Lopes, 2008). No período da juventude e preparação para a vida adulta, o indivíduo precisa voltar ao reconhecimento do eu para o desenvolvimento do novo papel. Por isso, torna-se relevante o apoio social.

Há a percepção de que o bebê corresponde ao humor da mãe e aos seus desejos, e, apesar de não haver detalhes sobre como isso ocorre, é possível observar, através das expressões, a sua existência (Spitz, 2000). Entretanto, pode ocorrer a percepção da influência materna apenas após a gestação, pois o nascimento de uma mãe nem sempre se desenvolve a partir do parto, e sim passa por outras fases processuais, que englobam as expectativas sobre esse papel (Azevedo, 2017). Desse modo, durante a gestação, a mulher pode ainda estar elaborando o papel de mãe.

A classe 4, intitulada como "Papel de mãe" apresenta 14,71% do total de segmentos de texto, representada principalmente pelas mulheres que não planejaram a gravidez. Seus textos apresentam que o papel de mãe estaria vinculado ao ato de cuidar, proteger, amar, ensinar e educar. A mãe é descrita como a apoiadora, aquela que deve sempre estar presente, sendo um dos papéis descritos como mais importante e também maravilhoso. A palavra "presente" surge no contexto de estar sempre presente, no caso a mãe, e de que o filho constituiria um presente em suas vidas. O cuidado e a proteção para essas mulheres devem ser devidamente dosados, para que a criança se mantenha humilde. O segmento de texto que se segue exemplifica esta classe: "uma mãe influencia em tudo, tem que ensinar o certo, ensinar a não mentir, respeitar as pessoas e ser bem educado" (J. A., 35 anos, ensino médio completo, católica, mãe, renda de cinco salários mínimos).

Nesse sentido, Milanello (2005) ressalta que, ao se falar sobre bebê, sempre se tem associado a ele o seu cuidador, formando uma unidade. Dessa forma, o bebê depende totalmente de sua mãe, e esta, através do toque, de segurar o bebê no colo, o contato pele a pele, fará com que o bebê comece a ter percepção de algumas coisas, permitindo a ele existir, separar-se da mãe e se desenvolver.

O mesmo autor ainda salienta que a presença da mãe se constitui como segurança para o bebê. Essa presença é necessária para o amadurecimento, pois são as experiências decorrentes da troca entre a mãe e o bebê que permitirão ter memórias, o que define o início do ser humano (Milanello, 2005). Além disso, manter vínculos que sejam estáveis e também que possam nutrir afetivamente a criança desde a gestação, abrangendo os primeiros anos de vida, e também a estimulação adequada da aprendizagem, é que irão oferecer benefícios para a formação do sujeito (Maldonado, 2013).

Entretanto, é preciso considerar que o reconhecimento do eu, associado ao desenvolvimento do cluster 1 pode ser exercido tanto pela mãe quanto pelo pai. A teoria dos clusters, que se refere a um agrupamento de papéis com dinâmica parecida. Os papéis não representados de determinado cacho liberam a espontaneidade para os papéis desse cacho que são desempenhados, seria o efeito cacho. O primeiro cluster está relacionado ao papel complementar materno, ou seja, papéis relacionados às funções de dependência e incorporação (Bustos, 1990).  De acordo com Bustos (1990), saber dar, aceitar receber cuidado e conviver com momentos de vulnerabilidade se relacionam às experiências vividas no cluster 1. Porém, (Bustos, 1990) "se a ternura não é acompanhada por uma aprendizagem dos limites, das regras e da autonomia, pode converter-se em uma prisão que gera relações de máxima dependência" (p. 118).

Em relação à participação na criação dos filhos, os pais têm se mostrado mais participativos, e a mulher tem galgado mais atribuições no mercado de trabalho. Entretanto, a maternidade permanece tendo a visibilidade de que deve ser algo digno de satisfação e de amor incondicional. Cabendo à mulher, em sua maioria, ter o cuidado e decidir o que se faz em relação à educação e à saúde da criança, o que a faz ser a primeira que leva a culpa se algo não acontece como esperado (Azevedo, 2017).

A classe 1 denominada "Formação do vínculo na gestação", com 19,61% dos segmentos de texto, traz a questão de que os vínculos se formam desde a gestação e que sentimentos e emoções vividas pela gestante podem afetar a criança. Aqui, as palavras "sentir", "sentimentos", "passar", "acontecer" e "afetar" dão ideia de que há uma relação direta entre as reações emocionais da gestante e a formação do vínculo futuro entre mãe e bebê. Além disso, há ideia de que essas reações emocionais durante a gestação poderiam afetar na formação da personalidade da criança. Um exemplo de fala que contempla essa classe é:

Eu acho que isso tudo passa para a criança e deixa essa marquinha e que pode depois acarretar em certos tipos de atitudes que ele vai ter quando ele ficar maiorzinho, quando ele perceber, e quando ele também parar pra analisar e ter que tomar alguma decisão, o porque vai ficar indeciso, ou porque que não tomou a atitude certa, talvez vai se culpar e nem é ele o culpado (A. E., 38 anos, ensino médio completo, evangélica, gestante, renda de três salários mínimos).

Como relata Maldonado (2013), a gestação é o que dará base e alicerce para uma boa saúde e bem estar do bebê que se encontra em formação, pois é nesse momento que o desenvolvimento do cérebro do bebê acontece de forma acentuada, além de muitos outros processos essenciais para uma saúde de qualidade.

Dessa forma, entende-se que todo o desenvolvimento humano irá sofrer influências físicas, emocionais e psicológicas desde o momento de sua concepção até o final de sua vida. De acordo com Caron (2000), as influências ambientais estão presentes desde a concepção do feto, e acontecem através da história de vida dos pais, dos seus desejos antes, durante a após a gestação, as suas fantasias, os seus conflitos e também o lugar destinado a esse bebê na vida de ambos.

Segundo Figueiredo et al. (2002), os comportamentos que ocorrem logo após o nascimento da criança, como o momento em que a mãe vê e pega o bebê pela primeira vez, constituem-se em indícios da interação e da relação entre mãe e bebê que começa a acontecer, mas que já é um reflexo da relação que ambos experimentaram na gestação. Pois, como comenta Milanello (2005), o período gestacional tem, além da função de desenvolvimento do feto, também a função de desenvolver um estado de identificação que também desenvolva a capacidade de compreender e saber as necessidades do bebê, ou seja, tem a função de preparar a mãe para o papel que irá desempenhar.

A classe 6, nomeada "Começa em casa", apresenta 13,73% dos segmentos de texto. Trata do entendimento que as participantes apresentam de que o clima dentro da casa afeta no desenvolvimento da criança. Um clima descontraído, com afeto e risadas é descrito como ideal. Nesse sentido, estar junto surge como algo primordial para a segurança afetiva, para que se passe pelos momentos bons e ruins. Além disso, apresenta a questão do sentir, no aspecto da criança sentir-se bem e das mães sentirem-se responsáveis por esse bem estar. Em seguida, será apresentado um trecho que exemplifica essa classe:

Eu creio que um clima bom dentro de casa, alguém que tá ali junto com a gente, que tá sendo, querendo ou não a gente já é mãe antes mesmo de nascer, então a gente já tem todo o sentimento, toda uma mudança e eu acredito que influencia muito o clima da casa, as risadas, o que tu tá vivendo, se tá bom ou tá ruim (A. E., 38 anos, ensino médio completo, evangélica, gestante, renda de três salários mínimos).

A qualidade do ambiente em que a criança está inserida, o clima desse ambiente, desde a gestação, abrangendo os primeiros anos de vida da criança, e também os relacionamentos construidos entre a criança, sua família e cuidadores, irão produzir impactos de forma significativa para o desenvolvimento infantil da criança, tanto na cognição quanto emocional e socialmente. Além disso, o desenvolvimento da criança acontece a partir da rede de relações que ela desenvolve, sendo que, quando estas acontecem de forma saudável, constituem vínculos seguros, contribuindo para o desenvolvimento das competências da criança, desenvolvendo uma boa autoestima, o prazer pelo aprendizado, a facilidade da compreensão das emoções e dos sentimentos e a empatia (Maldonado, 2013).

A família compõe a "Matriz de Identidade", correspondendo à (Moreno, 2015) "placenta social da criança, o locus onde ela se prende e onde desempenha seus primeiros papéis e estabelece as primeiras relações vinculares" (p.114). Assim, a criança, ao nascer, entra em um conjunto formado inicialmente por sua família, que apresenta as condições iniciais para o desenvolvimento, propiciando a constituição de expectativas em relação ao papel que ela desempenha e que virá a desempenhar, espelhando-se nos papéis com os quais se vinculou ou realizando os feitos em que os adultos fracassaram (Moreno, 2015).

A classe 5, denominada "Erros na maternidade" comporta 21,57% dos segmentos de texto. Nesta classe, as participantes relatam os erros que podem ocorrer durante a experiência de ser mãe e que podem influenciar no desenvolvimento da criança. Um dos erros mencionados seriam os desentendimentos no casamento; outro erro seria as imposições feitas para a criança, que lhe afetariam o desenvolvimento espontâneo e a possibilidade de escolhas. Além disso, há participantes que destacam a importância do exemplo fornecido pelos pais e enfatizam o equívoco dos pais em compararem seus filhos, o que incidiria em problemas com autoestima. O segmento de texto que segue ilustra essa classe: "tu vai querer impor aquilo que tu acha certo, às vezes deixando de lado até a personalidade da criança e querendo que a criança pense igual a ti" (A. E., 38 anos, ensino médio completo, evangélica, gestante, renda de três salários mínimos).

O bebê, ao nascer, não se reconhece como um ser nem consegue ver a coisas como individuais e separadas, mas como uma extensão da mãe; é a fase denominada de indiferenciação ou duplo (Fonseca, 1980). Nessa fase, a criança depende totalmente da mãe, que se constitui no primeiro ego-auxiliar. Assim, a mãe funciona como apoio para as necessidades corporais e psicológicas do bebê, o que faz com que as primeiras experiências do bebê sejam regidas por aquilo que a mãe faz, e por isso os medos e incerteza das mães, frente aos erros que podem cometer (Millanello, 2005).

Na maternidade amplia-se o mito de que existe um devotamento materno, um amor incondicional que a faria uma mãe excelente, não autorizada a se sentir cansada ou insatisfeita com esse papel. Essa representação, embora esteja se modificando ao longo dos tempos, ainda é presente na sociedade. Pode-se dizer portanto, que a maternidade nem sempre nasce naturalmente para a mulher (Millanello, 2005).  O nascimento de uma mãe nem sempre se desenvolve a partir do parto, e sim passa por outras fases processuais, em que se é construído o papel de mãe, conforme a história de cada mulher, algumas vezes, a partir de uma cobrança social (Badinter, 1985).

A classe 2, denomida "Impacto materno" traz 17,65% dos segmentos de texto. Nesta classe, o toque materno é caracterizado como um tipo de vinculação que deixa marcas afetivas. Além disso, à mãe é atribuído o impacto na vida espiritual do filho e na forma como este vai se desenvolver moralmente. O reconhecimento da mãe como um ser de impacto na vida do filho se dá, conforme as participantes, ainda no início da vida, mediante o contato com o som da voz, toques, cheiros. Exemplo:

 "eu acho que o som da voz da gente, o toque, eu acho que mesmo enquanto não abriu os olhinhos, o cheiro, o toque, ele vai saber que aquela ali é a mãe, que aquela ali é a pessoa responsável, e ele vai procurar isso (A. E., 38 anos, ensino médio completo, evangélica, gestante, renda de três salários mínimos).

Nesse sentido, a participante parece apresentar a compreensão de que a mãe não possui apenas uma função "instintiva", é atribuído a ela também o dever de formar, um bom cidadão, um bom/boa homem/mulher. Nesse sentido, a mãe é vista então como uma mentora, por excelência, aquela que é a primeira e a mais necessária educadora, assumindo cada vez mais responsabilidades pela felicidade e infelicidade dos filhos (Badinter, 1985).

Também é importante salientar que o bebê necessita do contato físico, do toque afetivo dessa mãe, para que ele possa se desenvolver de forma saudável. Sendo assim, os estímulos dirigidos ao bebê devem ser carregados de amor, carinho e comunicação, pois o sucesso do desenvolvimento da criança depende da qualidade dos estímulos que são dirigidos a ela nos seus primeiros anos de vida (Oliveira, Siqueira & Zandonadi, 2017).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pretendeu-se, a partir deste trabalho, entender a perspectiva as mães e gestantes possuem acerca da importância que tem o vínculo entre a mãe e o bebê para o desenvolvimento infantil e, para isso, objetivou-se caracterizar o papel de mãe para as participantes, identificar como elas percebem a sua influência no desenvolvimento dos filhos e também compreender a percepção que essas mães e gestantes possuem acerca dos benefícios e malefícios que o vínculo entre mãe e bebê pode acarretar para o desenvolvimento da criança.

Diante disso, foi possível perceber que as participantes entendem o papel de mãe como o papel de cuidar, proteger, dar apoio, educar, amar e auxiliar nas necessidades dos filhos, além de compreenderem que se constituem como exemplo para que eles se guiem. Foi possível identificar também que, na perspectiva das participantes, há uma relação entre as reações emocionais que as mães sentem na gestação e a formação do vínculo futuro entre mãe e bebê. Além disso, também há a ideia de que essas reações emocionais durante a gestação afetam de forma significativa o feto, bem como o desenvolvimento de sua personalidade.

Não houve dificuldades significativas na realização da pesquisa, e percebeu-se diante de sua realização que as mães e gestantes apresentam a perspectiva de que possuem um papel imprescindível para o desenvolvimento da criança e isso também é indiscutível aos autores de referência. No entanto, percebe-se a ausência de considerações a respeito do pai da criança e o papel que ele ocupa e desempenha nesse contexto. Sendo assim, sugere-se a realização de pesquisas direcionadas a tal temática.

Dentro das intervenções e ações que podem ser desenvolvidas diante dos resultados obtidos, foi possível identificar que podem ser realizados trabalhos com mães, gestantes e pais, construindo com eles o papel de ambos no contexto da maternidade/paternidade, bem como desenvolver trabalhos de apoio e suporte para as mães, visto que a percepção de maternidade que elas possuem lhes dá um senso de responsabilidade muito grande na criação e desenvolvimento dos filhos.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Conceituação, Forlin K.  A. e Castro A.; Metodologia, Forlin K.  A. e Castro A.; Investigação, Forlin K.  A; Escrita – Primeira Redação, Forlin K.  A. e Castro A.; Escrita – Revisão e Edição, Alberton N. V. e Fernandes F. S..; Supervisão, Alberton N. V. e Fernandes F. S.

 

REFERÊNCIAS

Azevedo, R. (2017). Amo meu filho, mas odeio ser mãe: Reflexões sobre a ambivalência na maternidade contemporânea. (Monografia de Especialização, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre). Retirado de: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/ handle/10183/163940/001025591.pdf?sequence=1        [ Links ]

Badinter, E. (1985). Um amor conquistado: o mito do amor materno (4a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira.         [ Links ]

Brum, E. H. M. D., & Schermann, L. (2004). Vínculos iniciais e desenvolvimento infantil: abordagem teórica em situação de nascimento de risco. Ciência & saúde coletiva, 9(2), 457-467. https://doi.org/10.1590/S1413-81232004000200021        [ Links ]

Bustos, D. M. (1990). Perigo... Amor a vista! Drama e psicodrama de casais. São Paulo, SP: Aleph.         [ Links ]

Camargo, B. V., & Justo, A. M. (2015). IRAMUTEQ: um software gratuito para análise de dados textuais. Temas em Psicologia, 21(2), 513-518. https://doi.org/10.9788/TP2013.2-16        [ Links ]

Caron, N. A. (2000). O ambiente intra-uterino e a relação materno fetal. In N. A. Caron, A relação pais e bebê: da observação à clínica (pp. 119-134). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Carvalho, L. A., & Limaverde, M. N. L. A. (1994). Psicodrama infantil: estratégias e correlações com a criança e a família. Revista. Brasileira de Psicodrama, 11(1), 77-88.         [ Links ]

Figueiredo, B., Costa, R., & Pacheco, A. (2002). Experiência de parto: alguns fatores e consequências associadas. Análise

Psicológica, 20(2), 203-217. Retirado de: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0870-82312002000200002 Fonseca Filho, J. S. (1980). Psicodrama da Loucura: correlações entre Buber e Moreno. São Paulo, SP: Ágora.         [ Links ]

Fontana, P. S. M., Jerônimo, R. N. T., Santos, C. M. S., & Nuernberg, D. (2014). Gestar e dar à luz, ser mãe e desabrochar: momentos inesquecíveis na vida das primíparas. In R. N. T. Jerônimo (Org.), Mulher e maternidade: silêncios revelados na escuta da psicologia (pp. 23-57). Tubarão, SC: Copiart, 2014.         [ Links ]

Gil, A. C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa (4a ed.). São Paulo, SP: Atlas.         [ Links ]

Levandowski, D. C., Piccinini, C. A., & Lopes, R. C. S. (2008). Maternidade adolescente. Estudos de Psicologia (Campinas), 25(2), 251-263 https://doi.org/10.1590/S0103-166X2008000200010        [ Links ]

Machado, E. D. G. C. (1998). Gestação, parto e maternidade: uma visão holística. Belo Horizonte: Aurora.         [ Links ]

Maldonado, M. T. P. (2013). Psicologia da gravidez, parto e puerpério. Petrópolis, RJ: Jaguatirica.         [ Links ]

Matos, M. G., & Seixas, A. M., Féres-Carneiro, T., & Nonato Machado, R. (2017). Construindo o vínculo pai-bebê: a experiência dos pais. Psico-USF, 22(2), 261-271. https://doi.org/101590/1413-2712017220206        [ Links ]

Milanello, M. (2005). Moreno e Winnicott: aproximações (Dissertação de mestrado, Pontifica Universidade Católica de São

Paulo, São Paulo, SP). Retirado de: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/15940

Minayo, M. C. S. (2008). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde (11a ed.). São Paulo, SP: Hucitec.         [ Links ]

Moreno, J. L. (2015). Psicodrama (11a ed.). São Paulo, SP: Cultrix.         [ Links ]

Nery, M. P. (2014). Vínculo e Afetividade. São Paulo, SP: Ágora.         [ Links ]

Oliveira, M. E., Siqueira, A. C., & Zandonadi, A. C. (2017). A importância do afeto materno através do toque para o desenvolvimento saudável da criança. Revista Farol, 3(3), 97-110. Retirado de: http://www.revistafarol.com.br/index.php/farol/article/view/46/71 Spitz,         [ Links ] R. A. (2000). O primeiro ano de vida (2a ed.). São Paulo, SP: Martins Fontes.         [ Links ]

Vinuto, J. (2014). A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Temáticas, 22(44), 203-220. Retirado de: https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/tematicas/article/view/2144/1637        [ Links ]

 

*Autora correspondente: amandacastrops@gmail.com

 

Forlin KA https://orcid.org/0000-0002-1369-6647

Castro A https://orcid.org/0000-0002-8666-4494

Alberton NVB https://orcid.org/0000-0002-6775-8137

Fernandes FS https://orcid.org/0000-0003-3343-6858

Recebido: 02 Nov 2018 – Aceito: 12 Ago 2019

Editor de Seção: Rosalba Filipini

 

Creative Commons License