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Barbaroi

Print version ISSN 0104-6578

Barbaroi  no.39 Santa Cruz do Sul Dec. 2013

 

EDITORIAL

 

 

Com grande satisfação que publicamos a trigésima nona edição da Revista Barbaroi. Este periódico compreende a soma de esforços editoriais dos Departamentos de Ciências Humanas e Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) e da contribuição espontânea de pesquisadores que atuam nas áreas de psicologia e ciências humanas e que submeteram seus artigos para este editorial.

A revista tem como o propósito fundamental de sua existência a promoção do debate interdisciplinar com intuito de promover e possibilitar o desenvolvimento da ciência, publicando resultados de pesquisas primária e secundárias em temas voltados para suas respectivas áreas de saber, além de outras que lhes são correlatas. Este projeto, concebido de forma plural e gerido de forma interdepartamental, visa também legitimar e reforçar as diretrizes acadêmicas da UNISC quanto à produção e publicação de pesquisa, conectando seus pesquisadores às redes formadas pelas diversas instituições de nível superior nacionais e internacionais.

Nesta edição contamos com a colaboração de pesquisadores de diversas áreas, como Filosofia da Psicanálise, Psicologia Clínica, Psicologia Social, Psicologia Organizacional, Psicologia Escolar, Serviço Social, Sociologia dos Movimentos Sociais e Sociologia do Trabalho.

Passemos, então, a uma breve apresentação dos artigos que compõem esta edição, observando que a ordem de apresentação neste editorial, bem como do sumário da revista obedecem à ordem estabelecida pela data de envio e de submissão dos artigos ao sistema de editoria deste periódico.

No artigo "Entre a alienação de familiares de usuários de crack e os riscos do pesquisador", os autores Edna Linhares Garcia, Dulce Grasel Zacharias, Elton Luis da Silva Petry, Gabrielly da Fontoura Winter e Bruna Rocha de Araújo, baseados em análise de dados sobre o uso de crack na região de Santa Cruz do Sul, RS, propõem a discussão teórica, a partir de Foucault e Piera Aulagnier - entre outros, sobre o cruzamento entre o discurso produzido pelos familiares de drogados e o discurso produzido pelas áreas biomédica e biológica e suas influências sobre aquele a ser produzido pelo pesquisador da área da psicologia. Para os autores, esta interface discursiva pode pôr em risco a compreensão metodológica do pesquisador da área da psicologia da drogadição, visto que este se encontra tencionado por ambas.

Em "Juventude e trabalho: emprego e desemprego entre jovens no município de Santa Cruz do Sul (RS)", Marco André Cadoná e César Hamilton Goes, pensando em políticas sociais para a empregabilidade de jovens no mercado formal de trabalho, analisam a situação de emprego e desemprego à luz da precarização progressiva do trabalho de jovens na conjuntura atual do mercado de trabalho brasileiro. Os autores abordam as condições de inserção do jovem em um mercado de trabalho caracterizado por imensa precariedade como a razão da fragilização de sua perspectiva de construção de futuro através do trabalho formal.

O estudo de Ana Claudia Braun e Mary Sandra Carlotto tem como ponto central a análise de professores atuantes na educação especial acometidos pela Síndrome de Burnout. Intitulado "Síndrome de Burnout em professores de Ensino Especial", o presente artigo tem como universo de aplicação de sua metodologia oitenta e oito professores de ensino especial da região do Vale dos Sinos, RS. Os resultados obtidos são importantes e expressivos, pois as autoras constataram que 3,4 por cento dos professores de ensino especial apresentam perfil 1 e 2 da síndrome de Burnout.

Em "A medicalização da infância e o processo psicoterápico", os pesquisadores Jerto Cardoso Silva, Caroline Schäeffer e Mariane Silveira Bonfiglio encontraram importante resultado sobre a crescente substituição dos processos terapêuticos por medicalização em pacientes do Serviço de Saúde, de ambos os sexos, com idade de até 12 anos, no Vale do Rio Pardo, RS. Constataram também que o uso de medicação interfere diretamente no tempo do tratamento e na evolução da psicoterapia, o que contribui para um prognóstico menos favorável aos pacientes que faziam uso, por comparação com os que não faziam uso de medicação.

A análise sobre o atual contexto da psicologia, como uma ciência moderna que encontra sua gênese e territorialização em um cenário contemporâneo no qual prevalece o domínio das representações ideais, das essências divinas e da subordinação da vida ao seu arcabouço de valores transcendentes, é o ponto de partida de "Fuga para o deserto por uma Psicologia Pagã", das autoras Juliane Tagliari Farina e Tania Mara Galli Fonseca. Esta análise recorre ao percurso histórico-conceitual que se inicia em Platão, adentra ao Cristianismo e finda no atual estágio do capitalismo contemporâneo. As autoras, não obstante, propõem, acompanhadas de Nietzsche, um caminho para a desterritorialização da psicologia de seu atual contexto de valoração e sua reterritorialização em um contexto conceitual e prático enfeixado pela filosofia da diferença e da relação. Esta travessia é realizada, segundo as autoras, por um processo de transvaloração de valores, no qual a vida só pode ser pensada como multiplicidade: os corpos se dessubjetivam para ocuparem as múltiplas individuações permitidas por cada acontecimento.

O artigo "Psicologia e Educação infantil: possibilidades de intervenção do psicólogo escolar" visa relatar a experiência de uma proposta de intervenção realizada por estagiárias do curso de psicologia no contexto de uma instituição de Educação Infantil. Os autores Alessandra Ballestero Fukoshima Zendron, Helena Kravchychyn, Eloísa Helena Teixeira Fortkamp e Mauro Luís Vieira ressaltam, em seu estudo, a importância do psicólogo escolar para o desenvolvimento e promoção de saúde mental das crianças. Relatam, ainda, o reconhecimento do trabalho da Psicologia na creche por parte dos professores e da coordenação pedagógica devido à escuta atenta das estagiárias e por gerar um espaço de diálogo que envolveu toda a equipe da creche e os familiares.

Face ao alto índice de comportamentos suicidas observados na Emergência do Hospital da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), as pesquisadoras Juliana Macchiaverni, Lucienne Martins Borges e Lecila Duarte Barbosa Oliveira apontam a necessidade de sistematização dos registros dos atendimentos realizados pelo serviço de psicologia a esse público. Neste sentido, o artigo "Instrumento para registro de atendimento psicológico a tentativas de suicídio" propõe um instrumento protocolar que se adeque a este tipo de emergência, proporcionando à equipe plantonista, com as informações nele contidas e expedientes demandados, maior acuidade nos encaminhamentos e nas futuras intervenções terapêuticas.

Em "Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: um olhar voltado para a escola", as autoras Leane Domingues, Sabrina Zancanella e Denice Bortolin Baseggio avaliam o conhecimento que a escola tem sobre o TDAH, evidenciando qual o seu papel frente ao transtorno, abordando a necessidade de se distinguir consistentemente o normal do patológico. O estudo, a partir de pesquisa descritiva e bibliográfica, aponta a importância da capacitação dos docentes e do corpo técnico para se deparar com a subjetividade de cada aluno, considerando as emoções, os sentimentos e os comportamentos singulares inerentes a cada indivíduo e, também, acentuar a relevância da presença de consultores na escola.

Os pesquisadores Klaus Eickhoff Cavalhieri e Edite Krawulski, no artigo "Processo de adaptação de uma escala de satisfação no trabalho ao contexto das empresas juniores: resultados preliminares", expõem os resultados de sua pesquisa de caráter exploratório sobre a satisfação no trabalho em empresas juniores, descrevendo a aplicação de instrumento de pesquisa que narra as etapas iniciais da adaptação de uma Escala de Satisfação no Trabalho (EST) para o ambiente organizacional de empresa júnior. A escala adaptada abarcou três dimensões indicadoras de satisfação: com a organização do trabalho, com as condições de trabalho e com as relações de trabalho. Ainda que preliminares e provisórios, os resultado corroboram a aplicabilidade da Escala de Satisfação no Trabalho ao contexto de empresas juniores (ESTJr), mostrando que as dimensões e itens contemplados na escala adaptada de fato mensuram a satisfação no trabalho de empresários juniores de modo análogo à EST em contextos seniores.

A intersetorialidade é tema relevante quando se reporta ao Sistema de Saúde Pública. O artigo de Patrícia Barreto Cavalcanti, Rafael Nicolau Carvalho, Ana Paula Rocha de Sales Miranda, Katiusca Torres Medeiros e Andreza Carla da Silva Dantas, intitulado "A intersetorialidade enquanto estratégia profissional do serviço social na saúde" aborda esta questão sob a ótica do Serviço Social e sua capacidade estratégica de promovê-la no sistema de saúde. Fato é, segundo os pesquisadores, que a intersetorialidade vem se constituindo em estratégia frequente na atividade profissional dos Assistentes Sociais; e que os arranjos intersetoriais em sistemas sócio-ocupacionais têm tido o protagonismo do Serviço Social, sobretudo na atenção básica em saúde. Os autores ressaltam também a importância da integralidade, tendo em foco as determinações sociais que se articulam no processo saúde-doença e que sobrecarregam de demandas a rede de atendimento. Isto reporta à necessidade de se buscar estratégia de enfrentamento integral com intuito de resolutividade de demandas, o que pressupõe a construção de arranjos setoriais. Neste sentido, os Assistentes Sociais, segundo os pesquisadores, são importantes articuladores dos elos que compõem o rosário de setores que o usuário percorre dentro do Sistema de Saúde, podendo em muito contribuir para a implementação de tal estratégia.

A sociologia dos movimentos sociais contemporânea se depara cada vez mais com uma quantidade expressiva de novos tipos sociais, fatos sociais e atores sociais, cada qual dotado de singularidades que muitas vezes o arranjo tradicional das categorias clássicas não dão conta de mensurá-los, descrevê-los e interpretá-los. O artigo "O slowfood e a nova dimensão temporal da modernidade" é uma tentativa teórica, a partir de um conluio de categorias e autores, de circunscrever um fenômeno social contemporâneo que tem sua origem no velho continente, mais precisamente, na Itália. O autor, Daniel Coelho Oliveira, se concentra na categoria e representações sociais de Tempo para relacioná-las com o referido movimento social que se opõe, no seu cerne, às representações e aos valores que compõem as formas de vida do capitalismo contemporâneo. A relação entre consumo e tempo é a proposta fundamental do texto e pela qual o sentido fundamental desta forma de fenômeno social se articula e pela qual se pode compreendê-lo. O autor se faz acompanhar nesta empreitada por Max Weber, Colin Campbell, Mary Douglas, Baron Isherwood e Anthony Giddens.

Em "A experiência da maternidade na velhice: implicações do cuidado ao filho com deficiência intelectual", Camila Pegoraro e Luciane Najar Smeha, as autoras, realizam o relato do estudo qualitativo realizado a partir da aplicação de entrevistas semiestruturada a um grupo de cinco mulheres com idade entre 69 e 85, mães de pelo menos um filho com deficiência intelectual. Ao reunirem dois fenômenos sociais contemporâneos, o envelhecimento da população, sobretudo a feminina, pois tem uma sobrevida maior que a do homem, e o fenômeno sócio-político da inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais, o objeto de estudo exige que as autoras passem a fazer uma investigação quase íntima, não menos rigorosa, sobre as singularidades de se ser uma mãe idosa de um portador de deficiência intelectual. Ao interpretarem os dados qualitativos, as autoras revelam os desafios destas vivências: a ausência de estrutura social e de lazer; a falta de perspectiva futura que leva a uma situação de sofrimento psíquico marcado pelos sentimentos de medo, abandono e desamparo. Concluem seu trabalho referindo a necessidade de uma política coerente com o envelhecimento da população e de amparo às pessoas portadoras de deficiência intelectual, bem como para as suas cuidadoras naturais, as mães idosas.

Como se pode observar, pela diversidade de temas, de áreas de pesquisa e de objetos dos artigos acima expostos, honrou-se mais uma vez a tradição eclética e plural da Barbaroi.

Agradecemos, então, a todos os autores e pesquisadores acima citados por terem colaborado com esta edição ao submeterem seus artigos para avaliação e publicação; aos Chefes dos Departamentos de Ciências Humanas e Psicologia, Professor César Hamilton Goes e Professora Dulce Grasel Zacharias, respectivamente; e estender nossos agradecimentos a todos os cento e vinte e oito pareceristas que contribuíram com as edições 38 e 39 publicadas ao longo do ano de 2013. Como uma forma especial de reconhecimento e agradecimento, fazemos uma menção honrosa à Beatriz Menezes Sperb pelo seu competente e generoso trabalho de Revisão Ortográfica.

Para concluir, não poderia deixar de mencionar, como expressão de sincera gratidão, a bolsista Iva Viebrantz, sem a qual esta edição não seria possível. Agradecemos pela sua competência, dedicação, empenho e companheirismo em todas as muitas tarefas desempenhadas para que este número da revista fosse publicado a contento. Sem sua participação, este neófito editor não teria condições de arcar com todos os expedientes editoriais deste periódico. Muito obrigado, Iva Viebrantz.

 

Júlio Bernardes

O Editor