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Nova Perspectiva Sistêmica

versão impressa ISSN 0104-7841

Nova perspect. sist. vol.25 no.56 São Paulo dez. 2016

 

ARTIGOS

 

Conexões transnacionais através de tecnologias emergentes1

 

Transnational connections through emerging technologies

   

 

Gonzalo BacigalupeI, Kimberly ParkerII

I Department of Counseling and School Psychology, University of Massachusetts Boston, USA.

I Centro Nacional de Investigación para la Gestión Integrada de Desastres Naturales (CIGIDEN), Santiago, Chile.

II Department of Family Medicine, Boston University.

 

 


RESUMO

As tecnologias da informação e da comunicação moldam o desenvolvimento humano e o da identidade. As crianças e jovens imigrantes não são exceções. Este artigo explora como as tecnologias emergentes moldam e influenciam as relações intergeracionais dentro e entre famílias. As tecnologias da comunicação dominantes questionam as noções geralmente aceitas quanto à psicologia dos imigrantes, inclusive as funções emocionais, as relacionadas ao desenvolvimento, relações familiares e como o poder de ação é construído entre as crianças e jovens imigrantes. Exploramos como os desafios e oportunidades oferecidos pelas tecnologias emergentes informam os serviços clínicos em como oferecer um atendimento competentes às famílias imigrantes. Esses sistemas assistenciais transnacionais emergentes não são um fenômeno novo, mas são a corrente principal ao redor do globo.

Palavras-chave: tecnologias emergentes, imigração, famílias transnacionais, crianças, juventude, tecnologia da informação e comunicação.


ABSTRACT

Information communication technologies shape identity and human development. Immigrant children and youth are not an exception. This article explores the ways in which emerging technologies shape and influence intergenerational relationships within and across families. The mainstreaming of communication technologies questions commonly accepted notions of immigrant psychology including developmental and emotional tasks, family relationships, and how we construe agency among the immigrant children and youth. We explore the challenges and opportunities that emerging technologies pose to inform clinical practitioners in providing competent services for immigrant families.  These emerging transnational care systems are not new phenomena but they are mainstreaming across the world.

Key Words: emerging technologies, immigration, transnational families, children, youth, information communication technologies.


 

 

Na área da Baía na Califórnia, dois adolescentes estão grudados em um celular falando com a irmã de 4 anos e os pais na Guatemala, a alegria é palpável – nem mesmo a má conexão estraga o entusiasmo deles. Segurando um cartão telefônico pré-pago, a fala do jovem acelera quando uma mensagem de voz informa que resta apenas um minuto de crédito. A ligação termina antes que ele tenha chance de dizer adeus. Algum tempo depois, na festa de aniversário de 14 anos da jovem, os pais aparecem na webcam e assistem a filha apagar as velinhas. Eles ficam na webcam durante a toda a festa, observam com alegria, mas não participam plenamente dela. A presença virtual deles é significativa, mas talvez não o suficiente, como podemos deduzir ao olhar mais de perto o rosto da aniversariante.

Essas cenas foram extraídas do documentário Sin País, or Without Country (Rigby & New Day, 2010), que narra o embate de uma família guatemalteca com o sistema de imigração norte-americano. A batalha deles termina com os pais, Sam e Elida Mejia, e a filha de quatro anos, deixando seus dois filhos adolescentes nos Estados Unidos. As tecnologias emergentes, conhecidas como tecnologias da informação e comunicação (TIC), constituem um aspecto integral e cotidiano na vida dos membros da família, aliviando a dor da transição, mas, também, complicando-a de alguma forma. Com a rápida evolução das tecnologias emergentes, a experiência dos jovens imigrantes nos Estados Unidos tem sido transformada significativamente. Ao participar dessa nova ecologia (Ito, Horst, Bittani, Boyd, Herr-Stephenson, Lange, & Robinson, 2008) dos meios de comunicação, essa juventude do “milênio”, nascida na virada do século, se relaciona com seu país de origem de uma forma qualitativamente diferente das gerações anteriores ao advento dessas tecnologias.

As tecnologias emergentes servem como umas das bases para o sucesso (McDevitt, & Butler, 2011) financeiro, educacional e político, podem inclusive agir como “motivadores globais de imigração” através de sua habilidade de fomentar a troca de informações entre países quanto às oportunidades econômicas e liberdades civis (Hamel, 2009). Os imigrantes usam telefones celulares, mensagens de texto, e-mails, mensagens instantâneas online e programas de videoconferência como, entre outros, Skype, para se comunicarem com a família e amigos em seus países e conversarem sobre uma variedade de assuntos, desde informações mais prosaicas, por exemplo, sobre como está o tempo, até assuntos mais sérios como nascimentos, mortes e o cruzamento da fronteira (Bacigalupe & Lambe, 2011). Algumas das tecnologias emergentes permitem que membros da família separados por tempo e espaço estejam virtualmente presentes por um longo tempo, desse modo dando a oportunidade a parentes fisicamente distantes “participar” dos eventos familiares. As tecnologias emergentes possibilitam uma intimidade entre os amigos e parentes que antes não existia; mãe e filha separadas podem fazer compras juntas online, um pai distante pode monitorar o progresso do filho nas tarefas escolares, parentes no país natal podem assistir os imigrantes escolhendo itens para a decoração da casa, ou mesmo, participarem virtualmente das reuniões familiares. A lista de possibilidades de uso das tecnologias emergentes é interminável, embora, dependendo do tipo de atividade, certos tipos de tecnologia sejam mais adequados. Além do mais, várias tecnologias combinadas, uma “polimídia”, criam ambientes de comunicação diferentes, específicos para cada contexto. Para muitos usuários transnacionais da tecnologia emergente, o conteúdo da comunicação não é tão importante quanto sua função social e, na maioria das vezes, sua função emocional (Madianou & Miller, 2012). O sentimento da presença de outra pessoa que a tecnologia permite é, em e por si só, significativo para a família e para o desenvolvimento das crianças.

Não existe nenhum cânon literário que examine o fenômeno das tecnologias emergentes e o transnacionalismo, o qual, diferentemente da menos inclusiva noção de aculturação e assimilação, destaca as forças que os imigrantes demostram durante a transição geográfica (Bacigalupe & Camara, 2012). A presente pesquisa sobre imigração e tecnologia cruza disciplinas. Transcende as linhas bem definidas que servem para demarcar campos acadêmicos, desse modo, a literatura espelha a experiência dos migrantes transnacionais.

Tanto para o imigrante quanto para a família que ficou em seu país, as tecnologias emergentes mudam o sentido de imigração, embora de maneiras diferentes. Para alguns, essa tecnologia auxilia os membros da família a justificarem a decisão de viverem separados (Madianou & Miller, 2012), para outros, elas ajudam os imigrantes a se ajustarem a sua nova terra, provendo-os com uma conexão emocional e familiar enquanto se esforçam para criar uma nova rede social nos Estados Unidos (Fong, Cao, & Chan, 2010). Para a maioria das famílias de imigrantes, as tecnologias emergentes fornecem um meio de ouvir e ver com certa frequência aspectos de seu país de origem que, de outra forma, seriam esquecidos, assim aliviando parcialmente algumas experiências dolorosas da perda e solidão. Mesmo tendo sido largamente previstas pelas áreas socioeconômicas, atualmente, essas tecnologias estão mais acessíveis do que nunca, mesmo aos imigrantes com recursos limitados (McDevitt & Butler, 2011). Entretanto, outros fatores além do custo e acessibilidade à TIC podem afetar profundamente a habilidade dos imigrantes em utilizar ou adotar essa tecnologia, incluindo aqui o nível educacional, habilidade de ler e escrever, idade, gênero, lugar de nascimento, aceitação social, segurança pessoal, proficiência em inglês e o clima sociopolítico, econômico e político do país de origem (Gillwald, Milek, & Stork, 2010). O acesso também pode variar tremendamente dependendo da região. Embora imigrantes jovens de sociedades industrializadas na Europa, América do Norte e Ásia provavelmente tenham parentes em seus países de origem com fácil acesso à tecnologia emergente, há outros, especialmente os da África subsaariana, cujos parentes têm pouco ou nenhum acesso às TICs, mesmo que seus filhos vivendo em países industrializados a tenham. É importante considerar se o país de origem da criança tem a necessária infraestrutura para suportar as novas tecnologias (Lan & Rosario-Ramos, 2000). A América Latina e a África estão realizando rapidamente incursões no terreno de adotar e acessar as TICs. Em alguns casos, internet sem fio e o celular se tornam acessíveis a regiões que, no passado, nem mesmo telefone fixo tinham. Finalmente, acesso não é o mesmo que utilizar a TIC (Gillwald et al., 2012). Acesso é só o primeiro passo – algum catalisador (por exemplo, o desejo da criança em se comunicar com seus avós distantes ou a motivação de um adolescente em usar a pesquisa online para completar um projeto escolar) deve estar presente para que o envolvimento com a tecnologia ocorra.

 

A EXPERIÊNCIA TRANSNACIONAL DAS CRIANÇAS: POR QUE DEVERÍAMOS NOS IMPORTAR?

Em se tratando de desenvolvimento, as crianças ocupam uma posição única que as capacitam a terem um entendimento do espaço e do tempo muito diferente da visão dos adultos. Na verdade, ao contrário de seus pais, os filhos de imigrantes ocupam diferentes posições de desenvolvimento dentro de um curto espaço de tempo (Gardner, 2012). Enquanto os adultos narram a mudança de seus relacionamentos com o lugar e o espaço em termos do que já aconteceu, os filhos veem sua vida como algo à frente deles (p. 890). Consequentemente, o entendimento deles de tempo, espaço e movimento é orientado principalmente pelo presente e futuro, ao invés de estar baseado predominantemente no passado. Para imigrantes jovens, especialmente os da geração do milênio, sua orientação de tempo e espaço inexoravelmente impacta sua experiência e uso das novas tecnologias. As crianças têm uma “natureza essencialmente física” e, provavelmente, vivenciam maior “relação imediata com seus corpos físicos e com o ambiente” que os adultos (p. 905), esse atributo e capacidade influenciam os níveis de habilidade de se conectarem com sua terra natal e parentes distantes por meio da tecnologia. À medida que a tecnologia continua a evoluir, o argumento de que ela pode reproduzir sons e imagens, mas não consegue substituir plenamente as várias dimensões sensoriais (paladar, olfato e outras sensações físicas) é cada vez mais contestável. Todavia, para as crianças que nunca foram aos países de seus pais, as limitações da tecnologia podem ser mais relevantes, uma vez que as crianças têm pouca ou nenhuma vivência física daqueles locais para ser expandida com a ajuda da tecnologia. Além do mais, à medida que se desenvolve (p.905), a intensidade do desejo da criança em se conectar com o país de origem pode ser alterada.

AS CRIANÇAS COMO AGENTES

As crianças participam ativamente na construção das narrativas de suas famílias; a TIC pode contribuir para a habilidade dos jovens de gerenciar o relacionamento com as pessoas e cultura “lá da nossa terra”. As tecnologias emergentes dão às crianças e aos jovens a habilidade de reescrever as histórias de imigração, nas quais quase não tinham voz anteriormente. Em relação ao transnacionalismo, as crianças eram retratadas como não tendo nenhum poder de ação. Eram consideradas como presas entre duas culturas, a de origem e a do novo país (p.905), ou muito pequenas para escolherem conscientemente o tipo de relação que elas queriam ter com seus países de origem (Haikkola, 2011). Entretanto, as tecnologias emergentes podem fornecer meios para que as crianças e adolescentes construam uma narrativa cultural sólida e relacional. Apesar do discurso tradicional que apresenta as crianças como meros observadores passivos de uma saga imigratória pertencente a adultos, as crianças são protagonistas ativas na história familiar, e as TICs podem capitalizar seu papel de agentes. Considerando que as crianças têm sido capazes de mostrar sua vontade no que tange seu relacionamento com o país natal, o uso das tecnologias emergentes ressalta como elas ditam os termos do acordo com os modos pelos quais querem se relacionar com a sua terra ou com a de seus pais. As crianças agora assumem um poder maior “nas negociações de identidade e pertencimento (p.1202)” e descobriram que com as TICs são capazes de “preservar aquelas partes de sua pátria de que sentem saudades e, ao mesmo tempo, manter o controle da frequência e intensidade desses relacionamentos em sua forma virtual (Elias & Blenish, 2009)”. Haikkola argumenta que “as crianças da segunda geração, não sendo elas mesmas imigrantes, atuam dentro de um campo de relações que suas famílias imigrantes produziram (p.1203)”. Embora os imigrantes jovens não escolham ser “transnacionais”, a geração do milênio pode escolher como negociar sua identidade transnacional, assim a tecnologia torna suas escolhas muito mais fáceis. Por exemplo, as novas tecnologias capacitam a juventude para ser politicamente ativa em seus países de origem, onde nunca puseram os pés; a própria internet pode servir como uma válvula de escape para os jovens da segunda geração expressarem seus sentimentos, com frequência conflituosos, sobre os eventos que ocorrem em sua terra natal (McGinnis, Goodstein,Stolzenberg, & Saliani, 2017). A internet, então, serve como uma arena alternativa na qual os jovens podem explorar e negociar o mundo ao seu redor, especialmente a cultura familiar de origem, que se torna menos distante e mais tangível.

Finalmente, as tecnologias emergentes criam oportunidades para as crianças “participarem de diferentes formas de adaptação, resistência ou subversão” em relação à sua própria aculturação (Gardner, 2012). Os jovens imigrantes do milênio estão “engajados em um processo de aculturação seletivo (Elias & Lenish, 2009), assim as TIC podem iniciá-los e engajá-los em “um contradiscurso em oposição ao discurso dominante de separação e alienação da família” (Uy-Tioco, 2007). As novas tecnologias fornecem um veículo para a resistência ao permitir que os jovens ajam contra o deslocamento que experimentaram e as estruturas sociais que tornaram o seu deslocamento necessário. No passado, os pais controlavam o contato da família com seu país de origem através de meios tradicionais como remessas periódicas e cartas; hoje, as crianças podem ser agentes ativos, decidindo quando, como e em que circunstâncias querem se comunicar com as pessoas de sua terra natal. Ao permitir que a juventude negocie de forma autônoma as trajetórias de aculturação e assimilação e dar a elas a posse do processo de transição, as tecnologias emergentes atuam como um capital social para as crianças (Alfred, 2010). Por fim, o uso das TIC ressalta o poder de agir das crianças e realça sua capacidade para atuar, pensar e sentir autonomamente.

AS RELAÇÕES FAMILIARES E AS TECNOLOGIAS EMERGENTES

Reconstruindo Papéis

Muitas crianças imigrantes, geralmente o primogênito, atuam com mediadores de tecnologia dentro de suas famílias, do mesmo modo que servem de mediadores linguísticos e culturais, auxiliando seus pais a navegarem na sociedade americana. Uma vez adquirido o status de mediador de tecnologia, este se torna, rapidamente, permanente, mesmo quando a criança deixa o lar. Por exemplo, uma irmã mais velha que se muda de casa pode, por meio de suas visitas, apresentar continuamente novas tecnologias a seus pais e aos irmãos menores (Sanchez & Salazar, 2002). A dependência da família em relação aos filhos para o uso das teconologias pode levantar preocupações justificadas.

O Processo Familiar

As tecnologias da informação e comunicação impactam os padrões interativos nas famílias de imigrantes jovens. A família é um espaço para a troca de informações. A informação “deve fluir através da família, para que ela seja compartilhada de modo significativo, avaliada, compreendida e utilizada” (McDevitt & Butler, 2011), e as tecnologias emergentes servem como portas de entrada no sistema familiar para novas informações. A adoção de tecnologia pode, portanto, comprometer algumas das fronteiras existentes, as quais apoiam a identidade da família e o mundo exterior, transformando assim as famílias em um sistema mais permeável. Além disso, as tecnologias emergentes e a mídia a elas associada criam processos dialéticos nos quais as tecnologias da comunicação e o ambiente social inevitavelmente se influenciam reciprocamente, ressaltando os modos pelos quais “as tecnologias da comunicação e os relacionamentos são mutualmente constitutivos”, uma vez que a própria relação é “essencialmente mediada” (Madianou & Miller, 2012). Ao examinar o processo familiar entre mães filipinas que exerciam sua parentalidade de longe, Uy-Tioco (2007) descobriu que o uso da tecnologia impacta a dinâmica da família e que esta, por sua vez, influencia o uso da tecnologia. Ademais, “relações de poder e estruturas” são “reproduzidas, rejeitadas ou reforçadas” pelo uso da TIC pela família. (p.255)

Alguns autores descobriram que a ecologia da informação dos imigrantes jovens é qualitativamente diferente da de seus pais, uma conclusão que sugere que crianças podem criar laços com seus países de origem independentemente de seus pais (McDevitt & Butler, 2011). Portanto, os relacionamentos transnacionais da geração do milênio são, provavelmente, distintos dos relacionamentos parentais, uma vez que as tecnologias emergentes garantem aos jovens uma autonomia para controlar as conexões que fazem com seus pais. Contrariamente, em um estudo sobre o uso do computador por adolescentes imigrantes latinos, Sanches e Salazar (2002) concluíram que o uso online do computador reflete o envolvimento de toda a família e não apenas de um indivíduo. A comunicação família a família tem sido uma prática comum, ao contrário da mais típica, ou seja, a comunicação pessoa a pessoa. Para famílias nas quais os membros usam juntos a Internet, conectar-se com amigos em comum, e não apenas amigos privados, é uma realidade geral. De acordo com esses pesquisadores, existe um paralelo entre os modos que as pessoas escolhem de usar a tecnologia e seus valores (por exemplo, comunalismo). Para os jovens, as implicações de tal padrão de comunicação têm um grande alcance; quando se comunicam como família, as crianças podem ter relacionamentos com os amigos familiares, os quais, nem seus pais nem elas mesma, conhecem pessoalmente. Laços comunitários com a terra natal são dessa maneira reforçados.

Processos Emocionais

Embora as TIC não aumentem necessariamente o desejo do imigrante de ter a presença da pessoa querida, ela de fato ativa o desejo por uma conexão. No documentário Sin País, a filha adolescente, que está visitando os pais na Guatemala, e sua mãe conversam com o irmão nos Estados Unidos. É véspera de Natal, a mãe diz ao filho: “Rogo a Deus que no próximo ano estejamos juntos”, deixando implícito que a conversa via Skype não é o suficiente – esta permite que ela veja o rosto de seu filho e escute sua voz, mas, ainda assim, isso não o faz plenamente presente para ela. Algum tempo depois, a menina diz para o irmão escutar os fogos de artifício, uma tradição familiar na Guatemala. Apesar do som dos fogos poder ser ouvido à distância, o som que o jovem ouve não pode causar a mesma excitação que sua irmã está experimentando há milhares de quilômetros de distância. Nesse caso, a tecnologia parece intensificar as emoções, tanto positiva como negativamente.

Para os jovens e suas famílias, a saudade é uma motivação para se conectar através das TICs. Em muitas famílias separadas pela distância, a manifestação comportamental de seu desejo de conexão se manifesta em sua tentativa de presenciar o outro virtualmente, fenômeno esse grandemente facilitado pelas novas tecnologias (Baldassar, 2008). O uso de tecnologias pode atenuar o sentimento de distância, experimentado por muitas famílias transnacionais, assim a juventude do milênio pode se sentir muito mais vinculada à sua terra do que às gerações anteriores. Além disso, as tecnologias emergentes capacitam as crianças, que nunca conheceram pessoalmente seus parentes do país de origem, a realizarem atividades via internet antes e depois das visitas programadas, diminuindo assim o sentimento de estranhamento do primeiro contato pessoal e, principalmente, aliviando o nível de ansiedade. Por fim, é importante lembrar que, para as crianças que imigram, a qualidade do relacionamento anterior à imigração afetará invariavelmente o relacionamento futuro, e aquele que será estabelecido via internet posteriormente (Madianou & Miller, 2002).

Considerações Quanto ao Desenvolvimento

As tecnologias emergentes influenciam o desenvolvimento dos jovens e das crianças imigrantes através de inúmeros domínios. Hamel (2009) discute como o sucesso deles em várias esferas de desenvolvimento pode estar diretamente associado com o uso ou ausência das novas tecnologias. Ele demonstra a relação entre o Índice de Desenvolvimento TIC (IDI) de 2009 e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), inferindo que existe uma relação importante entre as conclusões internacionais sobre os índices, embora deturpada. A imigração é um momento de transição crítico em muitas histórias de vida, as novas tecnologias podem ajudar alguns jovens imigrantes a preencher a lacuna entre a rotina que tinham em seu país e a que agora possuem ao dar-lhes meios de saberem o que se passa em sua antiga pátria, de acompanhar as matérias diárias, como a política local, por exemplo (Elias & Lemish, 2019). Assim, a tecnologia auxilia os jovens imigrantes, que estão no espaço limiar entre dois países, a conduzirem suas atividades com o mínimo de interferência.

Idioma

O uso das TICs pela juventude estimula o desenvolvimento de literacias múltiplas e contribui para a manutenção da língua da criança nascida nos Estados Unidos ou daquelas que deixaram seus países ainda muito pequenas (Lam & Rosario-Ramos, 2009). Pelo uso frequente de mensagem de texto, e-mails e blogs, combinando a língua natal e o inglês, os jovens podem desenvolver a habilidade de trocar rapidamente de idioma. Uma pesquisa com 35 jovens transnacionais concluiu que “muitas das funções literárias” que a juventude teria em sua língua materna foram transferidas para os ambientes de informática, descobriu-se ainda que os jovens achavam que conversar online ajudava-os a “melhorar sua fluência, vocabulário e habilidades de escrita”(p. 182). Quando as crianças imigrantes usam a tecnologia para se comunicarem com pessoas em seu país de origem, elas geralmente o fazem em sua língua natal. Essas implicações são especialmente importantes para a leitura e escrita. Embora as crianças que estão aprendendo inglês possam falar e ouvir seu idioma nativo em casa, raramente têm a mesma chance de escrever ou ler na língua materna. E-mails, mensagem de texto, rede sociais e blogs, entre outras formas de comunicação via internet, provêm tal oportunidade.

Desenvolvimento Emocional e Cognitivo

O uso da tecnologia da informação e comunicação pela juventude do milênio para se comunicar com o país de origem beneficia o seu desenvolvimento emocional e cognitivo. O acesso online a notícias de seus países de origem pode capacitar os jovens a entender melhor a situação de seus parentes e dos jovens com a mesma idade (Lam & Rosario, 2009). Assim, o uso da tecnologia emergente pela juventude de imigrantes pode acelerar o desenvolvimento da empatia. Além disso, o acesso rápido a vários pontos de vista pode servir para gerar neles uma dissonância cognitiva (Lam & Rosario, 2009). Considerar múltiplas perspectivas pode promover as habilidades de um pensamento crítico, e encarar a dissonância cognitiva em uma tenra idade pode ajudar as crianças a aprender a integrar, de modo eficiente, as peças contraditórias de suas histórias para formar um todo coerente. Madianou e Miller argumentam que entender e reconhecer a noção de ambivalência é crítica para qualquer compreensão da migração. A tecnologia emergente pode auxiliar os jovens a resolverem essa ambivalência (Madianou & Miller, 2002).

Desenvolvimento da Identidade

A internet provê aos jovens oportunidades que vão além da mera transmissão de informação (Hopkins, 2009). A tecnologia fornece a esses jovens uma chance a mais para a “construção da identidade, desempenho e transformação” (McGinnis et al., 2007), servindo como campos sociais transnacionais e locais para a formação individual e coletiva da identidade (Benítes, 2006). A construção da identidade coletiva online pode suavizar o sentimento de desconexão que os indivíduos sentem ao deixarem sua terra. Isso pode até alterar completamente a conotação de dissolução, considerando-a neutra ou mesmo positiva. Elias e Lemish (2009) explicam: “A internet parece estar desempenhando um papel central na construção de uma identidade híbrida na juventude imigrante... Ela permite que o corpo físico viva em múltiplas culturas ao mesmo tempo, equilibrando-as umas com as outras, e criando combinações individuais de seus domínios contraditórios e complementares.”

Além disso, para muitos jovens, as tecnologias emergentes proveem o acesso a modelos positivos do seu país nativo que não se correlacionam com os estereótipos populares (Hamel, 2009). Pode ser que apenas aqueles jovens que já se identificam fortemente com uma comunidade étnica se engajem em atividades via internet, através das quais eles se relacionam ou se conectam com o seu país de origem (Elias & Lemish, 2009). Desse modo, pelo menos em alguns casos, a tecnologia pode ser mais uma mediadora do que uma determinante em termos da relação que a juventude tem com sua terra natal. Embora saibamos que as novas tecnologias podem servir para fortalecer os laços já existentes entre os jovens e seus países, nosso entendimento é limitado quanto aos modos como essas tecnologias podem ajudar a construir relacionamentos quando existe pouca conexão prévia.

O uso de tecnologia pela geração do milênio cria oportunidades para a construção de novas identidades – individuais ou coletivas – que anteriormente não estavam à sua disposição. Eles podem visitar o país de origem virtualmente e essas visitas podem ajudá-los a confirmar suas percepções internas de sua terra natal e, talvez, validar a conexão com ela (Elias & Lemish, 2009). Essas “visitas” podem ainda possibilitar que compartilhem sua terra com não-nativos e consequentemente desenvolvam uma maior confiança em sua herança cultural. As crianças imigrantes, sempre “convidadas”, agora se tornam anfitriãs para seus amigos não-imigrantes, alterando assim a dinâmica de poder na relação com seus pares. Além disso, a dimensão testemunhal que a mídia social oferece às crianças imigrantes pode validar ainda mais a identificação com sua pátria original. Finalmente, ajudar crianças e jovens imigrantes a “reter sua ligação com a cultura original” é importante, uma vez que isso “reduz as lacunas da aculturação” e “facilita um ajustamento psicológico positivo tanto nas crianças quanto nos pais” (p. 1249).

As tecnologias emergentes permitem que a juventude imigrante escreva sua própria narrativa e influencie a descrição de sua cultura no ciberespaço (Benítez, 2006). Os sites de comunicação online, como blogs e contas no MySpace, servem como locais para o “trabalho de identidade” transnacional e permitem “práticas literárias transformativas” (McGinnis et al., 2007); os jovens imigrantes usam linguagem sociais variadas em seus espaços online, dependendo do público que pretendem atingir. Por exemplo, o orgulho nacional e transnacional é geralmente expresso via texto ou imagens postadas nos sites pessoais, assim como sentimentos ambivalentes acerca dos eventos ocorridos em seu país de origem (McGinnis et al., 2007). Embora muitos jovens realmente explorem aspectos de sua identidade como cidadãos do país natal, outros, entretanto, preferem explorar as facetas de sua complexa identidade dentro dos Estados Unidos, principalmente aqueles que sentem que as experiências via tecnologia com a terra originária de sua família soam inautênticas (Skop & Adams, 2009). Portanto, a abrangência do uso da tecnologia pelos jovens imigrantes espelha, de diversas maneiras, a diversidade de suas experiências pessoais com o país de origem, em termos de sua identidade cultural e do desejo de se conectar com as pessoas de lá.

DILEMAS NO ENGAJAMENTO DA MÍDIA EMERGENTE

Potencial para Ambivalência

Do mesmo modo que o processo de imigração evoca sentimentos de ambivalência, a adoção da tecnologia emergente pode também ser fonte de incongruência. A migração e as perdas que a acompanham são geralmente estimuladas pela tecnologia. Hamel se refere à mídia como uma isca, sugerindo que a tecnologia é, às vezes, uma transmissora de informações falsas ou de imagens romantizadas do novo país (Hamel, 2009). As tecnologias emergentes podem tornar o conceito de distância mais gerenciável para os adultos, criando a ilusão da viabilidade de se manter relacionamentos duradouros com pessoas em lugares distantes. Ademais, a tecnologia da informação e comunicação pode ser a principal razão para a mudança de país de uma família ou indivíduo (Hamel, 2009). O setor de TIC emprega um número sem precedente de imigrantes. Finalmente, as novas tecnologias desempenham um papel integral na procura por empregos por parte dos migrantes, que eventualmente requeiram a imigração (Hamel, 2009). Que algumas crianças tenham uma relação problemática, ou conflituosa com as tecnologias emergentes é compreensível, uma vez que essas mesmas tecnologias são geralmente o fator decisivo para a migração, a qual tira a criança e seus pais de sua terra. Dependendo da geração, a diferença de atitude quanto à adoção da tecnologia emergente é acentuada. Uma etnografia sistemática de mães filipinas vivendo na Inglaterra e com filhos ainda na Filipinas concluiu que, embora as mães elogiem firmemente os benefícios das novas tecnologias, quase a metade das crianças expressaram sentimentos de ambivalência ou indiscutivelmente negativos em relação à comunicação via tecnologia (Madianou & Miller, 2002).

O argumento de que as tecnologias emergentes são ferramentas neutras já foi há muito tempo refutado; o uso da tecnologia pode servir tanto para restringir quanto para habilitar (Benítez, 2006). Seu uso pode gerar ambivalência, em especial, nos espaços de criação de identidade individual e coletiva. Embora alguns imigrantes possam usar as tecnologias para “preservar, desenvolver, expandir ou celebrar sua singularidade”, as tecnologias também servem como “meios para dissolver as diferenças culturais” (Skop & Adams, 2009). Os imigrantes podem criar a experiência concreta de um transnacionalismo forçado uma vez que a internet e a televisão fornecem um fluxo constante de informações do país de origem, algumas vezes envolvendo os jovens em “um engajamento inevitável e involuntário na política e assuntos do país natal” (Haikkola, 2011). Ao descrever mulheres filipinas vivenciando a maternidade de longe, Uy-Tioco (2007) capturou a natureza dual das tecnologias emergentes: “A mesma tecnologia que as capacita a manterem seus papéis dentro da família também enfatiza a distância e as faz relembrar que estão ausentes e, de muitas maneiras, impotentes.” De igual modo, Haikkola (2011) descreve como as crianças imigrantes, que mantêm contato com a terra de origem via TIC, geralmente devem abrir caminho através dos “campos de relacionamento” que se estendem além de seu “alcance”, consequentemente, elas experimentam “sentimentos de isolamento, tristeza e estresse emocional”. Benítez (2006) escreveu sobre o uso de vídeos por imigrantes salvadorenhos adultos: “Ao consumirem tais imagens, os imigrantes podem ter um sentimento de desenraizamento ou de não serem nem daqui (o novo país) nem de lá (o país natal)”, novamente ressaltando o sentimento de desconexão que as tecnologias emergentes podem trazer à tona. São necessárias mais pesquisas com crianças e adolescentes para determinar se o acesso a imagens do país da família causa o mesmo impacto emocional nelas. Hopkins (2009) combate essa noção de indeterminação insolúvel, argumentando que a comunicação via internet ocorre sim em um locus físico, mesmo que este local assuma formas novas e, talvez, estranhas.

O aumento da presença das novas tecnologias pode fazer crescer as expectativas dos parentes distantes por uma frequência maior de contato com os familiares vivendo no estrangeiro (Hamel, 2009). Adicionalmente, o contato constante pode fomentar desacordos entre os membros da família, principalmente entre e com os pais envolvidos no cuidado dos filhos a longa distância (Madianou & Miller, 2012). Além disso, a disparidade digital ainda persiste: onde há acesso, haverá também exclusão, e os excluídos podem lutar para construir conexões transnacionais que servem como fonte do capital social (Benítz, 2006). Embora as crianças estejam utilizando a tecnologia emergente incrivelmente cada vez mais cedo, seus pais ou avós não adotam a tecnologia com a mesma facilidade, e essa diferença geracional pode complicar o relacionamento das crianças com os parentes no exterior (Panagakos & Horst, 2006).

Nas famílias transnacionais, a tecnologia emergente pode ressaltar as diferenças de valores entre seus membros, em especial, as diferenças referentes ao grau de assimilação e/ou aculturação entre as gerações envolvidas (McDevitt & Butler, 2011). No documentário Sín País, a adolescente Helen volta à Guatemala para visitar seus pais, apenas para descobrir que, apesar de eles terem se comunicado por meses através das tecnologias disponíveis, assuntos difíceis – raramente tratados nos telefonemas ou pelo Skype – rapidamente vieram à luz quando ela se encontrava pessoalmente diante deles (Rigby & Newday, 2010). Só quando Helen estava no mesmo espaço geográfico que sua mãe, Elida, soube da frustação dela a respeito de suas notas escolares e o forte anseio da mãe que ela voltasse de vez para a Guatemala. Este exemplo ilustra como as tecnologias emergentes fazem pouco para resolver conflitos anteriores à sua utilização e como, para algumas famílias, essas tecnologias podem postergar o confronto inevitável que finalmente ocorre quando se encontram pessoalmente.

As novas tecnologias podem também abalar o equilíbrio de poder nas famílias – um efeito com implicações positivas e negativas. Em Sín País, mãe e filha têm uma forte discussão quanto ao futuro de Helen. Tendo vivido quase que independente por meses na ausência de seus pais, Helen firmemente se impõe e discorda abertamente de sua mãe, revelando a Elida uma faceta desconhecida de sua filha. A dinâmica de poder entre mãe e filha foi efetivamente alterada, e a comunicação através da tecnologia pode ter escondido, ou mesmo disfarçado, a natureza dessa conflituosa mudança. A literatura fundamenta como a mídia emergente desempenha um papel significativo na configuração do poder nas famílias. Apenas o uso do telefone celular já provou fortalecer, recriar e/ou descontinuar a estrutura de poder dentro da família (Uy-Tioco, 2007). Além disso, a utilização da TIC pelas crianças mina a liderança parental em certas famílias imigrantes; as crianças que usam a TIC estão agravando a crise do patriarcado enfrentada pelos homens latinos (McDevitt & Butler, 2011). De igual modo, Hamel, citando Wilding, descreve como as tecnologias emergentes podem “driblar os canais e hierarquias tradicionais de comunicação e decisão, deslocando de forma efetiva a cadeira de comando dentro da família e envolver pessoas que tradicionalmente nem seriam informadas do processo de tomada de decisão” (Wilding, 2006). Na vida das crianças imigrantes, o processo de tomada de decisões pode ser expandido, via mídia, a fim de incluir os parentes mais velhos que ainda residem no país de origem. Ao lutarem para acomodar os câmbios estruturais que as novas tecnologias criam, as famílias irão experimentar a instabilidade decorrente.

Tecnologias Emergentes: não é o suficiente

Embora a adoção da tecnologia possa ajudar a proteção contra a perda total que as muitas famílias transnacionais sentem ao migrarem, as TIC são geralmente consideradas como “não é o suficiente”. Elas podem ser vistas como substitutas de uma comunidade, mas não são a comunidade real (Skop & Adams, 2009). Para as crianças que tiveram um contato mínimo com a terra natal de seus pais, apenas as tecnologias emergentes não são capazes de criar vínculos fortes com o país de origem. Haikkola discute o significado da presença “‘cara a cara’ com pessoal e lugares que a presença virtual não pode substituir” (2011) e sugere que a tecnologia pode desempenhar um papel mais importante na manutenção da comunicação transnacional do que em sua criação. Contudo, essa é uma questão em aberto que requer mais pesquisas.

As tecnologias emergentes podem servir para intensificar os sentimentos. A alegria pode ser mais saliente do que nunca antes, mas também a saudade e o sentimento de perda. Quanto “mais eficiente for a nova mídia”, mais ela “será um lembrete doloroso da ausência” (Madianou & Miller, 2012). O documentário de Rigby, Sín País, demonstra a força da TIC como um tecido conector entre os membros distantes da família. Os filhos adolescente nos Estados Unidos se alegram em se conectar com seus pais e irmã mais nova na Guatemala, via Skype. Testemunhamos uma situação difícil que é aliviada, em certa medida, pela disponibilidade da TIC e pela presença virtual. A mesma tecnologia, entretanto, torna óbvio para nós que ainda existe dor e perda. A “presença” dos pais na festa de aniversário de 14 anos da filha ajuda seus filhos a se sentirem conectados a eles. Ao mesmo tempo, entretanto, a presença online torna evidente que eles são figuras de fundo, não atores principais, na vida de seus filhos. Aí está o paradoxo da conexão criada pela tecnologia: uma presença via TIC ajuda porque já é alguma coisa, mas também dói, porque deixa explícito o fato de que esse tipo de presença não é suficiente. O papel da tecnologia para incentivar a imigração tem sido estudado extensivamente, mas seus efeitos emocionais sobre as crianças e suas famílias são mais nebulosos e menos entendidos.

CONCLUSÃO

Apesar de termos procurado apresentar uma visão geral dos relacionamentos das crianças imigrantes com a tecnologia, reconhecemos a necessidade de mais estudos nessa área, especialmente ao considerarmos a complexidade, as nuances e as ambivalências que caracterizam muitas das experiências vividas por essas crianças. Além disso, os avanços tecnológicos são intrinsecamente rápidos e a velocidade de sua adoção inerentemente fluída, tornando qualquer conclusão ou predição meras tentativas. Esses jovens do milênio, pertencentes à “Geração M”, são migrantes tanto no tempo quanto no espaço, estrategicamente posicionados para contemplarem o futuro e o passado. Como Jano, o deus romano das portas e portais, essa juventude constitui-se de viajantes experientes da ambiguidade. Embora a TIC ofereça aos jovens imigrantes um maior acesso e, mais ainda, controle dos relacionamentos com pessoas na terra natal e mesmo com o próprio país, elas também complicam esses relacionamentos, geralmente ao invocar sentimentos de ambivalência, principalmente durante seu desenvolvimento, quando os jovens se esforçam para negociar a formação de suas identidades transnacionais. As novas tecnologias permitem a essa juventude estabelecer e manter laços com seu país de origem, ou o de seus pais, qualitativamente diferente dos laços das gerações anteriores. Entretanto esses jovens contam com pouca ou nenhuma estrutura para ajudá-los a navegar pelo mar de relacionamentos, que,aliás, não é plácido. Apesar das tecnologias emergentes auxiliarem a resolver algumas das experiências de descontinuidade de tempo e espaço, elas não substituem, e nem mesmo podem substituir, a presença dos membros da família e amigos deixados para trás, em sua terra natal.


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Recebido em: 07/04/2016
Aprovado em: 20/09/2016

1 Artigo originalmente publicado em: Bacigalupe, G., & Parker, K. (2015). Staying connected: The immigrant millennial generation. In C. Suarez-Orozco, M. Abo Zena & A. Marks (Eds.),Transitions: the development of the children of immigrants (pp. 61-79). New York: NYU Press.

I Gonzalo Bacigalupe, EdD, MPH, Professor, Department of Counseling and School Psychology, University of Massachusetts Boston, USA, & Principal Investigator, Centro Nacional de Investigación para la Gestión Integrada de Desastres Naturales (CIGIDEN), Santiago, Chile. E-mail: gonzalo.bacigalupe@umb.edu

II Kimberly Parker, MS, Project Coordinator, Department of Family Medicine, Boston University. E-mail: kimberlynoelleparker@gmail.com

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