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Nova Perspectiva Sistêmica

versão impressa ISSN 0104-7841versão On-line ISSN 2594-4363

Nova perspect. sist. vol.30 no.69 São Paulo jan./abr. 2021

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

Adriano Beiras

Coordenador Editorial

 

 

Começamos a primeira edição de 2021 falando de celebração. É o ano em que vamos comemorar 30 anos da revista! Não é fácil resistir três décadas e se reinventar, seguir critérios novos a cada ano e construir conhecimento. Temos muito a agradecer a todos/as que colaboraram intensamente nestas três décadas: profissionais, acadêmicos, pesquisadores, leitores/as, colaboradores/as. E foi pensando nisso que decidimos, este ano, propor o retorno de alguns textos importantes para a revista em seus anos de trajetória, muito lidos, reconhecidos e referenciados por nossos/as leitores/as, desde nossas primeiras edições impressas.

Neste prisma, iniciamos com a seção Fronteiras, onde trazemos novamente a vocês o texto de Emerson F. Rasera e Carla Guanaes-Lorenzi, com o título O terapeuta como produtor de conhecimentos: contribuições da perspectiva construcionista social. Publicado inicialmente em 2006, na edição NPS 26, neste artigo, os/as autores/as trazem uma proposta de produção de conhecimentos fundamentada no construcionismo social para a redação de casos clínicos. Estimulam a comunicação de aprendizagens cotidianas dos terapeutas para que possam refletir sua prática e sair da posição de apenas consumidores de conhecimentos para suas intervenções. Um estímulo para a produção de artigos e comunicações no nosso campo, coerentes com nossos pressupostos epistemológicos.

Seguindo para a seção de artigos originais, temos o texto Conversa sobre Valores: construindo sentidos, importâncias e caminhos na prática clínica, de Pedro Pablo Sampaio Martins, Ana Flávia Nascimento Manfrim e Giovanna Cabral Doricci. São descritos neste texto recursos terapêuticos baseados na epistemologia construcionista social para auxiliar o/a cliente a nomear valores importantes para si a partir da produção de sentidos sobre os acontecimentos de sua vida. As reflexões tomam por base a apresentação de um caso clínico.

O terceiro artigo desta edição titula-se Conversações com a morte: experiências em terapia colaborativa dialógica para situações de perda e luto, de Bruno Lenzi. Neste texto, seguimos com a proposta de trazer recursos terapêuticos, neste caso, sobre o desconforto de perdas significativas. O autor fundamenta-se na terapia colaborativa dialógica e traz relatos de casos para ilustrar suas reflexões.

E a partir do quarto artigo, temos uma novidade aos/às nossos/as leitores/as. Trazemos nesta edição um Dossiê focado na interface entre a prática clínica de consultório e demandas do contexto jurídico, versando sobre litígio e, especialmente, Alienação Parental, como temas centrais, e seus impactos para filhos e filhas. Tema importante para trazer ao cotidiano do consultório privado preocupações, conceitos e ponderações de colegas psicólogos do âmbito jurídico e acadêmico, ampliando o olhar sistêmico, complexo e preocupações éticas e redução de determinismos sobre estes temas.

O primeiro texto, portanto, titula-se Psicólogas(os) clínicas(os) e as demandas de mães e pais em litígio, de Analicia Martins de Sousa e Fernanda Hermínia Oliveira Souza. A partir da experiência das autoras, discute-se acerca da produção de documentos por psicólogos que atuam no consultório privado sobre processos judiciais sobre a guarda de filhos, com alegações de alienação parental e/ou abuso sexual infantil. Tais documentos têm resultado em denúnicas éticas nos conselhos. Constata-se o reduzido envolvimento destes profissionais clínicos nos debates de família e pós-divórcio, sendo muito necessário o diálogo interdisciplinar e o debate sobre judicialização.

O segundo texto do dossiê tem o título Por Uma Visão Sistêmica e Crítica sobre os Pressupostos de Alienação Parental na Prática Clínica com Indivíduos, Casais e Famílias, e foi escrito por Sérgio Alberto Bittencourt Maciel, Josimar Antônio de Alcântara Mendes e Luciana de Paula Gonçalves Barbosa. Os/as autores/as trazem vinhetas clínicas como um estudo de caso para discutir o tema da alienação parental a partir de um olhar fundamentado na perspectiva sistêmica. Discutem criticamente sobre a tentativa de classificar ou explicar comportamentos usuais de desavenças conjugais e parentais, assim como problematizam o lugar do profissional clínico na construção do diálogo e objeto de intervenção.

O título do terceiro artigo é Dinâmicas Disfuncionais em Casos de Disputa de Guarda e Alegações de Alienação Parental na Justiça: uma Compreensão Sistêmica, de Luciana de Paula Gonçalves Barbosa, Josimar Antônio de Alcântara Mendes e Mariana Martins Juras. Neste texto, os autores apresentam também um estudo de caso, com base em atendimentos feitos no tribunal de justiça do Distrito Federal. Discutem a causalidade circular das dinâmicas apontadas como “alienação parental” e as incursões sobre o papel e postura do profissional da equipe psicossocial na perspectiva sistêmica.

Por último, temos o artigo Impacto do litígio nos filhos, de Regina Peregrino, Maria Lucy Abelin, Maria de Jesus Lopes, Márcia Rubinsztajn e Berenice Ribeiro, participantes da equipe do Noos, atuantes da Equipe de Atendimento a Famílias em Situação de Litígio. A proposta deste artigo é relatar a experiência de atuação destas profissionais no tema, fundamentando-se no tripé teórico: terapia sistêmica embasada no construcionismo social, teoria da comunicação e teoria da mediação. Além disso, relatam algumas das consequências dos litígios para crianças, ilustrando com relatos de casos.

Esperamos que este dossiê traga provocações e reflexões críticas para nossos/as leitores/as, conectando inquietações da área de psicologia jurídica e as interfaces com a psicologia clínica, atentos também à psicologia social crítica e sociajurídica. Priorizamos estes autores e autoras neste dossiê entendendo a importância de suas experiências já reconhecidas neste campo, com experiências dentro dos tribunais de justiça e meio acadêmico, atentos as estratégias e recursos que temos na clínica sistêmica. Esperamos que estes textos tragam aprimoramentos para o campo, evitando problemas recorrentes éticos e reducionismos ou determinismos sobre o tema.

Por fim, seguimos para a apresentação das seções desta edição. Em Conversando com a mídia, temos a resenha da série “8 em Instambul”, da Neftlix, escrito por Cecília Cruz Villares. Em Ecos, somos convidados a realizar a leitura do texto publicado na edição da NPS anterior a esta, titulado “Grupos reflexivos de gênero para homens no ambiente virtual – primeiras adaptações desafios metodológicos e potencialidades”, tema contemporâneo e inovador para os tempos que vivenciamos. Em Estante de Livros, aproveitando o foco psicojurídico desta edição, temos a resenha feita por Juliana Silveira Di Ninno, Ludimila Regina Rosenthal Caetano de Oliveira, do livro Práticas Psicológicas nas Varas de Família (2019, ed Juruá), de autoria de Juliane Dominoni Gomes, Isabel Maria Farias Fernandes de Oliveira e Ana Ludmila Freire Costa. E para fechar as seções, em Família, Comunidade em Foco, trazemos a reflexão da terapeuta de família Denise Gomes sobre o momento atual de mudanças em nossas relações devido ao cenário de Pandemia e as implicações vividas até o momento em seu contexto familiar, comunitário e profissional. A autora reflete sobre seus privilégios, a produção de sentidos e significados sobre este momento. Traz perguntas importantes a nós como leitores e leitoras sobre nossos contextos comunitários, familiares e contexto futuro.

Desejamos a todos/as uma excelente leitura.

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