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Acta Comportamentalia

versão impressa ISSN 0188-8145

Acta comport. vol.18 no.2 Guadalajara  2010

 

ARTÍCULOS

 

As extensões do tacto segundo a concepção skinneriana de propriedade de estímulo

 

The extensions of tact according the Skinnerian conception of stimulus property

 

 

Paulo Roberto dos Santos Ferreira1; Camila Domeniconi; Júlio César Coelho de Rose

Universidade Federal de São Carlos
Universidade Federal de São Carlos
Universidade Federal de São Carlos

 

 


RESUMO

Em Verbal Behavior, B. F. Skinner apresenta uma interpretação a respeito das extensões do operante verbal tacto. Incluída em sua interpretação está uma categorização das extensões do tacto: genérica, metafórica, metonímica, solecista, nomeação e adivinhação. No entanto, o modo como tais categorias derivam-se de classes verbais estabelecidas não está devidamente esclarecido em sua obra. Também não estão definidas as regras que são consideradas pelo autor ao realizar a classificação dos tipos de extensões. Procurando explicitar, com base estritamente na interpretação skinneriana, o (1) mecanismo de extensões do tacto, e a (2) lógica envolvida na sua categorização, buscou-se, no Verbal Behavior e em textos prévios do autor, informações que permitissem elucidar esses importantes aspectos de sua interpretação. Destacou-se, no curso da investigação, a importância da noção de propriedade de estímulo na interpretação skinneriana das extensões do tacto como uma noção fundamental na explicitação do mecanismo comportamental envolvido nas extensões, ou mesmo subsidiando a categorização dos diferentes tipos apresentados pelo autor. A partir disso, enumerou-se, em ordem decrescente de probabilidade de emissão, as extensões do tacto: extensão genérica, extensão metafórica, extensão metonímica, solecismo e adivinhação.

Palavras chave: comportamento verbal, extensões do comportamento verbal, tacto, comportamento novo


ABSTRACT

In Verbal Behavior, B. F. Skinner presents an interpretation about tact extensions. Included in his interpretation there is a categorization of extensions of tact: generic, metaphorical, metonymical, solecistic, nomination and guessing. However, how such categories are derived from verbal classes set is not properly clarifi ed in his work. There are also no set rules that are considered by the author to perform the classification of types of extensions. Trying to explain, based strictly on Skinner's interpretation, (1) the extension mechanism of tact and (2) the logic involved in his categorization, we investigated, in Verbal Behavior and previous texts of the same author, information which would clarify these important aspects of his interpretation. It was emphasized in the course of present text, the importance of the concept of stimulus property in the skinnerian interpretation of extensions because it is a fundamental concept in description of behavioral mechanism involved in extensions and, to other hand, it can be a base to various categorizations of tact extensions presented by Skinner. Therefore, tact extensions were organized, in decreasing order, in accord to probability of appearance: generic, metaphorical, metonymical, solecistic, and guessing.

Key words: verbal behavior, extensions of verbal behavior, tact, novel behavior


 

 

Skinner apresenta, no Verbal Behavior (Skinner, 1957), uma sofisticada interpretação do comportamento verbal, o que inclui a categorização das relações verbais características do repertório de um falante típico. Destaca-se, em seu texto, a formulação detalhada do operante verbal tacto. Segundo o autor, o tacto define-se como o operante verbal em que o primeiro termo da contingência operante, o estímulo discriminativo, é não verbal (p. 81). Mas, apesar de ser considerado por Skinner como o mais importante dos operantes verbais, devido principalmente à relação singular que possui com o ambiente não verbal (Skinner, 1957, p. 83), o tacto apresenta características bastante específicas, e subclassificações cujos critérios não estão devidamente explicitados em sua obra.

Um importante conjunto de subclassificações do tacto é o das denominadas "extensões" (pp. 91-107). As extensões do tacto são bastante discutidas em sua formulação, mas não é fácil identificar as regras que subsidiam essa subclassificação de operantes verbais. Grande parte do que se encontra a respeito no Verbal Behavior é a interpretação de tipos de contingências ambientais que levariam às extensões do tacto. As extensões do tacto correspondem a uma subclassificação do tacto e envolvem, de um modo geral, as figuras da linguagem tal como entendidas pelo uso vernacular, como metáfora e metonímia, por exemplo.

Por outro lado, é fácil constatar a importância das respostas verbais metafóricas, e de outros tipos de extensões do tacto, na interpretação do comportamento verbal, seja em contexto próprio da literatura ou do cotidiano.

Figuras de linguagem ou, em alguma medida, estímulos verbais produzidos por respostas características das extensões do tacto, são produções importantes, seja do comportamento verbal cotidiano, literário ou científico. Destaca-se que as respostas verbais que produzem tais estímulos verbais são o foco da interpretação skinneriana do comportamento verbal. Sendo assim, é relevante que uma explicação do comportamento verbal considere esse aspecto do comportamento humano e, como se sabe, isso implica na identificação de aspectos objetivos e funcionais relevantes à abordagem científica do comportamento proposta por Skinner (1950, 1953/1965, 1957). Trata-se, nesse caso específico, de se considerar a necessidade de uma definição clara de termos técnicos imprescindíveis a uma apreensão do objeto de estudo da Análise do Comportamento, que consiste nas propriedades de estímulos que controlam a emissão das extensões do tacto.

A presente exposição pretende uma explicitação sistemática do mecanismo comportamental de extensão do tacto, fundamentada estritamente na formulação skinneriana do comportamento verbal. Entende-se por mecanismo comportamental o conjunto de processos comportamentais elementares que subsidiam o comportamento complexo em estudo. Apresentar o mecanismo comportamental corresponderá, nesse sentido, a uma descrição dos tipos de variáveis responsáveis pelos processos comportamentais envolvidos nas emissões do tacto estendido. Tal meta tem como justificativa que um esclarecimento desse aspecto da perspectiva skinneriana, ao permitir distinguir e descrever as variáveis responsáveis pelas extensões do tacto poderá colaborar com uma interpretação mais eficiente, da parte dos analistas do comportamento ou de outros profissionais interessados na abordagem, desse importante tópico de interpretação do comportamento verbal.

A concepção e interpretação skinneriana do comportamento verbal foi e é, sem sombra de dúvida, inspiração para uma grande quantidade de estudos teóricos e empíricos da área. Há, inclusive, uma revista dedicada exclusivamente à publicação de trabalhos relacionados ao tópico inaugurado por Skinner: The Analysis of Verbal Behavior. No entanto, é importante também reconhecer, com Sundberg (1991), que muito ainda precisa ser feito nesse importante tópico de estudo do comportamento. Isso não significa, é claro, que o Verbal Behavior (Skinner, 1957) tenha um caráter prescritivo, ou que a formulação skinneriana tenha qualquer aspecto que denote o caminho para uma verdade inelutável. Supô-lo seria um contra-senso em relação à perspectiva do próprio autor, B. F. Skinner, por sua vez confiante no empreendimento científico como gerador ininterrupto de conhecimento (Skinner, 1953/1965). Em uma palavra, a interpretação skinneriana do comportamento verbal não é, felizmente, consensual, e prova disso é que tem recebido críticas e reformulações dentro e fora da Análise do Comportamento (Chomsky, 1959; Hayes, Barnes-Holmes, Roche, 2001; Horne & Lowe, 1996; Sidman, 1994; 2000).

Mesmo as críticas e reformulações citadas demonstram que a concepção skinneriana do comportamento verbal constitui o ponto de partida da posição comportamentalista radical no estudo da área. Essa simples proposição é suficiente para sugerir, se não a adequação, pelo menos a produtividade da sua argumentação. O texto skinneriano é fonte rica de idéias para o desenvolvimento de novos estudos, teóricos e empíricos. Apesar disso, há aspectos da formulação skinneriana que não foram suficientemente desenvolvidos e que são, sugestivamente, merecedores de uma atenção mais cuidadosa e, possivelmente, produtiva no sentido de levar ao melhor entendimento científico do comportamento verbal. Um desses aspectos é o da categorização skinneriana das extensões do tacto.

Peterson (1978) apresenta, em seu texto introdutório ao estudo do Verbal Behavior, uma sistematização das definições consideradas por ele as mais importantes do livro. Encontra-se, em seu texto, uma classificação de tipos de variáveis controladoras (p. 5, 15 e 19), de operantes (pp. 43-84) e, no caso do tacto, também de tipos de extensões, exclusivamente as extensões genérica (pp. 95-98), metafórica (pp. 99-102) e metonímica (pp. 107-108). O mérito do "An Introduction to Verbal Behavior" (Peterson, 1978) é inquestionável, principalmente se for considerado que permite ao leitor aprender, de uma forma clara e em poucas páginas, noções que estão distribuídas no texto bem mais extenso e complicado de Skinner.

No entanto, apesar de ir um pouco além da formulação original de Skinner, no sentido de esboçar uma sistematização explícita na classificação das extensões do tacto, Peterson (1978) não é muito preciso e deixa de especificar aspectos importantes das diferenças entre as extensões, além de não lidar com todas as extensões apresentadas por Skinner (1957). Essa limitação em seu texto justifica-se pelo intento do autor, que é o de fornecer um material facilitador para o iniciante ao estudo do Verbal Behavior, ao invés de ser uma análise suficiente de todos os aspectos da formulação skinneriana. Além disso, Peterson (1978) emprega, diferentemente de Skinner, o conceito de operações estabelecedoras (pp. 19-24), o que diferencia, em muitos pontos, a sua abordagem daquela presente no Verbal Behavior. Portanto, cabe dizer que o presente texto é, em parte, um aprofundamento do tratamento iniciado por Peterson em um aspecto específico do Verbal Behavior, que é o das extensões do tacto.

O objetivo da presente investigação é duplo, e consistiu em:

(1) identificar os mecanismos comportamentais que fundamentam e explicam as extensões do tacto;

(2) sistematizar a categorização skinneriana das extensões do tacto.

Procurando atender a esse duplo objetivo percebeu-se que, antes, seria preciso uma consideração cuidadosa de aspectos teóricos mais básicos, fundamentais, da teoria skinneriana. A esse respeito, atenção especial será dada à formulação skinneriana de classe e propriedades de estímulos. A suposição aqui envolvida é a de que somente assim tornase possível discutir, de um modo mais preciso, a categorização skinneriana dos tipos de extensões do tacto. Dessa forma segue-se, na presente investigação, o seguinte itinerário: (1) Concepção genérica de estímulo: classe e propriedade; (2) Tacto como classe e como ocorrência; (3) Tacto padrão; (3) Extensões do tacto; (4) Tipos de extensões do tacto.

 

CONCEPÇÃO GENÉRICA DE ESTÍMULO: CLASSE E PROPRIEDADE

Segundo a perspectiva skinneriana, a explicação psicológica envolve a identificação de regularidades no comportamento dos organismos o que inclui, necessariamente, a descrição de processos e eventos comportamentais (Skinner, 1953/1965, pp. 45-224). Diferencia-se, por conseguinte, processos e eventos comportamentais. Podem ser considerados "processos comportamentais", no caso do operante, o reforçamento, a extinção e o controle discriminativo. São termos que definem a modificação, a criação e a manutenção do comportamento ou, simplesmente, a modificação na probabilidade de ocorrência de respostas operantes. Por outro lado, dentre os eventos comportamentais pode-se enumerar: respostas, estímulos reforçadores, discriminativos e aversivos.

Em um primeiro momento, deve-se notar que há, principalmente, três tipos de eventos comportamentais que definem o comportamento operante: as variáveis independentes, estímulos discriminativos e reforçadores, e as variáveis dependentes, respostas do organismo. Segundo Skinner (1953/1965, p. 109), tais eventos comportamentais, estímulos discriminativos, respostas e estímulos reforçadores, compõem a denominada "contingência de três termos" e definem o comportamento operante. A contingência de três termos é, portanto, uma relação complexa entre eventos. Concebe-se o comportamento operante, portanto, pela relação entre eventos, estímulos e respostas. Ainda, os eventos são, sob a perspectiva skinneriana, tomados como elementos de classes, principalmente estímulos discriminativos e respostas (Skinner, 1953/1965, p. 65, 302). Skinner enfatiza o estímulo discriminativo e a resposta, no que se refere à concepção de classes comportamentais do operante, devido à possibilidade de maior detalhamento e, subseqüentemente, possibilidade de previsão e controle de ocorrências singulares do comportamento com base nos dois primeiros termos da contingência (Skinner, 1957, p. 28).

É no artigo intitulado "The generic nature of the concepts of stimulus and response" (Skinner, 1935a) que o autor desenvolve a concepção de eventos comportamentais como termos de classes. Apesar de Skinner ainda empregar, nesse texto, o termo "reflexo", a sua concepção abrange também o comportamento que mais tarde ele veio a denominar operante. Nesse caso, como exemplo de operante, temos a resposta de pressão à barra do rato (pp. 44-45) e, como exemplos de comportamentos respondentes, a flexão do joelho frente a uma pancada na patela e a salivação eliciada por uma gota de limão na boca (p. 41). É, inclusive, a concepção skinneriana dos dois primeiros termos da contingência, estímulo e resposta (Skinner, 1935a, pp. 48-49), como genérica (de classe) que permite ao autor conceber o efeito "retroativo" do terceiro termo da contingência, o estímulo reforçador, sobre a relação entre as classes comportamentais que define o operante.

A preocupação de Skinner reside na escolha de uma unidade que retenha sua identidade em diferentes ocorrências, tendo como obstáculo o fato de que "(...) é muito difícil identificar um estímulo e uma resposta que mantenham precisamente as mesmas propriedades em duas ocasiões sucessivas. (...)" (Skinner, 1935a, p. 40).

A presente exposição não se deterá em todas as considerações teóricas de Skinner, uma vez que o interesse aqui é bastante específico. A seguir apresenta-se, diretamente, a conclusão que interessa aos objetivos da investigação:

(...) A stimulus or a response is an event, that is to say, not a property; and we must turn, therefore, to a definition on the principle of classes. Accordingly, if we are to continue to regard the flexion reflex as a single entity, both the stimulus and the response must be taken (tentatively, at least) as class terms, each of which embraces an indefinitely large number of particular stimuli or responses but is sufficiently well defined by the specification of one or two properties (Skinner, 1935a, p. 42).

(…) A single instance in which a pigeon raises its head is a response. It is a bit of history which may be reported in any frame of reference we wish to use. The behavior called "raising the head," regardless of when specific instances occur, is an operant. It can be described, not as an accomplished act, but rather as a set of acts defined by the property of the height to which the head is raised. In this sense an operant is defined by an effect which may be specified in physical terms; the ‘cut off' at a certain height is a property of behavior (Skinner, 1953/1965, p. 65).

O que se tem é a noção de estímulo e de resposta como elementos que dividem classes com outros elementos semelhantes, sendo a semelhança definida por propriedades compartilhadas e identificáveis objetivamente. Sendo uma concepção inicial no conjunto da obra skinneriana, acaba por subsidiar as interpretações posteriores do autor a respeito do comportamento humano (Skinner, 1953/1965, e.g.). Em resumo, a concepção genérica dos eventos comportamentais vem a ser, realmente, a definição da unidade a ser considerada nos procedimentos de análise e interpretação comportamentais, empregados em toda a obra de B. F. Skinner, e tratando idealmente de todo tipo de ação animal, do comportamento de pressionar a barra do rato ou pombo em laboratório (Skinner, 1938; Ferster & Skinner, 1957) às sofisticadas produções do homem na cultura (Skinner, 1953/1965, 1971, 1974).

A definição skinneriana de classe pauta-se nas dimensões físicas dos eventos comportamentais que compartilham uma determinada relação funcional. Isso significa que não deve ser desprezada, em uma explicação comportamentalista radical, a especificação das propriedades dos eventos comportamentais. É identificando-se tais termos precisamente, em termos de propriedades fisicamente descritas, que se obtêm o átomo comportamental de proposições analíticas e interpretativas do estudo do comportamento operante (Skinner, 1953, 1957). Segundo Skinner (1953), essa é a forma de se conceber a unidade de análise do comportamento operante que é, por sua própria natureza, um fenômeno contínuo e dinâmico: "There must be defining properties on the sides of both stimulus and response. Otherwise our classes will have no necessary reference to real aspects of behavior. (...)" (Skinner, 1935a, p. 49).

Skinner enfatiza, a esse respeito, a possibilidade de identificação de unidades funcionais descritas em termos de propriedades físicas dos eventos comportamentais:

We lack adequate tools to deal with the continuity of behavior or with the interaction among operants attributable to common atomic units. The operant represents a valid level of analysis, however, because the properties which define a response are observable data. A given set of properties may be given a functional unity. Although methods must eventually be developed which will not emphasize units at this level, they are not necessary to our understanding of the principal dynamic properties of behavior. (Skinner, 1953/1965, p. 95).

Ao se definir os eventos comportamentais como elementos de classe respeitamse, simultaneamente, a dois critérios imprescindíveis na definição comportamental: (1) inclusão, em uma determinada classe, de eventos semelhantes (não idênticos), e (2) estabelecimento de relação funcional entre eventos que se diferenciam.

É inevitável reconhecer que, sob a perspectiva skinneriana, se os eventos de uma relação comportamental fossem absolutamente diferentes, não haveria como incluí-los em uma mesma classe, ou fundamentar a definição comportamental, a partir de uma perspectiva fisicalista de descrição dos eventos. Basta lembrar que, sem essa possibilidade, não seria possível identificar um determinado evento como fazendo parte de uma relação comportamental. Em outras palavras, uma relação comportamental deve ser concebida como relação de eventos (estímulos e respostas) e, sem uma descrição adequada e suficiente dos referidos eventos não seria possível a inferência de uma relação funcional entre tais eventos – ou descrição científica dessa relação.

Ao resolver o problema da identificação dos termos científicos de sua abordagem psicológica do comportamento, Skinner define a descrição de eventos como a enumeração de propriedades físicas com funções comportamentais verificáveis (Skinner, 1935a, 1935b, 1938). Segundo a sua suposição, cada evento comportamental é passível de uma descrição em uma diversidade de propriedades físicas, e à identificação de um elemento ou ocorrência, delineia-se a classe fundamentada na semelhança de eventos, em termos de comunidade de propriedades. Essa semelhança é também atestada pelo fato de que os eventos compartilham também uma mesma relação funcional.

A descrição de propriedades físicas, de eventos em termos fisicalistas, não implica na prescrição de que tal descrição deva se referir, a priori, a uma linguagem restrita ao domínio das ciências físicas. Exemplificando, uma classe de respostas pode ser descrita, de fato, com a especificação da propriedade "erguer o braço direito". No procedimento de identificação das propriedades, o que se tem é uma formulação crescentemente complexa e precisa da classe, que deve ter como ressalva a não inclusão de propriedades que não são definidoras da classe em foco. Nesse sentido, é preciso que não se peque, seja por uma pobreza de detalhe, pois uma grande generalidade é vaga, seja por um exagero no detalhe, pois muita especificidade desnaturaliza o objeto, no sentido de sua variabilidade inerente.

Isso não significa que outras propriedades dos eventos comportamentais sejam absolutamente irrelevantes, ou que não apresentem uma relação de determinação com o comportamento. O que ocorre, de fato, é que a perspectiva científica formulada por Skinner, o enfoque em determinada classe comportamental, enfatiza as propriedades dos eventos suficientes na definição de classe, na inclusão das ocorrências que compartilham de uma mesma relação funcional. É necessário também que as propriedades descritas sejam suficientes na identificação das classes ou, em outras palavras, que a descrição do conjunto de propriedades de uma classe não se confunda com a descrição do conjunto de propriedades de outra classe operante.

Uma primeira conseqüência do que foi dito é que a descrição de propriedades, no caso de cada uma das ocorrências, é mais complexa do que a definição da classe envolvida. Em uma palavra, um evento pode sempre ser mais ricamente descrito do que a própria classe que compartilha com outros eventos semelhantes. A partir dessa possibilidade, não é equivocado considerar que os eventos apresentam um elenco de propriedades, sendo algumas menos e outras mais importantes na inserção do elemento na classe – levando, ainda, à conclusão de que há uma hierarquia de importância comportamental das propriedades do evento, de uma perspectiva de determinada classe. A esse respeito tem-se, entre os extremos "propriedades definidoras" e "propriedades não definidoras" dos eventos comportamentais, propriedades com distintos graus de importância na definição da classe em foco. Esse ponto da formulação skinneriana, pode-se adiantar por ora, será fundamental na nossa interpretação das extensões do tacto:

(...) There is no unique set of non-defining properties peculiar to a given defining property, and we have to deal, not with a single series, but with a complex set of ramifications from a single virtual source, approaching as limits an indefinite number of different completely restricted entities (Skinner, 1935a, p. 51).

A diferenciação na importância das propriedades que caracterizam os estímulos de uma classe comportamental acaba levando, ainda, a uma diferenciação entre os estímulos que compõem as classes comportamentais. Esse ponto da definição skinneriana de classe comportamental, com ênfase no estímulo discriminativo, é fundamental à interpretação do operante tacto. Uma razão para isso é que o tacto, ao ser controlado pelo "mundo não verbal", possivelmente mais rico e diverso do que o ambiente verbal no que se refere à variabilidade de estimulação acaba apresentando uma multiplicidade de relações de controle discriminativo. É essa complexidade inerente ao estímulo discriminativo do tacto que implica em um detalhamento da função do ambiente estimulador no controle do comportamento verbal no caso específico desse tipo de operante verbal.

Pode-se exemplificar a distinção entre o ambiente verbal e não verbal, lembrando que um estímulo verbal como a palavra escrita "macaco" não depende de propriedades como cor, tamanho e odor, para funcionar como estímulo verbal. Tais propriedades seriam, de acordo com a concepção skinneriana (Skinner, 1935a), propriedades não definidoras do estímulo. Ao contrário, a imagem do macaco apresenta uma multiplicidade de propriedades de estímulos realmente importantes à sua definição como estímulo não verbal no controle do tacto.

 

TACTO COMO CLASSE E COMO OCORRÊNCIA

A partir do que se viu, em relação à concepção genérica de estímulo e resposta, torna-se importante tomar um operante verbal, como o tacto, em termos de classe. Nesse sentido, o tacto é o operante verbal que apresenta a relação funcional entre uma classe de estímulos não verbais e uma classe de respostas verbais. Adicionalmente, sabe-se que ambas as classes definem-se por algumas propriedades, e não se definem por outras, sendo ainda algumas propriedades definidoras mais importantes do que outras. Considerando que o aspecto aqui tratado, de extensões do tacto, diz respeito aos estímulos discriminativos, será enfatizada, a partir desse momento, unicamente a classe de estímulos não verbais estabelecida na relação tacto.

Igualmente, deve-se explicitar a definição skinneriana de tacto. Segundo Skinner, o tacto: (1) é um tipo de operante verbal; (2) tem como estímulo discriminativo estímulos não verbais; (3) tem como resposta qualquer forma de resposta verbal; (4) apresenta relação específica com estímulo discriminativo não verbal, e não com operações motivacionais ou emocionais; (5) é estabelecido e mantido por reforçamento generalizado (Skinner, 1957, 83-86); (6) é uma relação específica, e não uma subdivisão maior do repertório (diferentemente, portanto, da subdivisão que Skinner afirmou ser controlada pela "audiência") (Skinner, 1957, p. 173; 185-186).

Parte das implicações da concepção genérica de estímulo para a definição do tacto reside na diferenciação entre classe e ocorrência. O tacto, como qualquer outro comportamento operante, é uma classe comportamental. As ocorrências desse tipo de operante, por seu turno, são os elementos da classe. Não faz sentido dizer que o tacto, ao se definir como classe, é uma extensão ou padrão. Tais qualificativos referem-se às ocorrências, como se apresenta a seguir.

 

TACTO PADRÃO

Tendo reconhecida no operante a sua natureza genérica, de classe, pode-se discutir sobre as ocorrências do tacto. Em sua interpretação detalhada do tacto, Skinner categoriza subtipos de ocorrências desse operante verbal. Um primeiro tipo de operante verbal tacto é o que Skinner denomina de "tacto padrão" ("standard tact"). Infelizmente, Skinner não explicita a definição do tacto padrão. Ainda, dificultando um pouco mais a presente interpretação, encontra-se no Verbal Behavior apenas duas ocorrências do termo "tacto padrão" ("standard tacts"):

"(...) In metaphor, however, new properties of nature are constantly being brought into control of verbal behavior. These become stabilized as standard tacts, subject in turn to further generic or metaphorical extension." (Skinner, 1957, p. 95)

"(...) A new-born child, a newly-invented machine, a newly-discovered flower, a newly-founded town these are novel occasions for which standard tacts are lacking." (Skinner, 1957, p. 103)

Apesar dessa escassez de evidências textuais a respeito do termo, é relativamente claro o uso skinneriano de "tacto padrão". O tacto padrão é qualificado em oposição aos tactos estendidos, no que se refere ao seu grau de novidade. Desse modo, pode-se explicitar que: Tacto padrão é aquele cuja ocorrência segue estritamente as contingências verbais que estabeleceram a classe de estímulos, não correspondendo a nenhum tipo de generalização ou, em uma terminologia empregada por Skinner no Verbal Behavior, "extensão". O tacto padrão é o tacto prototípico, a ocorrência que apresenta pouca variabilidade em relação às propriedades de estímulos responsáveis pelo seu fortalecimento ou emissão. É uma ocorrência comportamental e, por corresponder às propriedades que definem a classe comportamental, somos tentados a denominar a classe como um todo de tacto padrão. Contra essa alternativa, verifica-se que o uso do qualificativo "padrão" se dá, no texto skinneriano, em relação a ocorrências do tacto, em oposição a ocorrências que seriam qualificadas de extensão.

When an extension of this sort is reinforced by the verbal community, the tact becomes a standard operant under the control of a single property. No further process of extension is involved when the response is later emitted in the presence of a novel stimulus possessing this property (Skinner, 1957, p. 92).

O tacto padrão corresponde estritamente às contingências de reforçamento mantidas pela comunidade verbal responsável pelo comportamento do falante. Isso não quer dizer que a classe de estímulos que define uma relação do tipo tacto permaneça inalterada, mas sim que uma ocorrência do tacto padrão não acrescenta grandes modificações à classe. O tacto padrão não acrescenta ou retira qualquer aspecto do comportamento tido como necessário ao entendimento, ação apropriada, da comunidade. Mas a noção de classe e propriedade será útil, nesse momento, no sentido de contribuir com uma definição mais precisa do tacto padrão: o tacto padrão é a ocorrência que apresenta todas as propriedades definidoras da classe operante em questão. Em suma, o tacto padrão é aquele emitido sob controle estrito dos mesmos tipos de variáveis, a saber, determinada configuração de propriedades discriminativas de estímulos, definidoras da classe.

O tacto padrão não é, portanto, uma generalização, ou extensão, do tacto. Há dois aspectos importantes relacionados a esse fato: (1) o tacto padrão não apresenta variações importantes em diferentes emissões, e (2) o que pode ser tacto padrão para um indivíduo, pode não ser para outro. Refinamentos do critério (1) serão dados a seguir, no momento em que especificarmos de outro modo emissões de tactos que apresentam variações importantes com relação à classe. Por outro lado, o critério (2) é fundamental para que não se confunda o repertório estabelecido em cada indivíduo com aquilo que é próprio das práticas em vigor na comunidade verbal. Esse ponto distingue o escopo da concepção skinneriana de extensão, daquele abarcado pelo termo "figura de linguagem". Aproximações entre práticas verbais da comunidade verbal e o comportamento de cada indivíduo são muitas, mas o controle exercido pela comunidade não é nunca o mesmo para cada um dos seus indivíduos, ou mesmo para certo indivíduo em momentos distintos de sua história. O tacto, como todo operante, é dinâmico e precisamente determinado pelas contingências ambientais que constituem sua história. Esse aspecto serve para mostrar que a presente interpretação concorda com Skinner no sentido de ter como foco de análise e interpretação o comportamento individual, ainda que seja fruto de uma interação social, com outros indivíduos da comunidade.

 

EXTENSÕES DO TACTO

As extensões, diferentemente do tacto padrão, são as emissões do tacto que apresentam variações importantes na configuração e composição das variáveis discriminativas que controlam a ocorrência. Outro modo de considerar a distinção é ver que o tacto padrão refere-se essencialmente à classe comportamental, apresentando ocorrências estritamente próximas à especificação da classe. Ao contrário, o tacto estendido é necessariamente uma ocorrência comportamental nova, distinta das especificações da classe, e não se confunde, portanto, com a classe.

Ao se descrever todas as propriedades discriminativas responsáveis pela ocorrência do tacto estendido, não encontraremos todas as propriedades definidoras da classe relacionada. Por essa razão, podemos reconhecer no tacto estendido uma emissão nova do comportamento verbal – nova no que diz respeito às propriedades discriminativas que são responsáveis pela sua ocorrência. Nesse sentido, o mecanismo comportamental envolvido na extensão do tacto consiste na presença, em estímulos novos, de propriedades discriminativas previamente estabelecidas para a classe relacionada.

A relação entre as categorias do tacto, padrão e estendido, não é, como pode parecer claro, apenas de distinção. O tacto estendido tem sua origem em ocorrências do tacto padrão – é o estabelecimento de uma emissão verbal sob controle discriminativo padronizado que subsidia a emissão sob o controle de variações em torno desse tipo de configuração estimuladora. Por outro lado, é verdade também que a ocorrência da extensão do tacto, ao constituir igualmente a história de reforçamento do falante, ajuda a definir o que será o tacto padrão em ocorrências futuras. Nota-se, nesse ponto, que a relação entre extensão e padrão é bastante dinâmica, e traduz-se pelo estabelecimento de propriedades discriminativas de estímulos.

Em um primeiro momento, é possível afirmar que as extensões do tacto são generalizações do tacto padrão mas, como se verá, a interpretação skinneriana é mais precisa e detalhada, levando a uma diferenciação entre tipos de generalizações do tacto e, o que será até mais interessante de acordo com nosso ponto de vista, também a uma explicação do modo como as extensões do tacto emergem do estabelecimento de classes de tactos.

 

TIPOS DE EXTENSÕES DO TACTO

O presente texto se ocupará, nesse momento, do importante conjunto de subtipos de tacto que Skinner (1957, p. 91) denomina de "tacto estendido". Nesse conjunto, temos os tactos que são ocasionados por um estímulo discriminativo novo, no sentido de apresentar apenas uma ou algumas das propriedades que fortaleceram a mesma forma de resposta em ocorrências passadas e que definem a classe. O tacto estendido refere-se, por conseguinte, sempre a uma primeira ocorrência, pois ocorrências subseqüentes apresentarão o fortalecimento discriminativo por propriedades que passaram a constituir a definição da classe relacionada. Ademais, o que se tem, necessariamente, é a ocorrência de um estímulo "novo" com algumas, ou pelo menos uma propriedade "velha".

Esse conjunto importante de tactos comprova o fato de que o controle de estímulos nunca é perfeito ou, mais exatamente, que o controle do comportamento ocorre rigorosamente no nível das propriedades de estímulos (Skinner, 1957, p. 91). A interpretação skinneriana do controle de estímulos baseia-se, portanto, no controle por propriedades, o que permite ainda uma classificação consistente dos tipos de extensões do tacto.

É fundamental considerar que as propriedades de estímulos que determinam a relação do tipo tacto podem ser inúmeras incluindo, além das propriedades definidoras, imprescindíveis na definição da relação, propriedades de estímulos menos importantes, não definidoras segundo a concepção genérica de estímulo (Skinner, 1935a). Como conseqüência das contingências de reforçamento sobre a classe comportamental, constitui-se uma hierarquia de propriedades de estímulos, no que toca a importância correspondente de cada propriedade de estímulo discriminativo na definição da classe. Por exemplo, a classe de estímulos visuais oriundas de um determinado cachorro teria, em ordem decrescente de grau de importância: quantidade de patas, pelagem, presença do focinho, disposição dos membros, tamanho e movimentação típica. Não é raro, como se sabe, que crianças, antes de distinguirem perfeitamente o que seja um cachorro, "estendam" o tacto a vacas e cavalos. De qualquer modo, as propriedades não definidoras da classe não são absolutamente irrelevantes:

(...) A rigorous definition without regard to non-defining properties is, in fact, probably impossible because, as we have seen, the defining property can be made to fail by taking extreme values of other properties. Nor are the actual members of either class ever exhaustively investigated; so that it may be said that these broad terms are defined neither by specification of properties nor by enumeration. (Skinner, 1935a, p. 50)

Skinner apresenta, no Verbal Behavior, seis extensões do tacto, segundo a sua classificação. São elas, as extensões: genérica, metafórica, metonímica, solecista, adivinhação e nomeação. É interessante ressaltar, nesse momento, que a noção de propriedade é de grande importância no entendimento da interpretação skinneriana do tacto, e também das extensões do tacto. Uma evidência formal que sugere a correção dessa afirmação é a freqüência textual das palavras "propriedade" ("property") e "propriedades" ("properties") no referido capítulo, em comparação com a freqüência das mesmas palavras em todo o livro. Convém lembrar que o capítulo sobre o tacto é um dentre 19 capítulos, além de apresentar cerca de 70 páginas, contra mais de 460 páginas constituintes de todo o livro. Apesar disso, somando-se as ocorrências de "propriedade" e "propriedades" temos 175 e 352 ocorrências, respectivamente, no capítulo do tacto e em todo o Verbal Behavior. Esse dado é uma evidência quantitativa a respeito do registro do comportamento verbal do autor, B. F. Skinner, e sua importância reside unicamente em sugerir a relevância do termo "propriedade" na interpretação do tacto. O que importa, nesse momento é explicitar a evidência teórica sobre a importância da noção de propriedade em uma interpretação skinneriana das extensões do tacto. Sendo assim, a exposição começará pela extensão genérica.

A extensão genérica do tacto define-se como aquela em que as propriedades responsáveis pela ocorrência são aceitáveis e úteis para o ouvinte (Skinner, 1957, p. 91):

The property responsible for the extension of the response from one instance to another is the property which determines the reinforcing practice of the community. Since it is also the important property for the listener upon a novel occasion, the extended response is acceptable and useful (Skinner, 1957, p. 91).

São, portanto, propriedades consistentemente correlacionadas com o reforçamento fornecido pela comunidade verbal. É comum que, na extensão genérica, tenhamos a referência aos objetos como um conjunto especial de propriedades. Segundo Skinner, não é necessário supor que isso ocorre porque eles são mais concretos e, por isso, mais prontamente percebidos do que as propriedades isoladas. O que ocorre é que, nesse caso, as contingências estabelecidas pela comunidade verbal, ao se fundamentarem na utilidade, têm, como um resultado bastante provável, a constituição de classes de estímulos definidas, em grande parte, pelos conjuntos de propriedades que comumente se referem aos objetos (Skinner, 1957, pp. 91-92).

A extensão genérica é uma ocorrência muito próxima à ocorrência padrão, o que pode dificultar a distinção entre esses dois tipos de ocorrências do tacto. A diferença reside entre uma emissão controlada, por exemplo, por uma cadeira específica, que já controlou emissões anteriores do tacto, ou por qualquer cadeira nova com a qual o falante se depare dali por diante (Skinner, 1957, p. 91). Em suma, a extensão genérica apresenta as mais importantes propriedades discriminativas na definição da classe estabelecida, mas não todas as propriedades definidoras. Além disso, ocorrências de extensões genéricas não têm grandes efeitos sobre a definição da classe:

Generic extension respects the original reinforcing practice, which persists unchanged in the verbal community even though the range of effective stimuli may be extended as more and more instances with new collateral properties are reinforced. The total number of stimulus properties respected by the language is not increased (Skinner, 1957, p. 95).

É importante lembrar, nesse ponto, que o falante tem sua história constituída por ocorrências, o que o deixa, em princípio, à mercê das especificidades características da sua experiência. Daquilo que foi dito, uma história que contenha uma diversidade maior de cadeiras como estímulos discriminativos do tacto tornará mais provável a emissão de extensões genéricas. A resposta verbal que se configura como uma extensão genérica, apesar de ser controlada pelas propriedades importantes à comunidade no estabelecimento da classe é, ainda assim, uma nova ocorrência, uma emissão sob o controle de apenas algumas (realmente, mais importantes) das propriedades que definem a classe.

Extensão metafórica (Skinner, 1957, pp. 92-99), por seu turno, define-se como a extensão controlada por propriedades secundárias do estímulo não verbal. Entende-se por propriedades secundárias as propriedades de estímulos que não são isoladamente suficientes, chegando a ser algumas vezes desnecessárias na definição das práticas reforçadoras da comunidade verbal e no que diz respeito ao reforçamento do tacto não estendido correspondente (tacto padrão). Isso implica em considerar como propriedades primárias as propriedades de estímulos que definem suficientemente (ou quase) as práticas reforçadoras da comunidade verbal do tacto padrão. As propriedades de estímulos discriminativas responsáveis pela emissão do tacto metafórico não são as mesmas definidas pela comunidade verbal, embora tenham sido estabelecidas, como qualquer outra, em ocorrências prévias com conseqüências reforçadoras.

"A second type of extension takes place because of the control exercised by properties of the stimulus which, though present at reinforcement, do not enter into the contingency respected by the verbal community." (Skinner, 1957, p. 92)

O tacto metafórico apresenta-se, por conseguinte, como uma espécie de corolário lógico da relativa autonomia das propriedades de estímulos na constituição das classes. Em suma, por conta da importância diferencial das propriedades na definição da classe, estabelece-se uma hierarquia das propriedades que definem as classes de estímulos o que possibilita, com a combinação de outras variáveis, o controle do tacto a partir de propriedades secundárias e, portanto, a ocorrência de tactos estendidos metafóricos. Ainda, de acordo com Skinner, após a ocorrência de uma relação metafórica, as propriedades deixam de caracterizar uma relação metafórica, e passam a compor a classe correspondente e, por conseguinte, a caracterizar ocorrências padronizadas:

When a metaphorical response is effective and duly reinforced, it ceases to be primarily a metaphor. A man is seldom called a mouse in an extended tact. Mouse has become a standard form in the reinforcing community in which small size, timidity, and other properties play an acknowledged role (Skinner, 1957, p. 94).

Pelo fato do tacto estendido metafórico ser controlado, de acordo com a definição, por propriedades relativamente menos importantes na definição da classe, é importante que outras variáveis colaborem para determinarem, em conjunto, a emissão. Skinner destaca, dentre tais variáveis, as operações motivacionais e emocionais. Situações que criam um "compromisso" ("commitment"), no sentido de obrigar o falante a responder com uma metáfora (Skinner, 1957, p. 96), são exemplos dessas variáveis, e têm como resultado o aumento da probabilidade de respostas geralmente fracas demais para serem emitidas por conta apenas do estímulo discriminativo do tacto.

As propriedades responsáveis pela ocorrência do tacto metafórico não precisam ser, necessariamente, públicas ou compartilhadas pelo ouvinte, o que remete à importância de se distinguir entre as propriedades prescritas pelas práticas reforçadoras da comunidade verbal e o conjunto total de propriedades que efetivamente determinam as respostas de um falante individual. Isso explica a origem das metáforas que, aparentemente, são fortalecidas por propriedades inéditas, não presentes nas ocorrências passadas de tactos do falante. Essas propriedades correspondem, realmente, a uma porção da estimulação exclusiva do falante (Skinner, 1957, pp. 93-94), e é nesse sentido que se pode inferir, a partir de uma extensão metafórica, a respeito das circunstâncias que têm, no passado, efetivamente fortalecido os tactos de um falante em particular.

Em um caso extremo de subjetividade do tacto metafórico, diferentes propriedades, de estímulos diferentes, geram propriedades idênticas no falante devido, por exemplo, a uma reação emocional comum2. Skinner (1957, p. 97) ilustra essa possibilidade com a frase "Julieta é o sol", proferida por Romeu. Embora possa não haver propriedade alguma comum à Julieta e ao sol enquanto estímulos é possível que ambos gerem reações emocionais com as mesmas propriedades no falante que emitiu a metáfora, no caso o Romeu. O efeito comum dos dois estímulos sobre o falante, a reação emocional, medeia, dessa forma, a extensão metafórica. Nesse caso é preciso, ainda, investigar o status da referida propriedade no controle da correspondente ocorrência do tacto de Romeu para, aí sim, categorizar o tacto como metafórico ou não. Ao analisar as propriedades responsáveis pela ocorrência de um tacto metafórico é importante, portanto, considerar o aspecto idiossincrático da história de reforçamento de cada falante e a sua eminente determinação no estabelecimento de propriedades incomuns para a comunidade verbal como um todo (Skinner, 1957, p. 94).

É possível, em alguns casos, que o falante explicite ao ouvinte, na forma de um tacto padrão, as propriedades responsáveis pela emissão do tacto metafórico (Skinner, 1957, p. 93). Trata-se de um passo importante na transformação de um controle metafórico para um controle não metafórico da mesma forma de resposta. Nesse processo, há um ganho para a comunidade verbal, que é a objetividade do estímulo verbal produzido, ou o que podemos descrever como uma maximização das conseqüências práticas para o ouvinte. Um primeiro resultado para a comunidade verbal em geral é a difusão de uma metáfora que, nesse sentido, deixa de ser uma metáfora, pois o seu controle passa a ser consistente e regular, tornando-se um tacto padrão.

Uma comparação dos tactos estendidos, genérico e metafórico, pode ser esclarecedora no tocante aos papéis que desempenham para a comunidade verbal, em termos do estabelecimento de propriedades discriminativas no repertório dos seus integrantes. A extensão genérica corresponde a um aumento constante no número de propriedades, devido ao acréscimo de diferentes estímulos à classe e, concomitantemente, a uma estabilização de propriedades devido à relativa rigidez das práticas reforçadoras da comunidade verbal. Não há, com a extensão genérica do tacto, um acréscimo significativo no conjunto de propriedades discriminativas que definem as classes. Por outro lado, com a extensão metafórica, novas propriedades vão sendo acrescentadas, colocando-se à disposição para uma possível estabilização em tactos padrões, por sua vez matérias primas de futuras extensões, genéricas ou metafóricas. Se, por um lado, a consistência característica da extensão genérica permite que os ouvintes apresentem ações prontamente efetivas, por outro, a mutabilidade da extensão metafórica é responsável pela aquisição de propriedades importantes na constituição do repertório geral de tactos, estendidos ou não (Skinner, 1957, p. 95).

Segundo Skinner (1957, p. 97), a metáfora revela propriedades de estímulos fundamentais, não apenas no controle do comportamento verbal, mas também do comportamento humano como um todo. Nesse sentido, a metáfora, ao proliferar e "libertar" as propriedades de estímulos, torna o controle de ambos os tipos de comportamentos, verbal e não verbal mais refi nado e fl exível, sob um controle discriminativo mais detalhado do ambiente. A metáfora qualifica-se, assim, como incomparável na maneira como liberta as propriedades de estímulos do ambiente, representando uma superação nas restrições impostas pelo mundo físico, conforme as propriedades apresentam-se originariamente arranjadas. Graças a esse processo, novas configurações de propriedades discriminativas passam a fortalecer formas disponíveis de respostas, verbais ou não, ampliando as possibilidades de interações efetivas do homem com o seu ambiente que, por sua vez, torna-se cada vez mais complexo (Skinner, 1957, p. 99).

Segundo Skinner, é, inclusive, sobre propriedades originariamente metafóricas que se estabelece aquele conjunto de comportamentos verbais notavelmente não metafóricos que denominamos "discurso científico" (Skinner, 1957, p. 99). O processo como um todo caracteriza a relação da literatura com a ciência. Segundo o autor, a comunidade literária, geralmente desprezando as conseqüências práticas e, por isso, propiciando tactos estendidos metafóricos, subsidia a comunidade de falantes, aumentando a quantidade de propriedades de estímulos no controle do comportamento verbal. Por outro lado, tais propriedades passarão a integrar os tactos genéricos, passando a controlar, inclusive, o comportamento verbal característico do discurso científico.

Em suma, a metáfora é a extensão em que a determinação se dá por propriedades que caracterizam o estímulo discriminativo, mas de modo secundário no que diz respeito à definição da classe operante. Diferentemente, as propriedades de estímulos que caracterizam a extensão genérica são de importância primordial na definição do tacto, enquanto classe comportamental.

Skinner (1957, p. 99) define, distintamente, o que entende como metáfora daquilo que denominará "extensão metonímica." Por metáfora, Skinner considera as símiles e pequenas variações da retórica clássica. No Verbal Behavior, Skinner considera aconselhável separar em diferentes categorias a metáfora e a metonímia. Metonímia inclui, de acordo com Skinner, algumas outras figuras clássicas próximas como, por exemplo, a figura de linguagem conhecida como sinédoque. Dentre as razões que justificam a realização de tais distinções das figuras de linguagem, diferenciando-se da categorização proveniente da retórica clássica, está também a sugestão de uma classificação dos tactos estendidos que seja derivada precisamente das diferentes maneiras que as propriedades de estímulos discriminativos determinam as extensões do tacto.

O tacto estendido metonímico é aquele em que a propriedade (ou conjunto de propriedades) responsável pela extensão apenas acompanha um estímulo definido pela prática reforçadora da comunidade verbal. significa isso que a comunidade verbal, nesse caso, não se baseia nas propriedades de estímulos que controlam o tacto metonímico, mas sim em propriedades acompanhadas por aquelas. Nesse ponto, fica clara a diferença com relação às extensões genérica e metafórica. Tanto para a extensão genérica como para a metafórica, a propriedade de estímulo constituí o estímulo discriminativo do tacto em questão. No caso da extensão metonímica isso não ocorre, a não ser por um acidente no que diz respeito às práticas reforçadoras da comunidade verbal responsável pelo comportamento do falante. A referida propriedade não possui, como na metáfora, ou mesmo na extensão genérica, uma significação necessariamente funcional em termos físicos podendo, inclusive, ser "puramente acidental" (Skinner, 1957, p. 100).

Esse fato é abarcado pela possibilidade de propriedades desse tipo desempenhar um papel, inferior, no estabelecimento da classe. Em suma, as propriedades discriminativas do tacto metonímico são menos definidoras que a do tacto metafórico que, usualmente, tem alguma significância funcional (Skinner, 1957, p. 100). É por isso que Skinner não adota, em sua classificação, as tentativas de categorização da metonímia em termos de relações lógicas, como aquela que implica nos termos "antonomásia" e "sinédoque", por exemplo (Skinner, 1957, p. 100). Segundo Skinner, tal classificação pode, na melhor das hipóteses, descrever o porquê das propriedades se apresentarem de maneira contígua, mas não o porque de controlarem a mesma forma de resposta. Ademais, segundo Skinner (1957, p. 101), a extensão metonímica é relativamente rara, pois as propriedades controladoras da extensão metonímica são apenas vagamente associadas com as propriedades contingentes, definidoras da classe, e, além disso, é muito provável que propriedades consistentemente associadas tornem-se propriedades discriminativas definidoras no controle do tacto.

Um tipo ainda mais raro de extensão do tacto é o que Skinner (1957. p. 102) denomina extensão solecista. A extensão solecista define-se como aquela em que a propriedade (ou conjunto de propriedades) que controla a resposta é similar às propriedades contingentes por razões irrelevantes para o operante verbal, segundo as práticas da comunidade verbal. Nesse sentido, o solecismo está muito próximo da metonímia, diferenciando- se apenas por apresentar uma relação ainda mais vaga com as propriedades de estímulos estabelecidas pela comunidade para o operante tacto. O solecismo representa, em sua essência, um erro na comunidade verbal, dado o seu grande distanciamento das práticas de reforço da comunidade. Apesar disso, o solecismo apresenta uma importante característica em comum com a metáfora e a metonímia: são todos comumente determinados por situações incapazes de determinar qualquer outro tipo de tacto.

Skinner (1957, p. 103) também interpreta como uma extensão do tacto a nomeação de coisas ou pessoas ou, mais especificamente, a atribuição de nomes próprios ou comuns. Para que um tacto estendido desse tipo possa ocorrer, é necessário que estejam disponíveis formas de respostas referentes aos substantivos comuns ou adjetivos, controlados por propriedades comuns ao objeto ou coisa a serem nomeados (Skinner, 1957, p. 103). Algumas nomeações são simplesmente emissões conjuntas de tactos padrões, controlados por um conjunto relativamente complexo de propriedades, e não extensões propriamente ditas. Uma nomeação legítima ocorre geralmente por meio de extensões genéricas ou metafóricas, algumas vezes controladas por propriedades geradas por reações emocionais, que desempenham, portanto, um importante papel tanto na aceitação como na recusa de um nome. O nome é, em certa medida, uma decoração (Skinner, 1957, p. 104) e os apelidos, como casos típicos, são mais livres e, por isso, exemplificam bem o processo de extensão que lhes dá origem.

De qualquer forma, parece ser mais fácil esquecer um nome próprio do que um nome comum. Embora a ausência de um nome próprio em um repertório seja bastante conspícua em determinadas situações (Skinner, 1957, p. 104), é razoável também supor que um nome próprio tenha menor probabilidade de reforçamento e, por conseguinte, de estabelecimento das propriedades que poderiam determinar a forma da resposta em ocasiões específicas. Por outro lado, é mais difícil esquecer um nome comum, pois é geralmente apropriado a muitas circunstâncias, o que confere às suas propriedades fortalecedoras uma maior possibilidade de se tornarem definidoras de classes (Skinner, 1957, p. 104).

A questão da determinação do tacto recebe um esclarecimento adicional ao se acompanhar a interpretação que Skinner oferece a respeito dos processos envolvidos na "adivinhação" ("guessing") (Skinner, 1957, pp. 105-106). Uma adivinhação pura, sem pistas ou dicas, não seria realmente um tacto. Mas haveria uma adivinhação pura, indeterminada? Segundo Skinner, é geralmente possível identificar as propriedades discriminativas determinadoras desse tipo de resposta verbal, mesmo quando o falante parece estar "adivinhando." Tais propriedades podem ser tão sutis que nem o próprio falante é capaz, inclusive, de identificá-las. Segundo Skinner, uma evidência estatística das populações de respostas obtidas com as diferentes perguntas "-Cara ou Coroa?" e "-Coroa ou cara?" poderia demonstrar esse fato, muito embora envolva, além do controle por propriedades não verbais, também o controle por propriedades verbais geradas pelas respostas antecedentes (Skinner, 1957, p. 106).

Com base no grau e no tipo de semelhança existente entre os estímulos que ocasionam os tactos estendidos e os correspondentes tactos padrões, é possível fundamentar a classificação dos tipos de tactos estendidos. Da mesma forma, é possível identificar também as características dinâmicas correspondentes ou, mais exatamente, o grau de fortalecimento geralmente implicado por cada tipo de extensão do tacto. Assim, a quantidade de propriedades definidoras e a importância das referidas propriedades, ao especificarem o grau de determinação discriminativa, determinam também a dinâmica da extensão do tacto. A partir disso, podem ser enumeradas, em ordem decrescente de probabilidade de emissão, as extensões do tacto, à exceção da nomeação (cuja probabilidade depende da popularidade do nome envolvido): extensão genérica, extensão metafórica, extensão metonímica, solecismo e adivinhação (Skinner, 1957, pp. 106-107).

 

CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Realizou-se uma explicitação dos mecanismos comportamentais que fundamentam e que explicam, sob o ponto de vista skinneriano, as extensões do tacto. Com esse intento, realizou-se um estudo sistemático do Verbal Behavior (Skinner, 1957), texto em que Skinner apresenta uma argumentação consistente, embora não suficientemente explícita, do mecanismo de extensões do tacto. A presente investigação concentrou-se em uma análise do quinto capítulo da obra, que trata exclusivamente do operante verbal tacto. O que se buscou, a partir do texto do autor, foi uma base mais objetiva e precisa da categorização dos tipos de extensões do tacto. A Tabela 1 apresenta esquematicamente um resumo dos achados do estudo.

 

 

Pra realização dessa investigação foi imprescindível uma incursão nos textos em que Skinner delineou a sua concepção de comportamento, em especial a concepção genérica de estímulo e, conseqüentemente, a concepção de propriedade de estímulo (Skinner, 1935a, 1935b, 1938), aqui tratada com ênfase, dada a sua produtividade teórica. Parte do tratamento aqui dado incluiu a inferência, apoiada em Skinner, de tipos de arranjos de propriedades de estímulos que permitem diferenciar entre tipos de extensões do tacto. Por fim, sugere-se que esse refinamento adicional da concepção tenha sido obtido de forma sistemática o bastante para subsidiar discussões subseqüentes desse importante tópico de estudo do comportamento verbal.

 

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Receveid: November 05, 2009
Accepted: March 10, 2010

 

 

1 Correspondência para Paulo Roberto dos Santos FereiraRua: Prof. José Ferraz de Camargo, n. 419, Ap. 01, Vila Celina, São Carlos-SP, CEP 13566440, prsferreira@yahoo.com.br
1) Tradução do trecho "A large body of evidence suggests that novel and thus uncertain stimuli set the occasion for exploratory behavior (Butler, 1953; Harlow, 1950; Montgomery, 1951, 1953, 1955; Thompson & Heron, 1954). Barnes and Baron (1961) found that stimulus novelty could increase exploratory behavior. (...) Exploratory behavior is a good fi rst step to ensuring the creation of "creative works."

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