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Acta Comportamentalia

Print version ISSN 0188-8145

Acta comport. vol.20 no.4 Guadalajara  2012

 

ARTIGOS

 

A integração de programas de pesquisa na análise do comportamento humano complexo: resposta ao comentário de Ruiz1

 

The integration of research programs in the analysis of complex human behavior: response to comments from Ruiz

 

 

Emmanuel Zagury Tourinho

Universidade Federal do Pará (Brasil)

 

 

Ruiz (2012) está de acordo com alguns dos pontos desenvolvidos em meu artigo original (Tourinho, 2012) e destaca duas questões com respeito às quais encontra divergência. A primeira diz respeito ao que deve ser priorizado como objeto de uma investigação comportamental do pensar. A segunda refere-se à dificuldade de examinar as dimensões culturais do pensar, sem uma "definição funcional precisa do pensamento". As duas questões são brevemente respondidas adiante.

Partindo do assentimento quanto à necessidade de integração de três programas de pesquisa na Análise do Comportamento (sobre o comportamento verbal, sobre o comportamento relacional derivado e sobre a seleção cultural), Ruiz (2012) discorda da ideia de que se deva colocar o foco inicial sobre processos culturais e sustenta a necessidade de iniciarmos com a análise funcional da linguagem e da cognição. Concordo com a essência dessa ponderação. De fato, uma análise dos processos culturais envolvidos na elaboração e validação de juízos sobre a realidade não prescinde da análise de processos comportamentais que estão na sua base. Um aspecto fundamental da Análise Comportamental da Cultura oferecida por Glenn (e.g., 2004) é justamente a proposição de que a matéria prima dos fenômenos culturais são os fenômenos comportamentais. Sem conhecer muito bem os últimos não será possível avançar na compreensão dos primeiros. Em minha análise, não pretendi sugerir a precedência do estudo da cultura. Mas também não diria que o estudo da linguagem e da cognição precisa avançar muito, antes que possamos eleger como objeto de investigação os processos culturais envolvidos na cognição humana. Precisamos que os três programas de pesquisa avancem concomitantemente e que sejam exploradas as possibilidades de sua convergência. Uma grande dificuldade consiste em construir essa convergência dos programas, mas as condições para tal devem ser buscadas.

De fato, não apresentei uma definição funcional precisa do pensamento, mas não estou certo de que isso é possível ou desejável. Como apontam todos os artigos desta série, o caráter polissêmico do(s) conceito(s) de pensamento compromete a tarefa de prover uma definição inequívoca, isto é, fenômenos muito diversos encontram-se cobertos pelo(s) conceito(s). Mas concordo sobre a necessidade de prover uma definição funcional para a elaboração e validação de juízos sobre a realidade, supondo que tal referência faça sentido para uma ciência do comportamento. Tal definição ainda está por ser elaborada e precisará remeter, a meu ver, a unidades de análise comportamentais e culturais. Talvez (e isso não é evidente) possamos ficar no nível comportamental ao abordar a elaboração de juízos (por exemplo, remetendo-nos a processos verbais e a relações derivadas), mas certamente não será possível ignorar o nível cultural ao falar da validação dos mesmos.

Finalmente, se há o reconhecimento de que as cognições têm uma dimensão cultural, que não se confunde com a dimensão comportamental individual, e se entendemos que os fenômenos culturais têm uma mesma natureza dos fenômenos comportamentais, então não é possível deixar aquela dimensão fora do escopo de uma ciência do comportamento.

 

REFERÊNCIAS

Glenn, S. S. (2004). Individual behavior, culture, and social change. The Behavior Analyst, 27, 133-151.         [ Links ]

Ruiz, F. J. (2012). Comentário ao artículo de E. Tourinho: "O Pensar: Comportamento social e práticas culturais. Acta Comportamentalia, 20 (MONO), 117.         [ Links ]

Tourinho, E. Z. (2012). O pensar: Comportamento social e práticas culturais. Acta Comportamentalia, 20 (MONO), 95-109.         [ Links ]

 

(Invited article)

 

 

1 A elaboração deste artigo foi parcialmente financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, Brasil. E-mail: eztourinho@gmail.com