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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál v.42 n.1 São Paulo mar. 2008

 

EDITORIAL

 

D. W. Winnicott em questão

 

 

Leopold Nosek

 

 

A política editorial da Revista Brasileira de Psicanáliseprocura o diálogo amplo, com a abertura que nossos recursos permitem. Assim, não deixa de ser surpreendente que a interlocução com os leitores tenha demorado tanto. Alertados por um pedido da psicanalista Ana Maria Azevedo, que manifestou o desejo de debater um artigo recém-publicado de André Green, percebemos essa insuficiência. Ao mesmo tempo, ficamos lisonjeados com o fato de haver quem leia nossa publicação com interesse e atenção suficientes para fazer reparos e se dispor à discussão. Constatamos que também essa repercussão do nosso trabalho nos fazia falta.

Aliás, acreditamos que, à parte o benefício aos leitores, a criação de uma seção de cartas do leitor será extremamente proveitosa para o grupo que produz a Revista, pois nos ajudará a romper um certo tipo de isolamento, a enriquecer o exercício da crítica e a avançar na clareza de nossos objetivos como editores. No mesmo sentido se beneficiarão os autores, e o debate só tende a ganhar com a maior abertura aos que nos lêem. Gostaríamos desde já de agradecer à nossa colega e informar que sua carta será publicada no próximo número. Fazemos a todos o convite para que nos escrevam.

Dando seqüência ao debate com outras disciplinas, temos agora a presença inteligente e generosa de Carlos Vogt, que nos honra ao compartilhar conosco um pouco de sua história pessoal e profissional. Ana Maria Loffredo e Antonio Muniz de Rezende comentam do ponto de vista psicanalítico as reflexões de Vogt. Muitas são as questões que surgem na entrevista: será a psicanálise uma ciência? Será um conhecimento? Relaciona-se com a literatura e a estética? Relaciona-se como? É uma prática de criação de sentidos? Será, antes de tudo, uma reflexão ética? De que maneira a prática nos ensina a repensar a epistemologia? São questões com que nos defrontamos, cada um de nós, no exercício do cotidiano. Temos certeza, por isso, de que essas considerações serão bem-vindas e de que lançarão pontos de luz sobre uma tarefa que nos apaixona.

Este número focaliza em seus artigos a contribuição de D. W. Winnicott, cuja extensa obra é de conhecimento obrigatório em nossa área, mesmo por parte de quem não concorde com sua conceitualização. Os trabalhos abordarão a criação winnicottiana do ângulo clínico e teórico e apresentarão diferentes tipos de trajeto inspirados no autor.

Em particular, friso a discussão sobre se a obra de Winnicott propõe um novo paradigma em psicanálise ou se advém de uma apropriação original do trajeto freudiano. Lembro um tema de fundo que pode contribuir com o debate: nossa leitura não seria sempre matizada por pressupostos filosóficos ou ideológicos e mesmo, no limite, por nossa personalidade e história individual? Para além das generalizações dos conceitos freudianos, não haveria inevitavelmente um Freud “pessoal”, tão particular que se movimentaria a cada aproximação? Afinal, não somos nunca o analista que fomos na véspera. Perguntar é nossa prática essencial.

Esperamos que este número possa ampliar o nosso acervo de interrogações. Boa leitura a todos e, mais uma vez, obrigado aos nossos colaboradores.

L. N.
São Paulo, maio de 2008

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