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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál v.42 n.3 São Paulo set. 2008

 

CONSTRUÇÕES

 

Construção com fim, construção sem fim1

 

Construcción con fin, construcción sin fin

 

Ending construction, endless construction

 

 

Ana Maria Brias Silveira2

Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo tem como objetivo apresentar uma condensação de algumas das idéias desenvolvidas por J. Press em seu rapport para o 68º Congresso dos Psicanalistas de Língua Francesa, que teve como tema “Construções em Análise”. O reconhecimento da dimensão trágica implicada no movimento de fuga em relação a núcleos impensáveis, bem como de suas fortes implicações no jogo transferência/contratransferência, é o ponto de partida para a autora repensar a clínica e as referências metapsicológicas no trabalho com pacientes ditos difíceis, com patologias não-neuróticas psicossomáticas e borderline.

Palavras-chave: Angústia impensável; Trauma; Representação; Construção.


RESUMEN

Este artículo tiene como objetivo presentar una condensación de algunas ideas desarrolladas por J. Press en su rapport para el 68º Congreso de Psicoanalistas de Lengua Francesa, que tuvo como tema “Construcciones en Análisis”. El reconocimiento de la dimensión trágica implicada en el movimiento de fuga en relación a núcleos impensables, bien como sus fuertes implicaciones en el juego transferencia/contratransferencia, son el punto de partida para el autor repensar la clínica y las referencias metapsicológicas en su trabajo con pacientes llamados difíciles, patologías no-neuróticas psicosomáticas y borderline.

Palabras clave: Angustia impensable; Trauma; Representación; Construcción.


ABSTRACT

This paper’s goal is to present a condensation of some ideas developed by J. Press in his “rapport” at the 68th French Language Psychoanalysts Conference, that had “Constructions in Analysis” as its main theme. The recognition of the tragic dimension in the escape movement related to unthinkable nucleus as well as strong implications in the transference/countertransference game are the author’s starting point in order to re-think the clinic and metapsychological references in working with so-called difficult patients, non-neurotic psychosomatic pathologies and borderline patients.

Keywords: Unthinkable anguish; Trauma; Representation; Construction.


 

 

1. Algumas considerações iniciais se fazem necessárias

Em 1918, na análise do Homem dos Lobos, Freud menciona pela primeira vez a insuficiência da rememoração em certas organizações psíquicas e a necessidade de construir, ou reconstruir, aquilo que marcou o desenvolvimento psíquico desses pacientes.

Vinte anos mais tarde, as implicações da famosa “rocha da castração”, que encerram o artigo de junho de 1937 “Análise terminável e interminável” , levarão a um trajeto que conduzirá da Deutung interpretação à Konstruktion.

“Construções em análise” (1937), publicado três meses após “Análise terminável e interminável”, representa um salto epistemológico, na medida em que propõe menos decifração de um texto do inconsciente em favor da “busca de um fragmento de verdade histórica”, e pode ser pensado como a retomada da problemática de toda uma obra, particularmente no que se refere aos limites do analisável.

Os textos de Freud, ricos e complexos, deram origem a interpretações diversas e até mesmo divergentes, e assim é que uma concepção de verdade histórica considerada como “realidade” de uma experiência vivida, bem como a ênfase na “verdade” da construção como reconstrução dos acontecimentos aos quais faz referência, começou a ser questionada nos anos 1970-1980.

Na França, Viderman publica La construction de l’espace analytique (1970), refutando enfaticamente a concepção de realidade histórica de acontecimentos rememorados. Ele centraliza e restringe o objetivo da construção ao aqui e agora do tratamento, propondo a noção de construção do espaço analítico, que se apresenta como uma criação desenvolvida durante este trabalho. A intensidade apaixonada das discussões em torno do seu texto mostrou o quanto ele abalava as concepções até então aceitas na teoria e prática psicanalíticas da época, ao menos na França.

Também entre os analistas anglo-saxões um movimento semelhante ocorreu, dando lugar às correntes hermenêuticas e narrativistas (Schafer, 1976; Spence, 1982), que, recusando a metapsicologia freudiana ou reinterpretando-a, definem a problemática da análise como criação estética e busca de sentido, ao mesmo tempo que consideram a construção como narrativa de relatos que dão forma à experiência vivida pelo analisando.3

Conhecemos a importância da metapsicologia como fundação do edifício teórico-clínico da psicanálise.

Freud elaborou a construção de sua ficção teórica sobre o funcionamento do aparelho mental segundo três dimensões: tópica, dinâmica e econômica, e a partir daqui procurou desenvolver a compreensão da função desse aparelho principalmente no terreno das psiconeuroses.

A enorme geratividade dos textos freudianos, já assinalada, levou em sua potencialidade de gerar novas modalidades combinatórias, ao questionamento das limitações postuladas pelo próprio Freud e seus seguidores iniciais que preconizavam a utilidade do método psicanalítico apenas no terreno das psiconeuroses.

Tal foi o caso, entre outros, de P. Marty e M. Fain, mestres da Escola Psicossomática de Paris, que, ao se deterem no exame de pacientes psicossomáticos nos quais constataram a pobreza de manifestações simbólicas, de fantasia, de sonhos, a pobreza discursiva, ou seja, sinais de ausência de processos da ordem do recalcamento, concluíram que tal fato não significaria que tais pessoas estivessem impedidas de se engajar em uma terapia psicanalítica clássica. Pulsões, recalque, sexualidade, cisões, experiências infantis, etc., teriam encontrado nelas outra forma de agenciamento e manifestação, e, assim, novas formas de pensar a teoria e a técnica psicanalítica se fizeram necessárias.

Jacques Press tem justamente sua filiação teórica inicial ligada à Escola Psicossomática de Paris o que sem dúvida é determinante em sua forma de abordar o tema “construções em psicanálise”.

Qual seria a importância de retomar agora a noção de construção?

A clínica dos pacientes ditos difíceis, as patologias não-neuróticas, psicossomáticas ou borderline nos confrontam com a necessidade vital de construção de um espaço analítico em comum, espaço de jogo que permita o acolhimento de uma pulsionalidade até então sem lugar, para que possa vir a ser figurada e, ao ser posta em palavras, permita a criação de novos conteúdos. Isso remete tanto às marcas traumáticas precoces quanto ao id da segunda tópica, mais que ao inconsciente da primeira.

 

2. Fragmento clínico

Voltemos ao ponto inicial, determinante em Freud da formulação do conceito de Konstruktion: a rocha da castração. Ao examinarmos o salto epistemológico representado pela noção de construção, evidencia-se que este salto afeta de forma dialética a ligação entre o que temos que construir aspecto que falta na história do sujeito e o que está em jogo nesta falta: as bases de uma posição passiva, feminina, o que nos remete ao desamparo primordial bem como às violentas resistências que estas vivências provocam, tanto por parte do paciente como por parte do analista.

Jean

Manifestações alérgicas e fracassos profissionais motivaram a busca de análise, embora de resto as coisas não estivessem demasiado mal para Jean.

Na primeira sessão, após um silêncio: “Não sei muito bem o que falar, me sinto um pouco tenso”.

Analista: “Essa tensão talvez indique que há algo a pensar”.

Após breve silêncio, Jean explode, chamando o analista de imbecil e ameaçando quebrar sua cara.

Durante várias semanas, as coisas continuam assim, o que determina no analista intervenções que vão do atordoado ao defensivo/agressivo.

Em determinado momento, Jean acusa o analista de se valer do “setting protetor” expressão que o analista teve a infelicidade de usar para proteger a si mesmo, o que leva o analista a reconhecer a própria incapacidade de proteger Jean do sentimento de perigo mortal que impregnava as sessões.

No entanto, Jean comparecia às sessões, o que lhe permitiu relatar ser ele o único menino numa família de três filhos, tendo seguidamente escutado de sua mãe, desde muito pequeno: “teu pai me disse, quando ainda nem éramos casados, que se tivéssemos um filho como o seu irmão, essa criança não ficaria nesta casa”. Este tio de Jean aterrorizou toda a família com sua violência, principalmente o pai de Jean.

Após um ano de análise tempestuosa, durante um dos muitos relatos das maluquices desse tio, uma frase, acompanhada por uma profunda onda de tristeza e emoção, formula-se na mente do analista que a enuncia, quase sem querer, em voz alta: “um filho é morto”. Após longo silêncio, Jean cai num pranto incontrolável “um dique se rompeu”, diz ele.

A partir de então, algo muda no clima das sessões. As ameaças de ruptura persistem, as manifestações somáticas diminuem drasticamente e a pressão diminui, mas não por muito tempo.

Jean desenvolve graves insônias, entrecortadas por pesadelos aterrorizantes, pesadelos em branco. Chega às sessões num estado de angústia total, querendo a morte do analista. Este percebe que o que Jean quer dele, sem sabê-lo, é a ajuda para tornar pensável a angústia em jogo no cenário transferencial: “um filho é morto”.

Fantasias de suicídio, cada vez mais intensas, culminam numa noite em que Jean pega uma faca e, encostando-a em sua carótida, pára e pensa que, se ele se matar, seu analista terá vencido.

Tomado de forte angústia, o analista propõe uma sessão extra que Jean recusa.

Nos meses seguintes, esse cenário toma uma forma onírica em que os pesadelos começam a ter um conteúdo: um homem o persegue com uma faca ou, então, um rosto feminino o olha silenciosamente e ele acorda com um grito de angústia. O analista entende o texto manifesto desses sonhos como uma “verdade histórica” que tem a ver com seu percurso de vida. Esta e outras questões serão discutidas adiante.

A análise prossegue no mesmo clima de elevada tensão e angústia, surgindo agora um novo tema que faz parte da mitologia familiar: quando bebê, Jean não dormia e seu berço era colocado no sótão, onde ele permanecia gritando.

Ao sair da sessão, em um desses dias, transtornado e cambaleando, sem nem mesmo notar o analista à sua frente, este é que passa a noite sem dormir, esperando pela sessão do dia seguinte. Jean retorna e murmura: “Agora sei que você não deseja minha morte, mas não posso continuar assim, nessa angústia e nesse esgotamento”. “Tenho o sentimento de que quando bebê você não teve suficiente contato com o seio de sua mãe”, diz confuso o analista, perturbado inclusive pela sensação de transgressão dessa fala.

Jean se mantém calado durante um longo instante e em seguida, profundamente emocionado, mas como que apaziguado, balbucia: “Eu nunca teria pensado que você me diria algo assim”.

Pouco tempo depois, Jean comete um lapso significativo. Falando da morte de sua mãe ocorrida anos antes, ao ter a intenção de dizer que não estavam lá quando ela morreu, o que diz é “ela não estava lá quando morremos”.

Esse momento caracteriza uma virada no tratamento, que terminou satisfatoriamente nove anos depois. Jean foi capaz de perceber a idéia infanticida como uma projeção da sua parte e assumir a intensidade de seus desejos tanto homossexuais como parricidas e incestuosos.

Acompanhamos neste relato de que maneira, desde o início, vai sendo penosamente construído pela dupla analista/analisando um espaço comum, de encontro, que permitirá o acolhimento de uma pulsionalidade disruptiva em suas manifestações e que pouco a pouco vai, a partir do trabalho de construção silenciosa do analista termo utilizado por M. Bertrand em “Construire um passé, inventer du possible?” (2008) para caracterizar algo que ajuda a sobrevivência psíquica do analista diante de situações de violência adquirindo uma condição de figurabilidade que se apresenta como “sentimento de perigo mortal”. Novos conteúdos vão sendo configurados.

 

3. Regressão, repetição, construção

Tendo como alicerce a sintonia o que não significa de nenhuma forma harmonia da dupla, vemos como se estabelece gradativa e dramaticamente a regressão, situação controversa, estudada e vivenciada por autores como Ferenczi, seu discípulo Balint, Winnicott e Marty, que tão bem assinalaram os perigos de tal situação e o quanto o analista não está preparado para vivê-la.

A partir de 1920, a regressão mudou de registro passando a ser considerada junto às pulsões de morte, o que pode ter prejudicado a reflexão sobre o desenvolvimento das pulsões do “eu”, pulsões que se revelam mais frágeis do que pensava Freud, e cujo desenvolvimento parece muito tributário das situações ambientais. Não custa lembrar que na análise o ambiente somos nós com nosso setting.

Tanto a literatura pós-freudiana como o caso de Jean parecem corroborar a idéia de que o lugar ocupado pela filogênese na obra de Freud recobriria em parte um “continente negro” que diz respeito ao materno precoce (Grubrich-Simitis, 1991) e, nesse sentido, poderíamos lembrar que “a rocha biológica” será tanto mais granítica quanto maior tiver sido a falta do objeto em seu duplo papel de pára-excitação e de censura (Fain, 1971). Nesses casos teríamos um desenvolvimento prematuro do “eu”, que Winnicott assinala como um congelamento da situação de carência, e que poderá ser determinante do desenvolvimento do sujeito, uma vez que todo o psiquismo se organizará em torno dessa falta de uma experiência de satisfação que não teve lugar, ou, dito de outra forma, a verdade do sujeito estará naquilo que não teve lugar.

Press, comentando seu trabalho com Jean, diz: “[…] meu reconhecimento do que faltou na história de Jean constituiu um momento de mutação nesse tratamento”.

Poderíamos dizer que aqui toda organização posterior do indivíduo visa mais a circunscrever esse núcleo do que a curá-lo, pois a angústia impensável está no cerne da organização desses pacientes e, assim, a função anti-regressiva tem o valor de um auto-holding.

No adulto, a ameaça do caos diz respeito ao encontro de alguma coisa da ordem da não-organização e reencontrar esse informe é sempre uma experiência aterrorizante, que se desenrola num clima de tensão extrema, vide Jean, levando ao ponto nodal no qual se perde a representação. É uma situação que realmente põe em jogo a construção de uma posição passiva, a única que permitirá que o caos se constitua num informe rico em potencialidades, sem esquecer mais uma vez que o que está em jogo nesta passividade gira em torno do desamparo primitivo.

 

4. Da potencialidade traumática interna à construção da verdade histórica

Informe, caos, agonias primitivas nos levam inevitavelmente à questão do traumatismo e seus efeitos.

Freud, em Além do princípio do prazer (1920), tentou da maneira mais profunda articular a potencialidade traumática externa com o que poderíamos chamar de potencialidade traumática interna. Aqui a força do trauma externo aparece através do exame da neurose traumática, enquanto a reformulação da teoria pulsional, com a introdução da pulsão de morte, postula a existência de uma potencialidade traumática interna que se vê reforçada pela constatação de que a primeira posição do ser humano é de uma passivação sem limites, o que Freud denominará a Hilflosigkeit do bebê (1926).

Como articular em cada tratamento a situação traumática externa e a potencialidade traumática interna ativadas pela situação de inaptidão para ligar os traços mnêmicos deixados pelas experiências originárias?

É essa potencialidade traumática que deverá ser transformada em nosso trabalho de construção, sem deixarmos de considerar, contudo, que “as experiências vividas nos tempos originários” (Freud 1920) trazem no seu rastro alguns traços inaptos para se ligarem, e são esses restos não-integráveis no psiquismo que poderiam ser considerados como a fonte de um potencial de desmentalização e, portanto, de somatização em todos nós.

Ainda assim, se o trabalho de construção se faz necessário é porque muito foi exigido do psiquismo, e o eu não teve outro recurso senão fender-se ou sacrificar sua unidade.

Freud, em Moisés e o monoteísmo (1939), assinala que um dos efeitos do traumatismo poderia ser uma tentativa de negativação radical da experiência, levando ao seu apagamento, para que reste no psiquismo apenas uma marca em negativo. No entanto, é necessário não pensar apenas sob este prisma, que desconsidera o fato de que o traumatismo possa residir na não-realização de uma experiência de satisfação, tanto no registro pulsional, quanto no da autoconservação, num momento em que essa experiência deveria ter advindo por intermédio do objeto, tal como sugerido pelo caso de Jean.

Vemos então que nos encontramos enredados tanto em nosso corpo como no mundo externo e por isso somos verdadeiramente nós mesmos somente quando aceitamos os limites e as exigências de ambos, quando fazemos um só com nossa história e assumimos o modo como a vivemos.

Ao longo de toda a sua obra, Freud se viu às voltas com o tema das relações entre realidade interna e realidade externa, retomando pela última vez essa questão em Moisés e o monoteísmo (1939), através da noção de verdade histórica.

A questão da verdade nas construções em psicanálise ocupou um lugar central nas controvérsias entre as correntes de pensamento mencionadas no início deste trabalho, porém, sem entrar neste debate, J. Press faz suas as considerações de M. Cavell (2003), quando esta fala sobre a liberdade:

não acredito […] que o passado seja somente algo que construímos. Bem pelo contrário, assim como o passado nos ajuda a construir a maneira como recebemos o mundo e como vamos para ele, da mesma forma, num ciclo sem fim, o presente nos ajuda a construir nossas compreensões do passado.

Em outras palavras, a verdade histórica não é a verdade material do passado, mas também não é equivalente à realidade psíquica que se constrói a partir desta. Ela aponta para o núcleo de verdade material contida na construção psíquica que se faz a partir desta.

Uma baliza técnica importante decorre destas considerações: quando estamos com nossos analisandos, convém muito mais ouvir o núcleo de verdade histórica contido em suas afirmações para depois “desembaraçá-los de seus acréscimos e adornos” (Freud 1937b), do que remetê-los de imediato a eles mesmos e à sua pulsionalidade, considerando-nos absolutamente isentos nessa situação, o que poderia apenas reproduzir a situação traumática primeira, a recusa pelo entorno do que é vivido pela criança.

Press, a respeito de seu trabalho com Jean: “[…] me parece que isso só se tornou possível porque eu havia identificado antes a verdade histórica da injunção parental”.

Novamente Jean

No período em que a aliança terapêutica já estava realmente sólida, Jean encontra seu analista numa situação social em que este mal o teria cumprimentado.

“Você se pavoneava e, na verdade, não se importava nem um pouco com os outros”.

Embaraçado, o analista se defende, o que provoca novas reações destemperadas por parte de Jean, e isso se prolonga por algumas sessões, até que o analista modifica sua escuta.

E se fosse ele, analista, que não estivesse sabendo ouvir? Nada muda, até que, quando o analista já estava começando a desanimar, Jean diz: “Sinto-me só e frio”. Essa observação ecoa no analista fazendo-o pensar a respeito da solidão de Jean sob o olhar de adultos que não viam a intensidade de seu desamparo.

Bruscamente, através da palavra “frio”, um período difícil da adolescência do analista lhe vem à memória. Perdera sua avó muito amada e criara um forte laço de amizade com um jovem adulto, que, como previsto, foi embora para outra cidade, deixando o jovem novamente mergulhado em suas dificuldades.

O analista intervém: o que Jean tentava viver ali seria uma relação entre homens, na qual o adulto suportaria seus movimentos ternos, mas também passionais e pulsionais, e no momento tudo aquilo lhe pareceria posto em xeque.

Jean se cala, tocado, e durante esse silêncio vêm à lembrança do analista alguns fragmentos do material desta análise: suas insônias quando bebê, o modo como investiu muito cedo o campo intelectual que o aproximava de seu pai e seu colapso na adolescência quando lhe faltou este apoio.

O analista pergunta se haveria em seu inesperado encontro fora das sessões um eco de sua história, uma tentativa de sair do marasmo através da cumplicidade com um homem adulto, mas também um fracasso programado ao se revelar sob um outro aspecto o homem amado?

Jean se descontrai e diz que é engraçado aquilo, pois há um cheiro estranho, de terra molhada naquela sala. Surge então uma cena, uma de suas primeiras lembranças, mais ou menos dos três anos, de quando sua avó partiu num dia de chuva, deixando-o inconsolável no jardim molhado de sua casa.

Belo exemplo de retorno do material cindido e do trabalho em dupla, que além do mais levou a uma revivescência de caráter alucinatório.

Podemos considerar esse material numa seqüência em três tempos:

1.o analista começa por entender os efeitos do encontro em ambiente social sob o vértice pulsional, o que sem dúvida não é inapropriado, porém sem perceber que sua própria atividade interpretativa o cega, tornando-o parte integrante de uma compulsão à repetição, aquela que obriga Jean a buscar apoio num homem para tapar a falha do encontro com sua mãe, mas que evidentemente o leva a fracassar, o que ocorreu no incidente do desencontro. Como bem mostrou Winnicott, o tempo de falha do analista é inevitável, faz parte do jogo do encontro analítico.

2.Essa falha produz uma mudança no clima da sessão, marcada pelos ataques ao analista, porém o tempo dessa falha é essencial, uma vez que aqui vem se alojar o núcleo de verdade histórica das experiências precoces.

3.O analista retoma sua falha, e aqui o que está principalmente em jogo é a construção da verdade h istórica do desencontro com o objeto bem como as tentativas de solução utilizadas por Jean e que envolve a contratransferência do analista, sua capacidade de perder suas referências técnicas clássicas e deixar-se abalar para poder viver, através dos elementos clivados ou recalcados de sua própria história, um eco do colapso do paciente que pode ser em seguida restituído numa forma pensável.

 

5. Compulsão à repetição

Sobre a compulsão à repetição, poderíamos dialetizar o ponto de vista freudiano com aportes posteriores. Enquanto Freud a relaciona à pulsão de morte, Winnicott sublinha as carências do ambiente e, portanto, no setting analítico, as do analista. Poderíamos acrescentar um terceiro aspecto e considerar que o estado de coisas impensável é aquele que encontra a potencialidade traumática interna específica de cada um, reativada no tratamento.

Desse ponto de vista, a compulsão à repetição, a repetição pelo agir, essa memória amnésica (Green, 2000a/b; Botella 2001a), teria como fonte o esforço, sempre renovado e sempre fracassado, de delimitar o núcleo do que nos é mais intimamente pessoal, da construção que fez de nós o que somos, e cuja essência tem a ver com aquilo que não pudemos vivenciar.

A regressão no tratamento nos levaria a esse ponto nodal no qual se perde a representação.

Como chegar a isso?

De um lado, pela construção de um espaço comum que passa pela sobrevivência do analista. De outro, pela construção que passa pela desconstrução daquilo que instalamos para cercar esse núcleo de não-representação e que entra novamente em jogo na cena analítica e ao qual nos agarramos com a energia do desespero.

Porém, por mais longe que avancemos, por mais longe que tentemos construir, não poderemos senão fracassar parcialmente, porque tal fracasso é inerente à nossa condição de seres humanos.

 

6. Função traumatolítica do sonho

Voltemos a Jean e seu pesadelo em branco.

Qual a essência do trabalho do sonho?

Tanto em “Construções em análise” como em Moisés e o monoteísmo, Freud afirma que existe uma forma de alucinatório distinto do alucinatório regrediente descrito na Interpretação dos sonhos (1900): “o que as crianças de dois anos viveram sem compreendê-lo nunca terão como recordá-lo fora dos sonhos”. Em Além do princípio do prazer, admite “uma tendência preliminar com relação à tendência do sonho à realização de desejo”, e em 1932, na 29ª Conferência, “[…] diga-se ao menos que o sonho é uma tentativa de realização de desejo”.

Vamos então cada vez mais caminhando na direção de perceber uma situação em que não é possível haver a realização alucinatória de um desejo que nem sequer existe, uma vez que não há a possibilidade de haver desejo inconsciente sem a inscrição das marcas mnêmicas que o determinam, e portanto também não é possível neste caso haver satisfação de desejo, apenas descarga de tensão.

Na Traumdeutung (1900), Freud utiliza a metáfora do umbigo do sonho para falar do ponto em que cada sonho é insondável, de certa forma, um umbigo através do qual o sonho está em correlação com o desconhecido.

Do sonho de angústia ao pesadelo e por fim ao pior, ao pesadelo em branco, sem conteúdo, chegamos ao ponto em que o umbigo se transforma em falha, em brecha impreen­chível, deixando um sujeito como Jean exposto a uma angústia impensável.

O sonho, em determinadas circunstâncias, representaria então uma tentativa de dar forma a alguma coisa que na história da pessoa justamente fugiu à representação, pois o que está na fonte do sonho e retorna através dele são muitas vezes experiências que não puderam constituir de nenhuma maneira uma fonte de prazer.

Cabe aqui uma ressalva.

A tentativa de transformar restos traumáticos em realização de desejo, em alguns sonhos, pode levar a mascarar esses mesmos restos traumáticos, o que pode levar o analista incauto a apreciar esse material de forma inapropriada.

Em 1932, num artigo que será publicado somente após a sua morte, em 1934, Ferenczi esboça o que ele denomina uma revisão da Interpretação dos sonhos (Ferenczi, 1934, p. 141 e seg.), desenvolvendo as proposições de Freud em Além do princípio de prazer. Sua tese é de que o retorno dos restos diurnos representa em si mesmo uma das funções do sonho: “[…] torna-se cada vez mais evidente que os chamados restos diurnos, na verdade, são sintomas de repetição de traumatismos…” (ibid., p. 141). Isso tem como conseqüência o fato de que “todo sonho […] é uma tentativa de levar acontecimentos traumáticos a uma melhor resolução e controle psíquicos […]” (ibid., p. 142).

Continua, em suas importantes contribuições, distinguindo o sonho primário repetição bruta do trauma, que toma freqüentemente a forma de um sonho feito de sensações corporais, sem conteúdo psíquico, como o pesadelo em branco de Jean do sonhosecundário , que tenta transformar o traço traumático em realização de desejo e que pode ocorrer muitas vezes na mesma noite junto ao sonho primário. A parte mais evoluída do psiquismo tenta funcionar segundo o princípio do prazer e tem seu correspondente onírico, enquanto a parte traumatizada funciona em outro registro, totalmente estanho ao primeiro, podendo apenas tender para manter vivo o trauma. Isso implica que a aparente realização de desejo nos sonhos dos pacientes traumatizados não expressa a verdade da experiência traumática.

Não é mais o manifesto que protege do latente, é o trabalho do sonho que mascara e disfarça um manifesto intolerável para o psiquismo. O passado não está atrás do presente, nele se infiltra.

Um exemplo: Uma jovem mulher sonha que está em uma casa de verão com um homem que foi seu amante e que lhe anuncia que tem outra mulher em sua vida. Ela a vê passar e lhe dirige um jato d’água para se vingar.

Parece tratar-se de um sonho de rivalidade edipiana com um elemento fálico significativo, mas a partir da casa de verão suas associações vão em outra direção: ela vai mudar de ocupação e, ao visitar seu novo local de trabalho, lembrou-se de um hoSPItal do terceiro mundo, de onde provém. Quando pequena, teve de ser hoSPItalizada nesse país, afastada de seus pais. Tem uma lembrança marcante do desamparo vivido naquela ocasião e ela mesma se surpreende com a forte emoção que isso lhe provoca.

Esse exemplo mostra que, partindo de um dar forma de aspecto neurótico ao sonho, as associações desembocam numa série de pensamentos que remetem a uma vivência de abandono. Interpretar a vertente sexual do sonho teria sido não levar em conta essa vivência subjacente. Ou seja, esse sonho tenta transformar os restos traumáticos em realização de desejo, porém essa tentativa leva a mascarar esses restos e essa máscara toma a forma da realização alucinatória do desejo.

Dos últimos trabalhos freudianos podemos tirar conclusões importantes quanto à natureza do funcionamento alucinatório. Com o alucinatório regrediente do sonho, a “inocente psicose”, descrita por Freud no Esboço de psicanálise, seria preciso articular uma outra forma de alucinatório, o alucinatório por facilitação, que remete à inscrição, independentemente do princípio de prazer, de um traço que não pôde ser completamente psychisée, integrado no psiquismo, e se aproxima muito daquilo que Bion descreveu como alucinose. No sentido clássico, o trabalho do sonho visaria transformar esses traços por facilitação em realização de desejo, mas nem sempre consegue, pois isso dependeria muito de uma etapa prévia do funcionamento do sonho: sua função traumatolítica. Esse funcionamento comportaria três etapas: a ligação propriamente dita de um material bruto, sua figuração a seguir e, por fim, sua transformação em realização alucinatória de desejo.

 

7. Construções na psicossomática

Tendo como filiação teórica inicial os mestres da Escola Psicossomática de Paris, Jacques Press chega ao final deste rapport ao que poderia ser considerado como o esboço de uma ficção teórica pessoal em torno do tema construções em psicanálise.

Em sua reflexão a respeito do nascimento da vida psíquica, menciona duas obras que considera enriquecerem-se mutuamente: Prélude à la vie fantasmatique, de Michel Fain, e O medo do colapso de Winnicott (1965).

Fain, adotando uma perspectiva freudiana clássica, postula que a atividade fantasmática nasce da negatividade, da ausência do objeto, e enfatiza as modalidades defensivas precoces, enquanto Winnicott, olhando o processo do ponto de vista da criança, tenta teorizar o caráter de desamparo aquém de qualquer possibilidade representativa subjacente a essas situações. Vemos, assim, que tanto a introjeção ferencziana quanto o holding winnicottiano desenrolam-se na presença do objeto e levam em conta a qualidade de sua presença e seus efeitos sobre a criança. Portanto, a satisfação alucinatória pode também se realizar no contato com o objeto (Roussillon, 1997).

Quando abordamos a questão da regressão, falamos na perda da representação que inevitavelmente leva ao medo do colapso. Ora, este é um estado que põe em jogo a integridade do indivíduo tomado como totalidade psicossomática.

Winnicott considera que o colapso não é analisável enquanto tal, só podendo ser vivido pela primeira vez na situação analítica. Considera também que na essência de cada um de nós há um núcleo fundamental ativo que é o reverso da consciência e da capacidade de representação.

Em outras palavras, o risco do colapso e o pavor provocado por ele estão no cerne de nosso destino, no cerne do humano, fazem parte da anangkè, tão cara a Freud. Para Press, e ele é muito enfático a esse respeito, a ameaça de perda de representação que acompanha essas primeiras fases míticas do desenvolvimento assume o valor de um organizador, na medida em que condiciona toda a construção posterior do indivíduo.

Confrontada com essa situação, a criança dispõe de uma gama relativamente restrita de saídas.

Uma delas é a tentativa sempre imperfeita de circunscrever esse núcleo através da atividade representativa e da vida fantasmática.

Outra possibilidade é a saída sublimatória. A terceira seria a fuga, fuga para a “saúde”, segundo Winnicott, que a compara a uma defesa maníaca e que, segundo Fain, corresponderia ao desenvolvimento prematuro do eu em que a criança privilegiaria os mecanismos autocalmantes, como o embalar no berço, em detrimento da satisfação , bem como ao narcisismo fálico. Para Bion, esta seria a opção de evacuar a frustração em vez de metabolizá-la.

Ainda outra possibilidade seriam as modalidades precoces de clivagem do eu, descritas originariamente por Ferenczi, e que resultariam em algo muito próximo ao falso self winnicottiano. Para Fain, este seria o caso do auto-erotismo monstruoso da criança mericista, que manda o bolo alimentar da boca para o estômago e de volta para a boca. Uma vez adquiridas, essas modalidades precoces de clivagem podem tomar caminhos variados. Podem provocar um enclave psicótico atual, que poderá se manifestar numa doença dita regressiva, de caráter crítico, podem levar a uma “loucura privada” sem somatização ou a outras saídas que vão da psicose a núcleos perversos.

Diferentes teorizações foram desenvolvidas a respeito dessas modalidades de funcionamento, e McDougall (1989, 1996) em especial defendeu a hipótese de que estas conflitualidades concernem às raízes da identidade, da mesma forma que a conflitualidade neurótica organiza-se em torno da psicossexualidade.

Press (2003) propõe que essas organizações correspondem a enclaves psicóticos atuais, núcleos ativos, sob diversas formas, em cada um de nós, podendo nos levar aos processos de somatização.

Um misto de dramaticidade e esperança perpassa todo este rapport, bem como o relato do caso de Jean e as reflexões que dele decorreram.

A forma de articular as forças da realidade psíquica e da realidade exterior, o passado e o presente, assim como de considerar a ancoragem somática da pulsão e a função do objeto neste texto, situa-nos com relação à filiação teórica e à posição que Jacques Press adota quanto à questão da construção em análise em comparação com as correntes de pensamento inicialmente mencionadas.

Ele menciona, no início, considerar esse trabalho como um esforço de perlaboração em relação aos autores que foram seus mestres, e nesse sentido deixa claro que, com relação ao paradigma psicossomático, o que muda em sua posição diz menos respeito à relação inversa estabelecida por Marty entre o que ele chama de “qualidade do funcionamento mental” e risco de somatização, do que ao seu ponto de vista no que se refere à implicação contratransferencial do analista.

Pensar seu interlocutor como estando preso num movimento de fuga em relação a um núcleo impensável fuga que não pode deixar de se reproduzir no jogo da transferência/contratransferência altera a forma como o vemos e nos permite entender a dimensão trágica daquilo que, sob o silêncio aparente, está em jogo conosco.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Ana Maria Brias Silveira
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo - SBPSP
Rua Baltazar da Veiga, 24 - Vila Nova Conceição
04510-000 São Paulo - SP - Brasil
Tel.: +55 11 3842-4769
E-mail: anabrias@uol.com.br

Recebido em 9.9.2008
Aceito em 15.9.2008

 

 

1 Condensação do relatório apresentado por Jacques Press no 68º Congresso dos Psicanalistas de Língua Francesa, Genebra, 2008.
2 Membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP.
3 Para um desenvolvimento crítico e detalhado com relação a essas várias correntes, ver o relatório de M. Bertrand, “Construire un passé, inventer du possible?”, apresentado no 68º Congresso dos Psicanalistas de Língua Francesa, Genebra, 2008.

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