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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál v.42 n.4 São Paulo dez. 2008

 

ARTIGOS

 

Entre a violência e o vazio: a escuta do feminino

 

Entre la violencia y el vacío: el escuchar de el femenino

 

Between violence and emptiness: listening to the feminine

 

 

Sandra Lorenzon Schaffa1

Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O texto considera o desafio que o feminino coloca ao trabalho analítico tomando-o como eixo de reflexão sobre uma abordagem do vazio na análise. Um caso é evocado em que a predominância do vazio na situação clínica corresponde tecnicamente a efeitos de dissolução da palavra analítica. A autora propõe uma discussão sobre essa modalidade de resistência para a qual sugere a expressão barragem, considerando-a sujeita a determinações da ordem do feminino, ordem dependente das pulsões arcaicas que ignoram a dimensão recalcante da palavra analítica. A questão técnica da abordagem do vazio, ignorante da falta, colocado como terreno que escapa à atividade representacional, conduzirá à consideração da importância da problemática do autoerotismo no manejo da transferência.

Palavras-chave: Feminino; Materno; Vazio; Autoerotismo; Transferência.


RESUMEN

El texto considera el desafío que el femenino propone al trabajo psicoanalítico y lo toma como eje de una reflexión acerca del vacio en análisis. Un caso es evocado adonde la predominación del vacio en la situación clínica a correspondido de un punto de vista técnico a efectos de disolución de la palabra analítica. La autora propone una discusión sobre esta modalidad de resistencia para la cual sugiere la expresión barrera en la considerando sujeta a determinaciones del orden del femenino, orden dependiente de pulsiones arcaicas que ignoran la dimensión represiva de la palabra analítica. La cuestión técnica del abordaje del vacio conducirá á la consideración de la importancia del autoerotismo en el manejo de la transferencia.

Palabras clave: Femenino; Materno; Vacio; Autoerotismo; Transferencia.


ABSTRACT

The text deals with the challenge to analytical work by the feminine, considered as a focal point to approach emptiness in analysis. A case is considered where the predominance of emptiness in the clinical situation implies from a technical point of view on effects of dissolution of the analytical word. The author proposes a discussion of this modality of resistance, for which she suggests the term barrage. This expression is considered as determined by the feminine and takes into consideration archaic drives that ignore the repressive dimension of the analytical word. The technical question on emptiness, ignoring lack and castration, which escapes the activity of representation, will reveal the importance of auto-erotism in the handling of transference.

Keywords: Feminine; Maternal; Emptiness; Autoerotism; Transference.


 

 

Teria sido necessária uma palavra-ausência, uma palavra-furo (…) não teríamos podido dizê-la, teríamos podido fazê-la ressoar.
Marguerite Duras, 1964, p. 48

 

Numa reunião da SBPSP, discuti um caso em que a transferência punha em jogo um estado de ambivalência fusional que, sob a capa de uma forte devoção ao objeto, fazia-se pouco acessível ao trabalho interpretativo. Referi-me, na ocasião, à marcante impressão de ter provado uma situação de extrema resistência à análise e afirmei que essa marca transferencial permanecia como fonte de minhas interrogações a respeito da violência do feminino, como um desafio na contratransferência em outras análises.

A expressão violência do feminino provocou na ocasião uma reação entre meus colegas que, ainda depois, voltaram a me indagar: “o que você quis dizer com essa idéia de ‘violência do feminino’”? Essa interrogação permaneceu comigo. Evocada a partir dessa experiência densamente vivida, a expressão violência do feminino referia-se ao relato clínico, contudo a extensão metapsicológica dessa concepção, que gostaria de agora considerar, o ultrapassa.

O caso de Mariana trazia agudamente a questão do amor de transferência. A paciente procurara a análise ao separar-se de Lucia a quem meu nome havia sido indicado inicialmente. Mariana estava bastante deprimida. Atribuía ao alcoolismo de Lucia a deterioração e a ruptura do relacionamento amoroso. Os laços transferenciais bastante intrincados nos primeiros anos de análise passavam pela homossexualidade alcoólica da companheira e se misturavam à devoção a uma mãe idealizada. Na história de Mariana, a fortaleza materna apresentava-se como um eclipse da depressão e do alcoolismo paternos.

Ao longo dos dois primeiros anos de análise, a transferência tomou progressivamente um caráter homossexual ameaçando sedimentar-se numa relação transferencial de natureza aditiva. Uma crença aparentemente inabalável na perfeição do nosso amor operava no sentido de dissolver toda tentativa de diálogo analítico. Minhas palavras não tinham eficácia. Ao mesmo tempo, a analisanda dava indícios de sua própria adição ao álcool.

A separação dera lugar a um vazio na vida de Mariana, vazio do qual um regime intenso de trabalho cotidianamente a retirava, mas as noites insones a relançavam. Seu recurso era munir-se de tranquilizantes: whisky, telefone, televisão (a que assistia estupidamente, assim me dizia) para enfrentar a vigília noturna, suportar a “falta de fechamento do dia”, contornar o vazio simulando algo que fechasse o dia como o abraço com que acalmara a inquietação, manifestação constante de Lucia, durante o período feliz do relacionamento de ambas.

Arrebatamento seria a palavra que descreveria a natureza desse amor sem prorrogação que se recusa a perder e que definiria a transferência no estágio inicial da análise de Mariana. Cativada pelo ambiente que cercava o encontro analítico, a atenção capturada pelos mais sutis detalhes que compunham o ambiente físico do consultório, a analisanda, ao deitar-se no divã, deixava-se transportar de olhos fechados a um mundo vasto de sensações algumas vezes comunicadas, outras guardadas em silêncio. A casa (consultório) lembrava a residência de Lucia que abrigara o amor de ambas; o espaço físico, dizia, trazia-lhe a sensação de total aconchego, abraçava-a embalando o sonho do amor perfeito.

Arrebatamento, rapto (raptus), expressão derivada do latim séc. XII, rapere, a palavra carrega sentidos antinômicos: enlevo, encantamento, êxtase, mas também, evicção. Sua derivação francesa ravissement serviu a Marguerite Duras na construção de uma obra de aguda penetração no universo feminino. A escritora foi, com grande propriedade, definida pela sua fascinação pelo vazio: “Uma pulsão de repetição anima os relatos durassianos, como anima a própria escritura. Pois os relatos durassianos contam sem cessar as mesmas histórias, às quais eles tornam como a uma obsessão, mas esvaziando-os cada vez um pouco mais. Assim, podemos considerar cada novo romance uma variação em torno de um esquema actancial imutável: um Sujeito-feminino em busca de um objeto paradoxal: sua própria evicção” (Borgomano, 1990, p. 43).

Le ravissement de Lol V. Stein, romance escrito por ela em 1964, poderia ser considerado junto com outros de seus escritos, em particular, Un barrage contre le Pacifique (1950) e L’amant de la Chine du Nord (1991), uma constelação que nos confronta com a potência invasora, demolidora do mar (Pacifico!) arrebatador de inúteis barreiras fundadas no terreno instável da loucura materna.

O romance de Lol V. Stein, aos 18 anos noiva de Michael Richardson, constrói seu enredo a partir de uma cena em que a protagonista assiste num baile à entrada de uma mulher, Anne-Marie Stratter, desconhecida que é levada por seu noivo a dançar, sob o olhar de Lol que os acompanha, sem manifestar qualquer reação. Duras (1964) confronta-nos com uma concepção do vazio como esquecimento da velha álgebra dos sofrimentos do amor:

A noite avançando, parecia que as chances que teria tido Lol de sofrer iam se rarefazendo, que o sofrimento não tinha encontrado nela onde se alojar, que ela tinha esquecido a velha álgebra dos sofrimentos do amor… (p. 19)

Sobre Le ravissement de Lol V. Stein, confessa-nos a autora que sua inspiração foi suscitada por uma jovem mulher louca encontrada num baile de Natal num hospital psiquiátrico: “Eu a conheci. E depois não mais revi. Ela tornou-se Lol V. Stein. Não me foi preciso grande coisa. Um olhar” (transcrito por Laure Adler, cit. por Lessana, 2000, p. 255).

A personagem de Duras, concebida a partir dessa visão da loucura feminina, lança o leitor diante do enigma do vazio que se apresenta como uma modalidade de esquecimento. Esquecimento que se efetua como supressão da dor da separação. A condição desse vazio, Duras a explicará assim: “No momento do baile de S. Tahla, Lol V. Stein é totalmente arrastada para dentro do espetáculo de seu noivo e dessa desconhecida de preto de tal modo que ela esquece de sofrê-lo. Ela não sofre por ser esquecida, traída. É dessa supressão da dor que ela vai se tornar louca. Poderíamos dizer de outro modo que ela compreende que seu noivo vá em direção a uma outra mulher, que ela adere completamente a essa escolha que é feita contra ela mesma e que é por esse fato que ela perde a razão” (citado por Julien, 2000, p. 19).

Em sua Homage fait à Marguerite Duras, du ravissement de Lol V. Stein, Lacan (2001, p. 191) escreve: “Ravisseuse é também a imagem que nos vai impor essa figura de ferida, exilada das coisas, que não se ousa tocar, mas que nos faz de presa” (p. 191) (…) “Ela não pode encontrar uma palavra, essa palavra que, fechando as portas aos três, a teria reunido no momento em que seu amante teria retirado o vestido preto da mulher e desvelado sua nudez. Irá isso mais longe? Sim, ao indizível dessa nudez que se insinua em substituir seu próprio corpo. Aí tudo pára” (p. 193).

Lol exila-se num vazio onde aquilo a que assistiu no baile não se passou: a cena vista só tomaria o caráter de um acontecimento se pudesse ser retirada do fluxo temporal da vida e, recolhida pela percepção – pela escuta diríamos, se estivéssemos no âmbito da clínica –, nomeada, ganharia o status de um acontecimento. “O que se passou entre eles, depois do baile fora de sua presença, acredito que Lol não o pensa nunca. Que ele tenha partido para sempre se ela pensasse nisso, depois de sua separação, apesar dela, seria um bom signo a seu favor (…)”, escreve Duras (citado por Julien, 2000, p. 20).

O interesse de abordar o vazio através da obra de Marguerite Duras, apreendendo o sentido dessa impossibilidade tal como a de Lol de dizer sua dor, é considerar o vazio que aí se produz como algo que não se refere a uma falta, a uma perda, a uma falha no discurso que se sustente num tecido simbólico no qual uma condição subjetiva se possa constituir. Trata-se, aí, não de um recalcamento, mas de um além, ou de um aquém, do representável. A palavra usada pela escritora para descrevê-lo é supressão: “É por essa supressão da dor que ela vai se tornar louca” (citado por Julien, 2000, p. 19). Lol não perde nada, não há nela dor, reação ou luta para conservar seu lugar junto do noivo. O recurso à ficção, assim como ao sonho, pode conduzir à aproximação desses estados de vazio, de outro modo, inescrutável.

 

A teoria analítica no bojo da ficção e do sonho

Num carrinho deixado na cozinha do consultório da analista, uma criança, com os lábios recobertos por uma crosta febril, não chora, ao seu lado seu pai, indiferente. O sonho de Mariana evoca o comovente sonho relatado a Freud. Uma criança morta a quem o pai, que a deveria velar, entrega em sua exaustão aos cuidados de um ancião que, previsivelmente, adormece diante da tarefa. O sono paterno traz de volta em seu sonho a criança e com ela a sua queixa: “Pai, não vê que eu estou queimando?”. No sonho de minha analisanda, a criança que queima, contudo, não está morta, está paralisada, não chora, não se queixa da dor, do ardor das pulsões que se inscrevem como crosta numa boca silenciosa.

Nessa análise, a dificuldade que se impunha no manejo da transferência correspondia à ameaça da aspiração ao vazio fusional a que tendia bascular a cada instante a dupla analítica. Como – da erotização alcoólica que fracassou com a amiga, e a partir da ligação homossexual que exerce forte atração sobre a paciente e que se procura exercer sobre a analista – discernir a condição de um certo equilíbrio do tratamento? Ao reportar o caso numa supervisão a Pierre Fédida, sua observação foi de que esse equilíbrio poderia repousar na capacidade da paciente de trazer suas incoerências emocionais, assim como na capacidade associativa da analista do seu lado. À escuta analítica cumpriria reconhecer na homossexualidade seu caráter estruturante na transferência. Fédida propôs: “O trabalho da análise consiste em desembaraçar uma relação tal como a mantida com a amiga e tecer uma relação, não com a analista, mas com o trabalho da análise, que deveria permitir dar nascimento a uma mãe, uma partenogênese particular.”2

 

A violência do feminino e o abrigo materno

A idéia da violência do feminino não é estranha a Michèle Montrelay (1977). A autora nos dá o testemunho de que “A feminilidade faz fracassar a interpretação à medida que ela ignora o recalcamento” (p. 66).

Comentando a formulação dessa autora, em seu seminário sobre O amor, François Perrier parte da distinção fundamental, de um ponto de vista metapsicológico, entre a mulher e a feminilidade, distinção a qual voltaremos na sequência, assim como entre recalcamento e censura: “A mulher é aqui o sujeito. A feminilidade é definida como pulsões orais, anais, arcaicas, como se diz, pré-genitais, pré-edipianas. O recalcamento é diferente da censura, pois o recalcamento é um ato que supõe uma simbolização, ele é estruturante.3 Ao contrário, a censura é sofrida como um não-dito [não como um interdito]. A censura é o branco no discurso dos pais. É o branco de seu desejo de algum modo. E esse branco é ininterpretável, na falta de representação possível”. Para Granoff, lembra Perrier, o erotismo feminino é regido muito mais pela ordem da censura do que do recalque. “A feminilidade fora do recalcamento fica num estado selvagem”, seu erotismo mantém-se fora da representação da castração, do simbólico. “A menina, ela, antes de seu acesso edipiano à problemática da diferença de sexos, isto é, da castração, se ela já está na relação com sua mãe como primeiro objeto de amor, (é) aspirada, eu digo: aspirada pelo amor materno (…), é por isso que há uma forma de angústia de um certo inominável e não representável da homossexualidade entre mãe e filha ou, mais exatamente, do incesto mãe-filha, filha-mãe a apontar do lado do continente negro como um túnel na ausência de negros-brancos do fantasma.” (Perrier, 1998, p. 154).

Essa problemática, ou esse avatar da feminilidade é também explorado por Piera Aulagnier que, em seu texto sobre “A feminilidade”, considera a relação simultaneamente erótica e narcisista da mulher com seu corpo: “A mulher goza com seu corpo como ela faria com o corpo de uma outra” (citado por Perrier, 1998, p. 162).

O desafio que a abordagem do feminino coloca ao trabalho analítico como eixo de reflexão sobre uma abordagem do vazio na clínica psicanalítica centra-se aqui em torno da questão da modalidade de resistência que a feminilidade oferece ao trabalho analítico. A análise de Mariana, nesse sentido, coloca-se não como um caso excepcional, mas como prova a ser enfrentada, como desafio colocado pela violência do feminino, como questão pertinente na sua essência ao sentido próprio da toda análise. A situação analítica, que considerei exemplo de extrema resistência, colocava em jogo um efeito de dissolução da palavra analítica, por desconsiderar sua dimensão recalcante (a palavra analítica tem efeito recalcante à medida que introduz a ordem da falta e dá acesso a representação simbólica).

O exemplo clínico leva-nos a considerar que estamos diante de uma modalidade de resistência que não advém do recalcamento, mas dessa espécie de abrigo friável da censura erguida contra a ameaça do pulsional arcaico. Somos levados aqui a apreciar a formulação de Montrelay e, além dela, a observação de Fédida (1999): “Afirmar que a feminilidade ignora o recalcamento porque é constituída de pulsões arcaicas exprimindo-se em emaranhamento e crises violentas, desloca a função estruturante da interpretação na análise até fazê-la desempenhar o papel do outro da linguagem” (p. 199). A importância da distinção introduzida por Fédida (1999) é a de evitar uma atitude psicoterápica correspondente a uma ideologia maternalista. “Seríamos tentados a pretender que o fracasso de numerosas análises de mulher pela manifestação da violência do feminino lembra que este mantém estreita afinidade com o psicanalítico posto em desafio na contratransferência do analista. Não haveria este desafio posto no coração da análise se esta não fosse exigida como a única tessitura possível da ligação. Deveríamos ainda aprender que o que se chama o ‘feminino’ – idealizado nas expressões de certas qualidades corporais – não é, sem dúvida, senão a máscara convencional que emprestam as pulsões mais primitivas às quais a análise diz respeito. E para nós a questão continua a ser a do informe maternal que assombra o feminino” (p. 141).

Entrevistado por Laurence Kahn (1999), C. Chomienne, juiz de crianças, ao evocar o quadro de Giorgione, A Tempestade, oferece-nos uma possibilidade plástica de colocação de nossa questão. “Nesse quadro enigmático, o abrigo maternal me parece estar representado na sua maior soberania, entre a tempestade, a imensidão do espaço, a distância do observador masculino da cena, a semi-nudez da mãe insensível ao vento e ao frio fustigantes, as moradias quase fechadas. A mãe dá o seio e parece nos provocar com sua segurança insensata; nada a perturba, nada a inquieta, a criança não tem frio, eles zombam um e outro dos elementos furiosos, dos desencadeamentos do mundo exterior, do castigo talvez prometido aos homens por esse céu enfurecido. E não esqueçamos que ‘tempestade’ vem do latim ‘tempestus’ que significa ‘que vem a tempo’: em suma, que a mãe venha a tempo, que ela faça de sorte que a tempestade detenha-se a tempo, não somente a tempestade de fora, mas a de dentro. Afirmação que nos alivia da representação de que a tempestade de raiva está no coração mesmo do abrigo. O juiz é convocado quando a tempestade é desencadeada” (p. 238).

O juiz é convocado quando a tempestade é desencadeada e seu pronunciamento de que a tempestade está no coração do abrigo dialoga com a questão do psicanalista. O desafio técnico colocado pela tese que vimos examinando de que “A feminilidade faz fracassar a interpretação à medida que ela ignora o recalcamento” (Montrelay) coloca-se agudamente na análise de Mariana. O vazio da supressão da dor é o estado que se oferece como abrigo contra toda perda erguendo-se como barragem sobre o terreno dependente das pulsões arcaicas do continente feminino. N o quadro, a visão do juiz dialoga também com a escritora; tal como a personagem de Duras, sua visão compreende esse estado paradoxal do feminino na segurança insensata da mãe arrebatada: nada a inquieta, a criança não tem frio, eles zombam um e outro dos elementos furiosos, dos desencadeamentos do mundo exterior, do castigo talvez prometido aos homens por esse céu enfurecido.

Discutindo ainda a formulação de Montrelay, escreve Fédida (1999): “A feminilidade, nos dizem, leva ao fracasso a interpretação à medida que ignora o recalcamento”, pondera: “O que é justo se estivermos de acordo em pensar que a interpretação é ato de discurso. Mas menos se admitimos que a interpretação se tece ao longo de uma análise e dá assim à escuta como uma função decisiva de ressonância.” Assim como faz Montrelay, o autor evoca o comentário de Duras sobre Lol V. Stein: “O que lhe falta, que lhe seria necessário? Seria preciso uma palavra-buraco, uma palavra ausência… não a poderíamos dizer, poderíamos fazê-la ressoar” (p. 140).

O artigo de Fédida retoma idéias do ensaio “Parthénogenèse” de François Perrier incluído no mesmo seminário sobre O Amor, a que vimos nos referindo, onde Perrier segue muito próximo das elaborações de Michèle Montrelay. Fédida considera, como esses dois autores, a essencial distinção entre censura e recalcamento que os leva a sustentar “a definição de uma incompatibilidade, de uma concorrência em toda mulher entre isso que se estrutura dentro do modo freudiano quanto ao inconsciente, a libido e a representação, e de outro lado isso que ela (Montrelay) afirma derivar do inanalisável, do lado do continente negro” (Perrier, 1998, p. 155). Se, para Freud, a economia da libido e a estruturação do desejo são os mesmos para o menino e a menina, para Montrelay (citada por Perrier, 1998), recuperando as problematizações da escola inglesa (Jones, Klein, Horney) que reivindicaram a especificidade da libido feminina, “a mulher permanece dependente das pulsões arcaicas”.

Numa sessão Mariana faz referência a um quadro onde figuram dois rostos femininos cujos cabelos se confundem, o que leva a paciente a uma associação imediata com os nossos cabelos. Evoca agudamente a dor do desembaraçamento dos fios de seus cabelos quando a mãe a penteava. Nós doloridos resistentes ao entre-laço. Na supervisão, Fédida (1978b) leva o material a desenvolver-se em torno da figura da trança. A trança é a metáfora do trabalho necessário de discriminação dentro da angústia vivida por mim nesse atendimento: incontornavelmente “o analista escuta COM a angústia” (p. 78).

Na análise de Mariana, a condição homossexual estruturante da transferência corresponde à necessidade da parte da analista de aceitar uma ligação homossexual que corresponda, no fundo, ao que diz a paciente: “a transferência é um amor sem sexo”, não diferença de sexo quer dizer homossexualidade virtual, potencial, sugere Fédida: “o que se passa nessa análise consiste para essa paciente em procurar modos de produzir seu tecido psíquico, trançar alguma coisa.”4

 

O vazio como barragem e o vazio da metáfora

Barragem contra o Pacífico, o título instigante do relato quase biográfico de Duras, que tem por fundo a luta obstinada de sua mãe contra as frequentes inundações a que estavam sujeitas as terras adquiridas num mau negócio, reporta-nos ao terreno friável da sexualidade feminina como continente (negro) não estruturado pelo recalcamento.

A tese de que “A feminilidade faz fracassar a interpretação à medida que ignora o recalcamento (Montrelay, 1977, p. 66-7) implica, como admitimos antes, uma definição prévia do feminino, em sentido metapsicológico, que se distingue da mulher, compreendida enquanto gênero. Retomemos o contexto em que desenvolve a proposição de Montrelay precisando a discriminação entre a mulher, indivíduo do sexo feminino, concretamente considerado, e a feminilidade concebida quanto ao modo de estruturação do inconsciente. O feminino, em acepção metapsicológica, é especificado pela autora a partir de três termos distintos: mulher, feminilidade, recalcamento:

“– a palavra mulher designará o sujeito que, como o homem, é efeito da representação inconsciente; – por feminilidade, entender-se-á o conjunto de pulsões ‘femininas’ (orais, anais, vaginais), enquanto resistentes ao processo de recalcamento; – enfim, o recalcamento será distinto da censura: esta é sempre sofrida; aquele tem o valor de ato. Com efeito, os obstáculos opostos pela censura ao desenvolvimento libidinal aparecem como resultado dos avatares do desejo do Outro. Regressões ou fixações impediram que o pai ou a mãe simbolizassem tal ou tal acontecimento-chave da sexualidade da criança. E a partir daí esse ‘branco’, esse não-dito, funciona como barragem (butée): a censura que se estabelece se produz como efeito de uma ausência de representação. Ela é portanto irrepresentável, e portanto ‘ininterpretável’. Ao contrário, o recalcamento supõe uma simbolização: ele permite que a representação (…) invista-se enquanto tal, enquanto a satisfação real, abandonada, faça a sua aposta. O recalcamento é sempre processo economicamente estruturante.” (p. 66-7)

Forcluída da economia simbólica, a feminilidade em seus estados precoces, em estado selvagem, mantida fora da representação da castração coloca-se como obstáculo a uma possível “maturação” da experiência que a mulher possa vir a ter de sua feminilidade.

Montrelay (1977), apoiando-se em fundamentos lacanianos, no reconhecimento da feminilidade por Lacan a partir de uma condição de gozo que não se deixa integrar na linguagem, aborda clinicamente o tema angústia intrínseca à feminilidade, à medida que seu corpo confronta a mulher com um inominável que escapa a uma estruturação sob o modo freudiano da representação; em termos lacanianos, das formas que se manifestam por meio das malhas do Simbólico e do Imaginário “a mulher goza de seu corpo como ela o faria do corpo de uma outra. Cada acontecimento de ordem sexual (puberdade, experiências eróticas, maternidade etc.) chega a ela como se viesse de uma outra: ele é a atualização fascinante da feminilidade de toda mulher, mas também, sobretudo, da mãe. Tudo se passa como se ‘tornar-se mulher’, ‘ser mulher’, abrisse acesso a um gozo do corpo enquanto feminino e ou materno. No ‘amor-próprio’ que ele se dá, a mulher não alcança a diferença entre seu próprio corpo e o de seu ‘primeiro objeto’.” (p. 69). (…) “A angústia, ligada à presença desse corpo tão próximo, que é preciso habitar, é um objeto excessivo que para simbolizar é preciso ‘perder’, quer dizer recalcar” (p. 70).

O vazio que na análise de Mariana se apresenta, tal como o vazio que Marguerite Duras nos faz conhecer, suspende-se sobre o infinito da dor de uma separação que não se pode cumprir, um vazio que faz da supressão da dor uma barragem contra a invasão do feminino arcaico que a transferência põe em jogo. Como a crosta febril nos lábios da criança petrificada, a transferência encontra no sonho a possibilidade de fazer falar o indizível. A crosta febril e a paralização dos lábios da criança dão expressão ao arrebatamento desse amor que encontra, no vazio da anulação de si mesma, no estado de estupor e fascinação, a urdidura do esquecimento da velha álgebra dos sofrimentos do amor.

O desafio técnico dessa abordagem do vazio que aí se impõe ao trabalho analítico é tratado em diversos contextos da obra de Fédida (1978a); cabe aí “deixá-lo se instalar com a sua fala, não procurar evitá-lo, nem preenchê-lo” (p. 201).

 

Fundamento metapsicológico do vazio e dimensão autoerótica da transferência

A questão técnica da abordagem do vazio como terreno que escapa à atividade representacional leva-nos a reconhecer a importância da problemática do autoerotismo no manejo da transferência em casos como o de Mariana que dizem respeito ao vazio como terreno do irrepresentável.

Na análise de Mariana, acolher a transferência homossexual é deixar advir essa organização da situação analítica de demanda de satisfação de um erotismo radical como cenário fantasmático autoerótico primitivo aberto à modificações progressivas. Acolher a transferência em sua extensão autoerótica é levar em conta uma dimensão regressiva da escuta e pensar a instalação do tratamento congruente com uma cena primitiva, como propõe Fédida (1978a): “A posição deitada sobre o divã, a imobilidade no silêncio, o afloramento das excitações corporais ou sua anestesia defensiva dão o conteúdo autoerótico do espaço analítico. (…) A primitividade de uma cena encontra pregnância imediata pela situação analítica e toma conteúdo de fantasia de um par fazendo amor. Como se a demarcação dessa cena tivesse lugar junto do corpo imóvel, ele próprio erigido como muro. E é notável que a representação edipiana – entrando como ‘figura’ do relato manifesto – seja ela de um ‘quadro’ em frente enquanto o detrás escreve o roteiro da cena primitiva. A sensação dos movimentos no silêncio, a sensibilidade à voz na fala, a atenção vigilante aos mínimos ruídos dão toda significação acústica do detrás em relação às excitações corporais difusas. O investimento autoerótico do espaço é regulado por um fantasiar o interdito (a representação superegóica do analista) e corresponde de fato, à descoberta primitiva do corpo vigilante como zona de solidão vigiada. Eu me apercebi que essa organização da situação analítica conforme ao cenário fantasmático autoerótico da cena primitiva se mantém ao curso da análise e que suas modificações e transformações progressivas esclarecem singularmente a dimensão autoerótica da transferência.” (p. 209)

Monique David-Ménard (1983) no seu ensaio sobre a “Insatisfação do desejo, satisfação da pulsão” insiste na necessidade de estabelecer a diferença entre cena analítica e cena erótica. É preciso reconhecer, discute a autora, que tanto a cena analítica como a cena erótica põem em jogo o regime alucinatório do desejo, no entanto distintamente. “Sobre a cena analítica, trata-se de transformar as pulsões em desejo, evitando que elas ‘se descarreguem’, isto é, que elas se satisfaçam graças a um objeto, que elas se sublimem em um dito que desenhe para o sujeito seu modo de desejar, o mais próximo do risco da alucinação. No erotismo, isso que é apreendido pela colocação em jogo do pulsional, é a alteridade de um outro o mais próximo do julgamento primário, isto é, da experiência de satisfação, que permanece sempre, como escrevia Freud em 1895, uma prova, pois é ao mesmo tempo ilusão de fusão e experiência de alteridade do outro que no entanto tem esse objeto que faz gozar.” (p. 258)

O trabalho de Monique David-Ménard é de grande significação no âmbito dessa problemática. Mostra-nos o quanto uma elaboração metapsicológica da técnica se faz necessária no enfrentamento dos riscos assumidos pela condição de regressão exigida do analista ao se aproximar das condições traumáticas na base de uma clínica voltada para estados de vazio correspondentes a um fracasso da atividade de representação.

Não basta, contudo, dizer que “o desejo, pois aí está o que o define, não poderia ser realizado” (Conrad Stein, citado por David-Ménard, 1983, p. 258) ou que a alucinação é alucinação de um significante, isto é, também aprendizagem da ausência, como faz Safouan. Nessas colocações não há o reconhecimento do autoerotismo como fonte das condições de perlaboração própria ao trabalho analítico. Stein, comenta David-Ménard, “põe em relação a irrealização suposta do desejo com o risco de abolição de toda a subjetividade num autoerotismo que seria a morte. Mas o autoerotismo é, sem mais, a morte?” (p. 258) questiona a autora. A crítica da perspectiva de Stein, “mais lacaniano do que Lacan” (p. 258), desenvolvida pela autora, coloca-a na direção das proposições de Pierre Fédida que situa o autoerotismo na fonte mesma da linguagem que sustenta todo o trabalho analítico.

Monique David-Ménard propõe uma revisão do sentido atribuído ao termo “alucinação”. Tecnicamente, o trabalho analítico desdobra-se a partir das condições primordiais de um autoerotismo arcaico. Essa base arcaica da atividade psíquica alucinatória que concerne à dimensão indestrutível e radicalmente inatual da pulsão não é abolida, mas modificada pela apreensão do outro estrangeiro que antecipa de modo alucinatório o objeto cobiçado. Opondo-se à tese de Conrad Stein quando escreve que “o autoerotismo seria a morte do desejo”, problematiza essa colocação: “Não seria mais uma outra forma de dizer que a função do aparelho psíquico seria de se descarregar?” (p. 259).

Trabalhar junto às fontes autoeróticas da linguagem que a transferência de maneira selvagem – alimentada pela atividade pulsional – põe em jogo, é não negligenciar a consideração de que “no tratamento, a voz do analista é ao mesmo tempo objeto e interdito” (p. 259).

Analisar é uma experiência paradoxalmente perigosa e comprometedora, pois beira a realização alucinatória de um reencontro buscado pelo autoerotismo. Entretanto, como observa a autora “o perigo do erotismo está também no seu fracasso possível: o outro a quem é demandado ocupar o lugar do objeto, que desencadeia o prazer alucinatório, o aceita ou recusa. E não é certo poder demandar. A violência do erotismo – que não se resume à sua modalidade perversa – deve-se a que há sempre a uma efração que solicita um outro no registro da inatualidade radical do erotismo. Pelo risco de uma recusa do outro, mas também pelo risco de uma aceitação do outro que transforma brutalmente o funcionamento pulsional, o erotismo é de algum modo a experiência da alteridade e da estrangeiridade do outro no seio mesmo do prazer alucinatório que – dizem – ignora toda alteridade. (…) Não há satisfação pulsional senão nas experiências onde a estrangeiridade do outro arrisca-se sempre a ressurgir, isto é, nisso que, para um sujeito dado, está próximo do traumático. Um sujeito não pode demandar a um outro fazê-lo gozar ou não pode aceitar que uma tal demanda lhe seja endereçada senão quando o que foi para ele trauma foi ao mesmo tempo aproximado e transformado. Compreendemos então que entre a análise do desejo no tratamento e o que está em jogo nas realizações pulsionais, há alguma proximidade, precisamente porque a associação livre e seus caminhos, a fala e os silêncios põem a nu na transferência o que foi trauma. Se há erotismo, e em particular uma sedução pela palavra que estrutura a cena analítica, o dizer do desejo torna possível uma distância tomada pelo sujeito com relação às modalidades de seu gozo, então o erotismo será uma capacidade de jogar com o alucinatório: de envolver-se e desprender-se uma vez que os objetos são variáveis e as satisfações frágeis, o que implica que lutos são necessários.” (p. 260)

Caberia ainda perguntar, como faz Montrelay (1977), “se a psicanálise não está articulada para recalcar (no sentido de formar a representação simbólica) a feminilidade” (p. 75). Segundo as proposições dessa autora, a fala do analista é “a articulação verbal de alguma coisa mantida até então em estado selvagem” (…); analisar é “fazer passar a sexualidade pelo discurso” (p. 75). O analista opera pela diferença que sua fala instaura, à medida que o discurso é diferente, suas palavras são outras, esse discurso não reflexivo, não é espelho, mas metáfora. “A metáfora colocando-se como não sendo o que é dito, ao mesmo tempo escava, designa esse espaço (vazio)” (p. 76).

A análise de Mariana coloca a exigência da travessia de um terreno de homoerotismo. Travessia que corresponde também a um trabalho de luto. Na supervisão, Fédida propõe: “Trata-se nessa análise de sair de um emaranhado e alcançar um trançado, a imagem da trança e uma das mais belas imagens da ligação erótica da mãe com a filha, trançar os cabelos da filha no espelho.”5 Desemaranhar os nós para alcançar o trançado é trabalho de recalcamento da palavra analítica e aproxima-nos do sentido reconhecido por Montrelay (1977), para quem a natureza da palavra analítica compartilha o prazer do chiste que, jogando com a dimensão do recalque, é operação de abertura de novas divisões e espaços na matéria informe que transforma (p. 76).

Trançar é “deixar ir e vir, é um movimento de liberdade que a criança, desde que tenha os meios de se deslocar, experimenta ao explorar o espaço. De trás para a frente, se a frente é assegurada pelo detrás: o retorno deve ser possível. Experiência da liberdade do corpo e, simbolicamente, constituição da ausência. O afastamento é para o corpo seu ato de separação que constrói a ausência. O movimento de deixar ir e vir é corporalmente o movimento que descobre o pensamento para pensar – ou seja, para tomar o tempo de hesitar. O tempo da hesitação – matriz da capacidade do pensamento de associar conforme a ressonância interna da ideia que se pode chamar insight – é, portanto, o esboço constituinte dessa temporalização subjetiva (dar um continente) que toma o nome de si. Um tal esboço pertence à autoerotização primária que concerne, antes de mais nada, o prazer do corpo. O detrás não é, portanto, somente uma direção significante do espaço podendo simbolizar ao mesmo tempo o analista, o passado e o inconsciente: é o vazio capaz de tornar o pensamento sensível a seu próprio desconhecido e, assim, a isso que para ele está por vir (…) o essencial é que a análise instaure o vazio como um espaço de pensar que tem necessidade de tempo para pensar.”6

Trança, em francês, tresse, Fédida na supervisão joga com a palavra détresse (desamparo); demarcado da esfera depressiva, o vazio adquire foro de espaço psíquico, o esvaziamento corresponde ao trabalho do luto que instaura a experiência de um tempo e amplia o espaço interior tal como entendemos em seu texto sobre “Le vide de la métaphore et le temps de l’intervalle”.

Pensar a escuta do feminino como elaboração da trança é compreender o trabalho de escuta se fazendo como “movimento de troca sob a palavra”.7 Avançar a partir dessas considerações metapsicológicas na direção proposta por Fédida é deslocar a função estruturante da interpretação na análise até fazê-la desempenhar o papel do outro da linguagem. A escuta analítica define-se por uma (essencial) dissimetria que implica a condição de castração simbolicamente referente à linguagem. Situar o trabalho da escuta do feminino como um movimento de troca que se dá sob a palavra tecendo-se a partir do registro da autoerotização primária é confiar a função de dissimetria do ato analítico à castração, entendendo-a no sentido de uma negatividade, de um impensável que desafia toda representação de seu conteúdo.

O trabalho analítico como troca sob a palavra situa-se a partir da distinção entre cenas, a cena do dizer tangencia a cena de uma realização erótica, onde a palavra do analista sustenta-se nesse inter-dito que se tece a partir da atividade autoerótica na base da transferência. A violência do feminino, em estreita afinidade com o nível primitivo das pulsões, recusa a interpretação como ato de discurso, deslocando a função estruturante da interpretação até fazê-la desempenhar o papel do outro da linguagem. Desafia a contratransferência do analista, exige-o no máximo de sua capacidade de regressão pondo em questão o seu trabalho interpretativo em estreita relação com a sua própria análise.

 

Referências

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Borgomano, M. (1990). Romans: La fascination du vide. L’Arc, Révue. Paris: Librarie Duponchelle.

David-Ménard, M. (1983). Insatisfaction du désir, satisfaction de la pulsion. Nouvelle Revue de Psychanalyse, 27, p. 258. Idéaux. Paris: Gallimard.        [ Links ]

Duras, M. (1964). Le ravissement de Lol. V. Stein. Paris: Gallimard.        [ Links ]

_____(1997). Un barrage contre le Pacifique. Paris: Gallimard.        [ Links ]

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_____ (1978). D’une essentielle dissymétrie dans la psychanalyse. In L’Absence. Paris: Gallimard.

_____ (1978a). Le vide de la métaphore et le temps de l’intervalle. In L’Absence. Paris: Gallimard.

_____ (1978b). A clínica psicanalítica. São Paulo: Escuta.        [ Links ]

Freud, S. (1993). La féminité. Nouvelles Conférences d’introduction à la Psychanalyse. Paris: Gallimard.

Kahn, L. (1992). Entretien avec Christian Chomienne, juge des enfants. Nouvelle Revue de Psychanalyse, n. 45. Paris: Gallimard, p. 238.        [ Links ]

Julien, P. (2000). Psychose, Perversion, Névrose. Paris: Éres.        [ Links ]

Lacan, J. (2001). Autres Écrits. Paris: Seuil.        [ Links ]

Lessana, M.-M. (2000). Entre mère et fille: un ravage. Paris: Fayard.        [ Links ]

Perrier, F. (1998). Parthénogenèse. L’amour. Paris: Hachette.

Montrelay, M. (1977). L’ombre et le nom. Paris: Minuit.

Schaffa, S. (2006). Violência pulsional e perlaboração. O estado-limite da teoria na clínica da contratransferência. A partir de “Rememorar, repetir e perlaborar”, trabalho apresentado na SBPSP, junho.

 

 

Endereço para correspondência
Sandra Lorenzon Schaffa
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP
Rua Iquitos, 388
05444 20 São Paulo, SP
E-mail: sandralorens@uol.com.br

Recebido em: 1.10.2008
Aceito em: 14.10.2008

 

 

1 Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP.
2 Nota de supervisão.
3 Em itálicos, citação de Montrelay por François Perrier.
4 Notas de supervisão.
5 Notas de supervisão.
6 Fédida, notas de supervisão.
7 Expressão de Fédida, notas de supervisão.

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