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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál v.42 n.4 São Paulo dez. 2008

 

ARTIGOS

 

A guerra e o repúdio ao feminino: Tróia como paradigma

 

La guerra y la desmentida del femenino: Troia como paradigma

 

The war and the disavowal of the feminine: Trojan’s paradigm

 

 

Ignácio Alves Paim Filho1; Valéria Quadros2

Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Com o objetivo de pensar o por quê da guerra, os autores utilizam a Ilíada, de Homero, relacionando- a ao conceito freudiano de repúdio do feminino (1937). Sustentam a ideia de que o feminino está ligado às origens do sujeito psíquico, postulando a existência de uma disposição feminina originária. Assim, propõem que o feminino, na constituição psíquica, teria dois destinos: num primeiro tempo ser recalcado pela ação do recalcamento primário e, num segundo momento, ser repudiado quando do estabelecimento do recalcamento propriamente dito. Para os autores, um dos destinos do feminino repudiado será dramatizado no fazer a guerra.

Palavras-chave: Repúdio; Feminino; Recalcamento; Guerra.


RESUMEN

Con el intento de pensar el por qué de la guerra, los autores se valen de la Ilíada, de Homero, en relación con el concepto freudiano de la desmentida del femenino (1937). Sustentan la idea de que el femenino está ligado a los orígenes del sujeto psíquico, planteando la existencia de una disposición femenina originaria. De esta forma, proponen que lo femenino, en la constitución psíquica, tendría dos destinos: en un primer tiempo ser recalcado por la acción de la represión primaria y en el segundo momento ser desmentido cuando del establecimiento de la represión propiamente dicha. Para los autores, uno de los destinos del femenino desmentido será dramatizado en la guerra.

Palabras clave: Desmentida; Femenino; Represión; Guerra.


ABSTRACT

The article discusses the reasons of war through the reading and confronting of Homer’s Iliad and Freud’s conception of the disavowal of the feminine (1937). The authors postulate the existence of an originary feminine disposition bounded to the origins of the psychic subject. They also describe the fate of the feminine in the psychic: to be repressed in a first moment by the action of primary repression, and in a second moment, to be disavowed by the advent of the secondary repression. The war, as the authors intend to demonstrate, is a dramatization of the feminine’s disavowal.

Keywords: Disavowal; Feminine; War; Repression.


 

 

A guerra e o repúdio ao feminino. Eis os dois temas que despertaram nosso interesse e que, em algum momento, enlaçaram-se inquietando-nos, na busca por novos sentidos. Ao procurarmos pelas origens, encontramos na Ilíada, poema épico de Homero (séc. VIII a.C.), a narrativa da Guerra de Tróia. Chamou a atenção que essa obra inaugural da literatura do Ocidente versasse justamente sobre uma guerra e, além disso, uma guerra em nome de uma mulher: a bela Helena. Tendo atravessado os séculos, tornando-se um clássico, o que o faz assim perdurar? Seria o nosso insaciável interesse por combates e sangue? Seria também a curiosidade a respeito dessa enigmática mulher? Guerra, é teu nome Helena?

Tendo como perspectiva refletir sobre a destrutividade humana, agregamos mais algumas indagações: o que a guerra tem a ver com a condição de sujeito e com a cultura na qual este se encontra inserido? Quais os desígnios que a produzem? O que buscam os homens e as mulheres com a guerra? Freud afirma que todo o mito é uma representação do inconsciente da cultura: o que estaria sendo representado nessa epopeia?

Diante dessas perguntas, fomos em busca de nossa hipótese de trabalho, gestada ao nos reencontrarmos com o Freud de 1937, em Análise terminável e interminável. Nesse texto, no capítulo VIII, destaca a característica da vida psíquica que se faz presente no processo de análise e que vai determinar a oposição à cura. Encontramos ali:

Os dois temas correspondem, na mulher, a inveja do pênis – um esforço positivo por possuir um órgão genital masculino – e, no homem, a luta contra sua atitude passiva ou feminina para com outro homem. O que é comum nos dois temas foi distinguido pela nomenclatura psicanalítica, em data precoce, como sendo uma atitude para com o complexo de castração. […], mas penso que, desde o início, repúdio da feminilidade teria sido a descrição correta dessa notável característica da vida psíquica dos seres humanos3. (Freud, 1937/1969, p. 285)

Nesse mesmo artigo, Freud fala do repúdio à feminilidade:

Frequentemente temos a impressão de que os desejos de um pênis e o protesto masculino penetraram através de todos os estratos psicológicos e alcançaram o fundo [leito de rocha]4, e que assim, nossas atividades encontram um fim. Isso é provavelmente verdadeiro, já que, para o campo psíquico, o campo biológico desempenha realmente o papel de fundo subjacente. O repúdio da feminilidade pode ser nada mais do que um fato biológico, uma parte do grande enigma do sexo. (Freud, 1937/1969, p. 287)

O repúdio à feminilidade, eis aqui o enigma freudiano, enigma que propomos ligar com a questão da guerra.

Contudo, antes de avançarmos em nossas conjeturas se faz necessário, pela importância do tema na fundamentação de nosso pensar, um parêntese, para tecermos algumas considerações a respeito da singularidade dos conceitos de repúdio e de feminilidade. Freud, no texto original, faz uso da palavra Ablehnung que, segundo o, Dicionário Alemão/Português (Porto Editora: Porto, s/d), significa recusa, negação. A SEB (1969), porém, traduziu-a como repúdio. Diante disso, intrigou-nos por que Freud não teria feito uso aqui do termo Verleugnung. Considerando o contexto em que essa palavra é utilizada pelo autor em outros trabalhos, levantamos a hipótese de que nesse momento de sua obra, Freud preferisse reservar a Verleugnung para a psicopatologia, seja a perversão ou a psicose. É possível que em 1937, referindo-se a algo constitutivo, inerente a todo o ser humano, tenha optado por outro termo de significado semântico aproximado. É justamente deste constitutivo, o mais além da psicopatologia, que iremos nos ocupar.

Quanto ao conceito de feminilidade, a partir de nossa leitura dos textos freudianos, pensamos que a expressão repúdio ao feminino poderia traduzir com maior propriedade a ideia que buscamos desenvolver neste trabalho. Freud, em vários momentos de sua obra, entre 1905 e 1938, utiliza ora os termos masculino/feminino, ora masculinidade/feminilidade, para referir o longo caminho da psicossexualidade no estabelecimento de uma identidade de gênero, não fazendo discriminação entre essas expressões. Contudo, em 1933, faz uma crítica à opinião apressada de equacionar-se atividade à masculinidade e passividade à feminilidade. Ainda assim, pensamos ser inquestionável que Freud vai utilizar-se dessa equivalência, mesmo com as ressalvas mencionadas no trabalho sobre “Feminilidade”. Portanto, considerando o que nos parece mais representativo do pensamento freudiano, estamos propondo, visando uma maior especificidade, delimitar o termo feminilidade e masculinidade à identidade de gênero, e reservar ao termo feminino à característica de fundante do psiquismo, que terá no masculino seu contraponto, vinculado à fundação do inconsciente recalcado.

Nossa hipótese para o porquê da guerra: o repúdio ao feminino, do qual padece todo o sujeito, tem como um dos seus destinos a descarga em ato, dramatizada no fazer a guerra. Guerra, uma forma de apresentação do irrepresentável, encena um dos ápices da destrutividade humana que busca na cultura um destinatário, o outro, o estrangeiro, para receber esses desejos sanguinários. É o que está expresso, por exemplo, no pacto dos pretendentes5, fato que antecede a Guerra de Tróia e que, de certo modo, a prepara. Submissão de homens a um outro homem, na posição de pai, embora de caráter civilizatório, traz também em seu bojo a certeza de que um inimigo adviria. Nada melhor que um estrangeiro, Paris o troiano, em quem depositar o ódio, profundo desejo parricida e fratricida.

Para podermos nos aventurar diante desse grande enigma do sexo e da guerra, se faz necessário pensar de que forma o feminino é constitutivo do psiquismo. Partimos da concepção de que o feminino é coexistente às origens do sujeito, e para argumentá-la vamos fazer algumas considerações sobre os fundamentos do aparelho psíquico.

Na citação acima somos tomados por um sentimento de inquietante estranheza, quando Freud remete ao campo biológico o papel de fundo para o campo psíquico. O que levaria Freud no final da vida a delegar à biologia a função de decifrar este enigma? É a pergunta que nos fazemos, quando depreendemos de seu pensar metapsicológico (expresso nos trabalhos de 1915), que o inconsciente recalcado se funda e se sustenta a partir do recalcamento originário. Talvez Freud tenha retomado a saída biológica por pensar que o feminino e o recalcamento originário são, por si só, extremamente enigmáticos, pois ambos remetem aos mistérios das origens do vir a ser humano.

No entanto, o próprio Freud nos proporciona recursos teóricos psicanalíticos que nos possibilitam construir possíveis respostas para esse enigma. Acompanhando seu pensamento, partiremos do tempo primordial, do que relata em 1914, em “a história do movimento psicanalítico”: “A teoria da repressão é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicanálise. É a parte mais essencial dela (…)” (Freud, 1914a/1969, p. 26). Consideramos que o processo de recalcamento é, também, a pedra angular do psiquismo.

Assim, o recalcamento originário cinde o psiquismo em inconsciente e pré-consciente/ consciente, fundando o inconsciente recalcado, ao mesmo tempo em que inaugura uma nova ordem, calcada na força do representacional, essência do sujeito psíquico freudiano. É o responsável pela passagem de uma sexualidade somática para uma psicossexualidade. Entendemos que esse recalcamento ocupa o “fundo” do campo psíquico. É sobre esse leito de rocha que vai sendo criado o mundo representacional, o mundo da fantasia, o mundo do desejo.

A partir de nossa compreensão, encontramos em Freud uma proposta de que o repúdio ao feminino é sustentado por uma presença/ausência pulsante, ativa do feminino no núcleo do inconsciente primariamente recalcado. Retomemos um fragmento desse discurso: “Frequentemente temos a impressão de que o desejo de um pênis e o protesto masculino penetraram através de todos os estratos psicológicos e alcançaram o fundo, e que assim, nossas atividades encontram um fim”. Escutamos aqui a força de atração do primariamente recalcado, o feminino, e do recalque, ambos viabilizando essa penetração por todos os estratos psicológicos até o fundo, ou seja, até o recalcamento originário. O recalque busca ser potencializado pelo repúdio, e o recalcado primevamente busca o feminino não repudiado para potencializar sua força pulsional.

Portanto, para que ocorra o repúdio ao feminino nos moldes propostos por Freud, é imprescindível que esse feminino esteja ancorado num outro tempo, em uma pré-história individual e universal que ao nosso ver remete ao trabalho de ligação do feminino, que visa aplacar o poder irruptivo da pulsão. Esse feminino se oferece como um agente de captura e ligação da energia pulsional, tendo como meta viabilizar sua domesticação, para que possa advir a pulsão sexual. Esse é o caminho pelo qual a força do pulsional marca a impressão, sinal primevo do nascer do psiquismo que denuncia a fusão da pulsão de morte com a libido (pulsão sexual). Teríamos o feminino e o pulsional destinados a viverem no lugar do silêncio das origens, no mais aquém do “leito de rochas”, por serem portadores da má notícia, do desamparo, da morte e da necessidade vital do outro. Talvez o feminino não repudiado possa oferecer palavras para que o feminino das origens venha a se apresentar, representar, de forma menos assustadora, menos demoníaca, transformando a impressão em traço, o traço em escrita, a pré-história em história, o estrangeiro em cidadão. Poderíamos dizer que a mudez da pulsão de morte terá palavras para ser falada de acordo com a potencialidade acolhedora do feminino. Assim sendo, o universo representacional se faz e se mantém gravitando em torno do feminino originário e da pulsão de morte. Essa premissa nos possibilita pensarmos em uma Disposição Feminina Originária.

Contudo, vejamos por quais caminhos o repúdio ao feminino se apresenta como um sucedâneo do primevamente recalcado, do feminino das origens. Freud, no Rascunho M, de 1897, nos diz: “Pode-se suspeitar que o elemento essencialmente recalcado é sempre o que é feminino” (Freud, 1897/1969, p. 300) Entendemos que após quarenta anos, em 1937, essa frase vai ser ressignificada. Esse a posteriori vai ser sustentado pelo princípio de que se existe um repúdio houve um tempo, provavelmente mítico, em que isso se fez presente, e por ser intolerável teve que ser recalcado. Buscando fazer conexão entre 1897 e 1937, pensaríamos na hipótese de que o feminino na constituição psíquica teria dois destinos: (1) Ser recalcado nos primórdios da fundação do psiquismo, pela ação do recalcamento originário; (2) Ser repudiado quando do estabelecimento do recalcamento propriamente dito. O repúdio será a eterna marca da tentativa humana em manter a plenitude de narciso, em não aceitar o complexo de castração. Deste modo, nos sentimos autorizados a dizer: o repúdio ao feminino é constitutivo, um destino inevitável, enquanto o feminino não repudiado é uma dura conquista do desenvolvimento representacional e simbólico. Consiste em poder admitir a falta, a não completude, em se deparar com a castração e reconhecer nesta um elemento estruturador do psiquismo e da cultura.

Tendo em mente a Disposição Feminina Originária, retomemos de que forma o feminino se articula com as origens do psíquico. A noção de feminino no pensamento freudiano, como discorremos acima, vai transitar entre as questões da passividade e da castração. Entendendo a castração como um derivado da passividade, iremos desta nos ocupar como elemento primeiro e constitutivo do feminino, ressaltando que estamos falando do feminino como fator integrante da bissexualidade psíquica, que tem na passividade o seu duplo. Feminino/Passivo, disposição originária do bebê humano, que vem ao mundo inerme e desamparado entre a demanda pulsional do seu corpo, que clama por ser satisfeita, e a demanda pulsional do outro, com todas as suas mensagens enigmáticas (Laplanche, 1988), esse outro imprescindível para o acontecer da vida psíquica. Isto nos leva à constatação de que o sujeito é a resultante, num primeiro momento, de uma abertura que instaura uma psicossexualidade advinda do outro, remetida por Freud (1905/1969) à função materna. Num segundo momento teríamos um corte fundado na castração, ligado à função paterna. Abertura e Corte, marcas da presença do outro, marcas fundantes e estruturantes que desvelam o vazio originário e a falta de completude. Acreditamos que o necessitar do outro, presentificado nessa Abertura/Corte, é o que alimenta em homens e mulheres o repúdio ao feminino.

Recordemos Freud em 1895 no “Projeto” onde diz:

O organismo humano é, a princípio, incapaz de promover essa ação especifica. Ela se efetua por ajuda alheia, quando a atenção de uma pessoa experiente é voltada para um estado infantil por descarga através da via de alteração interna. Essa via de descarga adquire, assim, a importantíssima função secundária da comunicação, e o desamparo inicial dos seres humanos é a fonte primordial de todos os motivos morais. (Freud, 1895/1969, p. 370)

Essa é a precariedade originária, perigo inominável, justamente o que nos constitui como humanos. Antes de nos tornarmos Édipo com nossa angústia de castração, temos de nos deparar com o desamparo, com a angústia de aniquilamento, com estarmos passivos diante da força traumática do mundo pulsional. Sermos receptores, sermos penetrados, sermos depositários do desejo do outro, sermos aquele que acolhe. Esses atributos emanam da essência do feminino. Com isso albergamos, em nossas origens psíquicas, no acontecer do encontro pulsional com nossa disposição feminina originária, o germe da vida e da morte. Tal qual a Caixa de Pandora, que retém no seu fundo a esperança aprisionada pelos desígnios dos deuses, contrapondo-se à calamidade liberada ao abrir-se a caixa. Nesse sentido, o feminino e a esperança enquanto constitutivos do fundo da caixa, do psíquico, nos evocam a potencialidade do humano de postergar, esperar, qualidades necessárias para o pensar. Por outro lado temos a calamidade e a pulsão de morte com toda a sua destrutividade, que ao não padecerem a força do recalcamento, se transformam em pura descarga, remetendo o humano à sua fragilidade. Instala-se, então, como defesa a imperiosa necessidade de constituir-se como um ser pleno, semelhante aos deuses. Para viabilizar esse acontecer, o sujeito fará sempre um grande esforço no sentido da atividade, acabando por estabelecer um outro tempo, o tempo da Disposição Masculina.

Percebemos que é isso que está sendo dito por Freud em 1937:

Nos homens, o esforço por ser masculino é completamente egossintônico desde o início; a atitude passiva, de uma vez que pressupõe uma aceitação da castração, é energicamente reprimida e amiúde sua presença só é indicada por supercompensações excessivas. Nas mulheres também, o esforço por ser masculino é egossintônico em determinado período – a saber, na fase fálica, antes que o desenvolvimento para a feminilidade se tenha estabelecido. (Freud, 1937/1969, p. 285)

Acompanhando o pensar freudiano, algumas articulações entre o texto de 1937 e o de 1914, “Sobre o narcisismo”, podem nos auxiliar a fantasiar metapsicologicamente sobre a Disposição Masculina. Compreendemos que o masculino é um esforço para sair da passividade (feminino) rumo à atividade (masculino). Processo inerente a homens e mulheres, se estabelecerá em coexistência ao narcisismo primário e ao eu ideal, os quais, por sua vez, irão se constituir por entre as estratificações do recalcamento originário. Nesse sentido, o narcisismo primário e o eu ideal são modos de funcionamento que refletem, pelo inverso, o desamparo e a passividade do eu realidade originário. Esse eu originário é um eu síntese passiva, que impede a livre descarga pulsional. É sujeitado pelo desejo do outro a ocupar o lugar de Sua Majestade o Bebê (Freud, 1914b/1969, p. 108), constituindo um narcisismo estrangeiro, oriundo das figuras paternas. Já o eu ideal é o eu de síntese ativa, que assume a identidade de Ser Sua Majestade o Bebê. Freud em 1914, em suas formulações sobre o desenvolvimento do eu, descreve a transição do eu real para o eu ideal da seguinte forma:

Esse ego ideal é agora o alvo do amor de si mesmo (self-love) desfrutado na infância pelo ego real. O narcisismo do indivíduo surge deslocado em direção a esse ego ideal, o qual como o ego infantil, se acha possuído de toda perfeição de valor. (Freud, 1914b/1969, p. 111)

Portanto, percorrendo desde as origens até o acontecer do recalcamento secundário vemos que: o eu real terá no eu ideal a sua imagem idealizada, plena, onde teremos a hegemonia da virilidade narcísica, sustentada pela ideia do monismo sexual fálico. É a resultante de um enérgico esforço para se construir a atividade, que urge por fortalecer o recalque do feminino (passividade) presente na disposição feminina originária. Esse império da virilidade narcísica marca constitutiva da disposição masculina, caracteriza-se pelo predomínio do masculino fálico (ativo), que terá como antítese o masculino castrado (passivo).

À medida que o sujeito for confrontando-se com a angústia de castração, nos primórdios do conflito edípico, far-se-á presente no masculino castrado, a ressonância do feminino primariamente recalcado. É nessa etapa do desenvolvimento da sexualidade infantil que temos o acontecer da fantasia “uma criança é espancada”. A universalidade dessa fantasia é trabalhada por Freud em 1919, ou seja, o sujeito, independentemente do sexo, viverá essa fantasia desde a posição feminina, passiva, tendo como contraponto a figura paterna numa função ativa, fálica. Parece-nos que aqui fica exemplificada a submissão a um outro, que é temida e, ao mesmo tempo, desejada. Por isso deve ser recalcada e repudiada.

Quando da resolução do Complexo de Édipo teremos o seu sepultamento no inconsciente por meio do recalcamento secundário. Essa segunda fase do recalcamento é ativa e funciona pela atração do primariamente recalcado e pelo contra-investimento do pré-consciente. Isto é, o que é recalcado nessa etapa é a atividade/masculino-fálico, ou seja, a plenitude, o narcisismo próprio, o eu ideal, o mundo maravilhoso de ser sua majestade o bebê. Para que ocorra essa renúncia narcísica, à medida que a lei paterna da interdição do incesto vai sendo estabelecida, é necessário que o eu ideal dê origem ao ideal do eu. Esse ideal é o herdeiro do narcisismo próprio. Segundo Freud (1914b/1969), a constituição desse ideal é fator condicionante do recalcamento.

Desde um viés mítico-metapsicológico concluímos o seguinte: o que é recalcado originariamente é a disposição feminina portadora do destino, do desamparo, da vida e da morte, enquanto a disposição masculina, portadora do desejo, é aquilo que é recalcado secundariamente. Pensamos que isso nos autoriza a enfatizar que: o vir a ser homem, a masculinidade, e o vir a ser mulher, a feminilidade, são produtos das formas pelas quais se foram fazendo presentes o feminino e o masculino em seus eternos retornos, na busca de reintegrar-se na psique. Balizados por essa diferenciação entre a feminilidade (gênero) e o feminino (componente da bissexualidade), reafirmamos a pertinência da designação repúdio do feminino, e, não da feminilidade.

Avançando por essa linha de trabalho, vejamos, quais as ressonâncias que podemos encontrar deste repúdio no confronto de gregos versus troianos. O poema épico Ilíada, por conter em seu cerne a ideia de que a guerra não possui sentido unívoco, parece-nos particularmente apropriado como fonte de novos desdobramentos em relação ao feminino nomeado por Freud em 1937. Assim como Homero fornece palavras aos guerreiros (elementos simbólicos), também descreve a crueza das batalhas (ato). Podemos sentir o horror frente a essa pura descarga em ato, que leva um homem a matar outro homem (uma vicissitude do repúdio ao feminino), como também podemos acompanhar o sofrimento psíquico dos heróis e seus esforços por restabelecer e exercer sua solidariedade para com outro homem (feminino não repudiado).

Destacamos os versos de abertura do poema: a ira, é sua primeira palavra.

“A ira, Deusa, celebra do Peleio Aquiles” (Homero, I, p. 1).

Mênis pressupõe uma ira que não esquece e clama por vingança. Ao mesmo tempo, é a Musa quem irá cantá-la. O autor captura assim a atenção do ouvinte, fazendo-o partícipe do que virá a seguir. Mênis, palavra evitada por temor à sua força destrutiva, é transformada em palavra poética.

Loraux (1989a/2003, p. 217), ao comentar esta abertura, refere que a mênis é usualmente ligada às mulheres enquanto mães. Pergunta-se por que é Aquiles, um homem, o portador da ira? Afirma que temos aqui um rechaço ou um deslocamento do feminino, trazendo a hipótese de que a mênis é de uma deusa, Tétis, mãe de Aquiles. Cólera de uma mãe, assumida por seu filho.

Lembrando o mito, que está nas origens da Guerra de Tróia, Tétis não domara sua ira motivada por ter sido designada por Zeus a casar com um mortal. Buscando atribuir imortalidade a seus filhos, matara-os todos. Quando faz a mesma tentativa com Aquiles, intervém o pai mortal, Peleu, e o salva. Podemos pensar que a função do pai vai determinar a inscrição da alteridade em seu corpo biológico e psíquico: assim como seu pai, ele será mortal. A marca de sua fragilidade ficará assinalada em seu calcanhar, ponto vulnerável que determinará seu fim. Porém, é com a ira da mãe que está identificado. É para vingar seu orgulho ferido por ter sido obrigada a desposar um mortal (narcisismo dos pais) que ele está na guerra. Assim sendo, Aquiles permanecerá como uma espécie de duplo da mãe, depositário e prisioneiro do investimento tanático dessa deusa-mãe-fálica, para quem o feminino, enquanto encontro com a castração, está repudiado de forma intensa.

Eis Aquiles, no 9º ano da guerra, em cólera, vivendo a plenitude dos seus desejos narcísiscos alienantes. Sua ira contida expressa-se na negatividade: recusa-se a retornar à batalha. Ele que, no percurso até chegar à Tróia dizimara cidades, matando homens e tomando mulheres como butim de guerra, estava agora recluso ao seu acampamento. Sentindo-se humilhado pelo chefe maior, Agamênon, que lhe tirara a escrava presa de guerra, recusa-se a lutar. Aquiles encena aqui os impasses da marca maior do repúdio ao feminino: ter que se submeter a um outro homem, ter que se reconhecer castrado. Diante da impossibilidade deste confronto, com esta ferida narcísica, o que lhe resta é o ato da reclusão que, como se sabe, poderá significar a derrota dos gregos. Cabe assinalar que Agamenon, enquanto figura paterna simbólica, não se apresenta como um pai que reconheça a castração. Aquele que se atribuía o direito de possuir todas as mulheres, e de até mesmo matar sua filha para o êxito da expedição, nos evoca o pai totêmico freudiano.

Aquiles sabe de seu destino. Tétis o advertira, “te espreita a Moira, tens vida breve”. Lutar e morrer em Tróia, alcançando assim glória eterna, ou voltar ao lar, ter longa vida e perder a glória excelsa. Quando ele decidir retomar à batalha para vingar Pátroclo, seu amigo morto, a mãe lhe dirá que assim ele escolhe. Porém, trata-se de uma escolha? Aquiles, que admite nada ter contra os troianos, o que veio fazer nessa guerra? Seguir o desígnio materno, que apregoa a morte do homem para que possa advir o herói imortal. Temos aqui, novamente, o narcisismo alheio. Aquiles mostra-se sujeitado ao desejo do outro, a ocupar o lugar que esse lhe designa. Enquanto o herói ganha fama pelos atributos da sua virilidade narcísica (força física, ímpeto belicoso, velocidade), a ira da mãe que ele deve vingar permanece oculta, porém vibrante, em seu psiquismo.

Percebemos a antítese da história Tétis-Aquiles, na história de Hécuba-Heitor. Encontramos sua melhor expressão nos lamentos pungentes dos pais de Heitor, que lhe pedem que entre na cidade (Tróia), reconhecendo que Aquiles lhe é mais forte e mais cruel. Preferem o filho vivo, ao contrário de Tétis, que incita o filho à guerra. Quando Aquiles perde suas armas, Tétis apressa-se a providenciar novas: a mortalha do filho.

Entre estas armas, o escudo, forjado por Hefesto, é uma peça sui generis. Nele, o artífice esculpiu várias cenas que, poderíamos dizer, representam a natureza e o homem, o próprio movimento civilizatório, a eterna luta entre Eros e Tanatos. Compreendemos que a presença desse escudo faz um laço entre o drama individual desvelado em Aquiles e a questão da cultura. Estão ali representadas as forças primordiais da natureza, o casamento, a morte, a justiça, a guerra, a terra lavrada, a colheita, o rei, os jovens, a música, a dança. O escudo que protege o guerreiro, aquilo que está à frente, pode representar as racionalizações que, ao longo dos tempos, sempre foram encontradas para justificar a destrutividade de uma guerra.

Por outro lado, podemos destacar, com Homero, a vida e a paz intensamente representadas no escudo de Aquiles. Buscando responder a uma de nossas questões iniciais, quem sabe a Ilíada tenha se mantido como fonte constante e inesgotável de inspiração poética, por tão bem cantar essas forças primordiais, expressas em cenas pungentes de sofrimento e desamparo humanos, que podem servir de alavanca para um real crescimento do indivíduo e da civilização, calcado no reconhecimento de nossa fragilidade. O escudo evocando a vida, exemplificada na terra lavrada e na colheita, marcas de ações simbólicas e altamente civilizatórias, ou, ainda de forma mais particular, a singela e comovente ocasião em que Heitor, indo em direção à morte, despede-se de sua mulher e de seu filho. A criança assusta-se com o elmo do pai, que ele apressa-se em tirar, encenando de forma emblemática a ternura de um pai por seu filho.

Seguindo esse mesmo percurso, vemos a presença simultânea da vida e da morte quando, em plena luta entre Aquiles e Heitor, enquanto corriam ao redor dos muros da cidade e sabia-se que o que estava em jogo era a vida do troiano, ambos passam por uma fonte onde outrora, em tempos de paz, ali iam ter as lindas mulheres, filhas de Tróia, lavar suas vestes esplêndidas (Homero, XXI, p. 153). Esta cena nos convoca a refletir sobre uma presença silenciosa, porém vital – a fonte – em meio ao horror do desejo assassino de um homem por outro homem.

Porém, Phobos, filho de Ares, está em todo o lugar. O Medo como filho da Guerra. Assim, todos os guerreiros, gregos e troianos, em algum momento experimentam o pavor e também a fragilidade da vida. Há uma reciprocidade na guerra, um constante movimento de vitórias e derrotas, tomando os homens as primeiras como absolutas, para logo verem frustradas suas certezas. Diz S. Weil: “A força é aquilo que transforma quem quer que lhe seja submetido em uma coisa. Quando ela se exerce até o fim, transforma o homem em coisa, no sentido mais literal da palavra, porque o transforma em cadáver” (1940/1996, p. 379). Entendemos a força como destrutividade. Ao longo do poema, os guerreiros reconhecem que Ares mata o matador.

Por mais de uma vez, o herói, ao matar, diz saber de sua própria morte próxima. Aquiles, prestes a matar Licáone, um troiano, fala:

Meu caro,
morre também tu. Tanto lamento, por quê?
Pátroclo, muito acima de ti, não morreu?
Não vês como sou belo e vigoroso?
Venho de um pai nobre e uma deusa gerou-me.
Mas sobrelevam-te, e a mim, a morte,
tanto quanto a Moira má.
De manhã, de tarde, ou no pino do dia.
alguém, na refrega Ares-fogosa, o meu sopro
vital há de tirar à lança ou, vibrando o arco,
à flecha. (Homero, XXI, p. 104)

Percebe-se um desprezo pela vida e uma glorificação da morte. Exemplo revelador do rechaço ao feminino. O cadáver, enquanto coisa, como nas palavras de Weil, é desmentido, pois o herói espera a imortalidade.

É a ponta do bronze que revela a fragilidade enquanto feminina e humana oculta no corpo do homem viril. Heitor, sabendo que vai ser morto por Aquiles, por um momento pensa em lhe suplicar que lhe poupe a vida mas logo percebe que seria inútil:

não terá piedade de mim, nem, por mim,
respeito, há de matar-me, assim que ver-me de armas
desvestido, indefeso, qual frágil mulher.
(Homero, XXII, 121)

Homero, grego, apresenta os troianos inimigos em toda a grandeza e vulnerabilidade humanas. Essa virtude do poeta o fez universal, muito além da questão de ter sido o poema escrito por uma só pessoa ou por várias. Homero ocupa-se em nos transmitir que alguns valores estavam colocados acima da rivalidade guerreira. A hospitalidade é um valor prezado. Em outros momentos, é preciso estabelecer uma trégua para chorar e enterrar os mortos. Aquiles, que se mostrara cruel e vingativo, “só penetrar na goela sangrenta da guerra o aliviaria” (Homero, XIX, 313), que sacrificara jovens troianos na pira funerária de Pátroclo e que ultrajara o cadáver de Heitor, cede ante as súplicas de Príamo e entrega-lhe o corpo do filho. É preciso pôr fim a Mênis para a ordem do mundo. O velho rei, embora protegido pelos deuses, ou seja, confiando na vida, arrisca-se a entrar à noite no acampamento aqueu. Vai até Aquiles como suplicante:

Aquiles, tem respeito aos deuses, dó
de mim. Lembra teu pai: mais piedade mereço,
por fazer o que não fez outro homem nenhum:
beijar, levando à boca, a mão que assassinou-me
o filho. Disse. E uma ânsia de pranto surgiu
no herói, que recordou o pai. Pela mão, toma
o velho e com brandura o afasta. Os dois choravam.
(Homero, XXIV, p. 504)

Aqui surge novamente o pai, figura fundamental para instaurar a ordem no mundo, a lei à qual todos devem estar submetidos. Príamo, um rei mas antes de tudo um pai, vem suplicar o corpo do filho ao inimigo. Um pai com a marca da castração que, ao não repudiar o feminino, se submete a um outro homem em nome de um filho, o que legitima a sua função paterna. E Aquiles lembra de seu próprio velho pai, aquele que uma vez, de forma tão decisiva, o livrara dos desígnios letais de sua mãe; aquele que esperava que o filho um dia pudesse à casa retornar. Esses registros psíquicos permitem que Aquiles ceda e, dessa forma, possa também viver o quanto de libertador existe em não temer submeter-se a um outro homem. Ao poupar o rei e devolver-lhe o corpo do filho, Aquiles renuncia ao parricídio. Aquiles chora e o feminino é agora vivido de forma ativa, o que talvez signifique um possível reencontro com a sua disposição feminina originária.

Iniciada com a ira, a Ilíada não termina com a vitória, mas sim com o luto. Em ambos os lados, choram-se os mortos.

E Helena? Motivo alegado para a guerra, não é personagem de destaque nos quase 15 mil versos do poema. Sua ausência não é desprovida de significado. Na Ilíada, em algumas passagens, esse nome é expresso no gênero gramatical neutro, com expressões como “prodígio para os mortais”, “perdição de navios”. Seria Helena também um epíteto para a ofensa, o narcisismo ferido? Pensamos que sim. Helena, enquanto feminilidade, é apenas o pano de fundo – o fantasma – carregado de beleza poética, com o intuito de criar uma ética centrada no amor. Pois a força motivadora da destrutividade, inerente ao humano, essa deve ser negativada pela transformação no contrário. É o ódio narcísico por aquele que ousa desvelar a fragilidade e a mortalidade, o que a qualquer preço deve ser desconsiderado, ou melhor, repudiado. Gregos e troianos elegem Helena como um ícone, pelo qual se sentiram autorizados a viver a plenitude dos seus desejos tanáticos. Portanto, essa guerra se fez em nome de Helena, um nome possível para o eterno fantasma do narcisismo primário (Eu-ideal) que nos habita, mas não por Helena. Esta segue uma eterna desconhecida.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Ignácio Alves Paim Filho
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Recebido em: 26.1.2009
Aceito em: 2.2.2009

 

 

1 Médico, Psicanalista. Membro pleno do Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre CEPdePA. Membro associado da SBPdePA.
2 Psicóloga, Psicanalista. Membro pleno do Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre CEPdePA.
3 Todos os itálicos nas citações são dos autores.
4 Na edição em espanhol (Amorrortu Editores, Buenos Aires), a palavra fundo foi traduzida como leito de rocha, que pensamos ser mais representativa da sua força e da sua função fundante.
5 Pacto instaurado pelo pai de Helena quando esta escolhe Menelau: os demais pretendentes ficavam compromissados a defender a manutenção desta união. Tal acordo nos remete a Freud, no trabalho citado (1937), onde enfatiza: “O que eles [os homens] rejeitam não é a passividade em geral, mas a passividade para com um homem”. (p. 287)

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