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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.43 no.1 São Paulo Mar. 2009

 

TEMÁTICOS

 

Em outras palavras

 

En otras palabras

 

In other words

 

 

Joyce Kacelnik,1 São Paulo

Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 


Resumo

A autora examina a importância da linguagem para a psicanálise e possíveis peculiaridades envolvendo língua materna, língua estrangeira, tradução e interpretação no psiquismo e no contexto clínico.

Palavras-chave: Língua materna; Língua estrangeira; Tradução; Interpretação; Linguagem; Psicanálise.


Resumen

La autora examina la importancia del idioma para el psicoanálisis y posibles peculiaridades que envuelven la lengua materna, lengua extranjera, traducción e interpretación en el psiquismo y en el contexto clínico.

Palabras clave: Lengua materna; Lengua extranjera; Traducción; Interpretación; Lenguaje; Psicoanálisis.


Abstract

The author examines the importance of language for Psychoanalysis and possible peculiarities involving mother tongue, foreign language, translation, interpretation in the psychism and clinical context.

Keywords: Mother tongue; Foreign language; Translation; Interpretation; Language; Psychoanalysis.


 

 

Palavras são medicamentos
para uma mente enferma.

Ésquilo

Os filósofos da Grécia Antiga, já percebiam o caráter único da linguagem, que fala ao mesmo tempo do mundo e de si mesma, justamente a característica da linguagem analítica. A linguagem já era considerada o agente organizador do indivíduo. Sabemos hoje que a linguagem existe sempre, desde o momento reflexivo da comunicação consigo mesmo, sendo responsável pela constituição do sujeito. “Discurso do vértice narcisista da transferência ou discurso da transferência narcisista, os dois casos nos obrigam a considerar o papel da palavra (parole) na análise. Se a palavra (parole) é mediação entre corpo e linguagem, corpo-a-corpo psíquico, a palavra (parole) é psique, mas é também relação entre um corpo e um outro, uma língua e outra, entre Um e Outro. ‘A verdade, não é somente relação; é representação de relações’” (Green, 1988, p. 77).

Num trabalho como este, parece-me necessário que possamos sucintamente percorrer teorias de linguagem incluindo abordagens da linguística, da filosofia, da biologia e da psicanálise. É possível que nos ajude na questão da língua estrangeira em psicanálise, pois, como veremos, o nosso objeto de estudo está inserido em situação mais familiar do que imaginávamos.

Para Ferdinand De Saussure (1966) a língua constitui um sistema. Ao criar o estruturalismo ou a linguística estrutural, sugeriu que a combinação de um conceito com a imagem acústica/visual, ou seja, uma palavra como por exemplo “casa” é um signo, uma vez que veicula um conceito (do que é uma casa). Os termos “significante” e “significado” referem-se respectivamente à imagem acústica e conteúdo. É um sistema no qual cada imagem acústica (significante) é diferente de qualquer outra e cada conceito ou conteúdo (significado) também é distinto de qualquer outro. Ao traçarmos um paralelo entre o estruturalismo de Saussure e o trabalho de Freud, observamos que tanto para um como para o outro o conteúdo de uma palavra não é necessariamente transparente ou óbvio, sendo necessária a investigação da estrutura oculta (conceito, significado, inconsciente), pois o significante aponta para uma ausência.

Poderíamos também nos beneficiar de referências no campo da filosofia. Para Espinosa, por exemplo, o trabalho inicial do filósofo não será o de redefinir palavras, mas encontrar o lugar de sua emergência e percorrer os caminhos de seu ocultamento. Tal tarefa também parece ser de certa maneira análoga àquela da dupla analista/analisando, pois é exatamente isso que se dá ao longo de todo e qualquer processo analítico.

Merleau-Ponty dedica quase todos seus textos à experiência da linguagem, entendendo- a como tema central da filosofia, considerando-a enigmática, misteriosa como as próprias questões filosóficas. “A linguagem é filosofia porque pretende dizer o que sabemos a fim de aprender a saber o que já sabemos” (Chaui, 1981, p. 191). A palavra, segundo ele, nasce numa dupla reflexão. N asce no movimento da garganta, boca, língua e ouvido simultaneamente, que “ouve dentro da própria vibração”. Ao mesmo tempo que é sonoro para si é sonoro para o outro. Acredita que a palavra não antecede ou sucede o pensamento, mas é sua contemporânea. Merleau-Ponty vê a linguagem como corpo do pensamento.

Foucault (Chaui, 1981, p. 10) afirma que linguagem é representação e representação do pensamento. Representação do pensamento, mesmo que o verbal seja oposto ao pensado, sendo que tal oposição em si já é forma de representação. Para Espinosa, o verdadeiro e o falso nascem no interior da linguagem para designar a própria linguagem em sua relação com o mundo.

Oferecer uma língua estrangeira a uma criança é como dar-lhe um brinquedo novo. Ela não sente medo de dizer uma bobagem até porque falar bobagem ou ter um sotaque é uma fonte de atração para o adulto e de prazer para a criança. Pesquisas indicam que os bebês aprendem dois idiomas quase sem nenhum esforço, podendo-se dizer que com toda a “naturalidade”. Já se sabia disso empiricamente, mas recentemente foram feitas pesquisas que pelo mapeamento cerebral revelam que a capacidade linguística está distribuída por todo o cérebro. Há algumas regiões de alto nível executivo que estão habitualmente localizadas em uma área determinada do lado esquerdo do cérebro, se bem que algumas vezes se encontram na mesma zona, porém do lado direito. Uma das áreas se chama Wernicke e se dedica a compreender o significado das palavras e a semântica. A outra área se chama Broca e é uma região dedicada à execução da capacidade de falar, bem como de lidar com alguns aspectos importantes da gramática. Foi observado, nos casos de pessoas que aprenderam uma língua estrangeira nos primeiros anos da infância, a presença de uma região de Broca uniforme para a língua materna e para a língua estrangeira. Por outro lado, adolescentes, ao aprenderem uma língua estrangeira, configuram a região de Broca em duas áreas distintas, embora próximas, indicando que o cérebro utiliza estratégias diferentes para aprender idiomas dependendo da idade. Um bebê aprende a falar utilizando todas as suas capacidades: ouvir, ver, tocar e movimentar-se. Uma vez que as células nessa região sintonizam um ou mais idiomas, fazem um processo que é interativo. De toda forma, as pessoas que aprendem um segundo idioma na escola deverão adquirir novas habilidades para produzir os sons complexos da nova língua, podendo-se explicar porque tal processo de assimilação é mais difícil. A área de Broca já está dedicada à língua materna e, portanto, imagina-se que a outra área a complementaria.2

A palavra pode ser gritada para alcançar alguém distante ou sussurrada para esconder uma mensagem. “A linguagem é para o homem a mesma coisa que a capacidade de fazer a teia é para a aranha. Uma pulsão que se exprime, quaisquer que sejam os obstáculos e as circunstâncias” (Chomsky, 1968). É extremamente poderosa. Porém Chomsky acredita que o processo verbal em todos os níveis linguísticos é “bem inconsciente na maior parte e está além dos limites do relato introspectivo”, pois a total consciência a todos os níveis linguísticos paralisaria a comunicação verbal. Quanto mais sofisticado o vocabulário e a ordenação da linguagem, mais disfarçado fica o sentido inconsciente da comunicação. O significado da palavra esconde gestos vocais.

Ao tomarmos a situação analítica, em que o entendimento se dá através da interpretação, deveremos contar com um certo “vazamento semântico” (Fonagy, 1996) que nos abrirá caminho para a intenção inconsciente. A verbalização intelectualizada causa afastamento do conteúdo emocional, ao passo que a linguagem pictórica tem mais condições de representar o mais primitivo, o mais arcaico.

Em 1900, Freud propôs que a construção do significado ocorreria fora da atenção, dentro do sistema pré-consciente do modelo topográfico. Seria então nesse aspecto da comunicação verbal que teríamos a possibilidade de integrar “o conteúdo inconsciente repudiado dinamicamente à linguagem verbal através dos níveis mais baixos da hierarquia linguística, já que a censura consciente centra no mais alto nível pertinente”. (Fonagy, 1971)

A organização inconsciente da linguagem tem um papel igualmente importante tanto na compreensão como na fala. Metáforas e expressões idiomáticas possuem um papel importante na comunicação de conteúdos mentais inconscientes, uma vez que seus significados literais desaparecem quase por completo. As expressões não são importantes por si só, mas sim pelo contexto em que estão inseridas, o qual lhes atribui um significado. Por exemplo, dificilmente notamos a referência a um aspecto sadomasoquista em “Ela se afogou em lágrimas”. Embora contenha todos os elementos de melancolia/depressão e autoflagelamento, não nos faz prestar atenção nas palavras usadas isoladamente e seu sentido real se dá através de um curto-circuito que inclui todos os elementos da expressão.

O controle consciente contido na mensagem primária (as palavras em si) escapa facilmente através das mensagens secundárias (modo de falar, entonação, pronúncia etc.). Estas acabam explicando as escolhas linguísticas, arbitrárias do ponto de vista da intenção consciente, através de moldes primitivos de comunicação, tais como gestos. Aplicar a gramática dos gestos à construção de ideias e significados cria um novo entendimento, facilitando um novo canal para expressões inconscientes.

Ao mesmo tempo que a linguagem oferece diversos canais de comunicação, sentimo- nos forçados a focar apenas em um canal, o verbal. Porém devemos considerar a capacidade da linguagem em integrar os gestos, tanto a nível fonético como a nível sintático, para tornar-se desta forma um melhor instrumento de investigação do inconsciente.

É através do verbal que representações verbais e pré-verbais encontram expressão, sendo permeadas por mensagens conscientes. O uso árido de palavras, sem mímicas, gestos ou entonação diferenciada, ao mesmo tempo que são necessidades práticas do uso da linguagem, podem servir como mecanismos de defesa.

Ao adquirir um maior entendimento dessas múltiplas formas de expressão, teremos ampliada a nossa capacidade de ajudar nossos pacientes. De que forma estas ideias poderiam ser aproveitadas nas análises que se processam em língua estrangeira?

Ao contrário do que é frequentemente pensado – um processo analítico que se dá numa mesma língua materna pode facilitar a investigação do inconsciente –, podemos pensar que a fluência verbal e o domínio de estruturas linguísticas sofisticadas podem ser usadas como verdadeiros escudos protetores dentro de uma análise. Uma vez que estes fatores não estão presentes em uma análise em língua estrangeira, podemos pensar que esta se beneficiará de todas as outras linguagens que incluam gestos, mímicas, oferecendo desta forma uma maior proximidade a conteúdos inconscientes e maior criatividade.

A fala e a linguagem nela contidas são extremamente significativas, pois farão parte da análise do começo ao fim. Em toda e qualquer análise, para que haja o encontro entre analista e analisando, efetua-se um splitting dos elementos da fala ou de qualquer outra diferença. A ideia de que uma análise esteja se processando num só código não deixa de ser ilusória, uma vez que uma dupla linguagem é necessária ao trabalho do analista: a sua própria e a do analisando, a transferência e a contratransferência. Por sua vez, o analista bilíngue lida com duas línguas em si mesmo. É importante que a análise possa incluir a língua do país em que ocorre, pois as emoções e as vivências passam-se em tal língua e carregam, portanto, forte carga emocional.

Pode-se pensar que as pessoas escrevem suas histórias através da língua e que a própria língua escreve a história de um sujeito, portanto, a inclusão de uma língua que não a materna, consequência de uma mudança geográfica na vida de uma pessoa, poderia ser muito bem-vinda ao longo de um processo analítico.

Uma vez que é função da mãe inserir o bebê no universo da linguagem (Piera Aulagnier, 1990), um distúrbio no vínculo mãe-bebê levaria a uma ruptura na linguagem podendo este vínculo ser reestabelecido por meio da análise. A linguagem, e portanto a simbolização, são transmitidas pela mãe através da língua materna, sendo que a ideia do não-uso da língua materna poderia sugerir sentimentos de luto e perda, de uma ruptura psicótica. Tal linguagem perdida virá a ser resgatada na análise, favorecendo um crescimento na expressão verbal do indivíduo (Klein, 1946/1982).

O silêncio poderia ser considerado a metáfora da instância em que a criança não fala. A criança é inicialmente falada pelo outro – o adulto – repetindo em si uma fala que não é sua, ou seja, a criança desenvolve a cognição e a linguagem devido a sua interação com o meio ambiente (Piaget, 1971). Ao captar o valor simbólico da palavra, a criança desvenda uma realidade de palavras incompreensíveis até então em sua própria língua. As palavras deixam de ser simplesmente ruídos, e a criança passa a entender e a não entender também. O sofrimento resulta de tal não-entendimento; da exclusão do entendimento. O medo de não entender reaparece na situação analítica. Principalmente o medo de não entender o jogo e a linguagem lúdica também aparece frequentemente na figura do analista, justificando talvez a resistência de muitos analistas ao atendimento de crianças.

Também pode estar presente o medo do analista de não ser entendido pela criança, uma vez que no trabalho com adultos ele escuta principalmente a palavra falada e usa de seu aparato verbal para aprofundar-se no conteúdo latente. N o trabalho com crianças, o analista traduz o que vê e o que brinca em palavras para chegar ao conteúdo latente. A expressão lúdica supõe a aquisição da simbolização da linguagem verbal e a criança leva seu jogo à palavra do analista e o analista leva sua palavra ao jogo da criança.

Podemos fazer uma analogia entre a análise infantil e uma análise em língua estrangeira. Muitos analistas, fluentes em língua estrangeira, não se arriscam a trabalhar numa língua que não seja a sua própria, materna. Sentem-se impedidos ao não usar seu aparato verbal familiar, aflitos por quiçá não entender/ser entendido por seu paciente e aproximarse de forma menos defendida ao conteúdo latente, apoiando-se em outras linguagens.

Paralelamente, observamos a resistência do paciente que, ao não usar sua língua materna num processo analítico, parece sentir-se mais exposto, mais vulnerável em seus mecanismos de defesa, também temendo não ser inteiramente compreendido.

Palavras são de fato apenas uma parte da linguagem, da mesma forma que o silêncio, os gestos e as expressões faciais. Para que possamos entender o valor das palavras, devemos considerá-las dentro de sua linguagem e em que contexto poderiam de fato gerar mudanças.

Na situação analítica o foco central é o da interpretação e, para tanto, é necessário abarcar o sentido da tradução da significação trazida pela palavra ou gesto, não se podendo estar somente atento à linguagem em diferentes níveis simultaneamente. A intuição também representa um processo diferente para a compreensão do mesmo produto de linguagem, possibilitando a construção da interpretação. A linguagem é arbitrária, distorcida por gestos pessoais, podendo ser mais facilmente compreendida em outra língua.

Peter Fonagy (1996) discute que os analistas sentem o humor de seus pacientes e percebem a sessão por seu tom emocional. Esta percepção depende quase exclusivamente da produção vocal do paciente, já que a expressão facial está fora do campo de visão. Porém advoga a importância da linguagem gestual, da mímica, da entonação como parceiros extremamente importantes na compreensão da mais alta forma de comunicação, a linguagem verbal. A linguagem verbal recebe proteção do sistema de censura (Freud, 1900/1969) pela dominância do sistema de linguagem, o foco da consciência, sendo estes importantes canais para a comunicação de atitudes pré-conscientes. Propõe também a ideia de que a psicanálise possui sua própria sintaxe, seja durante uma sessão ou várias.

Diz André Green (1988) que:

A palavra permanece sendo relação e mediação. Interpsíquica e intrapsíquíca, ela cria um meio de linguagem entre mundos subjetivos. Sua função é de reunir e também de dividir e é pelas suas propriedades, símbolo de Mesmidade e de Alteridade. A palavra (parole) não é, portanto, nem narcisista nem objetal e muito menos objetiva, mas é tudo isto ao mesmo tempo na sua aspiração à neutralidade. Mas, no fim das contas, cada um sabe que ela é apenas palavra (parole) humana, falível, palavra (parole) paterna ou materna. É sempre palavra (parole) de infans… inclusive o silêncio que, tampouco não evita a ambiguidade: silêncio de quietude, de desespero ou de impotência. É por isto que o discurso para o analista, palavra (parole) ou silêncio, é sempre deferido. (p. 77)

Tratamos de um sistema de oposições encaixadas em que o par linguagem (sobre o) objeto-linguagem reflexa (a linguagem falando dela mesma) recorta, sem se confundir com ela, a distinção entre o discurso objetal e o discurso narcisista. O discurso narcisista e a linguagem reflexa se redobram inconscientemente. Ou seja, o discurso narrativo “esquece” que só fala da própria linguagem, que ele é uma linguagem sem objeto. Linguagem reflexa que é seu próprio objeto. N a análise, o discurso narrativo-recitativo não tem objeto ou mantém seu objeto fora de si numa relação de fascinação hipnótica cuja finalidade última é a redução deste ao seu bel-prazer: sujeitar para não mais ser sujeitado, nem mesmo à linguagem.

A palavra remete à ausência e não compreendê-la implica uma dupla ausência. Fédida (1991) entende a palavra como portadora da magia de transformar uma coisa em outra. A ideia de que a palavra possui “poderes mágicos” é fator bastante presente para os neuróticos obsessivos. Tais indivíduos acreditam que certas palavras “criam” a magia, podendo fazer coisas com que aconteçam ou com que feitiços sejam desfeitos. A superstição empossa palavras com bênçãos ou pragas carregadas de poderes mágicos. Quantas vezes dizemos uma palavra tal como “azar” e somos alertados de que não devemos pronunciá-la, pois isso traria a realização de situações malignas! Da mesma forma, ao verbalizar experiências na língua em que tenham ocorrido/venham a ocorrer, faz com que se tornem reais ao passo que falar delas em outra língua lhes atribui uma conotação irreal. Frequentemente observa-se uma dificuldade de expressão como uma das medidas da sua resistência, a pressão exercida pelo superego é tão poderosa que o indivíduo é incapaz de dizer qualquer coisa. O superego usa seu poder para combater a magia da fala. Portanto, a língua torna-se o veículo para que se possa reviver o passado e para que se libere desejos e emoções inconscientes para a esfera da consciência.

Na primeira de suas “Conferências introdutórias sobre psicanálise”, Freud (1915/1969) inova ao apresentar a importância da palavra:

Nada acontece em um tratamento psicanalítico além do intercâmbio de palavras entre o paciente e o analista… 0 paciente conversa… o analista escuta… Originalmente as palavras eram mágicas, e até os dias atuais conservaram muito do seu antigo poder mágico. Por meio de palavras uma pessoa pode tornar outra jubilosamente feliz ou levá-la ao desespero… Palavras suscitam afetos e são, de modo geral, o meio de mútua influência entre os homens. (p. 29)

O sonho, bem como a palavra, vêm preencher o vazio implícito no sono, na escuridão e no silêncio. Segundo Freud em “O estranho” (1919/1969, p. 237), estes são elementos da angústia infantil da qual a maioria das pessoas jamais chega a libertar-se totalmente. Quando uma criança fecha os olhos para dormir, um pouco da angústia que sente permanece no adulto. Poderíamos pensar no enorme valor que as histórias e cantigas possuem, por serem repletas de palavras ao embalar o sono da criança à medida que aplacam tal angústia.

Observa-se frequentemente uma profunda irritação em crianças que já possuem conhecimento da língua materna, quando seus pais falam em uma língua estrangeira. Se tal situação é relatada por um adulto, pode-se frequentemente notar a presença de um forte ressentimento. Tal vivência é coroada pela situação traumática primitiva de simultâneo interesse e incompreensão do significado das palavras, ligada a fantasias de exclusão da cena primária (Sirota, 1996). A ideia da compreensão equivale a uma posição de completude, ao passo que a incompreensão simboliza a incompletude, portanto, equivalendo à perda edipiana ou à castração.

Os pais de Elias Canetti, Prêmio N obel de Literatura de 1981, falavam entre si em alemão …

portanto, eu tinha bons motivos para me sentir excluído quando meus pais começavam a conversar em sua língua. Ficavam muito animados e alegres, e eu ligava essa transformação, que eu bem percebia, ao som do alemão. Eu os escutava com a maior atenção, e logo perguntava o que significava isso ou aquilo. Eles riam, e diziam que era cedo demais para que eu entendesse certas coisas. Já faziam muito em me revelarem a palavra “Viena”, a única. Eu acreditava que se tratava de coisas maravilhosas, que só podiam ser ditas naquela língua. Depois de muitas súplicas inúteis, saía correndo zangado e me refugiava em outro cômodo, que raramente era usado, e aí repetia as frases que deles tinha ouvido, no mesmo tom de voz, como se fossem fórmulas mágicas. Ensaiavaas com frequência, e, assim que me encontrava só, soltava todas as frases e palavras isoladas que havia aprendido, com tanta rapidez que certamente ninguém as teria entendido, mas cuidava para que meus pais jamais o notassem, pois ao segredo deles eu opunha o meu”. (Canetti, 1987, p. 85)

Aquele que usa uma língua estrangeira revive questões primitivas da aquisição de linguagem. A língua materna nunca será esquecida, apagada ou silenciada, pois é portadora da primeira identidade de um indivíduo.

A primeira condição necessária para que se possa adquirir uma identidade é a presença do outro como alteridade. O outro promove um campo dialético que possibilita a tensão da diferença entre os opostos, mas não necessariamente considerado um inimigo. O outro gera a tensão produtiva da diferença possibilitando o desenvolvimento.

Como o desenvolvimento de uma identidade sempre se dá através de um duplo, a aquisição da linguagem, portanto, um outro código, levará a uma subjetivação. Se a língua materna é parte fundamental deste processo, seria o aprendizado e o uso de uma nova língua responsável por uma nova subjetivação?

Uma conhecida frase em italiano resume brilhantemente o efeito da passagem de uma língua para outra e sugere a impossibilidade de se traduzir: Traduttore, traditore (tradutor = traidor).

Do ponto de vista psicanalítico poderíamos perguntar traditore de quem ou do que? Traidor da língua materna, de sua sintaxe, das sutis características gramaticais que não podem ser fielmente reproduzidas numa outra língua. Mas em particular da linguagem da mãe, ou seja, das palavras dirigidas pela mãe a seu filho desde e antes do nascimento (Tesone, 1996). Portanto, estaríamos traindo nossa própria subjetividade ao usar a língua não-materna ou estaríamos acrescentando a diversidade e a riqueza de outros códigos à nossa possibilidade de comunicação?

E o que dizer da interpretação, que também de certa maneira envolveria uma tradução por parte do analista da matéria-prima apresentada pelo paciente e em função da compreensão do analista a respeito desse material, o surgimento de uma comunicação analítica própria e uma posterior tradução por parte do analisando para seu próprio arsenal psíquico. A “tal traição” seria responsável, portanto, pela comunicação, pela criatividade e pelo desenvolvimento do vínculo analítico.

 

A interpretação e a tradução

Aprender a hablar és aprender a traducir; quando el niño pregunta a su madre por el significado de esta o aquella palabra, lo que realmente lê pide és que traduzca a su lenguaie el término desconocido. La traducción dentro de una lengua no és, en este sentido, essencialmente distinta a la traducción entre dos lenguas y la histeria de todos los pueblos repite la experiência infantil: incluso la tribu más aislada tiene que enfrentarse, en un momento o en otro, al lenguaje de un pueblo extraño.
Octavio Paz (1971)

Ao lermos qualquer texto, seja em nossa língua materna ou em língua estrangeira, estaremos sempre traduzindo o conteúdo proposto para nosso conjunto de valores, ideias, sentimentos. Mas o que é traduzir? Traduzir é transportar, é transferir de forma “protetora” os significados que se imaginam estáveis, de um texto para outro, de uma língua para outra.Porém, nenhuma tradução pode ser exatamente fiel ao “original” porque o “original” não existe como objeto estável, guardião implacável das intenções do autor, uma vez que nem o próprio autor poderia estar consciente de todas as suas intenções e variáveis inseridas num texto que tenha escrito. O significado de um texto somente se cria a partir de um ato de interpretação, sempre provisório, baseado em padrões culturais, sociais e históricos do leitor. Portanto, quando comparamos uma tradução ao “original”, estamos somente comparando a tradução à nossa interpretação do “original”, que nunca será a mesma do tradutor.

Uma vez que a tradução envolve a relação entre tradutor e texto, tradutor e autor, duas línguas e duas culturas, talvez fosse pertinente pensar que qualquer tradução é também determinada por uma estrutura transferencial… A questão da tradução é permeada pela ambivalência, regada por sentimentos de amor e ódio, que se por um lado impõe fidelidade ao texto “original”, ao pai autor, impede a criação do novo, por parte do tradutor.

Diferentes traduções da obra de Freud resultaram em diferentes versões, interpretações que levaram a diferentes escolas de pensamento. O trabalho analítico permite que existam muitos discursos numa só palavra, daí a importância da língua alemã fundadora da psicanálise. Inúmeras questões continuam a ser levantadas a respeito das diversas traduções das Obras Completas de Freud, que em sua maioria foram feitas a partir da inglesa Standard Edition, orientando gerações e gerações de psicanalistas no mundo inteiro. Talvez possamos pensar que as diferentes traduções de Freud tenham influenciado o desenvolvimento de diferentes psicanálises. A língua inglesa é mais concisa e pragmática do que o alemão, e foi James Strachey quem propôs um vocabulário em grego e latim (id, ego, cathaexis) atribuindo assim um caráter muito mais pomposo e acadêmico ao texto do que o alemão coloquial usado por Freud. De um texto repleto de ambiguidades em alemão, passou a ser técnico, árido e preciso em inglês.

A palavra alemã é um conjunto de elementos de sentidos compostos em seu interior. Os elementos das palavras têm um significado bem preciso, e o verbo é usado como substantivo fazendo com que o equilíbrio se crie pelo sujeito, que é quem fixa o sentido. O aprendizado de uma língua para uma criança, seja ela qual for, se dá por meio dos substantivos, o mesmo ocorrendo quando se aprende uma língua estrangeira. As palavras fazem parte de uma conquista do mundo exterior. Para o psicótico a palavra equivale a coisa, daí a necessidade de se ter cautela ao usá-las. Há palavras alemãs que não são traduzíveis somente pelo seu tronco e que, pela decomposição dos termos, possibilitam alcançar o significado escondido no uso da linguagem. O conhecimento da fenomenologia dos processos de uma língua ajuda numa escuta mais completa, tanto ao que é enunciado pelo paciente, como o que interpreta o analista, aproximando-os da vida psíquica. As sensações clivadas surgem através das palavras, ao passo que os sonhos são mais ligados a estímulos visuais. A tradução das observações, a simbolização por meio da linguagem não pode dar conta dos processos da análise de um paciente, há muito mais envolvido. A metáfora é um dos princípios constituintes da linguagem e funciona para condensar o afeto e a terminologia freudiana é reeditada pelo paciente, e alguns termos passam a ser evidentes e espontâneos. O conceito de metáfora é fundamental para a compreensão do discurso sobre o mundo interno.

Laplanche, autor do Vocabulário da psicanálise, o tradutor das Obras Completas de Freud na França em 1988, foi extremamente fiel ao texto do criador, mantendo-o intocado, e parece ter tido a intenção de apagar todas as interpretações “errôneas” que outras escolas psicanalíticas pudessem fazer de Freud. Ao protegê-lo, eliminaria a história: seu projeto era “devolver Freud a Freud”. Seu desejo explícito era ser o verdadeiro porta-voz de Freud em francês, o que implica não somente a eliminação de seus rivais e mestres próximos; esconde também uma fantasia mais poderosa, a fantasia de se colocar no lugar privilegiado de Freud como aquele que tem o direito e a autoridade de produzir significado na área que ele mesmo criou, deixando de ser apenas um dos muitos recipientes da teoria psicanalítica. Portanto, podemos dizer que, em vez de uma transferência impessoal de significados, qualquer tradução reproduz uma relação transferencial na qual está em jogo uma teia de sentimentos contraditórios. Se aceitarmos que o “original” é composto de significados provisórios, dependentes da leitura de um sujeito, poderemos também aceitar a posição autoral de qualquer tradutor. Melanie Klein, Bion, Winnicott, Lacan, Ferenczi, Kohut dentre inúmeros outros, incluindo nós mesmos, encontram-se na mesma categoria como tradutores (não no sentido linguístico) de Freud e criadores de novas vertentes do movimento psicanalítico, pela interpretação individual, pessoal, inserida em determinado momento histórico, cultural, social e político.

Neste momento, penso que seria interessante definir o que é “tradução”, que também revela o movimento sugerido pelo prefixo latino “trans” – “movimento para além de”, “através de”, “posição para além de”, “posição ou movimento de través”, segundo o Aurélio – que compõe a palavra translation, além das palavras afins como “transferência”, “transporte”, “transformação”, e que constitui “o próprio movimento do pensamento entre pontos de origem e de chegada que estão sempre sendo diferidos, diferenciados um pelo outro” – que é aquele que orquestra a sessão psicanalítica. Sempre que dois outros, dois estrangeiros, dois tradutores se encontram, há sempre um leitor ou um receptor, que inevitavelmente se apropria do significado do outro e o traduz para seu próprio “idioma”. Jamais recuperam a “essência” do significado um do outro, mas se comunicam, se traduzem…

Seria interpretação um sinônimo de tradução? Segundo o Vocabulário da psicanálise, de Laplanche/Pontalis, a interpretação caracteriza-se como sendo o destaque pela investigação analítica, do sentido latente existente nas palavras e nos comportamentos de um indivíduo. A interpretação é o que caracteriza a psicanálise, ou seja, a evidenciação do sentido latente de um material. Faz ressaltar o sentido dos sonhos e dos desejos inconscientes, bem como outras produções do inconsciente. A comunicação da interpretação é o modo de ação do analista. O termo interpretação não se ajusta ao termo alemão deutung que está mais próximo de explicação, de esclarecimento. O deutung (explicação) consiste em determinar a sua bedeutung, sua significação. Portanto, tradução e interpretação não são sinônimos.

A intervenção psicanalítica ligada à interpretação propõe algo como transpor, transferir, transformar através de uma rede de associações-livres e de ligações de todo tipo. A diferença básica entre tradução e interpretação é que o “material analítico” não é um texto; é uma experiência, um novo modelo de intersubjetividade. O momento da interpretação é também determinado por uma “relativa certeza” a respeito do significado do “material”, por parte do analista. Daí surge a ideia de que a interpretação confere ao analista uma onipotência ameaçadora, que é uma visão totalmente englobadora e que dá ao seu paciente a sensação de nudez e de total transparência.

Segundo André Haynal (1993), compreender é também interpretar. A interpretação difere da tradução porque inclui a percepção e a decodificação, a compreensão e a significação da comunicação verbal ou não-verbal. Inclui a transmissão de emoções, que obviamente não é linguística; é a comunicação de um texto num certo contexto.

Enquanto analistas, interpretamos todo o tempo. É como se tivéssemos uma tecla Liga-Desliga. Quando apertamos o Liga fazemos uma interpretação após a outra, tanto a respeito de nossos pacientes como a respeito de nós mesmos. Quando isso acontece, ou seja, ao interpretarmos alguma questão nossa, ao termos alguma lembrança, que a princípio nada tem a ver com nosso paciente, tal situação pode ser utilizada para, ao interpretarmo- nos, devolver a interpretação em questão para a situação analítica.

A interpretação questiona; ela não limita o sujeito nem impõe verdades, especialmente verdades que seriam mais verdadeiras do que as verdades do próprio paciente. É a sua verdade que deve ser explorada. Mas apesar da interpretação ocupar espaço privilegiado em uma análise existem outras instâncias de igual importância fornecidas pela situação analítica, tais como o ambiente, o holding e o insight (palavras usadas e compreendidas por todos nós em inglês!), as diferentes comunicações, as metáforas, o não-verbal, a transferência…

Interpretar é reconstruir significados pelas palavras do paciente, e é em parte uma inferência que nasce a partir de uma metáfora. A psicanálise é uma prática de comunicação muito peculiar, não meramente uma troca de representações e a interpretação psicanalítica reflete a compreensão das representações, inclusive as que o paciente já tiver feito de si mesmo, onde o afeto tem lugar de honra. Devido a tal peculiaridade, os psicanalistas há muito vêm tentando desenvolver uma nova linguagem tanto para discorrer a respeito de seus métodos e de suas descobertas como para manter debates com outros psicanalistas e profissionais de outras áreas. É tarefa árdua, porquanto o idioma psicanalítico não segue as regras gramaticais formais, pois vai da voz ativa para a voz passiva sem a menor cerimônia, da simples descrição à alusão metafórica, do concreto para o abstrato e vice-versa. Isso ocorre porque a investigação psicanalítica, bem como as histórias de vida, não são lineares ou diretas; elas ocorrem em círculos. A interpretação também é circular. Tanto faz relatar um evento a partir de seu começo ou de seu fim, o que importa é o tipo de compreensão que se produz. A interpretação é uma ação criativa que ocorre numa situação que envolve uma tradição de entendimento e de procedimento. N ão tem começo ou fim, porque o psicanalista não interpreta a experiência por si só, mas as suas próprias interpretações, sendo estas então reinterpretações e, portanto, sem fim. A interpretação nos remete à “língua materna” no sentido psicanalítico, ao passo que a tradução nos remete à “língua materna” no sentido linguístico.

Conhecer uma língua significa ser capaz de traduzir mentalmente a partir da língua que se sabe, a língua que se conhece. A língua que se sabe é dita “língua materna”. O que apenas quer dizer uma coisa: que ela autoriza o locutor a falar como mestre.

Por diversos motivos, principalmente históricos e organizacionais, o bilinguismo sempre esteve presente em todos os povos e países, desde o Império Romano até hoje, com a integração das comunidades extraeuropeias na Europa. Em princípio, o inconsciente não é nacionalista, nem xenófobo, e o bilinguismo sempre se dá à sombra da língua materna. Mas qual seria a importância da “língua materna”?

A importância parece ser da ordem do afeto, pois a língua materna nos veicula a lembrança daquela que nos introduziu na fala. Por isso cada um de nós tem uma relação muito particular com a sua língua ou com as línguas que puderam organizar a sua infância… Independente da história linguística de um indivíduo, o inconsciente será sempre interpretado como se houvesse uma língua original que tivesse permitido a transparência perfeita, a articulação do desejo…

 

Referências

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Endereço para correspondência
Joyce Kacelnik [Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP]
Rua Joaquim Antunes, 490 cj. 104, Pinheiros
04512-01 São Paulo, SP
Tel: 11 3083-3449
E-mail: joyce.kacelnik@uol.com.br

Recebido em 10.2.2009
Aceito em 11.3.2009

 

 

1 Do Instituto de Psicanálise “Durval Marcondes” da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP.
2 Pesquisa realizada pela Dra. Joy Hirsch da Ressonância Magnética do Hospital Memorial Sloan Kettering, Nova York. El País, Montevidéu 17.7.1997.

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