SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.43 número3Fúlvio Alexandre Scorza: entrevista índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál v.43 n.3 São Paulo set. 2009

 

EDITORIAL

 

Preparando as malas

 

 

O trabalho institucional pode ter correspondência com uma corrida de revezamento: recebemos o bastão de quem nos precede, fazemos o melhor possível e, para o bom desempenho, corremos um período junto com quem vai prosseguir com a tarefa e entregamos o bastão. Esta equipe está com o encargo da Revista pouco mais de quatro anos. É um bom período. Uma equipe jovem tomou a si a tarefa - a maior parte de seus integrantes sem experiência prévia em trabalho editorial - e podemos dizer que hoje sabe como realizá-lo. Tomou a si o patrimônio herdado de Durval Marcondes que fez um número em 1928, enviou o resultado de seus esforços a Sigmund Freud que a comemorou em carta que recordamos a cada edição. É uma forma de significar não só a nossa origem como a fidelidade à nossa especificidade, ao nosso método, à nossa prática e à nossa teoria. Retomada sua edição em 1967 pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, foi doada à Associação Brasileira de Psicanálise (federação das sociedades brasileiras) com o acordo de que o editor se mantivesse indicado pela sociedade paulista. O sotaque paulista causava mal-estar e na reforma dos estatutos de 1992 quando se finalizou com o sistema de rodízio das diretorias e se instituiu diretorias plurissocietárias, assim fortalecendo sensivelmente o caráter democrático da instituição, houve um acordo renovado em relação à Revista: a editoria permaneceu em São Paulo e, como contraparte, teríamos a criação da sede da federação no Rio de Janeiro, o que de fato ocorreu. Atualmente a Revista também tem sede própria adquirida na gestão de Plínio Montagna. Recebemos, então, a herança de muitos editores.

Para citar apenas os mais recentes a partir de 1986: David Léo Leviski, Paulo Cesar Sandler, Elias Mallet da Rocha Barros, Plinio Montagna e João França.

Deles recebemos um acervo e esperamos que seja dada sequência. O novo editor a partir do volume 44, número 1, será Bernardo Tanis, a quem damos as boas-vindas. Estaremos finalizando as edições que nos cabem este ano e abrindo espaço de trabalho conjunto para que a equipe nova já possa iniciar os trabalhos do próximo ano, de modo que o processo não sofra atraso em sua continuidade. Assim, os colaboradores para os números futuros já podem se dirigir à nova editoria.

Não é o caso, neste momento, de trazer à tona os desenvolvimentos que alcançamos; acreditamos ser mais útil apontarmos direções a serem atingidas e impasses não resolvidos por nós. De certa forma não conseguimos retificar propriamente o sotaque paulista da Revista. Obviamente, São Paulo possui uma sociedade muito grande e produtiva, além de única em seu ambiente, mas isto não explica tudo. A distância dos editores regionais deve ser diminuída e estes devem ser chamados a se comprometer mais com a Revista. No último congresso brasileiro ficou acordado que teríamos edições temáticas propostas e encaminhadas pelos editores regionais. Isto já está encaminhado, mas maturará no futuro. Também foi definido que a Revista faria edições temáticas simultaneamente ao conjunto das revistas regionais, de modo que o conjunto dos participantes da Febrapsi pudesse se envolver em uma reflexão conjunta fortalecendo nosso caráter federativo.

Outra questão importante é a pontuação acadêmica da Revista. É uma questão maior, pois os autores se preocupam com a repercussão de seus trabalhos e o acesso às verbas distribuídas é definido por estes padrões. Sempre nos batemos com a incompreensão dos avaliadores acerca de nossa especificidade enquanto disciplina científica e caímos numa discussão infindável acerca de nosso método de pesquisa e da nossa formação fora dos muros da academia. Tivemos que abrir mão de vários benefícios em função deste permanente mal-entendido, pois optamos pela manutenção de nossos princípios. No entanto, assistimos nos últimos tempos uma sensibilidade renovada dos órgãos reguladores acerca da nossa característica própria. Revistas das escolas de arte, artes plásticas, teatro, musica etc. sofrem do mesmo problema nas universidades e já há um novo consenso em relação às suas publicações e formato de suas teses e pesquisas. Nossa luta pode então fazer valer nosso pensamento e encontrar formas de acordo com esses organismos gestores. É uma sequência necessária e que pode dar enorme força à nossa Revista, inclusive porque, como é fácil imaginar, sempre nos debatemos com uma falta crônica de verbas. Assim, trabalhos de tradução, edição e revisão que poderiam e deveriam ser profissionalizados, são feitos de forma amadora e dependente da enorme boa vontade da equipe, retirando sua energia de tarefas mais específicas que poderia estar realizando.

Outro desenvolvimento necessário é o de incrementar a instância crítica e de ajuda aos autores na elaboração de seus artigos. Se, por um lado, fazemos frente às nossas dificuldades enquanto equipe, vale notar que não temos a maturidade de fazer face a estes processos que são, na maior parte das vezes, vistos como intrusão e crítica injustificadas.

Enfim, neste trabalho de desenvolvimento de nossa ciência e implementação do caráter federativo de nossa instituição, e chegado o momento de passar o bastão, esperamos que as realizações que alcançamos e o resultado dos esforços de uma equipe dedicada e apaixonada pelo desafio que lhe foi proposto, também tenham sido notadas e apreciadas.

Sentimos-nos recompensados, de antemão, pois a tarefa foi em si gratificadora inclusive pelos desenvolvimentos que cada um dos membros da equipe, tenho certeza, pôde alcançar.

 

Leopold Nosek
SP, novembro 2009

Creative Commons License