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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.43 no.4 São Paulo  2009

 

DIÁLOGO

 

Sobre os 100 anos da IPA: entre a informalidade e a institucionalização: Comentário à entrevista de Carlos Augusto Calil

 

Sobre los 100 años de la IPA: entre la falta de formalidad y la institucionalización Comentário à entrevista de Carlos Augusto Calil

 

About 100 years of IPA: between informality and institutionalization Comment to the interview of Carlos Augusto Calil

 

 

Cláudio Laks Eizirik1

Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre SPPA
Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O autor reflete sobre suas experiências recentes na IPA, relatando e discutindo características e episódios que lhe parecem específicos das instituições psicanalíticas. Sugere algumas possíveis maneiras de entendê-los e aponta para áreas que necessitam desenvolvimento.

Palavras-chave: instituição psicanalítica; IPA; movimento psicanalítico.


RESUMEN

El autor reflexiona sobre sus recientes experiencias en la IPA, relatando y discutiendo características e situaciones que a su juicio son específicas de la instituciones psicoanalíticas. Sugiere algunas posibles maneras de entenderlas y subraya algunas áreas que se necesita desarrollar.

Palabras clave: institución psicoanalítica; IPA; movimiento psicoanalítico.


ABSTRACT

The author reflects on his recent experiences with the IPA, reporting and discussing some trends and situations that seem to be specific to analytic institutions. He then suggests possible ways of understanding them and points out to areas in need of further developments.

Keywords: psychoanalytical institution; IPA; psychoanalytic movement.


 

 

A interessante entrevista com Carlos Augusto Machado Calil, em que relata sua experiência com várias instituições artísticas, serve como um bom estímulo para uma reflexão sobre a nossa instituição centenária, que em boa hora a Revista Brasileira de Psicanálise decidiu abordar neste número.

Dentre tantos exemplos que oferece sobre boas e más experiências de sua trajetória, menciona um museu que me é de particular interesse e estima, o Museu Iberê Camargo, de Porto Alegre, em que se conjugaram a decisão de um grande industrial e colecionador, o apoio governamental, a disposição da família, o amplo apoio público, a localização privilegiada e o talento do arquiteto Álvaro Siza, fazendo desse espaço possivelmente uma das principais atrações atuais da cidade. Nesse exemplo, uma conjugação de forças tornou possível uma grande conquista.

Outro ponto central da entrevista é a relação do presente com o passado para tornar uma instituição viável e permanente, e a metáfora do estilingue, de Aloísio Magalhães, é muito oportuna. A questão intergeracional mostra também sua relevância.

Como se pode explicar a permanência da IPA ao longo de 100 anos, e ademais entender sua crescente relevância no mundo psicanalítico e na mente da maioria dos analistas? Talvez a oscilação ou alternância ou convivência ou permanente oposição dialética entre a informalidade e a institucionalização seja uma hipótese interessante para buscar uma possível resposta a esta pergunta.

A IPA é um bom exemplo de um permanente processo de transformação, oscilando entre a informalidade e a institucionalização, desde o pequeno grupo de vienenses que se encontrava na reunião das quartas feiras em torno de Freud, na Bergasse 19, até a fundação formal da associação internacional, em 1910, passando por sucessivos embates, ampliações, conflitos, até chegar ao ano de seu centenário, com seus 12.000 membros espalhados em dezenas de países de três regiões geográficas, constituindo uma complexa trama de relações, atividades, estruturas e histórias que não cessam de se entretecer. Para o bem ou para o mal (dependendo de quem fala, ou do estado mental cambiante de cada um) ser um analista da IPA tem definitivamente um significado forte para quem é e para quem não é.

De qualquer maneira, parece ser consensual entre nós a convicção de que período em que se podia manter a psicanálise numa torre de marfim acabou. A competição com outras instituições psicanalíticas muitas vezes é feroz, embora colaborações ou diálogos não sejam raros. Há toda uma competição de mercado, e um cenário que leva alguns colegas a falar de uma suposta crise da psicanálise. N ão compartilho dessa posição. Embora haja, sem dúvida, uma crise internacional que ameaça o pensamento independente e crítico, e uma assustadora onda de fundamentalismos e de globalização, no que esta tem de estimulante e de nocivo, a psicanálise, em si, como teoria, prática e capacidade de diálogo com a cultura não está em crise. Talvez necessitemos reconhecer mais claramente o vigor de nossa disciplina e de suas instituições para assumir com mais força, uma postura de diálogo com outros setores e outros saberes.

No que se refere à constituição de nossas instituições e ao trajeto de cada um de seus membros ao longo do ciclo vital, encontramos algumas vezes analogias com a história familiar e suas vicissitudes. Gostaria aqui de pensar sobre uma ampliação dessa família analítica ainda maior, incluindo nela objetos mais distantes, que são nossas instituições nacionais e internacionais. Penso que a relação que teremos com cada uma delas será construída pelo somatório de nossas próprias experiências familiares, e em que medida o estrangeiro, o outro, o diferente era percebido e tratado, com nossas vivências, ao longo da formação, de observar como nossos objetos parentais analíticos se relacionavam e expressavam seus sentimentos em relação a essa categoria de seres distantes. Imagino o que ocorre quando generalizações estereotipadas perpassam uma formação ou são adotadas institucionalmente.

Naturalmente, dentre tantas invenções de Freud, a maioria delas tendo frutificado em várias direções, uma das mais complexas e ainda muitas vezes polêmica, foi a IPA. Ao estabelecê-la, Freud foi muito claro quanto ao que tinha em mente:

Julguei necessário formar uma associação oficial porque temia os abusos a que a psicanálise estaria sujeita logo que se tornasse popular. Deveria haver alguma sede cuja função seria declarar: Todas essas tolices nada tem a ver com a análise; isto não é psicanálise". Nas sessões de grupos locais (que reunidos constituiriam a associação internacional) seria ensinada a prática da psicanálise e seriam preparados médicos, cujas atividades receberiam assim uma espécie de garantia. Além disso, visto que a ciência oficial lançara um anátema contra a psicanálise… achei que seria conveniente os partidários da psicanálise se reunirem para uma troca de ideias amistosa, e para apoio mútuo. Isso, e nada mais, foi o que esperava alcançar com a fundação da Associação Psicanalítica Internacional. Mas tudo leva a crer que era querer demais. (1914, p. 57)

Passados cem anos de sua fundação, há uma massa de elementos históricos, conflitos, realizações, conquistas, cisões, e assim por diante, que necessitam ser submetidos a uma reflexão relativamente isenta quanto ao que tem sido obtido em cada período. Mas, em essência, os propósitos iniciais continuam no cerne dos objetivos da IPA.

Numa recente releitura desse trecho de Freud, e após alguns meses de ter terminado minha gestão na presidência da IPA, uma frase me chamou a atenção: Achei que seria conveniente os partidários da psicanálise se reunirem para uma troca de ideias amistosa e para apoio mútuo.

Que nos reunimos, reunimos; mas já não é tão claro o que significa hoje partidários da psicanálise, nem se predomina uma troca de ideias amistosa nem o apoio mútuo. Sinto talvez nessa passagem uma certa ingenuidade partindo da mente poderosa que havia esmiuçado totens e tabus, a psicologia das massas e a inevitável ambivalência das relações humanas. Por que seríamos diferentes? Gostaria de examinar, assim, alguns aspectos que tenho observado nesse longo percurso institucional, usando algumas experiências que possivelmente não ocorreriam numa agremiação de engenheiros ou médicos ou geólogos.

Um dos aspectos de nossas instituições que mais deprime muitos colegas, ou que provoca afastamentos traumáticos ou mesmo incompreensão é uma certa tendência à fofoca, à maledicência e à intolerância com condutas, opiniões ou posicionamentos distintos da norma, da maioria ou do que se pode considerar a cultura predominante numa instituição, ou seus valores passados de uma geração a outra, e que muitas vezes diferem conforme a latitude geográfica considerada. O que se observa ou escuta é que tal atitude não se restringe aos encontros sociais, aos chopes, mas muitas vezes ocupa momentos de uma supervisão ou de uma sessão de análise, em que um comentário jocoso, uma insinuação ou mesmo uma clara afirmativa atinge a pessoa de um colega.

Outra característica que parece incompreensível a muitos é que as disputas pelo poder assumem algumas vezes proporções semelhantes a qualquer grupo humano, ou seguem os caminhos usuais das tramas ou dos procedimentos tão bem descritos por Maquiavel ou por Mazarin.

Outro aspecto problemático de nosso convívio institucional diz respeito à escuta do outro, não só quanto às diferentes teorias, como nas discussões clínicas e mesmo nas posturas institucionais, em que os argumentos contrários são ouvidos não como tais mas como possíveis expressões de ataque ou inimizade.

Uma contribuição relevante neste terreno da disponibilidade mental para uma real escuta decorre das ideias de Haydee Faimberg sobre a escuta da escuta, o mal-entendido e a telescopagem das gerações. Sendo um assíduo participante de seus fóruns clínicos, nos últimos anos, vejo nessa iniciativa um dos precursores do CAPSA, um programa que lançamos no início de nossa gestão e que representou, conforme múltiplas avaliações, um sopro de estímulo às discussões clínicas e ao intercâmbio entre as regiões. Não é infrequente observar discussões em que, como relata Green, cada expositor recita seu mantra teórico, ou seu credo, escuta polidamente (ou mesmo com certo fastio) argumentos distintos, e novamente recita seu mantra, e assim por diante.

Por outro lado, não se pode ignorar os riscos de um ecletismo teórico, que leva à inevitável superficialização do conhecimento, nem negligenciar o fato de que o domínio de uma teoria ou do pensamento de um autor requer muito estudo e tempo, fatores que, somados ao estado de pluralismo teórico contemporâneo, configuram uma situação desafiadora e que não oferece qualquer perspectiva fácil, não conflitiva ou politicamente correta.

Vou acrescentar a isto um comentário sobre a situação mais difícil que vivi em minha experiência no Board, mesmo antes de ser o presidente da IPA, mas que atingiu seu ponto crítico em minha gestão– as intermináveis, controvertidas e frequentemente agressivas discussões sobre os três modelos de formação analítica, com uma polarização de opiniões e posições que levou a um clima azedo de confronto e desconfianças recíprocas entre dois grupos que defendiam posições radicalmente opostas. Embora internamente posicionado, minha função exigia um certo equilíbrio, e a condução de um processo num nível minimamente civilizado e de respeito mútuo. Havia no ar, e mesmo eram manifestadas ameaças de uma desintegração, ou splitting da IPA caso uma solução ou outra fosse adotada. Finalmente, num dramático turning point, foi possível, na reunião do Board, em Berlim, em julho de 2008, aprovar o reconhecimento dos três modelos e iniciar o processo de regulamentar as possíveis trocas de modelo e outras situações que esta complexa novidade criou.

De onde provirão tantas paixões, mágoas, ambições, frustrações, ressentimentos, desejos, prazeres satisfeitos ou frustrados? Penso que a natureza única de nossas instituições, neste ponto inevitavelmente distintas de todas as outras, reside na presença da transferência e das intensas relações estabelecidas em cada análise, e em sua natureza de réplica das estruturas familiares. Assim, em cada instituição, dentro dos marcos de sua cultura específica, e dentro de uma história construída ao longo das décadas, o grupo de analistas, e cada membro em particular, deve lidar, em sua mente, com as sucessivas identificações, transferências inter-geracionais, a relação de cada um com Freud e outros pioneiros, e sua própria trajetória institucional. Em muitas ocasiões, a eclosão de controvérsias que se transformam em cisões ou dolorosas separações pessoais ou grupais expressam ora a vitória da pulsão de morte e da compulsão à repetição de passados traumas, ora uma tentativa de se aferrar e defender até a morte aquilo que parece ser a expressão de um genuíno amor à psicanálise ou aos autores, colegas ou analistas que de forma real ou fantasiada a personificam naquele momento ou naquele conflito. Olhando para o passado recente, penso que se pode entender muitos de nossos candentes conflitos, como o dos três modelos de formação, como decorrentes dessa dinâmica grupal, que num certo momento produz uma espécie de cegueira coletiva, para noutro surgir de novo a possibilidade de um diálogo e mesmo o encontro de soluções criativas.

Outra questão que me intriga é esta: que objeto interno é a IPA na mente dos analistas? Logo que iniciei minha gestão, ao proferir a aula inaugural do Instituto da SBPRJ, perguntei-me: que estranho animal é esse, umas vezes percebido como perseguidor, outras como cobrador, outras como incômodo intrometido na vida de sociedades ou analistas, algumas como inspirador e talvez mais do que tudo como um ser distante e incompreensível em sua estrutura, funcionamento e propósitos.

É possível que as palavras de Freud contenham também um tom superegóico ou sejam assim percebidas, como muitas das funções necessárias a uma associação desse porte. É também possível que eventos vividos em cada sociedade, ou cisões traumáticas, ou conflitos passados herdados por novas gerações reforcem essa imagem de objeto interno perseguidor.

No nosso trabalho diário, e em nossa condição de analistas, carregamos essa família ampliada, e nossos pacientes acompanham essa relação interna, assim como todos os filhos gostam de saber e ouvir repetidas vezes as histórias das famílias.

Conhecer as histórias, saber dos conflitos, examinar os alcances e os problemas, acompanhar os desafios e ter a possibilidade de participar dos eventos atuais e de suas tentativas de solução possível – eis algumas maneiras de nos apropriarmos de nossas relações com nossos objetos internos e de nossa novela profissional. Após ter estado em contato estreito com esse estranho animal ultimamente, tenho aprendido que é possível conviver com ele em termos relativamente amistosos, em especial quando se tem consciência dessa relação inevitavelmente ambivalente e se busca conhecer mais de uma estrutura complexa. Talvez seja esperar demais, mas é possível imaginar que esta experiência de muitos analistas de nossas três regiões possa ser ampliada e que a troca de ideias amistosa e o apoio mútuo tornem-se mais intensos e efetivos para fazer face a tantos desafios comuns.

A busca de um convívio amistoso é indispensável entre as distintas associações internacionais e as sociedades locais; em especial, embora não existam vínculos formais, a não ser com a associação psicanalítica norte-americana, a IPA tem trabalhado ativamente para estreitar seus laços de trabalho e respeito mútuo com a FEPAL, a EPF, a NAPSAC e a FEBRAPSI utilizando distintos canais de comunicação e o trabalho de ligação desempenhado por seus representantes. N em sempre, pelas mais variadas razões, tal convívio é fácil, e exige de todos nós um esforço contínuo para ouvir o outro, e procurar corrigir percepções, encontrar soluções administrativas e funcionais mais eficientes e manter sempre abertas as portas para um diálogo franco e construtivo.

Penso ser oportuno, já que a experiência ainda está relativamente vívida na mente, um breve comentário sobre a trajetória de um analista brasileiro dentro das entranhas desse animal, chegando ao ponto de presidi-lo. Por menos que queiramos, e apesar de tantos sucessos internacionais dos últimos anos, o complexo de vira-latas de que nos falava N elson Rodrigues ainda ressurge de tempos em tempos. A dificuldade em manejar uma língua estrangeira, ou mesmo mais de uma, não evita uma certa inibição ou mesmo impossibilidade de sermos de fato nós mesmos. A excelente articulação desenvolvida entre grupos de representantes europeus pode ser usada como uma espécie de rolo compressor em alguns ou muitos momentos. Todos esses fatores são misturas de realidades e fantasias persecutórias, mas nenhum deles em particular nem seu conjunto impede ou impediu de exercer plenamente o cargo, e atingir praticamente todos os objetivos propostos. Alem disto, a possibilidade de conviver com colegas de distintas latitudes, de propor e desenvolver projetos inovadores, de tomar parte em novas fronteiras, como o ILAP, o início da formação analítica na China, a atividade na ONU sobre os 150 anos do nascimento de Freud, uma série de novos comitês, a expansão da formação no leste europeu, a introdução de um novo website, o pioneiro congresso do Rio, o emocionante congresso de Berlim, a despedida no congresso de Chicago, constituem um poderoso estímulo ao sentimento de mundo, de que falava Drummond – sentimento que é compartilhado por muitos colegas.

Voltemos agora nossos olhos para o futuro e tentemos vislumbrar alguns dos desafios que temos a enfrentar, naturalmente baseados no que a experiência passada e presente nos ensinou. Sem qualquer ordem de prioridade, procurarei listá-los à medida que me ocorrem, e desta forma penso deixar claro o que me parece mais relevante enfrentar: como formar novos analistas que sejam capazes de

1.como formar novos analistas que sejam capazes de desenvolver um pensamento independente e crítico, sem se atrelar a filiações pessoais ou teóricas, mas buscando encontrar sua própria voz, estilo e forma de ser analista?

2. como estimular pessoas mais jovens e talentosas a se interessar pela psicanálise, num mar de tantas terapias e incontáveis pseudo-formações?

3. como abrir espaço e estimular colegas mais jovens a ocupar posições administrativas e de ensino, sem desconsiderar a experiência e o longo percurso dos colegas seniors?

4. como encontrar uma voz e uma linguagem que nos permitam dialogar com a cultura, a universidade, a saúde, os governos e a população sem jargões nem simplificações excessivas, mas através de uma conversa de fato a dois ?

5. como continuar estimulando a produção psicanalítica, em especial dos centros menos tradicionais, como a América Latina, a Itália, a Alemanha, os países escandinavos e asiáticos, sem deixar de escutar os centros mais hegemônicos, ao mesmo tempo que os ensinamos a difícil tarefa de escutar respeitosamente? como incluir o continente africano

6. no mundo psicanalítico?

7. como manter, desenvolver e fortalecer o pluralismo teórico e as distintas maneiras de escutar o paciente e principalmente os colegas?

8. como encontrar formas mais democráticas e participativas em nossas instituições, valorizando o mérito, a capacidade de pensar, os talentos naturais para as tarefas administrativas e de ensino?

9. como aumentar a presença de nossas instituições no espaço público, tornandonos reais interlocutores nos assuntos relevantes e candentes da cidadania, da política, da ecologia, da saúde, do ensino?

10. como aumentar a presença de nossas instituições dentro das mentes de seus próprios membros, de tal forma que sintam por elas mais orgulho do que vergonha, mais esperança do que desalento, mais sentimento de nós do que de eles?

Repassados todos esses aspectos, voltemos por fim, e para concluir, brevemente ao espaço que nos é próprio e peculiar: nossa mente. Não só os aspectos teóricos, clínicos, de formação, de interface com a cultura, e os que constituem a família analítica de cada um de nós, e nossa novela profissional são essenciais, como também e talvez principalmente decisiva é nossa relação com esse objeto interno, a psicanálise. Nossas instituições são indispensáveis para muitas coisas, mas talvez mais indispensável seja cuidar dessa relação tão intensa com esse objeto elusivo, às vezes enigmático e frustrante, outras misterioso e distante, poucas vezes mostrando-se mais através de nesgas de seu possível esplendor, mais raramente proporcionando gratidão e consolo – cuidar com amor desse objeto psicanálise dentro de cada um de nós e na forma como a praticamos e desenvolvemos em todas essas dimensões talvez seja a melhor maneira de celebrar os 100 anos da IPA.

 

 

Endereço para correspondência
Cláudio Laks Eizirik
[Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre SPPA]
Rua Marquês do Pombal, 783/307
90540-001 Porto Alegre, RS
e-mail: ceizirik.ez@terra.com.br
Tel: 51 3224-4364

 

Recebido em 27.1.2010,
aceito em 3.2.2010

 

 

1 Membro efetivo da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre SPPA. Professor associado do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRGS.

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