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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.43 no.4 São Paulo  2009

 

ARTIGOS

 

Contribuição ao estudo da compulsão à repetição: dualidades, demonidades e dimensionalidades

 

Dualidades, demonidades y dimensionalidades – una contribución al estudio de la compulsión a la repetición

 

Dualities, demonities and dimensionalities – a contribution to the study of the compulsion to repeat

 

 

Maria Thereza de Barros França 1

Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A autora inicia abordando as dualidades pulsionais, as "demonidades", atributo com o qual Freud qualificou a compulsão à repetição em íntima relação com a pulsão de morte, e a proposta de Green de que se pode observar a compulsão à repetição dissociada do acting-out. A partir das dimensionalidades de Meltzer (evolução das identificações self-objeto na mente primitiva), propõe que os fenômenos ligados à bidimensionalidade encontram-se em estreita relação com a compulsão à repetição, podendo (ou não) representar obstáculo à construção de um continente mental. Os processos de "desmanche" do continente, pela ação massiva de mecanismos de defesa, ligados às pulsões destrutivas, resultam em despojamentos crescentes de significado emocional. A teoria das dimensionalidades se revela um interessante instrumento para a prática clínica no sentido da observação das manifestações da compulsão à repetição, tal como está ilustrado nos casos clínicos apresentados: uma adolescente, um latente e uma criança pequena.

Palavras-chave: compulsão à repetição na infância; dimensionalidades de Meltzer; mente primitiva.


RESUMEN

El autor comienza abordando las dualidades pulsionales, las "demonidades", atributo con el cual Freud calificó la compulsión a la repetición en intima relación con la pulsión de muerte, y la propuesta de Green de que es posible observar la compulsión a la repetición disociada del acting-out. A partir de las dimensionalidades de Meltzer (evolución de las identificaciones self-objeto en la mente primitiva), el autor propone que los fenómenos ligados a la bidimensionalidad se encuentran en estrecha relación con la compulsión a la repetición, pudiendo (o no) representar obstáculo a la construcción de un continente mental. Los procesos de "desmanche" del continente, por la acción masiva de mecanismos de defensa, ligados a las pulsiones destructivas, resultan en despojamientos crecientes de significado emocional. La teoría de las dimensionalidades se revela un interesante instrumento para la práctica clínica en el sentido de la observación de las manifestaciones de la compulsión a la repetición, tal como el autor ilustra con los casos clínicos presentados de una adolescente, un latente y una niña pequeña.

Palabras clave: compulsión a la repetición en la infancia; dimensionalidades de Meltzer; mente primitiva.


ABSTRACT

The author begins by approaching the pulsional dualities, the "demonities", attribute with which Freud characterized the repetition compulsion in close relation to the death drive, and the proposal of Green that we can observe the repetition compulsion dissociated from acting-out. Starting from Meltzer's dimensionalities (development of the self-object identifications in the primitive mind), the author considers that the phenomena involved in bi-dimensionality are in close relation to the compulsion to repeat, being able (or not) to represent an obstacle to the construction of a mental continent. The processes of "disarrangement" of the continent, by means of the massive action of defense mechanisms, related to the destructive drives result in increasing despoilment of emotional meaning. The theory of dimensionalities reveals itself as an interesting instrument for the clinical practice in order to observe the manifestations of the compulsion to repeat, as the author illustrates with the clinical cases presented of an adolescent, a latent one and a small child.

Keywords: compulsion to repeat in childhood; Meltzer's dimensionalities; primitive mind.


 

 

Dualidades

A noção de conflito é central na teoria psicanalítica. A ideia de dois opostos em confronto pode ser reducionista, porém é extremamente expressiva e de um poder estético muito grande.

A obra de Freud é rica em dualidades, mas quero destacar a oposição pulsional. Podemos determinar três dualismos básicos, que curiosamente não se excluem, mas sim se completam e enriquecem, como uma narrativa com planos superpostos e com mobilidade para adiante e para trás.

O primeiro diz respeito aos fenômenos neuróticos. Freud postulava que os sintomas seriam satisfações substitutivas de impulsos sexuais infantis proscritos (assim como os sonhos e os atos falhos). De um lado, teríamos as pulsões sexuais em busca de satisfação (uma vez que regidas pelo princípio de prazer) e, de outro, as pulsões autopreservadoras do ego (regidas pelo princípio de realidade) ora se opondo, adiando ou recalcando, buscando uma adequação das primeiras à realidade.

Entretanto, ao se deparar com o ego investido de libido nas neuroses narcísicas, associado a um distanciamento da realidade, Freud propõe um novo dualismo: congrega as pulsões do ego e as sexuais e o que varia agora é para onde a libido está preferencialmente voltada: se para o ego ou para o objeto (o novo dualismo então é libido de ego versus libido de objeto).

Porém, novas observações clamavam por novas teorizações. Freud (1920/1976) cuidadosamente vai se aproximando do novo conceito que quer introduzir, talvez suspeitando das recusas, controvérsias e polêmicas que poderia mobilizar. Parece que nos brinda com uma performance do que está querendo nos transmitir: um vai-e-vem, um ritmo oscilante, pleno de repetições até que possa chegar a algo novo partindo do já sabido (Mahony, 1937).

É como se observássemos um movimento circular (aprisionante), que se transforma em pendular, oscilatório, e finalmente em espiral, resultando numa possibilidade criativa.

Assim é que Freud postula a questão da compulsão à repetição focalizando três situações específicas: a atividade

1. lúdica nas crianças;

2. os sonhos traumáticos das neuroses de guerra; e

3. a repetição em detrimento da recordação na transferência analítica.

É célebre o relato da brincadeira que seu neto Ernst, de um ano meio, faz com um carretel, conhecida como fort da. Num primeiro momento, o carretel amarrado a um barbante era arremessado para dentro do seu berço, sumindo da sua visão. Depois era puxado de volta para perto de si. O arremesso fazia-se acompanhar do som "ó-ó-ó" que foi possível identificar como fort (gone, ido) e a recuperação do som da (ali). Era uma criança muito apegada à mãe e esta brincadeira se dava na ausência dela.

Nos sonhos repetitivos das neuroses traumáticas, a situação original do trauma se repete acompanhada de extrema ansiedade.

Quanto à transferência analítica, para Freud seria esta a possibilidade de a pessoa recordar e elaborar com a ajuda das construções do analista os antigos conflitos infantis. Porém, os pacientes não se limitavam a recordar – passavam a repetir com o analista as vivências extremamente desprazerosas e fadadas à frustração.

Freud pergunta-se até onde vai o domínio do princípio de prazer. Conclui então que na realidade haveria uma tendência ao prazer, mas haveria também algo além, independente dele, algo mais primitivo, elementar e instintual que o princípio de prazer.

 

Compulsão à repetição

Aos dois princípios vigentes Freud introduz agora um terceiro, o do Nirvana. Seria como o paraíso perdido, a idealização de um máximo de prazer, que estaria mais próximo ao nada, à morte, enquanto o princípio do prazer estaria agora a serviço (não mais em oposição) ao princípio da realidade – já que é no possível que reside o real prazer –, ambos mais próximos à vida.

Amplia as pulsões sexuais, com sua energia libidinal, tomando emprestado de Eros, o deus do amor, o nome para representar a pulsão de vida, de caráter conservador, mantenedor da vida, da união, ao mesmo tempo em que paradoxalmente seria a pulsão responsável pelas forças que conduzem o ser à sua morte, apenas que de forma natural.

Do outro lado, teríamos a pulsão de morte, com sua energia inominada, cujo representante seria o masoquismo primário e suas transformações, que mais adiante toma emprestado o nome de Thanatos, pondo em ação as tendências destrutivas dos seres humanos.

O conflito agora se situa no nível intrapsíquico e não mais entre libido e realidade, ou entre ego e objeto. Da interação entre os dois resultará um ritmo vacilante, oscilando entre progressões e regressões, da vida até a morte.

Freud, em 1923, propõe que haveria uma fusão entre as duas pulsões, resultando em diferentes manifestações; porém, havendo uma defusão, a pulsão de vida perderia seu domínio sobre a de morte, que passaria então a prevalecer. Ele postula a pulsão de morte como algo primário, com existência própria. Eleva a destrutividade à condição de pulsão, autônoma e originária do ser humano. É um ato criativo.

É possível pensarmos em uma pulsão na presença da outra, tal como a ideia de figura e fundo. Nem sempre a conservação da pulsão de vida seria algo positivo, nem a pulsão de morte algo negativo. A primeira, enquanto unificação estando relacionada à indiferenciação, não propiciaria crescimento, e a segunda, produzindo rupturas, diferenças, teria uma possibilidade criativa.

Freud (1914/1976) já havia aludido à compulsão à repetição, referindo-se à importância da recordação dentro da técnica analítica, dizendo que quando a recordação falha, em seu lugar observamos a compulsão à repetição: o paciente atua em lugar de lembrar e repete sem saber que está repetindo. Em 1920, entretanto, propõe a íntima relação entre a pulsão de morte (ou as pulsões destrutivas) e a compulsão à repetição.

Podemos distinguir dentro da compulsão à repetição a reprodução do mesmo e a repetição. Esta estaria ligada à criatividade, à simbolização, ao repetir como tentativa de elaborar um conflito, enquanto a reprodução, como cópia do mesmo, estaria relacionada à mera repetição do que já é conhecido (Garcia-Roza, 1986).

Evidentemente, tanto a questão do jogo da criança, dos sonhos traumáticos e a repetição na transferência, apontam no sentido de uma falha de elaboração, e tendem a se repetir enquanto esta não puder se processar. Estariam então buscando o prazer do significado, da representação.

Green (2007b), examinando mais profundamente a relação entre compulsão à repetição e o princípio do prazer, chega a sugerir a repetição como um substituto para o pensamento.

 

Demonidades

É possível reconhecer, na mente inconsciente, a predominância de uma "compulsão à repetição" procedente dos impulsos instintuais e provavelmente inerente à própria natureza dos instintos – uma compulsão poderosa o bastante para prevalecer sobre o princípio do prazer, emprestando a determinados aspectos da mente o seu caráter demoníaco, e ainda muito claramente expressa nos impulsos das crianças pequenas" (grifo meu). (Freud, SE, v. 17, p. 297).

Em seu interessante artigo, Green (2007b) nos lembra que Freud (1919/1976) propõe a compulsão à repetição como algo demoníaco, por sua inexorabilidade, força e amplitude de alcance.

Propõe dissociarmos a observação da compulsão à repetição do acting-out (ação em lugar de recordação): "descarga não significa atuação, mas sim livrar-se do significado do conteúdo, com ou sem atuação". Trata-se de um tipo de descarga precária, muitas vezes relacionada a vivências traumáticas, com níveis insuportáveis de ansiedade, que pode ser observada, por exemplo, em sintomas físicos, lapsos de pensamento, "brancos" na comunicação e abandonos repentinos de análise. A busca de prazer é atingida pela descarga, pela diminuição de tensão.

Sugere que em etapa muito precoce do nosso desenvolvimento psíquico haveria uma função de ligação (binding) atuando e que seria uma preliminar para a possibilidade de descarga promovida pelo princípio do prazer – essa não mais uma descarga de eliminação de tensão, mas sim do prazer de significar, de possibilidade de alcançar representação.

Falhas na ligação ativariam os processos de não ligação, promovendo a destruição (ou não formação) dos elos entre os atos mentais e seus conteúdos (perdendo-se o significado). Sob o efeito não apenas da repressão, mas também da negação, a relação de significado entre os fragmentos não seria reconhecida, alimentando a repetição, resultando em importantes falhas psíquicas e também excitações corporais, já que os impulsos instintivos situam-se na transição entre o somático e o psíquico.

Conclui dizendo que a única forma de fugir da repetição seria a ligação (to bind) que, por sua vez, favorece a possibilidade de incluir o objeto (to link) e assim abrir espaço para o princípio do prazer. Ou seja, a ligação favorecendo o prazer da representação e a objetalização.

Portanto, o demoníaco é o não ligado que promove a compulsão à repetição. O aspecto repetitivo se deve à sua natureza narcísica, à recusa da resposta do objeto. Normalmente o princípio do prazer age ao lado de Eros preservando a vida; é o vigia da nossa vida (Freud, 1938/1976). Entretanto, ao trabalhar ao lado das pulsões destrutivas (estas sim as legítimas aliadas da compulsão à repetição), tornam-se ambos inexoráveis.

Green salienta que tais observações tornam-se possíveis, uma vez que a psicanálise, diferentemente do que se passou com Freud, em contato com as estruturas mentais mais organizadas dos neuróticos e psicóticos, encontra-se hoje mais frequentemente em contato estreito com estruturas mentais menos organizadas, tais como as de pacientes borderlines e psicossomáticos.

Azevedo (2008) levanta questões interessantes: tais impulsos não ligados, não tendo acesso à representação, continuariam agindo corporalmente, mantendo as características de corporeidade, não atingindo a psiquicidade, nos dizeres de Armando Ferrari (2000). Qual sua relação com os elementos beta de Bion? O demoníaco teria a ver com situações catastróficas ligadas ao "terror sem nome" (Bion, 1962).

Acrescento a correlação possível de ser feita com os ataques aos elos de ligação (Bion, 1962) e os registros de linguagem corporais (Ferrari, 2000).

Considerando então as seguintes questões abordadas até aqui, quais sejam: o caráter demoníaco da compulsão à repetição, a relação com os aspectos primitivos, a importância do vínculo com o objeto, a clareza de expressão dos impulsos observáveis nas crianças e a possibilidade de observarmos a compulsão à repetição dissociada do acting-out, aportamos, finalmente, nas dimensionalidades.

 

Dimensionalidades

Os progressos da psicanálise cada vez mais nos instrumentam para o exame mais amplo, profundo e detalhado dos aspectos primitivos da mente. As hipóteses sobre a evolução das identificações self-objeto (no sentido da indiferenciação até a subjetivação), propostas por Meltzer, muito contribuíram para o enriquecimento da visão do processo de desenvolvimento.

 

Unidimensionalidade

Meltzer (1975a) destaca o pioneirismo da contribuição de Ester Bick (1968). Ela propõe o modelo de formação de uma "pele psíquica" que se dá na interação entre a mãe e seu bebê, de forma passiva. Este se vê frequentemente tomado por ansiedades muito intensas, que se manifestam principalmente na forma de choro e tremores. Relaciona essa angústia catastrófica à não integração, que seria um processo mais primitivo do que a desintegração descrita por Klein. Ou seja, o bebê experimenta as partes de sua personalidade sem nenhuma força de coesão: necessitaria que algo semelhante a um invólucro desse conta delas, já que nesse momento ele mesmo não seria ainda capaz disso. Isso seria conseguido por meio de um tropismo por objetos sensuais: pontos luminosos, ruídos, cheiros (especialmente aqueles relacionados à mãe). As experiências sensoriais, acrescidas de uma sensação prazerosa do contato emocional com a mãe, tornam possível que sobre a base das sensações desenvolvam-se as emoções.

Sem sua própria capacidade de contenção, o bebê, não dispondo da "pele psíquica" (continente), teria a vivência de um líquido que, sem algo que o contenha, se esparrama. Ao adquirir esta "pele psíquica" o bebê seria capaz de um processo ativo de contenção. Porém, observa-se que em determinados casos há falhas nesse processo (que podem ser sentidas como buracos em uma pele frágil) e acaba se desenvolvendo o que Bick denomina "pele secundária", ou "segunda pele", à custa, por exemplo, de intelectualização ou de uma "pele muscular".

Meltzer parte daí para criar seu modelo de desenvolvimento que considera características de como são experimentados tempo e espaço (as dimensionalidades) e o tipo de identificação estabelecida com o objeto.

A unidimensionalidade teria a ver com os fenômenos descritos por Bick ligados aos tropismos: self e objeto, espaço e tempo estariam confundidos na estrutura geométrica de pontos. Haveria fragmentos de experiência e predomínio de estado a-mental. Tal como nos lembra Bion (1972), o pensamento só é possível pela realização de distância entre self e objeto, entre espaço e tempo, entre desejo e possibilidade (ou não) de satisfação. Na unidimensionalidade as experiências ficam indisponíveis para memória e pensamento e o prazer, a satisfação possível, consiste na fusão com o objeto, encerrada em um tempo de clausura.

 

Bidimensionalidade

As dimensionalidades apresentam uma alternância dinâmica, entretanto, por questões de clareza é interessante seguirmos uma ordem sequencial.

Os fenômenos relativos à bidimensionalidade são mais facilmente observáveis do que os da etapa anterior. O contato com o objeto seria como estar aderido a uma superfície plana, rasa. Não são bem tolerados os espaços entre o self e o objeto: o prazer, a gratificação é estar grudado ao objeto. A dependência do objeto é extrema; ele é vivido como uma extensão do próprio self, embora, à observação externa, sua necessidade pode não ser tão evidente, o que leva a que nos surpreendamos, por vezes, com a agudeza de um colapso diante de separações: são vivências angustiantes de ruptura de superfície, de rachadura, de arrancamento.

O tipo de identificação é a adesiva: o self estaria identificado com um objeto sem profundidade, sem nenhuma possibilidade de projeção nem de introjeção, uma vez que não haveria a experiência de um espaço mental (envolvido e contido pela "pele psíquica") no interior do qual têm lugar as fantasias, o que resulta numa concretude acentuada, com os objetos confundidos com suas qualidades sensoriais.

Clinicamente, observamos a bidimensionalidade em pessoas "bem ajustadas", apegadas a aspectos externos de aparência, e não a atributos internos, pois tendem a ter dificuldade em estabelecer valores internos próprios. A imitação é um aspecto característico. São pessoas que embora tenham um bom desenvolvimento intelectual, parecem fúteis, com uma mente rasa.

O tempo é vivido como um tempo circular, sem espaço para mudanças ("mesmice"). Acho importante destacar que todas essas experiências têm um importante papel no desenvolvimento mental normal do indivíduo. Winnicott (1945), por exemplo, chama a atenção para a importância que a "monotonia" (a continuidade das experiências) tem para o enriquecimento do mundo interno (estabelecimento de um bom objeto interno). O problema é quando há um predomínio, um enrijecimento em alguma dessas etapas, acarretando prejuízo ao desenvolvimento.

Proponho que a bidimensionalidade se presta à observação clínica das manifestações da compulsão à repetição: a circularidade, o grude, a cópia, a imitação, a manutenção da mesmice, podem ser as repetições necessárias para que se processe o desenvolvimento, ou então, pelo contrário, podem ser responsáveis pela reprodução se opondo ao surgimento do novo, obstaculizando o desenvolvimento, caso prevaleçam as pulsões destrutivas sobre a pulsão de vida.

 

Tridimensionalidade

Aqui se daria a passagem do "não humano" para o "humano". Uma vez que o objeto já se mostrou resistente à penetração, delineia-se um espaço interno e surge a noção da existência de orifícios naturais, com a possibilidade de passagem de conteúdos através deles, o que pode ser controlado por um esfíncter. O surgimento de um "esfíncter mental" propiciaria um controle ativo sobre os conteúdos internos (há resistência à penetração intrusiva), que deixarão de ser tão ameaçáveis. Agora é possível experimentar entrar e sair do objeto, sem correr o risco de cair num "buraco sem fim", ou experimentar o "terror sem nome". Self e objeto são vividos como continentes de espaços potenciais.

Está relacionado aos fenômenos descritos por Klein referentes à posição esquizoparanoide: os processos de projeção/introjeção estão em franca atividade e o tipo de identificação é a projetiva, que pode ser representada pela imagem plástica de pseudópodes em direção ao objeto, passando a controlá-lo desde dentro. Isso está ligado às dinâmicas de afirmação de vontade, de poder, de tirania com relação ao objeto, tão diferentes da aparente docilidade da bidimensionalidade. Podemos dizer que o prazer, a satisfação se relaciona a controlar o objeto.

Quanto ao tempo, sua vivência não é ainda a da linearidade, própria da tetradimensionalidade: é em tempo oscilatório, que permite, entretanto, um entrar e sair (experimentando os diversos compartimentos do self e do objeto), um ir e vir, uma reversibilidade, uma capacidade de previsão (a ausência do bom objeto não mais corresponde à presença do mau objeto).

 

Tetradimensionalidade

O tempo é a quarta dimensão, possibilitada pela luta contra a onipotência que nos retira da esfera do narcisismo. A concepção do tempo na sua linearidade, com o ser humano caminhando em direção à sua morte, é uma aquisição custosa. Leva à necessidade de renúncia da identificação projetiva, passando à identificação introjetiva (não mais uma identificação narcísica). Os sentimentos são os relacionados à posição depressiva de Klein. Percebe-se o objeto total (e não mais parcial) e experimenta-se perda, culpa e necessidade de reparação. Implica responsabilidade e dor. Creio que podemos dizer que o prazer, a satisfação, aqui estariam relacionados não apenas a manter o objeto, mas principalmente nas possibilidades criativas de interagir com ele.

 

Aplicação clínica

Na clínica podemos observar como, da uni até a tetradimensionalidade, se dá a construção da "pele psíquica" de um continente, de um espaço mental fundamental para o desenvolvimento do aparelho para pensar os pensamentos (Bion, 1972). Entretanto, observamos também não apenas a alternância dessas etapas de dimensionalidade em diversos momentos da nossa vida, mas o "desmanche" que a utilização massiva de mecanismos de defesa é capaz de impor ao continente, resultando em esvaziamento interno, em despojamentos crescentes de significado emocional.

Sob o efeito de mecanismos de defesa tais como splitting, mecanismos obsessivos,2 e outros ainda mais primitivos, que podem ser comparados à dissecção (reduzindo por um processo ativo as experiências emocionais a meros eventos isolados), o desmantelamento (Haag, 1982), de totais, os objetos vão se transformando em parciais, dissecados, desmantelados (por um processo passivo de perda de contenção externa, da "pele psíquica"), até chegarmos a um estado a-mental.

Dessa forma, vem-nos progressivamente expulsos dos domínios da função alfa (Bion, 1961), da geração de símbolos, lançados à unidimensionalidade, reduzidos à desmentalização, ao mundo de ausência de significados, sob a égide das pulsões destrutivas (a não ligação, Green, 2007a).

 

Exemplos clínicos

Fabiana, 14 anos

Nasceu prematura, teve problemas de crescimento (precisou tomar hormônio). Os pais são separados, vive parte da semana com a mãe e outra parte com o pai. Vem para análise por um sintoma conversivo: por vezes não conseguia abrir os olhos pela manhã. Aparenta 10 anos e realmente tudo aponta no sentido de um aprisionamento na latência. Apresenta inúmeros registros de linguagem corporais:3 o sintoma que a trouxe para análise, cefaleias, coriza, espirros e tosse frequentes, manipulações do corpo na sessão (mexe no cabelo, na roupa, no sapato, esfarela lenços de papel, jogando bolinhas de papel no chão, ou as enfia embaixo das unhas). Aterrorizada, paralisada, gruda-se à cadeira em que se senta diante de mim, muda. Após algum tempo de análise aceita meu convite para que nos sentemos no chão e joguemos.

Aos poucos o clima vai distensionando e o que acaba acontecendo é que novamente ela se "gruda" ao jogo de palitinhos. Em determinada sessão em que me propõe jogarmos, digo a ela que cansei desse jogo; a sensação de desvitalização pesava sobre mim. Ela fica muito desapontada comigo, mas acaba se sentando ao pé do divã, pega sua pasta e me pede que faça para ela um desenho sobre a primavera. Então escrevo/desenho a palavra primavera, adornada por florzinhas. Isso desencadeou um "diálogo" por meio dos desenhos, em que copiava meus desenhos, imprimindo neles algumas características próprias e eu fazia outros em resposta, ou acrescentava algumas palavras a eles. O tema tinha a ver com o desabrochar da sua sexualidade, a feminilidade, a entrada na adolescência. Todo o contato tinha de ser feito de modo muito cauteloso, porque facilmente Fabiana se assustava e se recolhia. Em meio aos desenhos, em determinada sessão, ela mesma trouxe massinha e fez uma serpente e uma macieira; eu "respondi" fazendo Adão e Eva; ela "replicou" com uma minhoca e uma aranha. Denominei essa atividade de "Jardim do Éden".

Mantínhamos o diálogo por meio dos desenhos/palavras. Houve um momento em que me cansei, mas me contive, lembrando-me de Volpi que explorou exaustivamente o tema de bandeirinhas. Em seguida, foram os tempos de recortes e dobraduras; posteriormente passou a explorar o que denominei "estudos com espelhos d'água" (pessoas, coisas, animais diante de espelhos ou com as imagens refletidas na água) e a seguir seus "estudos com abstratos", até que, finalmente, deitou-se no divã e começou a falar.

Daniela, 5 anos

Vem para análise, pois apresenta importante atraso de desenvolvimento; não tem controle esfincteriano, a fala é pouco evoluída, apresenta ecolalia. Houve época em que andava na ponta dos pés. Apresenta hipotonia, flapping, muita dificuldade de interagir com as pessoas de modo geral, com os colegas da escola em especial. Sensível a ruídos, "defendese" tapando os ouvidos. Refere-se a si como "ela". Enquanto brinca range os dentes, produzindo um barulho estranho. Gosta de manipular um CD próximo aos olhos, ora parecendo interessar-se pelo brilho, ora por sua imagem refletida. Com 40 dias teve meningite viral e ficou 4 dias hospitalizada; acabaram, ela e a mãe, desenvolvendo uma relação fusional.

Estamos no primeiro mês de análise. Brinca no chão, arrastando-se de barriga, movendo as mãos, agitando as pernas; enfileira carrinhos e vai empurrando-os pela sala. N a hora de sair, gruda-se a mim com as mãos e até mordendo a manga da minha roupa. Faço de conta que estamos brincando de carrapato, então eu a desgrudo de mim e oriento a mãe para que a pegue; ela se gruda na mãe.

Após algumas sessões descobre a fita crepe, pega a ponta, entrega o rolo para mim e se afasta, caminhando, até o outro canto da sala, desenrolando a fita. Repete a brincadeira até acabar com o rolo; acaba se grudando, ficando emaranhada num bolo de fita crepe. Sugiro a ela o rolo de barbante. Pega então a ponta e se afasta, depois se aproxima e se afasta novamente. Quando na sessão seguinte pega o rolo de barbante, introduz na brincadeira o contrário: ela fica onde eu estava, com o rolo, e me dá a ponta para segurar, indicando para eu ir para o outro lado da sala, só que ela é quem puxa o rolo. Eu me movo então em direção a ela, seguindo o ritmo e a força que ela imprime ao puxar. Digo coisas do tipo: agora a Thereza foi para longe, agora perto, longe, perto. Ela demonstra muito prazer na brincadeira.

Mauro, 10 anos

Fruto de fertilização assistida, me é apresentado pela mãe pelo que ele não é: não é um menino do modelo tradicional, não gosta de jogar futebol, de brincar com outras crianças, não tem boa coordenação motora, não aceita nenhuma atividade física. Gostava de brincar de alinhar carrinhos quando pequeno; "enfurna-se" no vídeo-game. Tem rompantes de agressividade que assustam os colegas. Com nove meses foi desmamado abruptamente, porque os pais viajaram; com um ano e 11 meses nasceu a irmã que solicitava demais a mãe; com quatro anos a mãe deixou a família por dois anos, para trabalhar fora do Estado.

Estamos trabalhando há alguns meses; ele, logo que entra na sala, senta-se e assim permanece até o final do horário. Sessão após sessão restringe-se a brincar de luta: os índios contra os soldados, os índios entre si para treinarem luta. Rearranja os grupos e eles continuam lutando. É difícil, para mim, suportar a repetição. É clara a identificação com o herói índio: "Lobo Solitário". Ele sozinho é capaz de lutar e vencer a todos. N uma sessão resolve desenhar. Faz um desenho muito elaborado dos reinos de água, terra, fogo, ar, morte e espiritualidade. Descreve as lutas entre eles, até que desenha o reino da luz. Diz então que ali surgiu um grupo de pacifistas. Digo: "Ah, então a luz ilumina, mas não precisa queimar tudo como o fogo!" Mostra-se tocado, surpreso com minha observação e diz: "Boa ideia!" Na sessão seguinte, entretanto, retoma a luta dos índios e soldados…

 

Comentários

Creio que estes fragmentos clínicos se prestam bem a ilustrar a repetição ligada à bidimensionalidade: as sessões se arrastam, o tempo parece não passar, até que, de repente, algo se move e parece que atingimos um outro patamar, para novamente "derraparmos" até que algo possa vir a se mover novamente. Ou seja, nos movemos dentro de uma circularidade e em certos momentos esboça-se um movimento oscilatório, tendendo a outras dimensionalidades.

Com relação a Daniela podemos observar algo bem mais raro, ligado à unidimensionalidade: o olhar grudado ao brilho do CD estaria lhe proporcionando uma vivência de coesão interna, protegendo-a de vivências catastróficas?

Os aspectos de cópia, de grude, de contato com uma superfície plana, enfim, a identificação adesiva, são evidenciados nos desenhos de Fabiana, no seu grude à cadeira, depois ao chão, no arrastar de Daniela pelo chão, no grude de Mauro à cadeira, sua adesividade ao tema de luta. N a forma de Daniela sair da sessão, fica evidente a separação como um arrancamento; ela concretamente tenta levar um "pedaço de mim" dentro da sua boca (o que até sinaliza um espaço interno incipiente).

A diferenciação self-objeto vai encontrando caminhos para se processar: fica mais evidente, para Fabiana, nas suas atividades de recorte, depois nos "estudos com espelhos d´água"; já Daniela dramatiza de forma vívida o fort da de Freud com o rolo de fita crepe (que gruda) e depois com o barbante (que une).

À medida que o trabalho de análise vai propiciando o desenvolvimento da "pele psíquica", observamos fenômenos ligados à tridimensionalidade. Um exemplo é a atividade de Fabiana com massinha, que denominei Jardim do Éden – uma metáfora para a expulsão do Nirvana, do paraíso narcísico: dar a luz a uma mente que dê conta de si, de seu corpo. Seus "estudos abstratos" sugerem o desenvolvimento simbólico se processando, de aspectos mais concretos, ligados ao sensorial, para o conceitual, até chegarmos à linguagem verbal.

Os registros de linguagem corporais de Fabiana, seu semblante aterrorizado, o forte apego ao sensorial que podemos observar em Daniela (sensibilidade a ruídos, ranger os dentes, a manipulação do CD), sugerem que estamos às voltas com aspectos bastante primitivos, que demandam um espaço mental, a construção de um continente que possa conter essas vivências e dar-lhes significado. A falha nas relações com os objetos (presente nas três crianças que apresento), prejudicando o desenvolvimento da "pele psíquica" podese verificar nos fenômenos do tipo "segunda pele": por exemplo, os registros corporais de Fabiana, o flapping de Daniela, mesmo a ecolalia e os movimentos das suas pernas, e a intelectualização de Mauro.

Este parece temer sua impulsividade, as consequências desastrosas que daí possam advir, a tal ponto que se isola e "coloca seu corpo de lado", paralisando-se. Nele podemos observar também aspectos ligados à tridimensionalidade, às dinâmicas da posição esquizoparanoide de Klein. É interessante a nova possibilidade que se acena com o aparecimento do grupo de pacifistas. Será a repetição desse tipo de experiência que consolidará não apenas a construção do continente, mas também a possibilidade de um esfíncter mental, no sentido de que possa conter, modular seus impulsos e emoções, transformando sua agressividade em força.

 

Considerações finais

Quem convive com crianças certamente já teve a oportunidade de observar o prazer que lhes dá a repetição de alguma música, brincadeira ou história que lhes agrade. Nós, adultos, nos cansamos com a repetição, mas para elas é extremamente prazeroso. E não basta repetir: temos mesmo de reproduzi-las fielmente. Isto não apenas está de acordo com o princípio de prazer, mas também evidencia a possibilidade simbólica contida nessa repetição, muito diferente da repetição vazia de significado, desvitalizada.

Ao escrever este trabalho, experimentei muito gosto por tudo que li, pensei, organizei para colocar em palavras. Ao lado disso, entretanto, tive o sentimento de estar presa, colada às teorias que estudei; de algum modo relacionei isso ao próprio tema abordado. Procurei lidar com o fato falando delas, como quem conta uma história.

As possibilidades narrativas são como alinhavos que vão ligando, pouco a pouco construindo um sentido, assim como no trabalho de análise, na relação com o analista, se constrói um continente, promovendo os processos de pensamento – a vida, a origem. Na contramão disso está a repetição esvaziadora, os processos de "desmanche" do continente, pela ação massiva de mecanismos de defesa, ligados às pulsões destrutivas, resultando em despojamentos crescentes de significado emocional – a morte, o fim.

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra
molécula e nasceu a vida. Mas antes havia a pré-história da pré-história
e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o que,
mas sei que o universo jamais começou.

Clarice Lispector, A hora da estrela

 

Referências

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Endereço para correspondência
Maria Thereza de Barros França
[Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP]
Rua Alice Macuco Alves, 141
05434-010 São Paulo, SP
Tel: 11 3022-3319
e-mail: tfranca.tln@terra.com.br

 

Recebido em 5.6.2009,
aceito em 31.8.2009

 

 

1 Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP.
2 Meltzer (1975b) distingue a utilização secundária de mecanismos obsessivos como mecanismo neurótico de defesa contra a ansiedade de separação, da utilização primária como recurso autístico de defesa contra a dor psíquica – um ataque ao mental.
3
Os registros de linguagem são aspectos primitivos da mesma e correspondem a diversas modalidades expressivas, na tentativa de tornar "dizíveis" sensações e emoções. São elementos que tornam a linguagem pensável e dão condição para o surgimento da linguagem propriamente dita ao se expandirem e se diferenciarem de acordo com contextos, exigências e possibilidades. A confluência para a linguagem verbal é favorecida pela promoção do diálogo com a própria corporeidade, pela interação com a psiquicidade. N a verdade, refletem a dificuldade de colocar o corpo em eclipse (Ferrari, 2000).

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