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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.44 no.1 São Paulo  2010

 

EDITORIAL

 

 

Este é o primeiro número realizado pela nova equipe editorial da Revista Brasileira de Psicanálise. Ao iniciarmos uma nova gestão editorial manifestamos nosso principal objetivo: tornar público o pensamento psicanalítico brasileiro, estimular a reflexão e o debate, criando assim as condições para um fecundo intercâmbio com a psicanálise internacional.

Gostaríamos de agradecer ao dr. Plínio Montagna, Presidente da SBPSP, e que já exercera com extrema dedicação o cargo de Editor desta revista, pela oportunidade e confiança depositada quando, no exercício da sua função, convidou-nos para ocupar o cargo de Editor desta publicação. Convite que aceitamos com entusiasmo e responsabilidade. O desafio desta empreitada já está sendo ricamente compartilhado com Alice Paes de Barros Arruda, editora associada, em conjunto com uma motivada, diversificada, além de experiente equipe editorial.

Agradecemos também a Lepold Nosek, editor anterior, pelo criativo trabalho desenvolvido à frente da revista, pelas mudanças implementadas na sua gestão e pela generosidade que manifestou ao longo de algumas reuniões que mantivemos antes e depois de assumir a editoria. Este agradecimento é extensivo a Maria Aparecida Quesado Nicoletti, editora associada, e a toda equipe anterior que mostrou uma especial dedicação pela tarefa editorial e, desde o início, colocou-se à nossa disposição para colaborar e tornar possível esta passagem para que não houvesse rupturas no processo de produção da revista. Agradecemos também o apoio recebido por parte da Assembleia de Delegados e diretoria da FEBRAPSI.

Comemoramos neste ano de 2010 os cem anos de existência da IPA. Efemérides são ocasiões propícias para um olhar sobre trajetórias. Como o futuro – largamente desconhecido – é também um aprofundamento do passado, abrimos este novo trajeto editorial, convidando três colegas para compartilhar com os leitores suas reflexões em torno do presente e do futuro da clínica, a partir do diálogo com o artigo de Freud de 1910, "As perspectivas futuras da terapia psicanalítica".

Apresentamos, deste modo, com os textos de Claudio Rossi, Cíntia Xavier de Albuquerque e Anna-Maria de Lemos Bittencourt, o que será nossa proposta para os próximos números: uma reflexão e debate em torno de questões relativas à atualidade da clínica psicanalítica. Buscamos abrir espaço, a partir de diferentes perspectivas temáticas e diversidade de modelos teórico-clínicos, para os desafios encontrados no exercício clínico na atualidade, para nossas ousadias e perplexidades, nossos sucessos e fracassos, mas, acima de tudo, buscamos destacar o empenho dos colegas no desenvolvimento criativo e consistente da psicanálise.

O leitor encontrará neste número o instigante texto de Leonardo Francischelli, atual Presidente da Federação Brasileira de Psicanálise, sobre algumas passagens da história da IPA e os caminhos na busca de uma maior abertura institucional. Encontrará também trabalhos clínicos e teóricos que mobilizam o psicanalista em várias frentes, assinalando a riqueza e complexidade do exercício da nossa clínica e da reflexão sobre a mesma.

Tomando como mote inicial o que veio a se chamar "patologias atuais", Zelig Libermann nos convoca a uma reflexão sobre a ampliação das possibilidades de atuação do psicanalista e as transformações do lugar do analista na sessão.

Este caminho ganha continuidade e novas perspectivas em dois trabalhos que nos falam sobre o corpo. Nelson Coelho Junior destaca o lugar do corpo na sessão analítica propondo a ideia de uma "experiência de co-corporeidade", Rodrigo Sanches Peres e Manoel Antônio dos Santos abrem novos horizontes para a psicossomática de inspiração psicanalítica a partir da ideia de "psicose atual", contribuição conceitual de Joyce McDougall. Seguem-se trabalhos de natureza clínica: Julio Hirschhorn Gheller nos faz pensar em como a reflexão do analista em torno do exercício clínico pode ser mobilizada a partir de uma experiência de après-coup, e Maria Celina Anhaia Mello convida-nos a mergulhar na intimidade da sua clínica, nas sutilezas das figurações oníricas adultas e nos caminhos polissêmicos do desenho infantil.

Isto nos aproxima do trabalho do sonho e de nossa opção por publicar, como intercâmbio, o texto do André Green, "Do 'Projeto' à 'Interpretação dos sonhos': ruptura e fechamento". Este artigo é um convite à retomada deste lugar entre o espaço do corpo e o espaço do sonho que, como diz o autor: "Entre os dois, o inconsciente, lugar da simbolização primária". O artigo é também apresentado como subsídio ao estudo que muitos colegas vêm desenvolvendo sobre sonhos, interface com as neurociências, e como estímulo para o próximo Congresso da IPA no México, cuja proposta é a reflexão em torno de conceitos nucleares de nosso campo: sexualidade, sonhos e inconsciente.

Por último, uma chamada para o texto de Mauricio Rodrigues de Souza, que aborda no diálogo do psicanalista e do filósofo o "sítio do estrangeiro". Alude a esse lugar paradoxal do outro que interroga constantemente nosso narcisismo e nossas ilusões. O outro é aquele ou aquilo que não está incluído na representação que faço de mim mesmo e alude também à dimensão inconsciente de toda subjetividade. O filósofo Levinas assinala que: "A relação com outro não é uma relação idílica e de harmoniosa comunhão, nem uma empatia na qual possamos nos colocar no seu lugar: o reconhecemos como semelhante a nós e ao mesmo tempo exterior; a relação com o outro é um mistério". Mistério que, para nós analistas, se atualiza na transferência e se faz presente na ideia de vínculo, tema que será objeto de debates e trocas no próximo Congresso da FEPAL, em setembro 2010, em Bogotá: Transferência, vínculo e alteridade.

Para concluir esta já longa apresentação, assinalamos que o trabalho editorial envolve uma dimensão visível, o produto final, mas também uma dimensão invisível sem a qual o resultado não seria possível. Em futuros editoriais compartilharemos com os leitores parte dos nossos bastidores. Destacamos, neste, nosso firme propósito de trabalhar em parceria com os Editores Regionais, representantes das Sociedades federadas na elaboração de pautas, no estímulo aos membros das diferentes Sociedades componentes da FEBRAPSI para publicar seus trabalhos, na indicação de autores e pareceristas e também na importante tarefa de divulgação desta revista.

Além de artigos que contemplem os números temáticos, a RPB mantém-se aberta a todos os colegas que desejem enviar trabalhos sobre temas que estejam pesquisando no momento, já que uma visão da diversidade do pensamento psicanalítico brasileiro é nosso principal objetivo.

Fiel a uma política de abertura científica a Revista Brasileira de Psicanálise permanece acessível a autores que não fazem parte da FEBRAPSI, garantindo assim um espaço democrático e de livre acesso à divulgação da produção psicanalítica escrita de qualidade.

Desejamos a todos uma boa leitura e esperamos que os trabalhos aqui publicados promovam fecundas reflexões que se atualizem em novos textos.

 

Bernardo Tanis

Editor