DEBATE

Reflexões sobre "As perspectivas futuras da terapia psicanalítica" Freud (1910)

As questões relativas à atualidade da clínica psicanalítica configuraram-se nas reuniões de equipe editorial como tema aglutinador do debate psicanalítico contemporâneo. Debate que contempla uma vasta diversidade de assuntos: psicanálise e psicoterapia, condições do enquadre analítico (modificações no setting) em relação às novas patologias, lugar e presença do analista, o corpo na sessão de análise e na teoria, tratamentos combinados psicanálise psiquiatria, psicanálise de casal e família, convergências teóricas e clínicas, psicanálise face às outras práticas clínicas e tantos outros.

Neste ano estamos comemorando os 100 anos de nascimento da IPA. Por ocasião do momento inaugural, no II Congresso Internacional de Psicanálise em Nuremberg, Freud apresentou o trabalho "Perspectivas futuras da terapia psicanalítica". Com este Freud tinha a intenção de iniciar uma série de escritos sobre a técnica e de redigir uma Metodologia psicanalítica, tarefa que nunca consumou. Existem trabalhos anteriores de Freud sobre este tema – "Tratamento da alma" de 1890 e "Sobre psicoterapia" (1904) – e posteriores como "Novos caminhos da terapia psicanalítica" (1919), porém nesta abertura de 1910 há uma preocupação, que coincide com a nossa atual e que também se faz presente no cenário internacional, como já o indica o título.

Estaria em jogo, no texto freudiano, a aposta no desenvolvimento e transformações da psicanálise, inclusive no campo da técnica, que viriam como consequência de novas descobertas clínicas e metapsicológicas que ali se anunciavam. Naquele momento era evidente a confiança na eficácia do método analítico e seus desdobramentos. Como os analistas de hoje nos posicionamos em face destes desafios presentes e futuros?

Para inaugurar o primeiro número da nova editoria da Revista Brasileira de Psicanálise propomos uma reflexão sobre questões relativas à atualidade da clínica psicanalítica, tendo como estímulo para o debate, o artigo de Freud "As perspectivas futuras da terapia psicanalítica" (1910).

Assim, convidamos três colegas, de reconhecido percurso, para que, visando a clínica nos dias de hoje, possam comentar o trabalho de 1910 à luz de seu fio condutor. Propomos o seguinte interrogante: quais são os componentes e dispositivos de uma clínica atual considerados necessários para abrigarem os princípios e os fins do trabalho psicanalítico? Convidamos a todos os leitores a se congregarem em torno deste importante debate e enviarem suas contribuições línicas ou teóricas para os próximos números.

Comissão Editorial