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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.44 no.1 São Paulo  2010

 

CARTA

 

R. Horacio Etchegoyen, vice-presidente honorário da IPA

 

Congresso de Chicago, 20091

 

 

Senhor Presidente, Senhor Ex-Presidente, Senhor Presidente Honorário, Senhor Vice-Presidente Honorário, membros do Diretório, Senhoras e Senhores

Muito me alegra aceitar, em nome de meu pai, a nomeação de vice-presidente honorário que a Assembleia da IPA acaba de lhe outorgar. No momento é a honra suprema que a IPA pode conferir a quem contribui com o desenvolvimento da Psicanálise e de nossa instituição.

Não detalharei os méritos acadêmicos ou clínicos de meu pai, uma vez que eles, acredito, falam por si. No entanto, penso que seria apropriado expor o modo pelo qual ele concebe a IPA como a organização parental de todos os psicanalistas, e lembrar o que ele realizou durante a sua presidência (1993 a 1997), a primeira da América Latina.

Meu pai é um homem com fortes convicções democráticas, que rejeita posições autoritárias, sem por isso abdicar da autoridade, e acredita no valor da lei e na transparência das instituições e das pessoas. Gostaria de dizer umas poucas palavras em relação às três áreas principais enfrentadas por ele durante sua presidência: a relação da IPA com seus membros, a relação da IPA com suas associações componentes, e a relação da IPA com a sociedade em geral.

Com respeito à relação da IPA com seus próprios membros, e de acordo com os princípios gerais já mencionados, a primeira medida que ele colocou em prática ao assumir a presidência foi colocar as atas do conselho executivo (Executive Council) à disposição de todos os membros para sua inspeção. Havia ocorrido um longo mal-entendido entre a confidencialidade clínica e a responsabilidade pública, a transparência e a liberdade de informação. Sob a aparência de proteger o setting analítico, ou as necessidades gerais do movimento psicanalítico, impossibilitava-se a seus membros questionar e até conhecer o que realmente estava acontecendo na Associação Internacional.

A relação entre a IPA e suas associações componentes também atingiu uma mudança significativa. Nosso novo Presidente, o Prof. Charles Hanly, naquele momento encarregado do Comitê de Sociedades, desempenhou um papel decisivo, junto a meu pai, para mudar a filosofia institucional dominante: uma filosofia que, em alguns momentos, percebia-se como intervencionista e, em outros, insensível às questões locais. Um desenvolvimento paralelo naquele período foi o de colocar a ênfase na promoção e no apoio às pequenas associações e aos novos grupos.

Do mesmo modo, a relação entre a IPA e a sociedade em seu conjunto passou a ocupar um lugar de privilégio, sobretudo ético. Uma das maneiras pelas quais essa preocupação manifestou-se foi na autocrítica institucional referente a incidentes em que os membros da IPA estiveram implicados em situações de tortura durante as ditaduras militares sul-americanas. Esse fato havia sido investigado anteriormente até certo ponto, mas foi somente na presidência de meu pai que a IPA aceitou sua responsabilidade como instituição e, sem gestos dramáticos de renúncias ou expulsões, colocou as coisas em seus devidos lugares, conduzindo que o processo legal chegasse a bom termo.

As conquistas nessas três áreas são, a meu ver, tão relevantes hoje como no passado. Freud advertiu-nos, sabiamente, sobre a compulsão à repetição que pode afetar as pessoas, as instituições e os governos. Não foi somente isso que Freud disse. Uma das citações favoritas que meu pai nos recorda é que não existe somente a repetição como fator negativo, mas há o fator positivo da voz da razão, que também se faz presente na vida social. Como o próprio Freud falou, a voz da razão é frouxa, mas não descansa até se fazer ouvir. Nesse sentido podemos nos manifestar contra a compulsão à repetição e contrapô-la com a voz da razão.

Às três áreas que discuti, vale acrescentar mais uma conquista institucional. Meu pai, junto com Ana Maria Andrade de Azevedo, Elisabeth Tabak de Bianchedi, Gunther Perdigão, Jorge Olagaray e Samuel Zysman, dedicou-se a reestruturar as finanças da IPA, então, deficitárias. Quando chegou ao final de seu mandato, um saudável superavit havia sido conquistado, sem o menor aumento nas mensalidades dos membros.

A pedido de meu pai agradeço todos aqueles que o ajudaram durante esses anos: os secretários, os membros da Casa de Delegados, os presidentes das diferentes Comissões e outros colegas que contribuíram de diferentes maneiras.

Pessoalmente agradeço-lhe por ter sido, sempre, um bom marido para minha mãe, um bom pai para seus filhos e um bom avô para seus netos. Sei que neste dia ele vai lembrar- se especialmente de minha mãe, que foi sua infatigável companheira e seu apoio até o dia de sua morte.

Meu pai quer que eu transmita a todos uma mensagem de esperança pelo futuro da Psicanálise, como o método mais eficiente, livre e digno para ajudar os homens e as mulheres do século XXI. Ele acredita decididamente que o futuro da Psicanálise depende de que nós, psicanalistas, defendamos nosso método e aprimoremos nossa eficácia no tratamento dos pacientes. Dessa eficácia depende o futuro da Psicanálise.

Por último, meu pai pede que agradeça especialmente aos doutores Cláudio Laks Eizirik, Mónica Siedmann de Armesto, Virginia Ungar, Carlos Barredo, todos os membros do Board, todos os presidentes das sociedades latino-americanas, diretores da FEPAL e todos os colegas que acabaram de dar a ele o seu voto neste Business Meeting.

 

 

Muito obrigada!

Laura Etchegoyen Chicago, Business Meeting, sexta-feira, 31 de julho de 2009.

 

 

1 Tradução de Marta Úrsula Lambrecht.