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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.44 no.3 São Paulo  2010

 

ARTIGOS

 

O respeito à alteridade e sua importância na constituição do ideal-do-eu: uma reflexão clínica a partir de formas de vinculação na transferência

 

La importancia del respeto de la alteridad en la constitución de Ideal del yo: una reflexión desde las formas clínicas de vinculación en la transferencia

 

Alterity and its importance in establishing the ideal system: a reflection on the clinical forms of binding present in the transfer

 

 

Homero Vettorazzo Filho1

Endereço para Correspondência

 

 


RESUMO

O autor discutirá a ética e as legalidades do ideal-do-eu, considerado em sua condição de instância psíquica. Retoma as origens do ideal a partir de sua relação com a implantação do narcisismo e com os processos identificatórios. A raiz da ética é pensada considerando-se as formas de apropriação do corpo e dos sentimentos do infante pelo adulto sexualizado e, portanto, não apenas como consequência da resolução edípica. O autor apresenta o caso clínico de uma paciente com graves oscilações de humor. Apoia suas intervenções na hipótese de que a ética vigente nas formas da analisanda vincular- se ao seu ideal, e ao analista, se "apresenta" em tais oscilações. O conceito freudiano de regressão é retomado pelo autor que discute a "desidentificação" como possibilidade regressiva, sexualizante, que decompõe o "ideal" na "sombra do objeto". A distinção entre desejo de análise e desejo do analista é considerada sob o vértice da ética do ideal.

Palavras-chave: alteridade; ideal-do-eu; identificação; narcisismo; subjetivação.


RESUMEN

El autor discutirá la Ética e las legalidades del Ideal del yo, considerado en su dimensión de instancia psíquica. Así, va retomar los orígenes de lo Ideal dentro del proceso de implementación del narcisismo y del proyecto de identificación. La Ética no es pensada como simple consecuencia de la resolución del complexo de Edipo. El autor la considera, en sus raíces, como consecuencia de la forma por la cual el niño fue apropiado en su cuerpo y en sus sentimientos por el adulto sexualizado. Un caso clínico de una paciente con serias oscilaciones de humor es discutido. El autor tiene como hipótesis, en la cual apoya sus intervenciones, que las oscilaciones afectivas expresan la ética que prevalece en las maneras de la paciente vincularse a su Ideal y a lo analista. Se trabajará aquí con el concepto de regresión de Freud como un proceso de identificación al revés, en el sentido de un proceso regresivo de sensualizar lo "Ideal" degradándolo en "la sombra del objeto". La distinción entre un deseo de análisis y un deseo del analista será discutida desde el punto de vista de la ética del Ideal.

Palabras clave: alteridad; ideal del yo; identificación; narcisismo; subjetivación.


ABSTRACT

The author will discuss the Ethics and the mandates of the Ideal ego taking into consideration its psychic instance dimension. In this context he will resume the Ideal origin in the process of the implantation of narcissism and in the identification project. Thus the author intends to think about ethics not merely as a consequence of the Oedipus resolution. He considers that ethics is, in its roots, a consequence of the manner through which the infant will have his/her body and feelings appropriated by the sexualized adult. A clinical case of a patient with serious affective oscillations is discussed and the author's hypothesis, in which he supports his speeches, is that such fluctuations express the ethics prevailing in the forms of the patient bind itself to its Ideal and to the analyst. The concept of regression, according to Freud, will be resumed as well as the reverse of the process of identification as a regressive sexualized possibility or, in other words, as the degradation of the "Ideal ego" into "the shadow of the object". The distinction between a wish upon the analysis and a wish upon analyst will be discussed regarding the role of the ideal's ethics.

Keywords: alterity; ideal ego; identification; narcissism; subjectiveness.


 

 

Escrevi este texto como forma de elaborar interrogantes que me propus durante o transcurso de uma análise marcada pelo transbordar de intensidades. No encontro analítico, as palavras, excessivamente investidas pela paciente, ficavam, em função disso, muito empobrecidas em seus recursos simbólicos. A analisanda, uma mulher de 47 anos, extremamente centralizada em si por manter-se aderida às intensidades com que revestia seus sentimentos e vínculos, apresentava-se, sob um olhar mais cuidadoso, "desfeita" nesse pulsional transbordante e dispersivo.

Na ocasião, a paciente encontrava-se em tratamento psiquiátrico com diagnóstico de transtorno afetivo bipolar. Ao longo dos anos, vinha sendo medicada, com pouca melhora sintomática, com as mais variadas combinações de antidepressivos, estabilizadores de humor, neurolépticos e ansiolíticos. A hipótese de um transtorno dissociativo conversivo, ou seja, de histeria grave, era também aventada em função da pouca resposta medicamentosa.

Dentro do possível mantive o trabalho analítico discriminado do acompanhamento psiquiátrico, apesar das frequentes tentativas da paciente e de seus familiares de enredarme nos circuitos – tanto psiquiátrico quanto familiar. Tais circuitos fatalmente se transformavam em palco para múltiplas atuações pulsionais – ao estilo folie à deux, trois, quatre ou mais. Neles – em um angustiante processo desidentificante – eu via a analisanda decompor- se, "exteriorizada" e dispersa, no real da trama que parecia possuí-la.

Na mesma direção do exteriorizar-se, seu sentir invasivo parecia mantê-la constantemente "à flor da pele". Podia ser desencadeado por uma simples palavra, interpretada por ela como elogio ou crítica, ou, então, por um gesto ou por um tom de voz – nos quais ela se sentisse rejeitada ou desejada.

Às vezes chegava a uma sessão "animada". Dependendo do curso da sessão, uma intervenção que a frustrasse ou a remetesse a alguma associação dolorida, era suficiente para que fosse dominada por um apático "desânimo" – uso propositalmente as palavras animada e desanimada para diferenciá-las de alegre e triste, visto que a paciente, em sua sensibilidade intensa e superficial, causava-me a estranha impressão de estar frente a uma boneca vivente em vez de uma mulher viva.2

Nos períodos denominados por ela de depressivos, quando era tomada por uma angustiante apatia, os finais de sessão se transformavam em um intenso tumulto. A separação, encenada como uma expulsão violenta, tinha a tonalidade de uma velada, mas sonora acusação de abandono.

Apesar da riqueza de sentidos contida em sua fala e nos seus apelos, interpretá-los, no caso dessa paciente, levava quase sempre a uma banalização da fala. Sendo uma mulher inteligente, durante décadas de análise ela acumulou um "entendimento" sobre si que, capturado em sua estrutura sintomática, era usado como forma de se explicar, recriminar-se, saturando assim o campo analítico. Além disso, o grau de excitação com que comumente revestia uma interpretação acabava tendo o efeito de esvaziá-la de seu sentido. Não era incomum vê-la se "decompor" ao encarnar uma interpretação. Outra situação comum era ela se interpretar – inclusive com adequação teórica – em sua inveja, até mesmo em sua autoinveja, sua autodestrutividade, seu sadismo, seu masoquismo, sua exclusão, seu abandono, seu Édipo etc. Era desanimador constatar como aquilo que poderia se viabilizar em ressonâncias para uma escuta íntima de si, ficava investido por um excesso que a capturava no real de sua fala, mantendo-a presa, ali, como personagem de seu discurso.

A análise de crianças consistiu em um norte para que eu pudesse pensar minhas falas no trabalho com a paciente. Durante as sessões, inúmeras vezes ocorriam-me cenas de atendimentos nas quais, com a colaboração precisa de meus pequenos analisandos, pude realizar como a significância de minha palavra estava muito mais vinculada ao meu lugar encenado no "jogar" do que ao sentido de seu conteúdo.

Assim, também nessa análise, procurava localizar-me no fantasma encenado na transferência para, a partir daí, contra-agir minha fala.

Algumas vezes, frente ao tom mais grave ou impaciente de minha voz, a paciente reagia mostrando-se ofendida ou intimidada. Em tais circunstâncias normalmente pedia-lhe desculpas por tê-la assustado, assegurando que essa não era minha intenção, mas que, tendo acontecido, seria importante ela se acalmar para juntos usarmos tal experiência como uma forma de pensar o que estava "em jogo". Na maioria das vezes acalmava-se; entretanto, não conseguia perceber nela qualquer indício de que tivesse se tranquilizado com o real da experiência de ter sido escutada e respeitada em seu medo. Parecia apenas vivenciar uma espécie de alívio que ganhava um tom sutilmente acusatório nos suspiros e no silêncio que lhe sucediam. Em tais circunstâncias, não raras vezes, suas associações se seguiam por sucessivos relatos sobre não ser ouvida e considerada – normalmente, pelo marido –, ou, então, por lembranças infantis nas quais a falta de cuidado dos outros com ela ficava evidente.

A indiscriminação na paciente entre o espaço da realidade e o da cena imaginária (script alucinado) em que se via imersa, associada à suas formas maciças de investimento transformaram- se em vértices de observação para minha escuta. A impressão era a de ela estar em uma espécie de excitação sonambúlica, sem poder dormir e sonhar, e na qual o "terror noturno" era muito recorrente.

Certa vez, no decorrer de uma sessão, sentia-me, tal como ela, tragado em seu voraz e devorador mar de lamúrias. Prestando atenção no meu desânimo escutei-me cantando em meu íntimo:

Meu pai Oxalá é o rei, venha me valer.
O Velho Omulu Atotô Abaluaiê3

A melodia, à primeira vista, causou-me a impressão de que um pai estava precisando ser invocado para dar alguma ordem simbólica àquela bagunça pulsional e exercer alguma ação que tirasse a casa daquele abandono. Tal pensamento soou para mim de forma bem humorada e me aliviou um pouco. A música continuava ressoando e comecei a notar que ela tomava, à minha escuta, a sonoridade de uma cantiga de ninar:

O velho Omulu Atotô Abaluaiê…
O velho Omolu Atotô Abaluaiê…
atotô abaluaiê… atotô… abaluaiê…

Lembrei-me de uma situação clínica descrita por Silvia Bleichmar (1994) sobre uma jovem mãe que a consulta em função de seu bebê, de cinco semanas, ficar praticamente acordado durante vinte das vinte e quatro horas do dia, não conseguindo mamar, além de não dormir. Em tais circunstâncias o casal e o bebê se encontravam em um clima de desespero e esgotamento. Bleichmar dispõe-se a observar o vínculo mãe/bebê durante a mamada e troca de fralda, feitas na sua presença, em seu consultório. Durante esses encontros, conversa com a mãe voltando, por meio de suas intervenções, a atenção desta sobre o bebê, sobre sua forma de vê-lo, de tocá-lo, de senti-lo, estimulando-a assim a falar sobre ele, sobre suas fantasias de ser mãe. A jovem vai relaxando, fala sobre seus medos, olha o bebê com curiosidade, faz perguntas e experimenta prazer nessa situação. Instala-se assim algo que a autora vai conceituar como o exercício do narcisismo transvasante materno.

A lembrança da descrição desse caso, das considerações de Bleichmar, o desespero irritadiço da paciente, a música de ninar, abriram minha disponibilidade para ouvir a paciente em sua irritabilidade. Penso que me senti mais livre de minha própria exigência. Animei-me a conversar com ela sobre seu cansaço e sua pouca possibilidade de sonhar. Falamos como esse viver alucinado era difícil e a sessão transcorreu com ela "se acalmando" e sentindo-se visivelmente mais vitalizada.

Em outra situação, posterior, na qual o sentimento de ser tragado pelo nada também dominava, percebi-me de novo em minhas cantorias internas. A canção desta vez era:

Ai minha mãe, minha mãe, menininha
Ai minha, mãe menininha do Gantois
A estrela mais linda, hein?
Tá no Gantois …
O consolo da gente, ai Tá no Gantois
E a Oxum mais bonita, hein?
Tá no Gantois
Olorum quem mandou essa filha de Oxum
Tomar conta da gente e de tudo cuidar
Olorum quem mandou ô ô Ora iê iê ô …
Ora iê iê ô … Ora iê iê ô.4

Foi interessante perceber que dessa vez o sentimento que acompanhava a canção não tinha a sonoridade de cantiga de ninar; parecia um lamento, um sentimento de solidão, de querer colo, diferente daquele desamparo mais informe, de se estar desesperado, irritado, perdido no meio de uma excitação sem saída. Talvez influenciado por meu sentimento, percebi uma tonalidade também diferente no nada da paciente. Ela pareceu-me mais triste. Resolvi investigar. Ocorria-me como ideia ela estar se vendo esquecida em seus sentimentos de solidão e de isolamento. Falar disso, entretanto, seria introduzir seguramente um estímulo excitante que não sabia qual destino tomaria. Optei por perguntar-lhe: O que você está procurando? Ela respondeu: Estou sem forças, triste. Não estou procurando nada. Mobilizado ainda por essa intuição de estar perdida em uma solidão triste, contestei: Nada, talvez seja o que você encontrouO que eu estou te perguntando é sobre: o que?quem?você está procurando?

Pudemos conversar sobre seus sentimentos de tristeza, cuidando para que ela não fosse tomada por eles. Falou-me, de forma menos dramatizada e encarnada, da sua invisibilidade frente ao olhar da mãe. Optei por não fazer nenhuma interpretação de sentido sobre o conteúdo de suas lembranças. Apenas assinalei – visando interessá-la por si – que parecia tratar-se de uma questão importante visto que frequentemente, em nossa relação, percebia nela o mesmo tipo de olhar sobre o qual estava me falando. Quando animada seu olhar ficava "saltitante" e estando deprimida ficava vago e insatisfeito, mas sempre transparente. Assim, conhecer suas formas de se olhar, e também de olhar para a vida, parecia ser uma proposta importante para ela considerar.

Tal "império dos sentimentos"5 e de "personagens à procura de um sujeito"6 davamme a clara indicação de que essa mulher precisava ser implicada em constituir-se subjetivamente, apropriando-se da força do seu sentir. Isso me remetia à constituição da subjetividade e ao narcisismo como condição estruturante do eu – questão que tento configurar neste texto para colocá-la em discussão dentro do trabalho analítico.

 

Regressão e transferência: o desfazer regressivo da "identificação" (e do eu) nas "figuras" amadas da infância

Freud (1899/1976a) em carta a Fliess, tratando de suas preocupações sobre as "escolhas da neurose", retoma sua pergunta sobre por que uma pessoa se torna histérica e não paranoica. Diz Freud:

O estrato sexual mais primitivo é o autoerotismo, que age sem qualquer fim psicossexual e exige somente sensações locais de satisfação. Depois dele vem o aloerotismo (homo e heteroerotismo); mas certamente também continua a existir como corrente separada. A histeria (e sua variante, a neurose obsessiva) é aloerótica: sua principal trajetória é a identificação com a pessoa amada. A paranoia desfaz novamente a identificação; restabelece todas as figuras amadas na infância, que foram abandonadas e reduz o próprio ego a figuras alheias. … As relações especiais do autoerotismo com o ego original projetariam viva luz sobre a natureza dessa neurose. Nesse ponto o fio se rompe.7 (p. 377)

Ao dizer que a paranoia "desfaz novamente a identificação; restabelece todas as figuras amadas na infância, que foram abandonadas e reduz o próprio ego a figuras alheias", Freud (1899/1976a) abre o caminho para a postulação de noções fundamentais que desenvolverá em "Introdução ao narcisismo" (Freud, 1914/2004) quando, ao tratar do ideal-do-eu e da consciência moral – base de suas concepções sobre superego – vincula a voz dos pais da infância à origem das legalidades presentes nos mandatos dessas instâncias. Fica claro, acompanhando a obra de Freud, que tais mandatos não se reduzem a simples ordens formais. São mandatos em que as palavras podem encarnar em si – realizar – um imaginário no qual o indivíduo se encena em um jogo pulsional atuado como efeito do desejo onipotente do outro.

Nem sempre a articulação desse imaginário encontra derivação suficiente no registro simbólico em que o indivíduo já pode se pensar, abstraindo-se da cena, para assim enunciar-se como sujeito. As fixações nas cenas imaginárias também nos fazem pensar na participação do outro nesse jogo sempre atravessado por um sexual à procura de realização, e do qual não temos ciência. Freud (1909/1976bbb) alude a isso quando relata em seu historial sobre o Homem dos Ratos o episódio no qual o paciente, ainda menino, durante um confronto rivalizante com o pai, começa a dirigir-lhe xingamentos com muita raiva. Por falta de vocábulo, usa palavras comuns em tom ofensivo. O pai perplexo – e mobilizado em seu inconsciente – profere em tom ameaçador: "o menino ou vai ser um grande homem, ou um grande criminoso". Tal mandato ainda ecoava no imaginário do paciente quando, adulto, procurou Freud, estando na base de seus fantasmas sadomasoquistas – como os da famosa tortura dos ratos – assim como nas dúvidas obsessivas que o torturavam moralmente.

Freud (1909/1976d) promove ainda nesse texto outras aberturas para pensarmos questões sempre pulsantes em nossa clínica. Uma delas eu contextualizaria nas formas regressivas assumidas pelo odiar/amar relacionadas, respectivamente, segundo o autor, à interferência e à realização do desejo sexual. De qualquer maneira me interessa marcar que Freud nos alerta para o componente do sexual infantil8 que pode investir o amor e o ódio.

Tal contexto me parece importante para considerar as intensidades que revestiam os sentimentos experimentados pela paciente em situações de júbilo e decepção. Na experiência analítica tais sentimentos apareciam transmutados em roteiros com teor de um verdadeiro sadomasoquismo canibal. Interpretá-los explicitamente resultava sempre em "pôr mais lenha na fogueira". Assim, para desarmá-los, aprendi ser mais efetivo esquivarme deles, deslocando-me para um lugar diferente daquele que me era frequentemente destinado. A saber, o lugar de criador em relação de gozo ou de decepção com sua criatura, ou de mestre que tem na discípula sua realização. Parece-me que agir recusando o lugar "antiético" que me era oferecido poderia servir à paciente como um modelo de se cuidar e considerar-se eticamente, opondo-se a se colocar como criatura nas mãos das exigências de seu ideal – condição que denunciava o caráter pulsional desses mandatos.

Acredito ser muito importante a consideração da erotização do amor e do ódio visto que nessa condição o objeto perde sua condição de alteridade para ficar reduzido à função de objeto pulsional. Tal situação resulta em condições clínicas especialmente preocupantes, pois pelo investimento excessivo de sua fala, tais pacientes acabam por se decompor regressivamente nos personagens de seu discurso, em uma espécie de real onírico (sonambúlico) no qual narrador/narrativa se confundem em uma excitante e inesgotável trama.

É nessa trama que nos é imposto pensar o factual da realidade, da sessão e de nós mesmos. Neste sentido, um modelo que pode ser útil é o da figurabilidade dos sonhos no qual temos a degradação9 regressiva da palavra e do pensamento em imagens sensoriais cuja materialidade reside nas inscrições das marcas mnêmicas, base de nosso fantasiar inconsciente. Considerar essa condição tornou-se um pano de fundo importante para minha escuta.

Ainda no contexto das configurações assumidas na transferência por tal trama, retomo a proposta freudiana de considerar a regressão um desfazer – regressivo e alucinado – das "identificações" em "figuras amadas e abandonadas na infância", ou seja, nos objetos de investimento e de configuração do infantil – assim restabelecidos, por captura indiciária, na realidade que ganha, portanto, um colorido alucinado.

É interessante notar que o movimento regressivo traz em si claramente uma função desobjetalizante, visto que o retorno no real das figuras primariamente investidas tem como efeito um processo de desidentificação, tanto de si como do objeto.

Tal processo de desidentificação acarreta uma fragilidade na trama de articulação simbólica do eu que, nessas condições, vive a percepção endopsíquica de si como risco de invasão e desmoronamento, passando então defensivamente a percebê-la como estando fora de si. Condição que, por sua vez, predispõe à aderência (compulsiva) do eu em pessoas ou em situações da realidade transformadas em indícios por sua ressonância com o primitivo denegado internamente. Como efeito da captura nessa condição, a desimplicação subjetiva, a desubjetivação tanto de si como do objeto e a compulsividade, consistem em sério entrave ao trabalho com tais pacientes.

Desta forma, a intuição clínica de Freud sobre os processos regressivos abre caminhos importantes para a escuta no trabalho psicanalítico. Em função desta dimensão regressiva assumida pela palavra, o discurso do paciente e a palavra do analista devem ser considerados implicados com o contexto universal da regressão onírica. Tal deve ser o embasamento metapsicológico quando se propõe que a escuta de uma sessão analítica deve corresponder à de um sonho, ou quando se discute o sonhar do analista durante a sessão. Associada a isso, a hipótese de Freud (1917/2006) sobre ser a identificação o mais antigo traço de vínculo com o objeto, nos permite conceber os processos regressivos transferenciais como formas de pensar o acesso e a intervenção psicanalítica nestes tempos primeiros e constitutivos do aparelho psíquico e da subjetividade. Tal condição nos conduz a considerarmos:

O narcisismo como ato estruturante na constituição do eu e como base para a constituição das legalidades do sistema de ideal-do-eu

Seguindo a trilha marcada por Freud, retomo a noção do Narcisismo como condição estruturante para a constituição do eu e do ideal-do-eu – considerados em sua implicação no processo de subjetivação e como base da estruturação da consciência moral e do superego.

As relações entre "corpo, imagem e eu" estiveram sempre presentes nas teorizações psicanalíticas. No contexto do corpo pensado como base primordial para as representações do eu, o narcisismo viria como expressão de um novo ato psíquico que se impõe contra a dispersão autoerótica que se apresenta no corpo erógeno. Na constituição desse processo, seguindo o pensamento freudiano, ressaltaria duas funções psíquicas estruturantes: o recalque originário e o processo identificatório. É na condição de identificação que Freud (1923/2007, p. 42) propõe a constituição do eu-ideal e sua retranscrição no sistema de ideal-do-eu. Diz, assim, que subjacente ao eu-ideal "esconde-se a primeira e mais significativa identificação do indivíduo, aquela com o pai da sua própria pré-história pessoal. Em um primeiro momento, essa identificação não parece ser a consequência nem o resultado de um investimento objetal, pelo contrário, ela é uma identificação direta e imediata, anterior a qualquer investimento de objeto".10

No que diz respeito a "uma identificação direta e imediata, anterior a qualquer investimento de objeto", somos levados a pensar o processo identificatório em um contexto anterior ao descrito por Freud (1917/2006, p. 109) em "Luto e melancolia", quando o definiu como "uma primeira etapa de como o eu escolhe os objetos". Penso que Bleichmar (1994) ao especificar a função narcisisante materna, na dupla função exercida pela mãe, ajuda a dimensionarmos o caráter dessa identificação que precede a escolha de objeto. Diz ela: "Ser pensado pelo outro é condição de vida em sua persistência. Ser amado e ser pensado implicam uma não apoderação do corpo por parte do outro: o próprio corpo só chega a ser próprio porque alguém, generosamente, cedeu uma propriedade de si mesmo, da qual se deve tornar alheio". (p. 4)

No mesmo contexto dessa identificação direta, Aulagnier (1979/1985) cunhou a noção de sombra falada em sua concepção de projeto identificatório, enfatizando que, antes mesmo de nascermos enquanto sujeito, estamos marcados, em nossa origem, pela antecipação de um eu construído a partir do discurso que a mãe produz sobre o corpo do infante, encarnando-o enquanto "sombra falada" e inscrevendo-o em uma ordem temporal e simbólica. Tal discurso se dá em uma dimensão muito além de um simples código lingüístico, já que não se trata somente de palavras; é um ato de se dirigir a um outro que alude tanto à mãe – implicada em seu desejo –, quanto à criança – incluída como destinatária desse enunciado e, portanto, da projeção desse desejo.

Fica assim nitidamente delineado o duplo que investe a constituição narcísica, base do processo identificatório. Ao mesmo tempo em que uma mãe sonha o filho como sujeito humano semelhante, com autonomia nos projetos futuros que inventa para ele, portanto, com possibilidades transgressivas, ela o toma também sob a forma de objeto-causa de seu desejo e com isso o tem como realização pulsional sexual.

Bleichmar (2006) antecipa a questão ética – entendida radicalmente como reconhecimento da alteridade – para esse início da vida, considerado em relação aos tempos de fundação do psiquismo e aos processos envolvidos na estruturação do eu, de seus Ideais (eu-ideal/ideal-do-eu), e do supereu, implicados, por sua vez, na construção da subjetividade, inclusive em sua dimensão ética. Deslocada assim, para antes da resolução edípica, a ética é considerada em relação às formas de apropriação do corpo e dos sentimentos da criança, que pode ser tratada pelos adultos como extensão de suas próprias necessidades, ou seja, como objeto parcial de descarga de suas pulsões, sejam elas prazerosas ou angustiantes. A condição traumática instituída pela franca dependência da criança em relação ao adulto sedutor e cuidador, incita tal "abuso afetivo", como o denominou Freud (1909/1976d, p. 293).

As crianças formulam quem são em correspondência direta ao que ouvem de certas propostas do adulto. Muitas vezes tais proposições, apesar de mascaradas com emblemas culturais, visam à erotização da criança como objeto de realização do adulto no que diz respeito a seu sexual inconsciente. A introjeção de tal condição acarreta também uma erotização dos processos constitutivos do ideal-do-eu. Penso que é a erotização do ideal-do-eu que está na base da demanda pulsional em que, na melancolia, a sombra do objeto faz sobre o eu (Freud, 1917/2006). Tal abuso afetivo se configurava em minha paciente na sua forma alienante de se posicionar como objeto de pulsão frente ao outro ou ao seu ideal.

Também a noção de sombra falada (Aulagnier, 1979/1985) dá figurabilidade e movimento à colocação freudiana, no sentido de sua articulação com o sistema de ideais-doeu. A autora propõe que a persistência do equivalente de tal sombra falada se reencontra sempre no horizonte da relação libidinal do eu com seus ideais – de si mesmo ou com aqueles projetados na relação com o outro. Assinala, entretanto, a importância de que tal distância entre a sombra e o objeto investido seja, desde as origens, reconhecida. Tal condição implica que a dúvida, o sofrimento, a agressão, possam ser vividos – tanto pela mãe quanto pela criança – nos momentos em que não se assegura a concordância entre sombra e objeto. Caso contrário, tal sombra falada, em vez de abrir perspectiva de porvir, pode transformar-se em assombração excitante devoradora e devorante, degradada no "real psíquico" do objeto pulsional que a habita. Este me parecia ser o desafio transferencial a ser vivido nesta análise.

As implicações clínicas de tais considerações impõem que nos posicionemos frente à imprecisão empobrecedora que recobre a conceituação de narcisismo, para pensarmos estratégias de abordagem desta condição no tratamento. Considerando o narcisismo movimento identificatório estruturante que resulta na "constituição" de outro semelhante, considerado em sua alteridade, ficam as questões: Como articular esta condição às escolhas narcísicas de objeto? Neste último contexto: o que é objeto de amor e o que é objeto de pulsão? Como ocorre o imbricar recíproco destas condições? Ou, em outras palavras, o que é narcisismo como forma de estruturação e desenvolvimento do eu? E o que é narcisismo que tem no próprio eu (nas representações imaginárias de si) ou no outro (vivenciado como continuidade indiscriminada de si) um objeto de satisfação do pulsional infantil?

É importante marcar que o narcisismo como estruturante, como força ligadora, integradora – ato psíquico fundante do ego e dos processos de subjetivação – deve ser diferenciado do gozo narcísico como expressão do sexual pulsional parcial que, ao procurar descarga total, desconstroi, degrada regressivamente, tanto o objeto como o eu, no "real psíquico" da coisa/objeto complementar à pulsão.

 

A alteridade e a ética do ideal: uma reflexão clínica a partir das formas de vinculação transferenciais

Não aguento mais viver assim… Não quero mais viver assim… Não tenho vontade de nada… Não consigo levantar da cama… Fico lá, com o travesseiro tapando meus ouvidos, encolhida, imóvel, não quero ouvir barulho, movimento, nada. São tantos anos assim. Tanta análise, tratamento, remédios… Não muda nada… Não aguento mais viver assim…

Falas, como estas, frequentes e persistentes, dominavam nossos encontros, mas principalmente os desencontros. Percebia-me tomado por reações e pensamentos que geralmente me soavam como defensivos. Tinha a impressão de poder ser arrastado por um turbilhão – também despertado em mim – para um buraco negro: um mundo de trevas onde só existia lugar para culpa, autorrecriminação, decepção e conformismo.

Estávamos em um dos tais encontros em que o nada imperava meio a uma fala que denunciava um profundo vazio quando, de passagem, ela diz que, estando extremamente mal ao sair do consultório no dia anterior, subiu até a cobertura do prédio com a intenção de suicidar-se. Encontrou, entretanto, a porta de acesso trancada. Prosseguiu discorrendo sobre seu desejo de morrer como possibilidade de silenciar o tumulto em que se encontrava e não aguentava mais. Ficou então em silêncio.

Percebi-me em um impasse. Por um lado, sentia-me com raiva, irritado – no fundo ofendido11 –, atingido pela violência que, configurada em um circuito tinto de ambivalência e rivalidade oral, visava-me na condição de objeto pulsional seu. Sabia também, mais do que nunca, que devia des-sexualizar minha intervenção; o que não significava neutralizá-la ou distanciar-me. Qualquer distanciamento em tal condição era transformar fogo em incêndio. Além disso, pela experiência desenvolvida no contato analítico, sabia que a paciente era extremamente vigilante às mínimas entonações flagradas em minha voz. Por outro, impunha-se, até como forma de proporcionar à paciente um modelo alternativo, uma intervenção que não me tornasse complacente, como objeto complementar, ao seu império do sentir. Fazia-se necessário usar meu desejo de análise como força mobilizadora de seu interesse sobre si enquanto sujeito, em oposição a um corpo erógeno disperso. Mais dono de meus sentimentos, minha primeira ação, neste sentido, foi a de chamá-la pelo nome. Se estivesse em estado sonambúlico seria bom acordá-la para que pudesse interpretar seu sonho. Pareceu-me também ser conveniente, tal como em outras situações em que ficava imersa em tamanha letargia, provocá-la – sem desafiá-la – com questões. Não sabia o que dizer sobre a intencionalidade de seu ato de suicidar-se pulando do prédio de meu consultório, mas sabia que não podia deixar de estranhá-lo e de significá-lo no confronto transferencial direto com ela.

Perguntei-lhe: Fulana, não te chama atenção, para quem não tem desejo nenhum, você resolver se matar jogando-se do prédio em que tenho consultório? Sua resposta, como usual, veio de imediato esvaziando minha pergunta à medida que afirmava minha importância para ela e que a escolha do meu prédio foi oportuna. Chamando-a novamente pelo nome pedi para que repetisse minha pergunta. Não tinha certeza de que ela a havia escutado para poder considerá-la antes de responder. Fez isso, ao mesmo tempo em que voltou a ater-se em suas explicações. Interrompi, marcando que sua resposta só reforçava minha questão:

Por que, já que me admira tanto, resolve matar-se bem em cima da minha cabeça?

Irritada, ela contesta:

Será que você não viu que não tem nada a ver com você? Sou euEu. Eu que não aguento mais viver, eu que não quero mais nadaNão tem nada a ver com você.

Nesse momento estava chorando intensamente, mas sem contato com o que estávamos tratando. Após permanecer em silêncio por um tempo, volto a perguntar, contrapondo- me a seu choro:

Você não acha estranha essa sua forma de consideração e de amar? Você se diz tão grata a mim e, ao mesmo tempo, nada tem a ver comigo. Não sou considerado em nada? Você resolve se matar, quase que na minha frente, sem se interessar em saber se isto vai me atingir, o que vai causar para mim?

Mais calma, ainda chorando, me diz:

Sei que sou egoístaMas não quero causar mal para você. Você pensa que não me matei até hoje por quê? Que não penso em meus filhos? No mal que posso causar a eles? Minhas amigas falam isso para mim, mas eu não estou aguentando mais.

Frente à sua tentativa em desfazer-se nas suas autorrecriminações e de diluir o propósito e a singularidade de seu trabalho de análise generalizando-o no contexto de outras relações suas, interrompo-a:

Fulana, você não está realmente me entendendo. Eu não sou suas amigas e o que estou tratando com você é diferente daquilo que vocês conversam. Estou, há alguns anos, seriamente interessado em trabalhar com você suas formas de funcionamento mental, tais como essa que estamos agora discutindo: de você, em muitas atitudes suas, não se levar em consideração fazendo o mesmo com pessoas que você diz gostar.

Percebendo que a paciente parou de chorar e que, pega de surpresa, está impactada e atenta, volto a perguntar:

O que pensa sobre o que estou lhe dizendo?

Desta vez não responde de imediato:

Não quero ser assimVocê sabe, não gosto de fazer ninguém sofrerFico com raiva das pessoas quando me sinto abandonadaNós já conversamosParece que só eu sofroque tudo é comigoMas você sabe que não quero machucar ninguém.

Penso ser importante não deixar que o apelo sedutor venha "desconversar" o confronto:

Não, fulana, eu não sei nãoE penso que você também não sabe. Também não estamos aqui para discutir suas boas intenções até porque, como diz a sabedoria popular, de boas intenções o inferno está cheio. O que sei de minha experiência com você é que, quando sofre, você fica extremamente moralista e radical. Parece que todo mundo está lhe devendo algo. Aliás, penso que é exatamente disso que estamos tratando agora. Não vou concordar que me trate da mesma forma com a qual se trata quando está decepcionada. Sofrer é uma coisa, se excitar com seu sofrimento ou com a raiva que decorre dele machucando você ou a mim, é outraAí está uma questão para você considerar. (Pausa). Outra questão importante é que no seu sofrimento você perde a noção que somos dois aqui. Você não é bonequinha minha para me dar prazer ou para eu te castigar, se estiver mal humorado, irritado. Eu também não sou bonequinho seu.

Depois de um silêncio pergunto-lhe:

O que pensa disso?

Ela me diz:

Lembrei-me da minha mãe. Uma vez ganhei da minha madrinha uma boneca que queria muito. Minha mãe não deixava brincar com ela para não estragar. Guardava-a trancada em um armário e às vezes, quando não estava deprimida, estava de bom humor, me deixava brincar. Eu namorava aquele armário. Um dia, acho que passou muito tempo, ela abriu o armário e a boneca estava com o rosto derretido.

A associação da paciente me emocionou. O abuso afetivo, sua fixação naquele corpoarmário – urna funerária – da qual parecia não ter nascido. Optei por tomar sua lembrança no contexto que estávamos trabalhando. Pontuei:

Talvez seja o caso de você não trancar no armário o que estamos trabalhando; talvez isso te ajude a sair dele.

Ela me surpreendeu dizendo:

Acho que estou precisando acabar de construir minha cara para sair dele.

Mais tarde, pensando a sessão, pareceu-me ter "acontecido", no encontro analítico com a paciente, o confronto que ela não consegue ter com as exigências de seu ideal, a saber, o de se posicionar em sua alteridade como sujeito desejante, que constrói sua própria cara.

A condição regressiva implicada no processo de desidentificação expõe, inclusive na transferência, o sexual em curso que infiltra o processo de constituição do Ideal considerado em sua relação e derivação com a condição estruturante do narcisismo.

A consideração de tais discriminações faz sentido no meu trabalho clínico, visto que a palavra e a posição do analista e do analisando na cena analítica, podem estar a serviço de uma cena fantasmática marcada e disfarçada no gozo transferencial e, portanto, na degradação do simbólico, apesar do brilho de seu uso. Não devemos esquecer que pelo fato de ser secundária às primeiras inscrições, a palavra, como significante, alude a aspectos da sexualidade inconsciente – que correspondem aos excessos exercidos na maneira como as funções dos cuidados primários com a criança são realizadas – situando-se, portanto, para além da significação que o discurso do adulto possa representá-la. Tal condição deve sempre ser lembrada ao considerarmos as formas com que um analisando nos escuta e nos fala, assim como suas maneiras de reagir à nossa fala e à forma com que se vê escutado.

A função narcisisante, em seu caráter instaurador do recalque do autoerotismo e de constituição do simbólico, ganha uma importante função promotora de subjetivação na clínica – visto que sua proposta de renúncia da criança como objeto-causa de desejo e de satisfação pulsionais, implica a assunção e simbolização da falta. Não deve ser confundida com maternagem, com aconselhamentos ou com meros reasseguramentos, que, ao contrário, estão a serviço exatamente do oposto, ou seja, da resposta no real do encontro criador/ criatura e, portanto, da morte do desejo pela sua realização no real.

 

Referências

Aulagnier, P (1985). Os destinos do prazer. Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1979)         [ Links ]

Bleichmar, S. (1994). A fundação do inconsciente. Porto Alegre: Artes Médicas.         [ Links ]

Bleichmar, S. (2006). Seminários em São Paulo. Texto não publicado.         [ Links ]

Fédida, P. (1999). Depressão. São Paulo: Escuta.         [ Links ]

Freud, S. (1976a). Carta 125. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (L. A. Hanns, trad., Vol. 1, p. 377). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1899)         [ Links ]

Freud, S. (1976b). Notas sobre um caso de neurose obsessiva. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. L. A. Hanns, trad., Vol. 10, pp. 157-252). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1909)         [ Links ]

Freud, S. (2004). À guisa de introdução ao narcisismo. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. L. A. Hanns, trad., Vol. 1, pp. 95-131). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1914)         [ Links ]

Freud, S. (2006) Luto e melancolia. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (L. A. Hanns, trad., Vol. 14, pp. 99-122). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1917)         [ Links ]

Freud, S. (2007) O ego e o id. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (L. A. Hanns, trad., Vol. 3, pp. 11-92). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1914)        [ Links ]

 

Endereço para correspondência

Homero Vettorazzo Filho
[Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP]
Rua João Moura, 647/94 Pinheiros
05412-911 – São Paulo, SP
e-mail: hvetorazzo@uol.com.br

 

[Recebido em 26.7.2010, aceito em 28.8.2010]

 

 

1 Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP. Professor do Insituto Durval Marcondes da SBPSP. Professor e Supervisor do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.
2 Fédida (1999) ressalta que em certas situações depressivas se produz defensivamente uma imitação do vivo, carregando o sujeito para mais perto de sua morte. A vida é empurrada para longe demais em sua imitação de vivente.
3 Meu Pai Oxalá, letra e música de Toquinho e Vinícius de Moraes.
4 Oração da Mãe Menininha, letra e música de Dorival Caymmi.
5 Alusão ao filme de Nagisa Oshima (1975).
6 Parafraseando a peça Seis personagens à procura de um autor, de Luigi Pirandello (1921).
7 Destaque em itálico do autor.
8 Uso aqui o infantil no contexto proposto por Laplanche de não reduzi-lo à noção de infância, mas ao que pulsa ainda em nós, na base de nossos fantasmas, à procura de simbolização possível.
9 Uso degradação no sentido de retornos regressivos às "gradações" primeiras de inscrições representacionais, não tendo, portanto, conotação moral.
10 Grifos do autor.
11 Transformar minha ofensa em indignação foi uma tarefa que concebi ao longo do trabalho. A ofensa tem um estatuto pulsional mais próximo ao gozo narcísico, portanto, de me colocar como objeto de satisfação ou a ser satisfeito em minhas expectativas. A indignação tem um estatuto mais ético de ser desconsiderado em minha alteridade.