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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.45 no.2 São Paulo abr./jun. 2011

 

LANÇAMENTOS

 

Lançamentos

 

 

Bion e a psicanálise infantil Interações entre os indivíduos e nos grupos

 

 

Luisa Carbone Tirelli (organização – Itália)
Anne Lise S. Scappaticci (organização e tradução – Brasil)
São Paulo: Primavera Editorial, 2011, 154p.

Organizadora e tradutora da edição brasileira dessa obra, Anne Lise S. Scappaticci apresenta aos leitores brasileiros os capítulos que fazem parte de uma edição especial em homenagem a Bion, realizada pela Revista Richard e Piggle. Essa edição foi organizada na Itália por Luisa Carbone Tirelli e Vincenzo Bonaminio e publicada por Il Pensiero Scientifico Editore, em 1998. Os textos testemunham o esforço de alguns analistas na busca de unir o vértice de Bion, que tem como pano de fundo a experiência emocional em curso, e a análise de crianças pequenas. Embora Bion não tenha tratado diretamente de crianças pode-se perceber em toda sua obra a referência ao sofrimento emocional infantil e à importância, para o bom desenvolvimento emocional da criança, da relação mãe/bebê. Na análise de crianças pequenas a tarefa analítica acaba por estimular sentimentos fortes, primitivos e básicos no analista, no analisando e no grupo que observa a experiência do par analítico. Este e o grupo irão constituir uma nova história diante das condições emocionais originais da criança. Os textos de Bion sempre suscitaram o interesse de analistas que tratam da dinâmica de grupos, que trabalham com crianças mesmo bem pequenas, com adolescentes e com pacientes psicóticos. Este livro recolhe alguns trabalhos significativos sobre os temas que dão vida, por meio de material clínico, às extraordinárias hipóteses teóricas de Bion sobre o funcionamento do pensamento e os processos de conhecimento. Pode-se perceber como os conceitos de Bion transcendem os limites da atividade terapêutica convidando à exploração de técnicas de intervenção em situações que vão além da clínica comum alcançando a técnica grupal e institucional, favorecendo e sustentando o analista no difícil contato com aspectos do funcionamento primitivo e caótico da mente. Com essa ideia fundamental nos são apresentados em sequência os textos: "Interações precoces entre indivíduos e nos grupos", de Luisa Carbone Tirelli; "A contribuição de Wilfred R. Bion à psicanálise infantil", de Parthenope Bion Talamo; "A evolução das relações objetais", de Donald Meltzer; "Sentimentos de Aniquilação em situações de proximidade e de dispersão em condições de distância", de Johan Norman; "Sobre a prática de psicoterapia de grupo com as crianças", de Pierre Privat e Dominique Quelin; "O Grupo Social é Sempre um Instrumento de Mudança Evolutiva?", de Luisa Carbone Tirelli.

 

Cartas a um jovem psicanalista

 

 

Heitor O'dwyer de Macedo
São Paulo: Perspectiva, 2011, 321p.

Heitor de Macedo, psicanalista brasileiro, radicado na França, autor de algumas obras significativas, nos apresenta esse livro que se inscreve numa longa tradição, a do gênero epistolar, o qual possibilita um campo cômodo e flexível para que o autor discuta as mais variadas questões. Com tal recurso instiga no leitor indagações sobre pontos obscuros da teoria psicanalítica apresentando em novos contextos assuntos já antes investigados na história da Psicanálise. Nessa obra encontramos uma ampla variedade de tópicos, mostrando a riqueza oferecida pelo autor: questões ligadas ao setting, ao processo analítico, à psicopatologia, à leitura de Freud e de outros autores. Mostrando grande discernimento e estilo cativante, o autor conduz seu leitor por meandros da Psicanálise, comentando obras de colegas, criticando atitudes arrogantes ou de exagerada idealização a mestres da Psicanálise, comentando sobre racionalizações feitas a respeito do fracasso de alguns tratamentos e assim por diante. Distinguindo-se do que habitualmente se encontra, Heitor de Macedo nos introduz em seu mundo interior, sua preocupação permanente com o que denomina "estar vivo", tema retomado de Winnicott, a cuja obra dedicou-se bastante. Recordando-se de sua própria formação, presta homenagem a seus mestres, sempre num tom de sinceridade e gratidão, buscando incessantemente aquilo que faz de alguém um analista e até mesmo aquilo que o impede de ser. Seus quarenta anos de prática clínica nos são oferecidos com muita verve e inteligência.

 

Bergson ou os dois sentidos da vida

 

 

Frédéric Worms
São Paulo: Unifesp, 2010, 384p.

A filosofia de Bergson tem sido objeto de grande interesse por parte dos psicanalistas, não apenas por conta do filósofo ter sido contemporâneo de Freud com quem teve algumas afinidades além de distintas diferenças, mas principalmente pelas inquietações que esta filosofia traz ao pensamento psicanalítico. A presente obra versa sobre o movimento que une os quatro principais livros de Bergson: Ensaio sobre os dados imediatos da consciência, Matéria e memória, A evolução criadora e As duas fontes da moral e da religião. Frédéric Worms lança a hipótese de compreender a distinção original estabelecida por Bergson - entre duração e espaço - como uma diferença entre os dois sentidos da vida, de maneira a compreender tal distinção, a uma só vez, como teórica e prática, não apenas delimitando dois conceitos isolados, mas também duas condutas. Seu pensamento, alinhado à tarefa mais antiga da filosofia, quer não somente pensar, mas intervir na vida para reformá-la ou transformá-la. O autor pretende indicar uma hipótese sobre a origem do pensamento de Bergson e seu alcance mais profundo, sobre o lugar de sua filosofia na história, indicando que se há uma distinção na origem do pensamento deste filósofo trata-se de uma distinção precisa entre o tempo, ou melhor, duração e o espaço.

 

Perdemos pessoas queridas, saúde, emprego...

É possível aprender com essas experiências?

Uma abordagem psicanalítica em torno do tema

 

 

Paulina Cymrot, Claudio Castelo Filho e Cassio Rotenberg
São Paulo: Página Um Editorial, 2010, 67p.

Os autores nos convidam a enfrentar as necessidades de processamento das transformações psíquicas das experiências de luto. Levando-se em conta os aspectos invariantes da realidade externa, uma vez que em face de nossos limites frente à supremacia da mesma, torna-se clara a relevância dos aspectos internos - imagens psíquicas - na sustentação ou resolução, elaboração, das experiências dolorosas do luto. A partir disso, abre-se a questão: Que fatores estão presentes nas raízes das experiências de luto e qual o possível caminho para sua boa transformação? Conforme o leitor atento poderá verificar e refletir, essa "desilusão dolorosa", inerente à vivência de perda/luto, corresponderá à supremacia da realidade sobre o desejo infantil onipotente - conforme discorrido por Claudio Castelo Filho, ao golpe narcísico - segundo Cassio Rotenberg, e, inexoravelmente, ao sofrimento do indivíduo - conforme assinalado por Paulina Cymrot quando destaca o fato de que "ninguém se separa de si mesmo". Instiga-se o leitor a refletir sobre nossa impossibilidade em garantir que nossos entes amados estejam sempre vivos e "ligados" a nós, mas aponta-se para a alternativa de mantê-los vivos e "ligados" dentro de nós.

 

Traumas não elaboráveis

Clínica psicanalítica com crianças

 

 

Márcia Porto Ferreira
São Paulo: Zagodoni, 2011, 127p.

Avaliar as consequências geradas, num psiquismo ainda em formação, por experiências de brutalidade intensa que excedem em muito os recursos disponíveis para processá-las é o tema central dessa obra. A partir do atendimento a crianças que privadas de modo súbito e violento de suas mães passaram a ser submetidas a abusos físicos, por vezes sexuais, pelos adultos encarregados de seus cuidados, pode a autora observar os efeitos devastadores de tais vivências chegando a denominá-las de "sombras deixadas na constituição psíquica". Retomando a distinção freudiana entre neuroses de transferência e neuroses traumáticas, refinando seu estudo até cunhar o conceito de "trauma não assimilável" e inspirando-se nos importantíssimos trabalhos da psicanalista Silvia Bleichmar, que estudara pacientes caracterizados pelo conceito de "transtorno" porque submetidos a condições gravíssimas, a autora aprofunda sua concepção tanto das causas como do possível tratamento do ocorrido a estas crianças. O livro se baseia no atendimento psicanalítico a crianças institucionalizadas em abrigos coletivos que carregam em sua história uma dramática separação de seu objeto de amor primordial. Tal trabalho levou a autora à compreensão de que tais crianças haviam sofrido verdadeiros "traumas", cuja noção é examinada em profundidade por meio do estudo das obras de Winnicott e Ferenczi, a partir de sua própria experiência clínica.

 

Primitive Agony and Symbolization

 

 

René Roussillon
London: Karnac Books, 2011, 250p.

Agora oferecida aos leitores da língua inglesa, nessa obra o renomado psicanalista francês René Roussillon apresenta suas ideias relativas aos distúrbios narcísicos. O autor estabelece um modelo em termos de uma sequência de típicos processos mentais nas diferentes formas de patologia narcísica, apoiado em sua inquestionável experiência clínica. Inicialmente nos convida a explorar a natureza das agonias primitivas e a examinar os processos de simbolização que permitem ao sujeito alcançar a apropriação subjetiva daquilo que é vivo. Depois, criando um diálogo com aqueles autores que considera terem oferecido contribuições significativas sobre o assunto, especialmente Winnicott, Ferenczi, Stern e investigadores das neurociências, procura desenvolver um modelo unitário dos processos que promovem, de diferentes maneiras, as patologias narcísicas. Oferece um modelo que é uma alternativa e uma complementação ao modelo freudiano do que é usualmente considerado ser o problema neurótico. Seu objetivo é extrair uma sequência de processos mentais que possam ser vistos como distúrbios narcísicos típicos, descrevendo como são estruturados juntamente com sua função intra e intersubjetiva, baseando-se na hipótese de um padrão defensivo que é estabelecido para opor-se ao efeito de um trauma primário cindido e à ameaça que se projeta sobre a mente e a subjetividade.