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Revista Brasileira de Psicanálise

versión impresa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.46 no.4 São Paulo oct./dic. 2012

 

INTERFACE

 

Alteridade, dialogismo, heterogeneidade: nem sempre o outro é o mesmo1

 

Otherness, dialogism, heterogeneity: the other is not always the same

 

Alteridad, dialogismo, heterogeneidad: no siempre el otro es el mismo

 

 

Beth Brait

Professora Doutora, Livre-docente em Linguística pela Universidade de São Paulo USP

Correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo deste artigo é apresentar o pensamento bakhtiniano como conjunto de conhecimentos produzidos, em diálogo, por intelectuais, cientistas e artistas que nasceram no final do cza-rismo e que, ainda hoje, interessam às Ciências Humanas, à Linguística, à Literatura. Especialmente nos anos 1920, eles se envolveram em importantes debates, interessados em apresentar novas posturas em relação à linguagem, ao discurso, à estética, à filosofia e à ética, dialogando polemicamente com o marxismo ortodoxo, com tendências dominantes tanto na psicologia como na filosofia, com o estrutu-ralismo, a estilística, o formalismo e, até mesmo, com a nascente psicanálise. O autor que empresta seu nome a esse pensamento, Mikhaïl Mikhálovich Bakhtin (1895-1975), pode ser caracterizado como o filósofo da linguagem, tendo vivido e produzido até a década de 1970. Dentre os conceitos que chegam ao século XXI, destaca-se dialogismo, fundado na relação constitutiva eu/outro, esteio dessa perspectiva dialógica da vida e da linguagem.

Palavras-chave: pensamento bakhtiniano; círculo; dialogismo; outro; polifonia.


ABSTRACT

This article aims at presenting the Bakhtinian thought as a group of different sets of knowledge produced, in dialogue, by intellectuals, scientists, and artists who were born at the end of czarism and who are, even today, of interest to the Human Sciences, Linguistics, and Literature. Especially in the 1920s, they were involved in important debates, interested in presenting new theoretical approaches to language, discourse, esthetics, philosophy, and ethics, polemically discussing with orthodox Marxism, with domineering tendencies both in psychology and in philosophy, with structuralism, stylistics, formalism, and even with emerging psychoanalysis. The author who characterizes this thinking and lends his name to it, MikhaïlMikhálovich Bakhtin (1895-1975), can be characterized as the language philosopher. He lived and produced until the 1970s. Among the concepts which have reached the 21st century is dialogism, based on the I/other constitutive relation, which is the support for this dialogic perspective in life and in language.

Keywords: bakhtinian thought; the circle; dialogism; the other; polyphony.


RESUMEN

El objetivo de este artículo es presentar el pensamiento bajtiniano como un conjunto de conocimientos producidos, en diálogo, por intelectuales, científicos y artistas que nacieron al final del zarismo y que, aún hoy, se interesan por las Ciencias Humanas, la Lingüística y la Literatura. Especialmente en los años 1920, estos se involucraron en importantes debates, interesados en presentar nuevas posturas en relación al lenguaje, el discurso, la estética, la filosofía y la ética, dialogando deforma polémica con el marxismo ortodoxo, con tendencias dominantes tanto en la psicología como en la filosofía, con el estructuralismo, la estilística, el formalismo e, incluso, con el naciente psicoanálisis. El autor que presta su nombre a dicho pensamiento, Mijaíl Mijáilovich Bajtín (1895-1975), puede ser caracterizado como el filósofo del lenguaje, habiendo vivido y producido hasta la década de 1970. Entre los conceptos que llegan al siglo XXI, se destaca el dialogismo, fundado en la relación constitutiva yo/otro, apoyo de esta perspectiva dialógica de la vida y del lenguaje.

Palabras clave: pensamiento bajtiniano; círculo; dialogismo; otro; polifonía.


 

 

Considerações necessárias

Um membro de um grupo falante nunca encontra previamente a palavra como uma palavra neutra da língua, isenta das aspirações de outros ou despovoada das vozes de outros. Absolutamente. A palavra, ele a recebe da voz do outro e repleta de voz do outro. No contexto dele, a palavra deriva de outro contexto, é impregnada de elucidações de outros.
(Bakhtin, 2008, p. 232).

O que hoje se denomina pensamento bakhtiniano não se restringe a Mikhail M. Bakhtin e seus trabalhos, embora ele seja o núcleo desse pensamento. Trata-se de conhecimento produzido, em diálogo, por intelectuais, cientistas e artistas que nasceram no final do cza-rismo, vivenciaram a Revolução de 1917 e as mudanças que marcaram por décadas a URSS (União Soviética), e que pela proximidade com Bakhtin e por assinarem algumas obras, integram o que pesquisadores contemporâneos denominam Círculo de Bakhtin. Dentre eles, destacam-se: Valentin N. Voloshinov (1895-1936); Pavel N. Medviédev (1891-1938); Matvei I. Kagan (1889-1937); Lev V. Pumpianski (1891-1940); Ivan I. Sollertinski (1902-1944); M. Yudina (1899-1970); K. Vaguinov (1899-1934); B. Zubakin (1894-1937).

Os principais textos que delineiam esse pensamento chegaram aos poucos ao Ocidente, graças a publicações posteriores à escrita, reedições, coletâneas, pesquisas em arquivos (ainda não finalizadas), traduções com autoria nem sempre mantida de edição para edição (caso dos trabalhos assinados por Bakhtin/Voloshinov e Bakhtin/Medviédev). Dentre esses trabalhos, considerando-se a provável data de escrita, a primeira publicação e a tradução brasileira, destacam-se: Para uma filosofia do ato responsável (Bakhtin, 1920-1924/2010); A palavra na vida e a palavra na poesia (Voloshinov/Bakhtin) (1927/2011)2; O freudismo: um esboço crítico (Voloshinov/Bakhtin, 1927/2001); O método formal nos estudos literários: introdução crítica a uma poética sociológica (Medviédev/Bakhtin, 1928/2012); Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem (Voloshinov/Bakhtin, 1929/1979); Problemas da poética de Dostoiévski (Bakhtin, 1929/1963/1981/2008); A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais (Bakhtin, 1965/2010); Questões de literatura e de estética: a teoria do romance (Coletânea póstuma, Bakhtin, 1975/1988), que reúne os seguintes textos: "O problema do conteúdo, material e forma na arte verbal" (1923/1924/1988); "O discurso no romance" (1934-1935/1988); "Formas de tempo e de cronotopo no romance (ensaios de poética histórica)" (1937-1938/1988); "Da pré-história do discurso romanesco" (1940a/1988); "Epos e romance (Sobre a metodologia do estudo do romance)" (1941/1988); "Rabelais e Gogol (Arte do discurso e cultura cômica popular)" (1940b/1988); Estética da criação verbal (Coletânea póstuma, Bakhtin, 1979/1992/2003), que reúne os seguintes textos: "Arte e responsabilidade" (Bakhtin, 1919/2003); "O autor e a personagem na atividade artística" (19201930/2003); a respeito de Problemas da obra de Dostoiévski (1924/1927/2003); "O romance de educação e sua importância na história do realismo" (1936-1938/2003); "Os gêneros do discurso" (1951-1953/2003); "O problema do texto na linguística e nas outras ciências humanas. Uma experiência de análise filosófica" (1959-1961/2003); "Reformulação do texto de Dostoiévski" (1961-1962/2003); "Os estudos literários hoje (Resposta a uma pergunta da revista Novi Mir)" (1970/2003); "Apontamentos de 1970-1971" (1970-1971/2003); "Metodologia das ciências humanas" (Final dos anos 1930/início de 1940/2003); "Conferências sobre a história da literatura russa" (1920/2003).

A tendência atual de empreender novas reflexões em torno dessas obras está respaldada pelas descobertas feitas a partir de arquivos e publicadas em russo - Obras reunidas3, possibilitando o conhecimento de trechos desconhecidos, notas, anotações, omissões, elementos que trazidos para a arena dos estudos da língua, da linguagem, do discurso, ajudam a compreender melhor cada texto, o conjunto que os engloba, o contexto em que foram produzidos, as articulações existentes entre eles.

Os trabalhos e suas traduções, se por um lado deixam ver que algumas obras são indiscutivelmente de Bakhtin, assinadas por ele em todas as edições russas e nas traduções -caso, por exemplo, de Problemas da poética de Dostoiévski (2008), A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais (2010) e das coletâneas póstumas Estética da criação verbal (2003) e Questões de literatura e de estética: a teoria do romance (1975/1988), em outras, como Marxismo e filosofia da linguagem:problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem (MFL) (1929/2009) e O método formal nos estudos literários: introdução crítica a uma poética sociológica (MFEL) (Medviédev, 1928/2012), para ficarmos apenas em duas, as assinaturas oscilam: um dos nomes - MFL: Bakhtin ou Voloshinov; os dois: Bakhtin e Voloshinov, Voloshinov e Bakhtin; em MFEL, acontece coisa semelhante, sendo a combinatória Bakhtin/Pavel Medviédev. Até o momento, sem estudos suficientes para resolver com fundamentos científicos o enigma das assinaturas disputadas, resta reconhecer que as obras em seu conjunto, e não os autores empíricos, é que impulsionam essa nova maneira já histórica de enfrentar a linguagem e suas produtivas consequências para as Ciências Humanas.

O conceito de linguagem que emana do conjunto dessas obras, comprometido não com uma tendência linguística ou uma teoria literária, mas com uma visão de mundo que, na busca das formas de construção e instauração do sentido, resvala pela abordagem linguístico/discursiva, pela teoria da literatura, pela filosofia, pela teologia, por uma semiótica da cultura, por dimensões entretecidas. Não há apenas interesse específico pela produção estética e pelas formas de estudá-la, mas intrincados diálogos com várias vertentes do conhecimento, caso do neo-kantismo, da fenomenologia, do marxismo, do freudismo, do formalismo, da linguística, da estilística, da biologia, da física e da matemática.

O conjunto desse pensamento filosófico/estético/linguístico se oferece como a busca da compreensão das formas de produção de sentidos, apontando para uma ética/estética da linguagem, a qual engloba vários conceitos centrais, inovadores, estabelecendo relação entre linguagem, sujeito, vida, responsabilidade. Dentre eles, e funcionando como grande guarda-chuva, destaca-se dialogismo, maneira filosófico-antropológica de encarar a linguagem e o ser humano. A compreensão desse conceito depende, necessariamente, de conceitos que se inter-relacionam, se interdependem: respondibilidade (responsabilidade e resposta), signo ideológico, enunciado concreto/enunciação, texto, discurso, relações dialógicas, gêneros do discurso, plurilinguismo, forças centrífugas e centrípetas, tema e significação, interação discursiva, entonação (avaliação social), polifonia, polêmica velada e aberta, formas e graus de presença do discurso de outrem em qualquer discurso, esferas de produção, circulação e recepção de discursos, dentre outros. Dialogismo não se confunde, portanto, com diálogo como estrutura de comunicação face-a-face. Há dialogismo em qualquer acontecimento que envolva sujeitos em interação discursiva.

 

1. Que outro?

Desde os primeiros escritos do grupo, observa-se que a concepção de sujeito implica dimensão histórica e social, relação constitutiva com os outros, quer esses outros sejam reais, imaginários, personificados, definidos ou indefinidos. Pelas relações dialógicas, conceito que se define como objeto da reflexão bakhtiniana, caracterizado como arena de valores ideológicos, estabelecem-se identidades e diferenças, constantemente em fronteira, em tensão, constituídas na e pela linguagem, quer verbal (oral ou escrita), visual, verbo-visual. Sem poder abarcar neste artigo as singularidades de cada trabalho dos membros do Círculo, assim como os trabalhos especificamente filosóficos que caracterizam a produção de Bakhtin, o objetivo é sugerir que um dos eixos do pensamento Bakhtiniano está na busca das formas e dos graus de representação da heterogeneidade constitutiva do sujeito e da linguagem. O texto O autor e a personagem na atividade estética, por exemplo, tem forte vocação para discutir, em profundidade, a questão da relação eu/outro, tanto na vida como na arte, aí incluída a pesquisa, especialmente nas Ciências Humanas.

O conceito de outro se diferencia de outras vertentes do conhecimento que também adotam outro como parâmetro epistemológico. Trata-se do outro discursivo, ideológico e interacional. O percurso para a construção desse conceito pode ser flagrado em praticamente todas as obras, quer sejam assinadas Bakhtin, Voloshinov ou Medviédev. Em Marxismo e filosofia da linguagem, o autor, discutindo a questão do signo, da palavra, da interação e das relações estabelecidas entre psiquismo e ideologia, aponta para o que se poderia chamar de alteridade constitutiva. As afirmações selecionadas a seguir podem ser tomadas como gestos de Bakhtin/Voloshinov em direção à construção da concepção dialógica de outro:

Por certo, todos os índices sociais de valor dos temas ideológicos chegam igualmente à consciência individual que, como sabemos, é toda ideologia. Aí eles se tornam, de certa forma, índices individuais de valor, na medida em que a consciência individual os absorve como sendo seus, mas sua fonte não se encontra na consciência individual. O índice de valor é por natureza interindividual (Bakhtin/Volochinov, 1997, p. 45).

[...] O signo ideológico é o território comum, tanto do psiquismo quanto da ideologia; é um território concreto, sociológico e significante (p. 57).

Ao trabalhar de forma pioneira o discurso citado como enunciação na enunciação, reação da palavra à palavra, discurso no discurso, recepção ativa do discurso de outrem, MFL contribui para a configuração do outro e sua participação na constituição do sujeito e das identidades, surpreendendo-o como discurso presente no discurso, forma de heterogenei-dade que aponta para dois ângulos: o outro como discurso e o outro como receptor. E a obra passa a fazer significativas considerações sobre essa dimensão constitutiva da linguagem e do ser humano:

Como na realidade, apreendemos o discurso de outrem? Como o receptor experimenta a enunciação de outrem na sua consciência, que se exprime por meio do discurso interior? Como é o discurso ativamente absorvido pela consciência e qual a influência que ele tem sobre a orientação das palavras que o receptor pronunciará em seguida? Encontramos justamente nas formas do discurso citado um documento objetivo que esclarece esse problema. Esse documento, quando sabemos lê-lo, dá-nos indicações, não sobre os processos subjetivo-psicológicos passageiros e fortuitos que se passam na "alma" do receptor, mas sobre as tendências sociais estáveis características da apreensão ativa do discurso de outrem que se manifestam nas formas da língua (Bakhtin/ Volochinov, 1997, p. 146).

A partir de agudas observações, o autor traça uma espécie de história das formas de citação. Articulando formas de citação e gênero, percorre o discurso literário, sem deixar de mencionar o retórico, o jurídico, o político, aportando em obras de sua época. Essa obra, em termos da discussão em torno da concepção de outro, acena para um trabalho paralelo, assinado exclusivamente Bakhtin: Problemas da poética de Dostoiévski.

 

2. O duplo

Na obras de Dostoiévski, Bakhtin encontra a matéria-prima para o estudo da alteridade, da interdiscursividade, do confronto de vozes, das formas de presença do outro na vida e no discurso, com grande alcance para a reflexão filosófico-literária. O grande escritor russo, instalando-se na longa tradição vinda do diálogo socrático, da sátira menipéia e do "sério-cômico" em geral, engendra, segundo Bakhtin, o gênero polifônico por excelência. Ler a obra de Bakhtin sobre Dostoiévski significa acompanhar um dos momentos mais expressivos da concepção bakhtiniana de outro, surpreendida na tessitura polifônica do conjunto da obra do criador de Crime e castigo. Significa, dentre várias outras coisas, defrontar-se com uma longa e profunda análise em que temática, problemática e discurso entrecruzam-se com criativa precisão para explorar a dimensão da alteridade, a constitutiva relação eu/outro, com suas consequências ideológicas, éticas e estéticas.

Há, entretanto, uma delas que pode ser considerada exemplar. Trata-se da novela O duplo (Dostoiévski, 2011), uma peça literária que fornece material perfeito para análises psicológicas ou psicanalíticas, mas que nas mãos de Bakhtin será observada como construção discursiva, como trama sintática das formas de presenças de vozes que se espelham, que se mimetizam, que se antagonizam, expondo os conflitos existentes entre mesmo/outro. Com extremo rigor, Bakhtin perseguirá no texto as várias formas de presença da palavra do outro, do discurso do outro no discurso do protagonista, descrevendo, analisando e apontando as consequências das diferenciadas relações suscitadas no que diz respeito a esse discurso, advindo ficcionalmente da projeção e desdobramento do mesmo em outro.

Há uma dimensão caracterizada como a tentativa empreendida pelo protagonista de simular sua total independência em relação ao discurso do outro, marcada discursivamente por repetições, ressalvas, prolixidades, cujo resultado na novela é a nula tentativa da personagem convencer-se, animar-se, acalmar-se, representando o outro em relação a si mesmo. Há uma outra dimensão caracterizada como a vontade do protagonista de não dar atenção a si mesmo, de misturar-se na multidão, de tornar-se invisível. E, ainda, uma terceira forma de relação com o discurso do outro, que se caracteriza pela concessão, subordinação a esse discurso, resignada assimilação como se ele de fato pensasse assim.

Para analisar essas três dimensões, cujas marcas estilístico-discursivas constituem a originalidade e a beleza desse texto de Dostoiévski e, ao mesmo tempo, um achado, uma das peças de resistência para o desvendamento dos conceitos de outro, alteridade, vozes, polifonia e dialogismo, Bakhtin descreve e analisa vários aspectos da "materialidade linguística", dos fios discursivos que vão constituindo vozes e estabelecendo conflitos constitutivos desse sujeito e de sua linguagem. Assim, observa diálogos do protagonista consigo mesmo, demonstrando pela análise de vários trechos, de que maneira o diálogo permite substituir com sua própria voz a voz de outra pessoa (p. 245, grifo do autor), possibilita ao protagonista tratar a si como a uma outra pessoa. Essas vozes são flagradas, em um primeiro momento, como sendo a segunda segura, calma e autossuficiente, e a primeira insegura e tímida. Não podendo ser fundidas em uma só, vão ganhando autonomia, vão dialogando de forma con-flitiva. O mesmo e o outro, o sujeito e suas vozes constituintes, vão projetando diferentes identidades, diferentes personalidades por meio de vozes discursivas que se defrontam, surpreendidas na pontuação, no vocabulário, nas construções sintáticas, e não simplesmente nos conteúdos dos diferentes momentos narrativos.

A análise vai surpreendendo esse jogo entre o mesmo e o outro no nível da narração de orientação dialógica, apontando estratégias como a segunda voz do protagonista se fundindo à do narrador, a interferência de duas vozes, as entonações zombeteiras, a fusão dissonante de réplicas, fenômenos que Bakhtin caracteriza como essenciais na sintaxe de O duplo. A análise feita por Bakhtin fornece os elementos para a concepção de outro, tomando para isso um texto literário que, do ponto de vista do tema e da construção, dá conta da complexidade do que se pode entender por alteridade, sujeito cindido, heterogeneidade discursiva, polifonia, dialogismo. Como em um jogo de espelhos, a análise ilumina uma nova dimensão do texto de Dostoiévski e, ao mesmo tempo, é esse texto que fornece os motivos para que Bakhtin constitua de fato sua concepção de outro, ancorada basicamente na linguagem e na ideologia.

É esse trabalho sobre Dostoiévski que abriga, mais claramente, o conceito de polifonia, na medida em que não são simplesmente as palavras do outro o que Bakhtin destaca, mas a consciência do outro e o processo dialógico estabelecido pelas formas de relação eu/outro. O quinto e último capítulo, "O discurso em Dostoiévski" tem significado especial para os estudos do discurso em geral e, consequentemente, de polifonia, alteridade e heterogeneidade, reiterando o Bakhtin filósofo da linguagem. Nele o autor discute um aspecto que merece destaque por ser fundamental à compreensão do que se denomina alteridade constitutiva (quer do sujeito, quer da linguagem). Partindo do pressuposto de que as relações dialógicas são o verdadeiro objeto dos estudos da linguagem, Bakhtin realiza um minucioso exame do discurso do ponto de vista de suas relações com o discurso do outro. Considera, inicialmente, o discurso bivocal, o emprego ambíguo do discurso do outro como o principal objeto de sua preocupação. Dessa perspectiva, faz uma classificação detalhada dos diversos tipos de bivocalidade: estilização, paródia, skaz4 , diálogo, polêmica velada, discurso polêmico interno, dialogismo velado, polêmica aberta, réplica.

Esse conjunto de reflexões sobre o discurso possibilita a análise de Dostoiévski sob luzes inovadoras para os estudos da linguagem em geral e para a compreensão da prosa literária como instância privilegiada para a captação e representação do dialogismo, da polifonia, da tensão de vozes, que na fronteira entre eu/outro constituem sujeito e linguagem em um universo de valores. Isso significa que a análise estilístico-dialógica dos fenômenos produzidos por palavras e acentos de outrem na consciência e no discurso do herói, refratadas linguisticamente em ressalvas, repetições, palavras atenuantes, variadas partículas e interjeições, estão, segundo Bakhtin, necessariamente ligadas a mundos sociais específicos e têm em comum: "[...] o cruzamento e a interseção de duas consciências, de dois pontos de vista, de duas avaliações em cada elemento da consciência e do discurso, em suma, a interferência de vozes no interior do átomo" (Bakhtin, 2008, p. 242). PPD visa, portanto, à caracterização do discurso polifónico, da polifonia, das formas de presença da alteridade, do outro como constitutivo do discurso.

 

3. De um outro a outro

Esse conceito de outro, discursivamente surpreendido, vai reaparecer, ser aproveitado e desenvolvido em outros textos, como é o caso dos ensaios, de diferentes momentos, reunidos em Questões de literatura e de estética: a teoria do romance (1975/1988) e A cultura popular na Idade Média e no Renascimento (1965/2010). Entretanto, é possível considerar, para efeito deste artigo, a ideia central de que o conceito de outro, em Bakhtin e nos demais membros do Círculo, foi construído a partir de reflexões sobre a linguagem como condição humana constitutiva, levando em conta a dimensão psíquica, que ele aborda pela consciência e pela ideologia, a interdiscursividade que atravessa o sujeito e impede a homogeneidade.

Apenas para sinalizar que nem sempre o outro é o mesmo quando se recorre a perspectivas epistemológicas diferentes, é possível, sem ser especialista em Psicanálise (muito longe disso e apenas visando o público desta revista...), reconhecer que essa vertente do conhecimento tem no outro uma dimensão também fundante. O Dicionário de psicanálise (Roudinesco & Plon, 1998), excelente especialmente para quem está longe de ter familiaridade com a psicanálise, pode oferecer uma (dentre outras) concepção de outro, bastante distante da de Bakhtin e do Círculo:

[...] termo utilizado por Jacques Lacan para designar um lugar simbólico - o significante, a lei, a linguagem, o inconsciente, ou, ainda, Deus - que determina o sujeito, ora de maneira externa a ele, ora de maneira intra-subjetiva em sua relação com o desejo. Pode ser simplesmente escrito com maiúscula, opondo-se então a um outro com letra maiúscula, definido como outro imaginário ou lugar da alteridade especular. Mas pode receber a grafia grande outro ou grande A, opondo-se então quer ao pequeno outro, quer ao pequeno a, definido como objeto(pequeno)a (p. 558).

Em primeiro lugar, é necessário considerar que Lacan

[...] situou a questão da alteridade, isto é, da relação do homem com seu meio, com seu desejo e com o objeto, na perspectiva de uma determinação do inconsciente. [...] Por isso é que cunhou uma terminologia específica (outro/outro) para distinguir o que é da alçada do lugar terceiro, isto é, da determinação pelo inconsciente freudiano (outro), do que é do campo da pura dualidade (outro) no sentido da psicologia (Roudinesco & Plon, 1998, p. 558).

Essa característica - alteridade como determinação do inconsciente - instaura a diferença básica em relação à alteridade pensada por Bakhtin e o Círculo. Se o Outro com maiúscula não coincide com a concepção bakhtiniana de outro, tampouco o outro com minúscula, uma vez que o pensamento bakhtiniano afasta-se radicalmente das concepções psicológicas e psicanalíticas da alteridade. A alteridade lacaniana tem suas raízes no inconsciente e, por essa razão, não é confundida com a alteridade concebida e tratada por Bakhtin. Isso não significa, entretanto, que não se possa, sem confundir as duas concepções, trabalhar o outro bakhtinianamente como ideologia, e lacanianamente como inconsciente, assegurando na linguagem os possíveis pontos de diálogo.

 

4. Palavras incertas

O exemplo da possibilidade de uma certa articulação pode ser encontrada nos trabalhos da linguista francesa Jacqueline Authier-Revuz, que ao promover a descrição e a tipo-logização das formas de heterogeneidade, estabelece a compatibilidade, a cumplicidade, entre o outro bakhtiniano e o outro lacaniano. Embora não caiba aqui a descrição minuciosa das dezenas de trabalhos publicados por Authier, é possível indicar alguns marcos que fornecem pistas muito explícitas a respeito de três dimensões essenciais para a compreensão do conceito de heterogeneidade, e que dependendo do tipo de heterogeneidade mostrada, descrita e interpretada, a autora recorre à teoria bakhtiniana para aproveitar sua dimensão ideológica, ou à perspectiva lacaniana, para mobilizar as marcas do inconsciente na enunciação. Trata-se, portanto, não de opor ou homologar ideologia e inconsciente, mas de reconhecer as duas dimensões a partir da materialidade linguística, isto é, a partir dessa instância reveladora que é a língua, entendida como um lugar de exposição e constituição de identidades e de sujeitos.

A primeira pista para a observação da forma como os trabalhos de Authier-Revuz vão recorrendo à relação sentido-ideologia presente na materialidade linguística, conforme a articulação signo-ideologia presente nos escritos bakhtinianos, pode ser localizada na maneira como a autora, explicitamente, se apropria de alguns trabalhos do Círculo de Bakhtin, ou seja, daqueles que oferecem uma concepção de outro e indicam formas de presença desse outro no discurso. Isso aparece com clareza nos três primeiros trabalhos da autora, em que se pode perceber que, tratando-se das formas de presença do outro no discurso, no sentido de discursos relatados, a recorrência necessária à relação sentido-ideologia é feita a partir de Marxismo e filosofia da linguagem.

No primeiro artigo, assinado em coautoria com André Meunier e intitulado "Exercices de grammaire et discours rapporté" (1977), a autora propõe-se a analisar os exercícios consagrados à questão do discurso relatado, a partir do estudo de um conjunto de manuais do primeiro ciclo, articulando os pontos de vista pedagógico e linguístico. O que ela pretende mostrar, já polemizando com o conceito de língua que rege a elaboração desses manuais, é uma certa pedagogia da gramática, que privilegia exercícios de manipulação de frases pré-fabricadas, veiculando uma imagem da língua reduzida a uma combinatória morfossintá-tica "libertada" das condições de produção do discurso. Segundo o artigo, essa amputação apresenta uma visão fechada, empobrecida do "discurso relatado". O artigo mostra que o "discurso relatado" deve ser encarado como um ato de comunicação que toma por objeto um outro ato de comunicação entre interlocutores, fazendo aparecer fenômenos enuncia-tivos-discursivos que permitem estudá-lo sob uma nova perspectiva e, ainda, estender essa perspectiva a outros fenômenos semelhantes. Para fundamentar essa nova abordagem, o artigo remete, entre outros autores, a Voloshinov, mais especificamente à obra Marxismo e filosofia da linguagem, em sua versão inglesa de 1973. Esse primeiro artigo revela o momento da reflexão inicial de Authier em que o outro aparece bakhtinianamente como fonte e concepção: trata-se de uma perspectiva linguístico-discursiva em que a dimensão ideológica está recuperada na materialidade linguística, e o outro é dimensionado como interlocutor e como discurso.

Em 1978, um segundo artigo, intitulado "Les formes de discours rapporté. Remarques syntaxiques et sémantiques", Authier vai tratar das formas do discurso relatado e, coerentemente, também nesse artigo Voloshinov é a fonte de referência, aparecendo em uma nota de rodapé - "Cf. a bela expressão de Volochinov: ‘estilo monumental', e a análise dos blocos massivos, inertes, inanalisáveis do discurso direto tal como os encontramos nos textos russos antigos" (p. 51); e na bibliografia, a mesma obra anterior, Marxismo e filosofia da linguagem, é citada em sua versão russa, de 1929, e na versão francesa de 1977.

Em 1979, "Problèmes posés par le traitement du discours rapporté dans une grammaire de phrase" oferece a mesma referência bibliográfica do anterior, e há ainda duas menções no corpo do texto. Na primeira, depois de retomar Jakobson no que diz respeito à "estrutura da mensagem remetendo à mensagem", refere-se a Bakhtin/Voloshinov da seguinte maneira: "[o discurso relatado] segundo os termos tomados de Volochinov, 1929, é descrito como ‘um enunciado no interior de um enunciado' e ao mesmo tempo ‘um enunciado sobre um enunciado'" (p. 211).

É no sexto artigo, "Hétérogénéité montrée et hétérogénéité constitutive: éléments pour une appoche de l'autre dans le discours" (1982), um verdadeiro ensaio sobre a descrição das formas da heterogeneidade mostrada no discurso, que Authier-Revuz vai esclarecer a que "exteriores teóricos" teve de recorrer para configurar essas formas, mencionando explicitamente o dialogismo do Círculo de Bakhtin e a psicanálise. No que diz respeito aos exteriores teóricos, é esse o texto - sem ser o único, pois há essas mesmas referências retomadas em vários outros trabalhos - que define a necessidade de, para trabalhar a heterogeneidade mostrada, recorrer à teoria ou a teóricos que tenham apontado e trabalhado a heterogeneidade constitutiva da linguagem e do sujeito. E é aí que ela encontra, reconhece e mostra as formas de leitura e aproveitamento de Bakhtin e de Lacan. A bibliografia, ao contrário dos primeiros textos que mencionavam unicamente Marxismo e filosofia da linguagem, amplia-se e incorpora Problèmes de l'oeuvre de Dostoievski e Problèmes de la poétique de Dostoievski, versões de 29 e 63 (Leningrado e Moscou), e a mesma obra nas versões francesas de 1970 (Paris/1970a; Lausanne/1970b); L'oeuvre de François Rabelais et la culture populaire au Moyen Âge et sous la Renaissance, Moscou, 1965, com tradução para o francês em 1970; Question de littérature et d'esthétique, Moscou, 1975, com tradução francesa em 1978; Esthétique et théorie du roman, Paris, Gallimard; e a obra que serve de apoio à autora, que é Mikhaïl Bakhtin, le principe dialogique, suivi d'Écrits du cercle de Bakhtine (Todorov, 1981).

Para fazer o resumo do dialogismo de Bakhtin, Authier comenta o número de traduções e de trabalhos que estavam sendo consagrados ao Círculo de Bakhtin, ou mesmo unicamente a Bakhtin ou a Voloshinov, e a frequência de referências ao grupo nos trabalhos de linguistas, semioticistas ou teóricos da literatura, principalmente a partir do texto de Kristeva (1969) intitulado "Le mot, le dialogue, le roman".

No que diz respeito à psicanálise, muito mais reconhecida como exterior teórico dos trabalhos de Authier-Revuz realizados depois desse sexto artigo, ela enfatizará a maneira como o conceito de outro questiona a unicidade do significante da cadeia linear, diferenciando-o do outro concebido pelo Círculo de Bakhtin. Para configurar esse outro do inconsciente, ela vai, entre várias explicações, recorrer às palavras de Lemaire, que em um trabalho de 1977 intitulado Jacques Lacan, esclarece que o "O discurso não se reduz a seu dizer explícito; ele traz com ele, como o próprio pensamento, o peso do outro de nós mesmos. Aquele que nós ignoramos ou que nós recusamos".

Essas duas diferentes concepções de outro podem ajudar a entender, no trabalho de Jacqueline Authier-Revuz com as formas de heterogeneidade marcada, o diálogo estabelecido por ela com Bakhtin e Lacan, posicionando-a não no campo da heterogeneidade constitutiva como os dois evocados, mas em uma dimensão linguística que expõe essa hete-rogeneidade e necessariamente faz apelo à ideologia e ao inconsciente. Se Bakhtin olhou por um lado e Lacan por outro, Authier, sem homologar as duas teorias, aproveita-se delas para conferir aos estudos enunciativos o estatuto de lugar da verificação das confluências e interferências existentes entre sentido, sujeito e discurso, surpreendidas na materialidade linguística que expõe ideologia e inconsciente.

 

Incompletudes finais

Para finalizar essa rápida incursão no pensamento bakhtiniano, pelo viés da importância do conceito de outro, polifonia, alteridade, é preciso reiterar que esse autor (assim como os demais membros do Círculo) alerta para a materialidade das fronteiras instáveis, incluindo aí, por exemplo, as existentes entre a narração e o discurso da personagem. É nas minúcias estilístico-discursivas, no enunciado concreto, que Bakhtin vai buscar e sinalizar os aspectos que marcam a presença/ausência e a entonação de cada uma das vozes, as consciências em conflito, a tensão, os planos de diluição/demarcação de fronteiras. Se, em um nível especulativo ou psicanalítico, a explicação poderia vir da fragmentação patológica de uma identidade, de uma consciência, do ponto de vista da criação artística é a costura da linguagem, a sutileza da trama dos fios que dará concretude ao herói e seus desacertos fatais. Que leitor, diante de um drama humano tão grande, tão cruel como o de Goliádkin, protagonista de O duplo, poderá baixar os olhos e prestar atenção às marcas gráficas, ou seja, à pontuação, às diferenças de fontes (itálico, normal) e outros aspectos verbais aparentemente sem importância? Da perspectiva da análise dialógica (e provavelmente da psicanalítica também), são justamente essas marcas, acopladas a outros elementos, que possibilitam, em um mesmo e fragmentado sujeito, a presença, a ambiguidade, a tensão das vozes. Nesses momentos, as reticências presentes no texto, por exemplo, constituem um dos elementos que expõem as réplicas antecipáveis do outro.

 

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Correspondência:
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Recebido em 3.12.2012
Aceito em 12.12.2012

 

 

1 Este trabalho reúne elementos de pesquisas realizadas durante anos e publicadas em diferentes momentos. Destacam-se, especialmente, dois estudos: Brait (2001, 2009).
2 Discurso na vida e discurso na arte tem uma tradução brasileira, de Carlos Alberto Faraco e Cristóvão Tezza, para uso didático, que nunca foi publicada, mas que circula pela internet e é muito utilizada. E outra, de outros tradutores: Bakhtin, 2011, p. 145-181.
3 Botcharóv et al.,1997, 2000, 2002, 2003, 2012; Popova, 2008.
4 Em nota, o tradutor brasileiro, Paulo Bezerra, apresenta a definição de skaz: "Tipo específico de narrativa estruturado como narração de uma pessoa distanciada do autor (pessoa concretamente nomeada ou subentendida), dotada de uma forma de discurso própria e sui generis" (Bakhtin, 2008, p. 211).

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