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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.46 no.4 São Paulo out./dez. 2012

 

LANÇAMENTOS

Lançamentos

 

 

Bergson e Proust

 

 

Sobre a representação da passagem do tempo

Estela Sahm
São Paulo: Iluminuras, 2011, 96p.

Esta obra delicada, instigante, produto de trabalho artesanal hábil e sutil, marcada pela relação de interface com o campo psicanalítico, é de especial interesse para o leitor que investiga a questão da temporalidade na experiência humana, destacadamente em sua vivência emocional. Inteligentemente a autora evita que a relação entre filosofia e literatura, posta pelas figuras de Bergson e Proust, transforme-se em uma compreensão teórica da obra de arte. Sabiamente evita reduzir a percepção singular do escritor à descrição objetiva do filósofo. Destacando que a originalidade do escritor produz conhecimento assim como a objetividade do filósofo se faz penetrar por uma poética por ele vista nas coisas, a autora consegue preservar a comunicação entre ambos mediada pela autonomia presente em cada um, além de, ensejando a comparação entre os dois, promover um melhor entendimento de cada um em si mesmo. Sensível na apreensão do conhecimento filosófico, e capaz de reflexão profunda como instrumento de leitura do romance, a autora, na medida correta do uso de sua intuição, obtém um resultado lúcido e claro na demonstração de como a filosofia e a literatura nos conduzem à participação no enigma do tempo em sua revelação infinita, bem como nos leva à verdade, sempre em vias de realização, que torna a existência mais humana e autêntica. Leitura recomendada a todo psicanalista que se pergunta pela vivência da temporalidade na experiência emocional revelada em seu trabalho clínico.

 

Calibán

 

 

Revista Latino-Americana de Psicanálise

Mariano Horenstein (Argentina), editor Laura Veríssimo de Posadas (Uruguai), editora suplente Ana Maria de Azevedo (Brasil), editora associada Zelig Libermann (Brasil), editor associado suplente
Publicação Oficial da Federação Psicanalítica da América Latina, Volume 10, Número 1, 2012.

Festejamos o surgimento da Calibán, Revista Latino-Americana de Psicanálise, no vigésimo nono Congresso Latino-Americano de Psicanálise, realizado em São Paulo, em outubro de 2012, com o tema: Tradição/Invenção. Esta bem vinda publicação enriquece o público psicanalista com uma edição primorosa, rigorosa e generosa em conteúdo e proposta. Trazendo inúmeros artigos dos mais renomados autores da psicanálise latino-americana, além de importantes autores de outras áreas afins do conhecimento humano, a Revista se organiza em diferentes seções - cada qual com seu argumento próprio composto por contribuições trazidas em vários artigos de diferentes autores - como se pode ler em: Argumentos, O Estrangeiro, Textual, Vórtice: A Transmissão da Psicanálise, Dossiê: Arte Contemporânea, Clássica e Moderna, Cidades Invisíveis, De memória e Bitácula. Convidamos os leitores a se deleitarem com a novidade de alta qualidade que a leitura dessa Revista promove em todos os que com ela tiverem contato. Desta Revista, divulgadora de uma ideia criativa para a psicanálise latino-americana, reproduzimos pequeno trecho do editorial escrito por Leopoldo Nosek, presidente da Comissão Diretora da FEPAL: “Consideramos que a revista tem um papel fundamental nos desafios que temos pela frente. O seu nome de batismo, Calibán, se referirá ao universal em Shakespeare, ao personagem de A Tempestade, que balbucia, e ao particular da tradição latino-americana. Exemplifico lembrando a visão antropofá-gica do modernismo brasileiro, em que Oswald de Andrade dizia que a metrópole, devidamente degustada, se torna nossa carne. Afinal, a psicanálise, como um conhecimento que não frequenta apenas o consciente, só se torna nossa possessão quando se torna nossa carne. Não é isso que pretendemos em nossas formações como psicanalistas? Não é isso que pretendemos que nossas instituições propiciem?”.

 

Dimensões

 

 

Psicanálise. Brasil. São Paulo

Plinio Montagna (Ed.).
São Paulo: publicação da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, 2012, 683p.

Esta obra apresenta-se como “uma declaração conjunta de amor à Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo”, nas palavras de seu presidente Plinio Montagna, por ocasião do lançamento do livro. Montagna é o editor, fazendo-se acompanhar de corpo editorial composto por Cintia Buschinelli, Heloisa Helena Sitrângulo Ditolvo, Iliana Warchavchik, Magda Guimarães Khouri, Milton Della Nina, Sandra Maria Gonçalves e Silvana Rea. Organizado de modo a dar expressão a todas as áreas que compõem a SBPSP, este livro se oferece como uma fotografia viva de sua produção, de sua organização, de sua tradição e de sua criatividade inovadora. Inúmeros são os artigos de diferentes autores aqui publicados, dedicados a percorrer diversos caminhos da atividade psicanalítica institucional. Dividido em seções, podemos ler trabalhos ordenados pelos seguintes temas: Concepções do Saber Psicanalítico, Espaço-Tempo da Formação, O Psicanalista em Exercício na Cultura, Pesquisa e Investigação em Psicanálise, Psicanálise no Corpo Social, Publicações: Escrita e Comunicação, Nossa Cartografia: Difusão e Regionalização, Interfaces, Estrutura e Organização, SBPSP e o Movimento Psicanalítico e Depoimentos. Todos eles precedidos de Introdução feita pelo editor. Como se pode ver em sua apresentação, este livro se compõe de camadas que se revelam ora superpostas, ora mescladas, cujos textos retratam o objeto singular da Psicanálise, sua transmissão artesanal, evidenciando a importância de um ambiente institucional que abrigue ideias plurais para o desenvolvimento do saber. A SBPSP, cujo embrião gerou a primeira instituição psicanalítica fundada na América Latina, revela-se na segunda década do século XXI plena de vitalidade e entusiasmo, no exercício de seu papel como componente da IPA (Associação Psicanalítica Internacional), fundada por Freud e herdeira de seu legado.

 

Projective Identification

 

 

The Fate of a Concept

Elizabeth Spillius
Edna O’Shaughnessy (Eds.)
London & New York: Routledge, 2012, 407p.

Esta obra, pertencente à “The New Library of Psychoanalysis”, editada por Dana Birksted-Breen, e publicada em associação com o Institute of Psychoanalysis, London, explora o desenvolvimento do conceito de identificação projetiva, que teve importante antecedente no trabalho de Freud e de outros colegas seus contemporâneos, mas que recebeu nome e definição específicos de Melanie Klein. Neste livro descrevem-se os pontos de vista publicados, e não publicados, por Klein sobre o assunto e se considera o modo como este conceito tem sido descrito, aceito, expandido, rejeitado e modificado por analistas de diferentes escolas do pensamento psicanalítico em diferentes regiões, como Grã-Bretanha, Europa Ocidental, América do Norte e América Latina. Os autores acreditam que o interesse, tão difundido e pouco comum de acontecer, a respeito de um conceito em particular, e a variedade dos destinos assumidos por ele, ocorreu não somente por conta da crença em sua utilidade clínica no setting analítico, mas também porque a identificação projetiva é um aspecto universal da interação e comunicação humana. Esta obra auxiliará a todo psicanalista ou psicote-rapeuta que se utiliza das ideias de transferência e contratransferência, bem como a todo estudioso desejoso de se aprofundar na compreensão da evolução deste conceito, e na maneira como este se apresenta nas diferentes culturas de diferentes países. Na parte referente a autores da América Latina, encontramos a “Introdução” feita por Luiz Meyer e os artigos; “Projective Identification: the concept in Argentina”, de Gustavo Jarast, “Projective Identification: Brazilian variations of the concept”, de Marina Massi, e “Projective Identification and the weight of intersubjectivity”, de Juan Francisco Jordan-Moore. A importância deste conceito, sua presença no pensamento psicanalítico, sua utilidade clínica e a repercussão das discussões a respeito de sua fundamentação tornam essa obra leitura obrigatória a todos que querem se atualizar sobre o tema.

 

Estruturação psíquica e subjetivação da criança em idade escolar

 

 

O trabalho da latência

Rodolfo Urribarri
São Paulo: Escuta, 2012, 288p.

Esta obra tem como mérito inicial o destaque do período da latência como objeto de estudo e investigação. Realizando uma extensa e atualizada revisão bibliográfica, feita criticamente, o autor coloca em evidência concordâncias e divergências sobre o assunto da latência, presentes nos escritos das mais variadas publicações em diferentes línguas. Diferentes aspectos das atividades das crianças nessa fase são alvo do interesse do autor, como por exemplo, a complexidade e as peculiaridades de seus desenhos, nos quais apresenta uma original contribuição para o significado psicanalítico do surgimento do pescoço nas representações de figura humana. Também as atividades grupais das crianças nessa fase do desenvolvimento emocional são observadas pelo autor, enfatizando as diferenças e preferências entre meninos e meninas presentes nos jogos, destacando a importância das “explorações anatômicas” simbolizadas e deslocadas em diversos jogos, assim como salienta seu futuro papel sexual. Aprofunda o conhecimento sobre o desenvolvimento do pensamento nessa etapa da vida, destacando as mudanças ocorridas nessa fase, abordando seus aspectos intelectuais, afetivos e de linguagem. Opondo-se à ideia de que a latência seja um período insignificante, tranquilo e de simples passagem, apresenta-a como momento chave na organização psíquica, determinante para a vivência posterior da adolescência, caracterizada pela configuração dinâmica liderada pela sublimação e procura de equilíbrio intersistêmico. Além de sua natural importância para a teoria e clínica psicanalíticas, esta obra também se volta para o público da psicologia do desenvolvimento e das ciências da educação.

 

Winnicott - Ressonâncias

 

 

Inês Sucar (Org.)
Heloisa Ramos (Coorg.)
São Paulo: Primavera Editorial, 2012, 408p.

Essa obra é fruto de uma coletânea de trabalhos apresentados no XVII Encontro LatinoAmericano sobre o Pensamento de D. W. Winnicott, realizado em São Paulo, em outubro de 2008. Organizada por Inês Sucar, com o apoio de Heloisa Ramos, os 36 trabalhos aqui reunidos foram agrupados em oito eixos conceituais: Criatividade, Construção do Psiquismo, Lugar do Analista, Mutualidade, Paradoxo, Psicossoma, Tendência Antissocial e Vazio. O estabelecimento e a articulação desses eixos temáticos dão uma ampla visão da obra de Winnicott, sem que se perca a especificidade e peculiaridade de cada um. Mesmo sendo uma coletânea de vários autores, a obra possui uma clareza didática dentro do contexto teórico-clínico e da experiência de cada autor, o que provavelmente se explica pela alta qualificação deles. Observa-se uma contribuição relevante quanto ao estabelecimento dos temas organizadores deste livro sobre a obra winnicottiana, os quais apesar de diversificados, remetem a uma articulação consistente dos conceitos propostos por D. W. Winnicott. Conserva-se preservada nessa diversidade a atualidade e o desenvolvimento de seu pensamento, ainda que com o enfoque pessoal que cada autor preconiza. Isso tem grande importância em termos teóricos, pois traz a elaboração viva da experiência prática de cada um deles. Como se faz presente no título do livro, pode-se observar as ressonâncias de Winnicott na clínica contemporânea de um grande grupo de psicanalistas de toda a América Latina que promove uma discussão livre, aberta sobre sua obra. Fica norteado neste livro o rastreamento da prática clínica contemporânea em Psicanálise, e ainda mais, a liberdade de pensar e fazer psicanálise ou dela se utilizar de alguma forma, o que se acha em completa conformidade com o pensamento de Winnicott, autor que se confirma como essencial no universo de conhecimento trazido pela Psicanálise.

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