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Revista Brasileira de Psicanálise

versión impresa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.47 no.2 São Paulo abr./jun. 2013

 

LANÇAMENTOS

 

Lançamentos

 

 

Crítica em tempos de violência

 

 

Jaime Ginzburg
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
Fapesp, 2012, 520p.

No mais recente número da Revista Brasileira de Psicanálise (Volume 47, n.1, 2013), que versou sobre o tema do medo, foi apresentada uma entrevista com o professor Jaime Ginzburg, professor associado de Literatura Brasileira na usp. O livro aqui indicado, Crítica em tempos de violência, retrata fielmente as ideias expostas na citada entrevista concedida à rbp. Fruto de sua tese de livre-docência, essa obra mostra reflexões vinculadas ao campo referencial da violência, do autoritarismo, da repressão, do genocídio, da tortura, do corpo destruído, da dor, do esquecimento, da melancolia. Circulando por variadas áreas do conhecimento - que incluem para além da literatura, seu foco central, a filosofia, especialmente a escola de Frankfurt, a história e a psicanálise -, o autor, com originalidade e crítica lúcida, examina nos artigos apresentados a temática da violência, pondo em relevo a natureza contingente das imbricações entre momentos históricos do Brasil, a vigência de uma tradição crítica e textos literários. Fica destacado o debate sobre o aparato de controle social e cultural acionado pelo pensamento autoritário, por meio do qual a violência produz seus efeitos nocivos, seja na produção de conhecimento a respeito da história e da literatura brasileiras, seja do próprio processo educacional. O autor, defensor da paz e da responsabilidade crítica que o conhecimento gerado pela área de Literatura tem nas discussões que dizem respeito ao desenvolvimento humano, remete o leitor a refletir sobre direitos humanos, cidadania e redemocratização da vida social. Embora não se trate de obra focada no campo da Psicanálise, trata-se de leitura exemplar para aqueles que desejam ampliar seu escopo de conhecimentos.

 

A interpretação dos sonhos

 

 

Sigmund Freud
Tradução: Renato Zwick
Porto Alegre: L& PM, 2013, 736p.

Por meio de L& PM editores, é oferecido aos leitores de Freud na língua portuguesa uma nova tradução do célebre texto A interpretação dos sonhos, feita diretamente da língua alemã. Coube a Renato Zwick a significativa tarefa de executar a tradução, que de modo extremamente competente é presenteada aos estudiosos de Freud em nossa língua. Completada pela revisão técnica e prefácio de Tania Rivera, e pelo ensaio bibliográfico de Paulo Endo e Edson Sousa, esta preciosa iniciativa deixa ampliada, de modo muito significativo, a possibilidade recentemente iniciada em nosso meio de ler Freud em nossa língua. Isto se faz por meio de uma tradução feita com esmero, dedicação e fidelidade ao texto original. Não por acaso, a coleção dessa nova e instigante série de textos de Freud tem entre seus volumes iniciais o trabalho da interpretação dos sonhos que, como é de todos conhecido, promove uma inflexão definitiva da ciência moderna, e em particular da trajetória que as investigações de Freud teriam no desenvolvimento da Psicanálise. Devemos todos louvar proposta como essa, da L& PM e de Renato Zwick, que enriquecem de forma tão contundente a leitura de Freud na língua portuguesa.

 

Freud: uma vida para o nosso tempo

 

 

Peter Gay
São Paulo: Companhia das Letras, 2012, 815p.

A famosa biografia de Freud escrita por Peter Gay, que ficou chamada de A biografia definitiva, ganha agora uma segunda edição da Companhia das Letras, na forma de uma edição econômica. Esta biografia, que teve a tradução de Denise Bottmann e consultoria editorial de Luiz Meyer, foi considerada, sob muitos aspectos, a melhor biografia de Freud devido à grande quantidade de informações biográficas e psicanalíticas, sem paralelo na literatura até então conhecida sobre o tema. Salientamos o esforço editorial ao apresentar essa edição econômica do texto integral da biografia, que visa facilitar ao leitor, estudioso da obra e vida de Freud, realizar uma investigação minuciosa e profunda dos temas de seu interesse. Iniciativas desse tipo renovam o ânimo dos psicanalistas em revisitar os passos históricos e criativos do fundador da Psicanálise.

 

O homem transicional

 

 

Para além do neurótico & borderline

Nahman Armony
São Paulo: Zagodoni, 2013, 240p.

Este livro, original, criativo, polêmico, é fruto de elaborada reflexão sustentada nos pilares da experiência clínica e do conhecimento teórico do autor. Há que se levar em conta que tal conhecimento extrapola as fronteiras psicanalíticas e adentra campos do saber, como a evolução das ideias filosóficas às diversas fases do capitalismo, da teoria psicanalítica à teoria sociológica, do cinema à arte. Não se trata, porém de um livro para especialistas, uma vez que a linguagem utilizada pelo autor prima pela simplicidade e fluidez. Verifica-se, assim, que quanto maior e profunda é a compreensão de um assunto, mais simples pode ser sua exposição. O autor oferece uma rica compreensão dos processos de constituição da subjetividade, especialmente na contemporaneidade, salientando as transformações operadas em relação à subjetividade na modernidade. Deixa evidente o papel central da perspectiva patriarcal na formação das subjetividades modernas e na elaboração da teoria psicanalítica de Freud. Alguns conceitos centrais dessa teoria são revistos no contraste com as perspectivas abertas pela decadência do patriarcado. Nesse olhar historicista, o autor propõe pensar as neuroses de transferência como exemplo dominante do modelo de subjetivação moderna, em contraste com as subjetividades borderline exemplares do contexto pós-moderno. Obra que interessa não apenas a psicanalistas e profissionais das áreas humanas e sociais, mas a todos aqueles que desejam refletir sobre o homem e sua vida na contemporaneidade.

 

Psicanálise e ações de prevenção na primeira infância

 

 

Maria Cristina Machado Kupfer
Leda Mariza Fischer Bernardino
Rosa Maria Marini Mariotto (Orgs.)
São Paulo: Escuta/Fapesp, 2012, 292p.

Este livro é caracterizado pela busca em aliar teoria e prática psicanalíticas na intervenção da primeira infância. Tal busca é sustentada na ética psicanalítica, para a qual, segundo os autores, trata-se sobretudo de privilegiar o Bem dizer, e com isso pôr em movimento a escuta singular de um sujeito ainda em constituição. Aponta-se na direção de que a intervenção psicanalítica de caráter preventivo supõe uma concepção de sujeito constituído na e pela linguagem, de modo tal a que se torne possível desejar desde uma enunciação própria. Isto criaria condições para o livre curso da subjetividade. Todos os trabalhos apresentados referem-se a iniciativas da prevenção na primeira infância, na procura de se impedir a instalação de quadros psicopatológicos graves geradores de todas as incapacitações para o desenvolvimento infantil. Apresentam-se trabalhos realizados a partir do Programa de Prevenção e Atendimento Inicial (Propai), projeto financiado pela Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná; trabalhos desdobrados a partir de pesquisa que validou o instrumento irdi (Indicadores Clínicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil), utilizado no acompanhamento de bebês de zero a dezoito meses; trabalhos resultantes de experiências institucionais como o Lugar de Vida - Centro de Educação Terapêutica, o Projeto Espaço Palavra da pucsp e o Espaço Escuta de Londrina. Além disso, são relatados casos clínicos sempre na discussão em torno da prevenção.

 

Sessão de histórias

 

 

Ignacio Gerber
São Paulo: Ofício das Palavras, 2013, 205p.

Este livro, generoso e intimista, remete-nos diretamente à atmosfera vivida em uma sessão de psicanálise em toda sua plenitude de vivência emocional. O autor deseja estimular a imaginação do leitor para aquilo que se passa entre analista e analisando, fazendo aparecer dos meandros infinitos do Inconsciente alguma história que ofereça sentido ao inefável momento do encontro analítico. O autor explica que o encadeamento das histórias, que ele tem contado ou escutado em sessões de análise ao longo de trinta anos, tem um eixo determinante: "instigar a reflexão sobre a atitude interior do analista, que propicia, por meio de seus próprios processos inconscientes, acesso aos processos inconscientes do analisando". Certamente, com a narrativa dessas histórias, o autor revela muito de sua própria atitude frente à vida. Preconiza que a famosa disposição para a atenção flutuante do analista, proposta por Freud, deve-se mais à naturalidade do analista, desapegado de preconceitos e expectativas pessoais do que à neutralidade, tantas vezes equivocadamente confundida com artificialismos rígidos e frios, que caracterizariam um verdadeiro mecanismo de defesa suportado por regras mal entendidas.

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