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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.47 no.3 São Paulo July/Sept. 2013

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

Bernardo Tanis

Editor

 

 

Legados

Embora cada número temático da RBP possua características singulares, este, caro leitor, se diferencia de todos os outros. Proposta arriscada embora necessária, ela foi se impondo ao corpo editorial pelo fato de, nos últimos anos, terem nos deixado alguns grandes analistas, representativos daquele que constituiu um dos momentos mais férteis da reflexão em torno do pensamento clínico e dos modos pelos quais nossa prática foi exercida e teorizada nos últimos cinquenta anos. Estes analistas nos acompanharam durante nossa formação e maturidade; identificamo-nos com seus desafios clínicos e embates teóricos, seus empenhos em busca da singularidade; também com o diálogo produtivo que sustentaram entre os diferentes modos de pensar a nossa disciplina e seus fundamentos. Sem fugir dos debates, avessos a dogmatismos e polêmicas estéreis, deram o melhor de si para o desenvolvimento da nossa disciplina.

Como compreender a ideia de Legados, título que outorgamos a este número? Encontrei nas palavras de Jeanne Marie Gagnebin, na sua introdução a um primoroso estudo sobre a história e a narração a partir da obra de Walter Benjamin, uma fina aproximação metodológica daquilo que concebemos como tarefa frente à obra daqueles que nos precederam: "tentar ouvir as questões e as exigências que esta obra formula, ou seja, reconhecer quais são suas interrogações deixadas em suspenso, tentar compreender esta suspensão, ousar aprofundar-me nesta irresolução" (Gagnebin, 1999, p. 1). Em lugar de apenas reverência ou idealização, retomar as questões que os motivaram, tendo em vista uma perspectiva em direção ao futuro da nossa disciplina.

Embora o clássico tripé - análise pessoal, supervisão e estudo teórico - constitua a base de nossa formação como analistas, a excelente introdução a este número, escrita com notável clareza e erudição por Renato Mezan, a quem muito agradecemos, nos mostra a importância do contexto histórico, institucional e científico no qual cada um de nossos homenageados cresceu e amadureceu como indivíduo e como analista. Dessacralizando o mito que por vezes envolve os discursos sobre a transmissão da psicanálise, observamos a riqueza e a complexidade do vir a ser analistas, no qual se entrelaça a trama individual e subjetiva com um contexto que, ao mesmo tempo, é o solo no qual germina a semente que dará lugar a múltiplos e variados frutos.

A perspectiva plural da nossa política editorial encontra na diversidade destes psicanalistas - Jean Laplanche, Jean-Bertrand Pontalis, André Green, Joyce McDougall e Betty Joseph - algo que nos é peculiar e que resiste à uniformização do nosso campo. Limitação para alguns, nostálgicos de um saber único, livre de aporias e contradições; virtude para outros, que enxergam na diversidade uma resposta à prematura tendência de enquadrar um saber sobre a subjetividade humana e seu mal-estar num leito de Procusto de um pensamento único.

A proposta encaminhada aos autores foi livre, de modo que cada um pudesse destacar à sua maneira um aspecto da obra ou da biografia psicanalítica do analista homenageado, já que não pretendíamos um número acadêmico ou uma síntese - algo que, embora seja importante em outros contextos, ver-se-ia limitado pelo espaço oferecido. Nossa intenção foi compor um vivo caleidoscópio que estimulasse nossos leitores em múltiplas direções, compondo e recompondo, entre o épico e o lírico, parte da história do movimento psicana-lítico, dos avanços na clínica de pacientes não neuróticos e difíceis e da busca de modelos metapsicológicos que nos ajudem a tornar pensável o sofrimento no qual tais pacientes se encontram capturados.

Nossos convidados, brasileiros e estrangeiros, tiveram o privilégio de em maior ou menor grau ter tido algum convívio com o analista sobre o qual escreveram. Agradecemos àqueles que contribuíram com seus trabalhos para tornar este número possível: Mônica do Amaral, Celso Halperin, François Gantheret, Zelig Libermann, Dominique Cupa, Hélène Riazuelo, Rubens Marcelo Volich, Rosine Jozef Perelberg, Elizabeth Lima da Rocha Barros, Elias M. da Rocha Barros e Michael Feldman. Agradecemos também a Carlos Schenquerman, que autorizou publicar e nos enviou o texto de Silvia Bleichmar apresentado nas 3as Jornadas de trabalho sobre a obra de Jean Laplanche.

A sessão Artigos apresenta os textos de Leopoldo Fulgencio sobre o narcisismo primário, Marta Úrsula Lambrecht em torno da contratransferência e de Claudine Vacheret, Guy Gimenez e Cristiane Curi Abud sobre a dispositivos grupais que introduzem objeto mediador, escritos que sem dúvida despertarão o interesse dos leitores.

Como habitualmente fazemos, convidamos os leitores a consultar a seção de resenhas, ficando assim atualizados das recentes publicações no nosso campo.

Além disso, informamos que, a partir desta edição, aumentamos o número de membros do nosso Conselho Consultivo com notáveis analistas e professores universitários, que prontamente se dispuseram a contribuir com sua experiência e conhecimento para o permanente desenvolvimento da Revista Brasileira de Psicanálise, no qual estamos empenhados.

A todos, uma boa leitura!

 

Referências

Gagnebin, J. M. (1999). História e narração em Walter Benjamin. São Paulo: Perspectiva.         [ Links ]

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