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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.47 no.3 São Paulo jul./set. 2013

 

ARTIGOS

 

A analista observando-se a si mesma: sutilezas na contratransferência

 

The analyst observing herself: subtleties in countertransference

 

La analista observándose a sí misma: sutilidades en la contratransferencia

 

 

Marta Úrsula Lambrecht

Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP)

Correspondência

 

 


RESUMO

A partir da clínica, examinam-se aqui fenômenos contratransferenciais turbulentos e delicados, que afloram em um corte longitudinal de uma longa e profunda análise. Mostra-se, através da clínica, a sutil diferença entre a contraidentificação projetiva (Grinberg, 1956), contratransferência complementar e concordante (Racker, 1960/1982) e sua possível encenação no campo analítico pela via de um enactment agudo (Cassorla, 2012). Tais mecanismos - muitos deles erigidos na base da identificação projetiva massiva (patológica) - podem revestir-se de caráter perturbador para a dupla, em razão do impacto e consequências que são capazes de ocasionar. Depois de tratar dos movimentos comunicativos, demonstra a autora que, embora correndo o risco de propiciar rupturas do campo analítico, a análise dos fenômenos surgidos na sessão evidenciou tratar-se principalmente de um mecanismo projetivo realístico (sadio) - posto em cena pela via de um ato interpretativo -, que permitiu abrir espaço à rede simbólica de pensamentos. Revelam-se aspectos íntimos para tornar possível a objetiva-ção desse complexo fenômeno, e reflete-se sobre o papel do analista que, como obstrutor ou facilitador do processo, pode ser coadjuvante de avanços na psicanálise contemporânea.

Palavras-chave: contratransferência; contraidentificação projetiva; ação interpretativa; enactment; identificação projetiva.


ABSTRACT

The author examines, from the clinical perspective, turbulent and delicate co untertransferential phenomena, which manifest themselves in a longitudinal section of a long and deep analysis. The clinic is used to show the subtle difference between projective counter-identification (Grinberg, 1956), complementary and concordant countertransference (Racker, 1960/1982) and the possibility of its staging in the analytic field by means of an acute enactment (Cassorla, 2012). These mechanisms, many of them erected on the basis of (pathological) massive projective identification, can take on a disturbing character to the duo, due to the impact and consequences they can cause. The author shows, after examining the communicative movements, that, though at the risk of disrupting the analytical field, the analysis of phenomena arising at the session revealed itself as being primarily a (healthy) realistic projective mechanism which was brought to stage through an interpretive act, which allowed the opening of space for the network of symbolic thought. Intimate aspects are revealed to make possible the objectification of this complex phenomenon, and a reflection is made upon the role of the analyst, who, as an obstructer or facilitator of the process, could be supportive of developments in contemporary psychoanalysis.

Keywords: countertransference; projective counter-identification; interpretive action; enactment; projective identification.


RESUMEN

La autora examina, a partir de hechos clínicos, fenómenos contratransferenciales turbulentos y delicados, que se manifiestan en un corte longitudinal de un largo y profundo análisis. Se muestra a través de un caso clínico, la sutil diferencia entre la contraidentificación proyectiva (Grinberg, 1956), la contratransferencia complementaria y concordante (Racker, 1960/1982) y su posible puesta en escena en el campo analítico por la vía de un enactment agudo (Cassorla, 2012). Tales mecanismos - muchos de ellos erigidos en base a la identificación proyectiva masiva (patológica) - son capaces de acarrear un carácter perturbador para la díada analítica por el impacto y las consecuencias que son capaces de ocasionar. La autora muestra, después de examinar los movimientos comunicativos que, a pesar de correr riesgos de rupturas del campo analítico, el análisis de los fenómenos surgidos en la sesión, evidenció estar principalmente frente a un mecanismo proyectivo realista (sano) - que fue puesto en escena por vía de un acto interpretativo -, que permitió abrir espacio a la red simbólica de pensamientos. Se revelan aspectos íntimos para tornar posible la objetivación de este complejo fenómeno, reflexionando al respecto del papel del analista como obstructor o facilitador del proceso, pudiendo ser coadyuvante de avances en el psicoanálisis contemporáneo.

Palabras-clave: contratransferencia; contraidentificación proyectiva; acción interpretativa; enactment; identificación proyectiva.


 

 

O objetivo do presente trabalho é destrinchar, a partir da clínica, formas de expressão dos mecanismos psíquicos inconscientes que ocorrem na dupla analítica, reunidos sob a ampla denominação de transferência/contratransferência. Examinarei as sutilezas dos mecanismos de comunicação e seus possíveis obstáculos, lançando mão do referencial da identificação projetiva como veículo de comunicação, sem desprezar o inestimável valor defensivo (expulsivo) dos mecanismos projetivos.

A literatura psicanalítica - isso será denotado na ilustração de caso - tem descrito nuanças desses mecanismos, que geram diferentes matizes e nos desafiam à procura de apreensão e compreensão do fenômeno clínico. A identificação projetiva, como fator de funcionamento arcaico, continua presente na forma de importante vetor de comunicação: denominador comum dos processos que envolvem a contratransferência concordante e complementar (Racker, 1948/1953); contratransferência, como instrumento de compreensão do paciente (P. Heimann, 1950); contraidentificação projetiva (Grinberg, 1956) e enactment (Jacobs, 1986).

 

Trecho de sessão: último dia antes das férias

Paciente e analista cruzam rápidos olhares.

A analista lembra-se que entraria em férias. (O interminável silêncio do início da sessão leva-a para longe.) Algo imprevisível parecia avizinhar-se. Fica em dúvida se estaria tomando as devidas precauções. Certifica-se mentalmente de ter habilitado o seguro-saúde e guardado a agenda telefônica, caso precisasse.

Abruptamente, é tomada pela ideia aterrorizante de não retornar da viagem. Flagra-se olhando em volta, como se fosse a última vez que estivesse no consultório. Percebe, nesse momento, que se defronta com conflitos pessoais, que ela mesma terá de investigar. Por que motivo Bernard, altamente sensível aos abandonos, a estimula a entrar em contato com aqueles problemas?

Nesse exato instante, ele pergunta: "Por que sair durante tanto tempo? Nunca vai embora por mais de uma semana!"

A distanciada analista a essa altura retorna às pressas, impulsionada pela ênfase do questionamento: "Vai longe?".

Eu procurava saber como poderia falar que qualquer tempo seria vivido como "nunca mais" e qualquer distância, "para sempre". De forma grosseira e seca, ele explode: "Shit! Também não responde!"

Sinto-me invadida por uma grande irritação. Tenho vontade de replicar no mesmo tom. (De que lado provinha o ódio? Era eu que o sentia - talvez também ele.)

"Os telefones estão tocando! Pode ser um chamado urgente, atenda!'.

Surpresa por não ouvir os telefones, pergunto-me: estaria desligada, surda? Bernard também se queixara de não estar sendo ouvido. Eu intuía que devia dar ouvidos aos meus sobressaltos. Teria me desligado dos gritos da realidade, qual seria o motivo?

Como que obedecendo ao pedido/ordem - "atenda!" -, ensurdecida e ameaçada pelo temor de possível catástrofe, e tomada por um sentimento de urgência, pulo da poltrona. Abandono o posto junto ao paciente, deixo-o sozinho. Vou para uma sala contígua, onde estão os telefones.

Verifico, lá, que o código de área era o da distante cidade de "X", na qual mora meu filho. Atendo e escuto sua voz, entrecortada, pedindo ajuda: "A Mel2 foi atacada na cabeça pelos cães pastores que estavam presos no canil e está em estado de choque" (Mel é uma cachor-rinha hospedada na casa de "X", enquanto seus donos faziam uma longa viagem.)

Os primeiros socorros foram explicados pela analista e, presumivelmente, Bernard deve ter ouvido: "Imobilize com um pano, comprima a ferida e leve, com urgência, para o veterinário"

Volto para minha poltrona e, em silêncio, trato de me refazer. Sinto-me exaurida, anestesiada pelo violento impacto. Desnorteada com a sanguinária imagem, tensa e confusa, acredito ter cometido grave falha técnica.

Ainda em estado de choque, constrangida, sinto-me culpada por ter deixado Bernard sozinho. Ele se interessa em saber do acontecido e pergunta se mataram algum cachorro. A analista não fornece explicação alguma do ocorrido.

Vagarosamente me recupero e, com maior nitidez, dou-me conta do sucedido comigo, com a dupla e com o campo analítico.

Questiono-o: quem sabe ele se sentira aflito? Ouvira que chamavam por mim e imaginara que eu não me importara com o chamado. Isso o teria deixado desconfiado e inseguro a meu respeito, caso precisasse de mim em alguma situação urgente.

Parece tranquilizar-se. Aliviado, quase ao final da sessão, pode me dizer: quando percebera que eu falava com alguém - que para ele me era familiar -, ficara incomodado. Eu dava a outro a atenção e a ajuda que ele nunca sentira receber - se bem que lhe fora reconfortante ter conhecido um lado humano meu, de carne e osso.

Continuo sentindo resquícios da aflição. Bernard, no entanto, sossegadamente se pronuncia: "Isso faz parte da vida - e, também, estamos entrando em férias".

 

Comentários a posteriori, oriundos da sessão

I. A linguagem do silêncio

Examinando a experiência a posteriori, podemos supor que a dupla analítica estava se comunicando, fundamentalmente, por meio da linguagem não verbal, atravessada por profunda comunicação inconsciente e mediada por projeções que emigravam do imaginário infantil, angústia de separação, desamparo, sentimento de exclusão e rejeição, insegurança e medo de ficar só.

Tudo isso poderia ter sido insinuado no longo silêncio que antecedeu o início da sessão. Ao lembrar o gesto facial de Bernard, no instante do encontro, construo uma linha de reflexões quanto a ser colocada como fiel destinatária das projeções de partes de seu self atormentado por um disparador: a separação durante as férias da analista.

Com que parte do mundo interno de Bernard eu estaria identificada, de modo a experimentar-lhe o peso que, como um fardo, o levava a arquear o olhar em direção ao chão? Ao cruzar de relance com seu olhar furtivo, a cabeça baixa, a rápida movimentação para o divã, sinto naquela desproteção - colocando-me no lugar do menino órfão - a mãe que abandona.

Por via da identificação projetiva, estou na pele da criança abandonada, vivenciando um atroz vazio no peito. Partes de meu self identificavam-se com a possível vulnerabilidade de partes internas do ego de Bernard. Acolho a projeção comunicada pela via não verbal, identifico-me introjetivamente - e, no entanto, posso, no momento, imaginar ser aquela a última sessão.

Sinto-me agoniada ao lembrar que ele ficaria a sós durante "tanto tempo", em uma data de comemorações familiares. Obviamente, esse tempo é um tempo "outro", distinto e distante da cronologia do cotidiano3. O "tanto tempo" não daria a conotação de um descanso maior para o seio vivido como espoliado, esvaziado totalmente de seu conteúdo, necessitado de mais tempo para se recuperar?

Lembro-me dos dissabores do início da análise, quando estava sendo pressionada a experimentar a vingança pelas agruras da vida. Concretamente, era instigada a carregar e a funcionar como a sua insignificância, sentindo-me descartável, prescindível, sob o domínio da identificação projetiva que organizava os mecanismos contratransferenciais.

Nessa fase, as separações (feriados ou férias) eram ridicularizadas pela função defensiva de seu ego. Pesados deboches acompanhavam o anúncio de que uma sessão seria desmarcada. Afirmava que "não ia morrer por isso" - que eu podia ficar bem tranquila: "não faria a menor diferença!"

De igual modo, caçoava cruelmente das "merrecas" de férias que eu me dava, enquanto ele, triunfante, maniacamente saía por mais tempo. Entretanto, eu vivenciava consternação e ficava preocupada pelas inúmeras vezes em que ele colocava sua vida em risco, sem pensar na morte, porque eu pensava por ele.

Inconscientemente, Bernard cinde partes de seu self, projetando o temor de não conseguir fazer frente aos perigos internos e externos. Como defesa, seu ego - detentor do todo-poder - diz não precisar de ninguém e, onipotentemente, inverte o sentimento de dependência, de modo que seja eu quem precise voltar logo das "merrecas de férias"

Em definitivo, tudo o que a criança deseja é que a mãe a observe de perto. Em contrapartida - como defesa contra a própria inveja e agressividade -, projeta em mim o desprezo pelo abandono e pela raiva, e de forma evacuativa, esvazia o conteúdo mental aterrador. Como consequência, arca com o ônus da negação da realidade psíquica, rindo quando o deixo. Entretanto, como desconsiderar que, de forma genuína, estava me contando em que estado se encontrava seu mundo mental?

Gradativamente, foi me incluindo como parte vital de sua rotina e ponto nodal do desenvolvimento. Trabalhando há anos, quase diariamente, os nossos períodos de ausência por férias são combinados com antecedência, para que coincidam e não haja afastamentos longos, uma vez que ele afirma ainda precisar de mim por perto. Bernard reatualiza frequentemente o pensamento popular, que faz parte de nossos subentendimentos: "Quem nunca comeu melado4, quando come se lambuza".

Quero agora voltar ao material. Uma questão quanto ao peso vivido no corpo paira nessa atmosfera de dúvidas e desconfiança: que tipo de objeto eu seria para ele? Alguém que seria capaz de se vingar de seus antigos deboches, não retornando para as futuras sessões? Não saberia ao certo: inclino-me a pensar que Bernard estaria tateando para me conhecer melhor e descobrir se poderia confiar plenamente em mim. Seu grande temor: eu não merecer sua confiança.

Lançando mão do modelo do funcionamento mental arcaico e pensando em voz alta: quando o seio que amamenta uma boca faminta se afasta do campo visual, a avassaladora angústia de aniquilamento toma conta da mente primitiva daquele que depende absolutamente de um seio para sobreviver.

Ao tentar uma transposição para nosso caso clínico, a angústia se espalha pelo campo analítico - frequentemente no verso da percepção consciente -, podendo permanecer como pano de fundo ao longo de toda a sessão. É forte a tendência de supor que também tenha sido esse o tema da vinheta.

Levanto tal possibilidade ao considerar que partículas terrificantes pareciam pulular em torno da dupla, sondadas em silêncio, por partes de meu self. Defensivamente, providenciei um arsenal de diques para conter ou meramente administrar as tragédias. Lembro-me do plano de saúde, da agenda telefônica, da revisão do percurso - e, como se tudo fosse pouco, daquela dúvida: retornaria à sala de análise ou estaríamos, para nunca mais, diante da última sessão?

No intuito de retomar essa sequência de mecanismos complexos, organizarei meu raciocínio, até aqui, seguindo alguma ordem:

1. A analista está envolvida em conflitos pessoais - relacionados à separação e viagens -que eventualmente podem ter sido captados pelo paciente.

2. A analista, sendo também objeto de transferência, pela via não verbal e olhares furtivos, projetou no mundo interno do paciente um alarme, ante à iminente separação ao pensar: última sessão.

3. Provavelmente o ego do paciente capta o sinal como possível perigo de sucumbir na ausência da analista, ao se saber de posse de precário arsenal defensivo egoico. Reprojeta na analista o suposto perigo e o temor de não resistir à separação, sentida como ameaçadora de sua integridade psíquica.

4. A analista reintrojeta partes de conteúdos do interior da mente do paciente e a consequente angústia nele desencadeada. Dentro de si, trabalhando com ela, a analista contém o próprio temor e a imaginável angústia do paciente. Tenta, assim, efetuar o processo de metabolização - ao qual acresce o conhecimento transmitido pela identificação projetiva do paciente, que se diz incapaz de suportar abandonos, sem conviver com o risco de sucumbir.

5. O paciente, ao duvidar de ser a analista um objeto seguro, que o acudirá quando necessário, certifica-se, pedindo/ordenando, em circunstância real, que ela atenda aos telefonemas, para verdadeiramente saber se é confiável afastar-se dela e ter certeza de que, em caso de urgência, será atendido.

6. A analista responde com um ato interpretativo gerado no caldo de cultura dos vaivéns das identificações projetivas e introjetivas da dupla analista-analisando, banhado pela relação transferencial-contratransferencial do campo analítico e permeado por fantasias inconscientes.

7. Na mente da analista, desenha-se um esboço de uma figura simbólica, um conglomerado de configurações em torno de "Mel", como a condensação de sentidos, à procura de palavras passíveis de serem sondadas e exaustivamente examinadas para efeito de nomeação. Isso poderia se equiparar ao sujeito da identificação projetiva ou ao terceiro elemento descrito por Ogden (1994b/1996, 1994c/1996).

8. As emoções transferenciais-contratransferenciais do paciente, do analista e do terceiro elemento estimulam-se mutuamente, reativando fantasias inconscientes, que se interligam e se entrelaçam, como em um duplo helicoidal, em contínuo funcionamento de idas e vindas.

Como corolário, antes de continuar destrinchando a clínica, introduzo o olhar precursor de Alvarez de Toledo: "Sensações contratransferenciais são sinais de desejos, emoções do paciente, que despertam no analista fantasias primárias acompanhadas de uma resposta emocional" (1954, p. 280).

II. Possível desligamento da analista da realidade

Sigo o material clínico e foco a pergunta: "Vai longe?" Eu ainda estava procurando saber como poderia lhe explicar que, fosse qual fosse o tempo de minha ausência e o tamanho da distância, aquilo seria vivido por ele como se nunca mais eu fosse retornar.

Enquanto eu perscrutava meus sentimentos, Bernard me espicaçava para receber respostas imediatas e concretas. A intenção de oferecer leite nutritivo para o bebê faminto era atropelada pela urgência. A pressa e a pressão me impediam de pensar com calma - e fiquei ainda tomada pela raiva, ao ouvir dele: "Shit! Também não responde!" Provavelmente era ódio. Temia não poder conter sua urgência e sentir-me atacada.

III. A caminho do ato interpretativo

Os telefones tocavam, e Bernard apelou/ordenou que eu atendesse: poderia ser um chamado urgente. Possivelmente ele escutava o que meu ego silenciara, e não podia ouvir o que mobilizara em mim: que eu estava captando que ele vivia meu silêncio como abandono. Quando tampara meus ouvidos, também não abafara o som dos telefones chamando e banira outros dados da realidade?

Continuando a investigação, não se poderia supor estarmos diante de possível área traumática da mente sem representação (Cassorla 2009), a de nunca ter se sentido atendido em suas necessidades primordiais? Surpreendia-me por não estar ouvindo os telefones chamarem, e pela possibilidade de estar ligada-desligada, aturdida.

Questionei-me se uma parte de meu ego estaria desconectada da realidade. Urgia discriminar, com precisão, se aquela conflitiva situação remetia-se à analista (resquícios de seu passado infantil clamando por mais análises) ou às introjeções provenientes de partes do self do analisando, nela massivamente inoculados, na forma de identificação complementar.

Debatia-me entre atender ou não o chamado telefônico. Se arriscasse fazer aquilo, temia incrementar nele os sentimentos de abandono. Iria deixá-lo sozinho e fazê-lo sentir-se excluído, introduzindo-o em uma relação triangular. Tal dilema me dividia.

Em princípio, o setting estaria preparado para que os sons externos fossem preferencialmente inaudíveis, se bem que não podemos refutar a evidência (lapso) de telefones tocando. Lapso esse que surgiria por uma justaposição de desejos? Como chamaríamos a esse fenômeno, além de lapso? Seria um precursor situado longe da consciência, de uma interpretação em forma de ato?

Explico: algum sinal, que provinha de estruturas inconscientes do self de Bernard, ecoava em decibéis ascendentes dentro de mim, chamando de forma urgente. Meu ego inconsciente parecia não atender os apelos que provinham de outro compartimento de meu self, identificado projetivamente com angústias catastróficas de partes primitivas da mente de Bernard. É claro, como disse, que o chamado urgente provinha de uma parte do self do paciente, mas não apenas dele.

Levantei e fui atender na sala contígua - entendida como o espaço mental contíguo de onde poderia observar o alarme interno tocando. Ao constatar o mesmo código de área de onde mora meu filho, a realidade externa e interna se (con)fundiram (mãe-analista--"X"), levando-nos à jurisdição do traumático familiar, abordado por Luísa Álvarez de Toledo (1954), Racker (1948/1953), e mais tarde trabalhado por autores como Betty Joseph (1992). Money Kyrle (1957/1990) assinala como partes internas do paciente, representando aspectos arcaicos danificados do self do analista, ameaçados pela agressão, prestes a serem reparados.

Aquela brusca mudança - levantar da poltrona, abandonar o posto e deixar o divã--paciente-setting para trás - mudou minha noção de tempo-espaço e originou um estranhamento do meu próprio eu. Compreendi, por outro ângulo, o que experimenta o lactente ao desconhecer o seio quando o vê de lado, se o conhecido é de frente.

Aquele meu levantar, entretanto, disse, sem palavras, por meio de um ato interpretativo (Ogden, 1994a/1996), que qualquer chamado urgente seria atendido. Como desprezar a possibilidade de, ao deixá-lo sozinho, compulsoriamente introduzi-lo nos traumas do Édipo precoce da realidade triangular.

A mãe-analista, indo com um "outro", perde-me como parte de si. Inicialmente, duvidei se ele estava magicamente tentando me incitar a uma ação, e cogitei estar sob o domínio de uma contraidentificação projetiva. Se complementarmente identificada com aspectos internos do ego de Bernard, eu poderia representar o papel a que ele me induziu ou poderia evacuar elementos não pensados pela via de um enactment. Desse modo, eu me afastaria da percepção e consequente elaboração do trauma do não representado, impedindo-o de ser pensado antes da ação da descarga.

Posteriormente, tal hipótese foi descartada, já que a ação de levantar e de atender o telefone foi precedida de prelúdios de pensamentos ainda não totalmente completos, não colocados em palavras, e sim, em ação.

IV. Os ataques (ferozes) do presente e auscultando lembranças do passado

Os ataques (ferozes) do presente

Podemos inferir, em princípio, que a voz entrecortada de "X" nos orientaria em direção a uma eventual contingência ou ameaça a uma criança deixada sozinha, longe, clamando por ajuda. Parece que a busca de auxílio transmitida à mãe-analista por via indireta - telefone, comunicação inconsciente, identificação projetiva -, foi inoculada no mundo mental daquela.

Continuando o raciocínio dentro dessa linha, Bernard estaria empenhado em indagar se seria socorrido ante uma situação similar no seu self fragilizado e ameaçado de agressão. Na sala contígua, a da realidade externa, e também no espaço analítico, realiza-se a constatação.

A cachorrinha Mel (pronunciada Meu), atacada na cabeça pelos cães pastores do canil, está em estado de choque. Os donos saíram de férias. Meu-Mel-minhas longas férias. A dúvida de sobrevivência pairava na mente da analista, do analisando e de "X".

Presumo que "meu-analista" poderia estar danificado, na fantasia, pelos traumas rea-tualizados e soltos dos encarceramentos, pelos embates no canil mental, e que esse quantum de informação inconsciente já trafegava no mundo fantasmagórico da dupla, prestes a ser representado, e cujo disparador foi lançado pelo ataque dos cães.

Sou da opinião que isso propicia a revivescência de cenas dolorosas, mazelas de uma ocasião em que Bernard programou pôr fim à sua vida de maneira a lembrar o drama de Mel. Os cães romperam suas amarras e libertaram-se na iminência das férias.

Dentro da sessão, formam-se ilhotas de triangularidade: Mel-pastores-"X" vivendo a agressividade assassina no limite do colapso; analista-"X"-paciente; pastores-"X"-paciente; Mel-paciente-analista; "X"-analista-Mel - todos interligados entre si por identificações cruzadas amarradas por forças pulsionais de pares antitéticos (ativo-passivo), com predomínio da fragilidade/ferocidade.

Quando evoco para "X": "Imobilize com um pano, comprima a ferida e, com urgência, leve para o veterinário", estou quase certa de que Bernard ouve, porque soltei as amarras da minha voz. Inconscientemente estaria "despertando a fera", na tentativa de cuidar, à distância, das feridas de Mel infligidas pela agressividade impiedosa?

Por outro vértice, deixar Bernard ouvir configura-se uma confissão contratransferen-cial que, ao apagar a assimetria estrutural e funcional do campo, pode, quem sabe, causar confusão no analisando e deslocar o analista de sua função específica (Baranger e Baranger, 1961-1962/2008).

A benevolência com os cuidados na cabeça (a Mel-meu paciente) opõe-se ao sadismo dos maus-tratos, quais chutes na cabeça. Tais descuidos eram animados por munições de chumbo, para uso agressivo, por uma criança, por si incapaz de conceber o perigo que uma arma poderia acarretar.

Desse relato, depreende-se que Mel e a constelação de imagens que a acompanha poderiam ser configurados como o terceiro elemento descrito por Ogden (1994b/1996), ou fantasia inconsciente básica de Madeleine Baranger (2005, p. 64).

Auscultando lembranças do passado

A contumaz afeição às "brincadeiras-jogo", que Bernard ambivalentemente relembra com raiva e anseio, remonta-se, na memória consciente, à fase anterior aos seis anos, em seu país natal.

Sentado debaixo de um relógio de pêndulo, jogava bolinha de gude com adversários imaginários. Travava acalorados desafios com rivais quase invencíveis (ele versus ele mesmo). Cada bolinha conquistada do "adversário" era trocada por um penny5, quando a mãe, à noite, retornava para casa.

Com essas moedas comprava chumbinhos para espingarda de ar comprimido - que usava na arma do tio do amigo, seu super-herói - e para atacar os cachorros. O retorno da mãe era intuído pelo badalar do carrilhão: quantos mais toques, mais próxima a hora dela chegar.

O passar do tempo tinha o registro da quantidade de toques do carrilhão. Ficar sozinho estaria atrelado à troca por chumbinhos, aos tiros triunfais e certeiros em alvos vivos, e aos tratos cruéis.

Hipótese: ao sentir-se um elo inocente no tráfico de mercadoria - que provavelmente o impulsionava a tentar uma retaliação contra o objeto materno ante o sentimento de orfan-dade -, Bernard arremessaria nos animais, com violência, seu valoroso penny?

A expectativa da mãe chegando deixou registros corporais, alguns dos quais se recorda vagamente: a sensação de excitação ao escutar o som característico da tranca de ferro do portão de entrada do quintal da propriedade onde morava.

Em bando, caçavam cachorros na rua, faziam mira nos olhos ou nas orelhas, festejando quando o chumbinho saía do lado oposto, intacto. Os alvos não morriam; quando ficavam zonzos, bamboleantes, eram chutados na cabeça até desmaiarem. "Cachorro de rua é propriedade anônima, mais cedo ou mais tarde há de morrer".

O badalar do relógio anuncia uma carga pulsional agressiva, marcada pelo peso do sentimento de desproteção, e encoberto pelo cheiro de chumbo, de sangue, de violência. Tal como caçoaria de mim pelas "mixarias de férias" aprendera a debochar da mãe: dizia-lhe que o tempo em que o deixava sozinho era pouco, porque precisava ganhar mais bolinhas do "adversário", e o tempo era curto para triunfar sobre "eles" (ela).

É provável que nesse momento atual se sentisse afrontado por mim: ao me afastar por mais tempo, eu estaria tentando escapar de seu controle. São outros tempos, diferentes daqueles do início, quando a presença constante de farpas em seu linguajar denunciava profunda dor pelas feridas precoces e a fragilidade encoberta por um mundo alucinado, em que jogos intermináveis, alimentados por quimeras, resultavam em saldos autodestrutivos.

Poucos dias passados do episódio com "Mel", uma cena de sadismo e tentativa de automutilação surgiu na sessão. Rememora Bernard, em relatos truncados, resquícios de "uma espécie de prazer misturado com dor, colocado num papel ativo, de cenas cruentas com uma menina-moça franzina e delicada, doce como o mel".

A frase me provocou outro lapso auditivo: escutei "doce como o meu" embora a pronúncia tenha sido um tanto atropelada. Esta ressalva não exclui pensar que o engano não deve ter sido em relação ao sotaque, já que estive às voltas anteriormente com equívoco similar (Mel-meu). O episódio remeteu-me à cena dos cães pastores: ele, pastor sádico e agressivo, vitimando a franzina e delicada Mel, como tantas vezes devo (meu) ter sido vítima passiva de sua parte feroz.

Trata-se, como disse, de um lapso reincidente, passível de continuar sendo examinado com o auxílio da acuidade de outras lentes (que estão ao meu alcance). A marca da cisão estampada no relato dos opostos, a delicadeza de Mel adoçada à custa da contrapartida feroz de sua mente, presumivelmente atacariam, na fantasia, quem o alimentava com munições de chumbo.

Por sua vez, ele as inoculava violentamente em seu objeto-alvo, com crueldade e sadismo. Tentaria Bernard investigar se a bala por ele disparada também sairia intacta do outro lado ou ficaria dentro da minha cabeça-reservatório?

O componente da agressividade apresentava sofisticado requinte, mesmo quando -tanto tempo atrás, em outra ocasião e outro mundo - atentara contra a própria vida. Em uma pequena propriedade, morava a família composta pelos pais e cinco filhos homens (a primeira a nascer fora uma mulher, que havia morrido).

Programara, então, dar fim a sua vida de forma certeira. Ali passava uma linha férrea de bitola estreita, que ligava os povoados da região. Cortaria uma porção de capim (do cultivo que destinava a ser fenado para servir de alimentação às ovelhas no inverno), cobriria com ele seu corpo, como disfarce para não ser visto, e assim camuflado pousaria a cabeça sobre o trilho.

Preparou todo o palco para o drama: na hora do fatal desenlace, porém, faltou-lhe coragem. O apito da locomotiva ao se aproximar e as rodas de ferro, fazendo estremecer os trilhos, dispararam o start para a vida. Nunca mais pensou em buscar a morte porque a "morte pode vir sem ser buscada, sem pensar".

 

Síntese teórico-clínica

O conceito de identificação projetiva tem se mostrado, ao longo das décadas, o pivô das formulações teórico-metodológicas passíveis de serem catalogadas como o alicerce do processo de comunicação. Uso o termo "modelo" no sentido de uma analogia figurativa e, portanto, simbólica: uma abstração nos movimentos da dupla mãe/bebê, aqui usada como equivalente a analista/analisando.

Nesse sentido, notamos nos trabalhos de Álvarez de Toledo (1954) que o paciente trata seu analista e o maneja da mesma forma com que trata e maneja seus objetos internos. Da mesma maneira, sente-se tratado e manejado por eles. O analista adquire, assim, as qualidades dos objetos introjetados. Se tal condição mágica não puder se sustentar, não se manterá a situação analítica.

Existem fortes razões para se pensar que, no caso em tela, a dupla analítica estava se comunicando através de uma linguagem não verbal, impregnada de comunicação inconsciente e mediada por identificações projetivas, ora massivas, ora realísticas.

Por essa via da comunicação inconsciente, o paciente parece ter impelido a analista em direção a uma ação interpretativa (Ogden, 1994a/1996), a fim de que ela emitisse algum sinal de estar atenta a ele - e ele pudesse perceber convincentemente que a analista não era um objeto ausente e, sim, alguém com quem ele podia contar ante um chamado urgente.

A analista faz uma identificação comunicativa com o paciente, por meio da qual ele lhe transmite a ansiedade. Por sua vez, a analista sente-se assustada e temerosa ante o tilintar dos telefones, vivenciando a identificação com maior ímpeto: no lugar, porém, de se paralisar pela invasão da angústia, transforma isso em uma interpretação não verbal, consubstanciada em ato, uma vez que se levanta e vai atender.

Inicialmente senti-me muito preocupada com minha possível contratransferência patológica, no sentido freudiano, envolvendo conflitos próprios que tivessem levado a me desligar do paciente.

Outra possibilidade: a ocorrência do fenômeno da contraidentificação projetiva. Ao me levantar, deixando o paciente a sós, talvez eu pudesse ter sido absorvida pelo desespero do paciente e, assim, descarregado as ansiedades. Tive a convicção de que havia cometido um erro técnico. Evidentemente, consciente de meu papel, suspeitava de não se tratar de contraidentificação projetiva, uma vez que meus conflitos também estavam envolvidos.

Ao verificar a sequência da sessão, constatei que o ato fora produtivo para o processo analítico e senti-me obrigada a reformular minhas hipóteses iniciais. Penso que o paciente me comunicou seu desespero por meio de identificações projetivas como atividade realística (Bion, 1962), que eu captei inconscientemente, estimulando uma identificação concordante. A analista responde por meio de uma ação interpretativa que expande o campo.

Existe a quarta possibilidade: a analista foi alvo de identificações projetivas massivas (Bion, 1962) que, subordinadas cegamente ao comando/pedido "atenda!" levaram-na a responder. Aqui estaríamos no território da identificação projetiva complementar descrita por Racker ou enactments crônicos. O ato interpretativo do analista poderia ser considerado um enactment agudo, que dissolve o enactment crônico (Cassorla, 2008).

Concluindo, é prudente conjecturar que a analista pode ter sido objeto quer de identificações projetivas massivas, de identificação complementar de comunicação ou de identificação realística ou concordante, no referencial de Racker.

Acaso poderíamos descartar que houve uma pitada de cada coisa? Em minha compreensão, inclino-me a pensar que, no ato de atender ao telefone, a analista usou sua contra-transferência como um instrumento, predominando a identificação projetiva comunicativa concordante, aquela que desperta na mãe sentimentos dos quais a criança deseja se libertar.

A evolução da sessão mostrou que eu pude sintonizar aspectos comunicativos; e, portanto, não estava abandonando o paciente: pelo contrário, mostrava-lhe que estava presente em situações de emergência e que, talvez, nós dois pudéssemos viajar com mais tranquilidade.

Do ponto de vista longitudinal do processo, a dupla entrou em contato com aspectos violentos e turbulentos, castigadores-castigados. Nem sempre a analista saía ilesa, mas, quando percebidos, a posteriori, iluminavam áreas por trás das trevas do inconsciente, e Bernard podia comunicá-los, além de sua percepção e intencionalidade.

Os supostos erros técnicos - hoje posso dizer - são passíveis de serem produtivos quando corroborados pela experiência. Esquadrinhar material não verbal, transmitido por comunicações projetivas, propiciou aberturas no campo analítico. Em nosso caso, o tal "erro técnico" nos acompanhou em direção a um crescimento e ao íntimo conhecimento emocional da dupla.

Dupla que é "humana, de carne e osso", que poderia conduzi-lo ao registro simbólico do terceiro, ao acolhimento da dor mental, das falhas, dos mútuos ferimentos, da compreensão das separações como partes necessárias do processo e da vida. O luto depressivo, colocado no campo analítico, está sendo elaborado segundo a segundo.

Os recursos de Bernard para trabalhar neste nosso processo de análise têm se mostrado infindáveis, como suas lembranças, como meus relatos. Permite-se expor, no campo analítico, com a ampla bagagem vivencial para trabalhar nesta parceria. Com não pouca frequência, sinto que nós dois, na triangularidade, estamos identificados.

Desse modo, por vezes, ele "sabe" o que eu sinto. Todavia, não podemos deixar de mencionar que também eu senti por ele aquilo que ele ainda não poderia sentir por si: simbolizar, ao pôr em palavras, a construção a quatro mãos.

E isso faz parte da vida.

 

Referências

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Correspondência:
Marta Úrsula Lambrecht
Avenida 9 de Julho, 1717/52
13208-056 Jundiaí, SP
Tel.: (11) 4521-4361
martaursula@gmail.com

[Recebido em 15.2.2013
Aceito em 7.6.2013]

 

 

1 Mel é um nome ao qual Bernard jamais tivera acesso.
2 Costumeiramente, meu período de férias é de uma semana. Dessa vez, foram dez dias.
3 Mel, mellis, mel, melar, melado (derivação etimológica, a partir do latim).
4 Moeda local, equivalente a um centavo. Poderiamos falar de "esterlina", o que comporia a contrapartida feminina do par antitético, insinuado nas entrelinhas deste trabalho. Penny, em português pronunciado "pêni". Não considero mera coincidência a associação com pênis, uma vez que esse menino (quinto filho homem) estaria, creio, à procura de modelos masculinos de força e potência.

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