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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.47 no.4 São Paulo out./dez. 2013

 

ARTIGOS

 

Do significado ao sentido: uma trajetória em psicanálise

 

From signification to meaning: a path in psychoanalysis

 

Del significado al sentido: una trayectoria en psicoanálisis

 

 

Marli Claudete Braga

Psicanalista, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ) e membro fundador do Grupo Psicanalítico de Curitiba (GPC)

Correspondência

 

 


RESUMO

A autora examina pontos de mudança em sua maneira de pensar e trabalhar em psicanálise nas três últimas décadas. Percebe que tais mudanças também ocorreram no desenvolvimento do conhecimento psicanalítico. Para tratar desta situação em sua experiência, toma como referência um caso clínico atendido há trinta anos e vinhetas do seu trabalho atual. Complementa o exame com reflexões sobre sua visão do mental e das modificações que nela aconteceram ao longo deste tempo.

Palavras-chave: significado; sentido; desenvolvimento; mudanças; evolução.


ABSTRACT

The author examines points of changes in her way of thinking and working in psychoanalysis in the last three decades, realizing that these changes also occurred in the development of psychoanalytic knowledge. To examine this situation in her experience, she refers to a case dated thirty years ago and fragments of her current work. She complements this examination with reflections on her vision of the mental world and the changes it underwent during this time.

Keywords: signification; meaning; development; changes; evolution.


RESUMEN

La autora examina puntos de cambio en su forma de pensar y de trabajar en el psicoanálisis en las tres últimas décadas. Percibe que estos cambios también ocurrieron en el desarrollo del conocimiento psicoanalítico. Para tratar de esta situación, basándose en su propia experiencia, toma como referencia un caso atendido hace treinta años y casos clínicos de su trabajo actual. Complementa este examen con reflexiones sobre su visión de lo mental y de los cambios que en ella ocurrieron durante este tiempo.

Palabras clave: significado; sentido; desarrollo; cambios; evolución.


 

 

Um cientista não mantém exatamente a mesma opinião sobre sua pesquisa de um dia para outro, pois a leitura, reflexão e discussão com colegas provocam uma mudança de ênfase aqui e ali e possivelmente até uma avaliação radical de sua forma de pensamento
(Medawar, 1979/1990, p. 41).

 

1. Introdução: uma trajetória pessoal que acompanha um desenvolvimento no pensamento psicanalítico

Proponho examinar pontos de mudança em minha maneira de pensar e trabalhar em psicanálise nestas três últimas décadas; percebo que também são mudanças no conhecimento psicanalítico. Tomarei como referência um caso clínico atendido há trinta anos e vinhetas do meu trabalho atual. Complemento com reflexões sobre minha visão do mental e as modificações que nela aconteceram ao longo deste tempo.

Estamos acostumados a acompanhar modificações no pensamento de psicanalistas - Freud e Bion são bons exemplos. Mas o que tenho em mente aqui está mais próximo do que Money-Kyrle expôs em "Desenvolvimento cognitivo" (1968/1996): uma revisão de nosso referencial a partir do acúmulo de experiências e do acolhimento de novas teorias que se mostram mais úteis que as anteriores. Minha pretensão será a de estar às voltas com a clínica em sua dependência de conceitos e da experiência vivida. Sintonizo com o que Di Chiara expressa: "na clínica, que é o trabalho principal do analista, sem o qual não existe a possibilidade de legitimização da pesquisa, teoria e identidade psicanalíticas" (1995, p. 11).

Não vou me reportar à importância que tiveram para mim, em minhas posições e nas mudanças delas, minhas análises pessoais e supervisões. Tenho-as como óbvias. Vou me deter na relação clínica e nas teorias que a sustentam.

Credito um papel fundamental em minhas mudanças à formação como psicanalista de crianças e adolescentes - tendo acompanhado (por duas vezes) cursos de observação da relação mãe-bebê na família pelo Método E. Bick -, bem como ao trabalho com crianças autistas, que me permitiu um contato privilegiado com os primordios da vida psíquica, anteriores aos processos que habitualmente reconhecemos como mentais - ou seja, com condições em que ainda não há formação simbólica: áreas de não pensamento, de não mente. Isto me propiciou a possibilidade de perceber melhor e valorizar a minha intuição e também os comportamentos não verbais: expressões faciais, entonação de sons, gestos. Aprendi a notar o que se perde ao se prender à linguagem falada.

Estas vivências me estimularam a desenvolver minha condição para a observação, tolerando mais as ansiedades que experimento ao lidar com o não mentalizado, com o impacto das emoções, dos desejos e das frustrações; suportando o silêncio e desenvolvendo a capacidade de ser receptiva; ficando mais atenta ao momento presente e aceitando a possibilidade de me desprender de ideias preconcebidas, incluindo as teorias que fundamentam o método psicanalítico. Esta disciplina redunda em não intervir até sentir que se formou em mim uma captação que jogue luz sobre o conjunto de elementos apresentados pelo analisando. Assim, inevitavelmente, valorizo o contato com o nascimento de estados mentais na situação analítica. Carrego uma bagagem teórica que aos poucos tem se ampliado: Freud e Klein foram a base que tive; mais tarde, fui sendo influenciada principalmente por Bion, Winnicott, Meltzer, Bick e Tustin.

Como ideia geral, penso que estou acompanhando a corrente de pensamento que surgiu com Bion, a qual retirou o monopólio da interpretação de significados dos conteúdos mentais e passou a privilegiar o sentido dos elementos que surgem no campo analítico. Meltzer explicita esta diferença:

... precisaríamos reservar a palavra "sentido" [meaning] para a representação de estados emocionais por símbolos criados pela função alfa para o uso na construção de pensamentos oníricos. Palavras usadas para nomear os fatos do mundo externo, os sinais convencionais para a comunicação, seriam denominadas, desta forma, "significar" [to signify], "ter significação" (1986/1989, p. 10)1.

Tradicionalmente, em psicanálise, os significados já consolidados na teoria analítica funcionam como continente para a experiência acontecendo na relação analítica (o conteúdo) e conduzem a interpretação. A mudança que estou examinando privilegia a elaboração pelo analista da experiência da relação analítica, o sentido advindo do trabalho da função alfa; este agora é que serve de continente para os significados dados pela teoria analítica.

Tal movimento pode ser visto como uma reversão, no sentido da imagem da taça de Rubin: a escolha entre enxergar uma taça ou, feita a reversão, ver dois perfis - ou vice-versa. Ao fazermos a reversão para percebermos o sentido das comunicações na relação analítica, os conteúdos mentais simbólicos, compartilhados pelo grupo (significados), continuam existindo, mas a face que passa a ser privilegiada pelo analista é a dos símbolos criados pela função alfa. Creio ser esta uma tendência que está ganhando um maior reconhecimento no pensamento psicanalítico atual. Recentemente, após já estar com este trabalho encaminhado, encontrei este posicionamento em Ogden: "A mudança de ênfase na psicanálise contemporânea, do que o paciente pensa para como pensa, alterou significativamente, acredito, a maneira como nós, analistas, abordamos o trabalho clínico" (2012, p. 211).

Para continuar este exame passo a recorrer à minha vivência na clínica. Vou apresentar, de forma mais detalhada, discussões de como eu trabalhava há trinta anos, privilegiando os significados, com observações do que foi mudando para mim (item 2). Na sequência (item 3), apresento quatro vinhetas de casos recentes nos quais me identifico valorizando o sentido da experiência que está acontecendo.

 

2. Uma aproximação através dos significados

Examino minha forma de trabalhar no início da década de 1980, ao começar minha prática clínica psicanalítica. Nessa época, via a psicanálise como um método terapêutico, voltado ao tratamento de quadros psicopatológicos - método que eu entendia por explicações baseadas em uma dinâmica mental que a própria psicanálise havia desenvolvido (teorias do desenvolvimento da mente e do funcionamento da personalidade). Poderia dizer que a ideia geral era a de causalidade, a ênfase em acontecimentos no início da vida. Na prática clínica, era um tratamento baseado no interpretar, na transferência, no mundo interno da criança, privilegiando os processos de identificação projetiva. Um bom referencial poderia ser "Transferência: a situação total", de Betty Joseph (1985/1990). Ao mesmo tempo, valorizava resultados, que avaliava pelo alívio dos sintomas e pela melhoria no ajustamento do analisando em suas relações interpessoais.

Na ocasião, era essa a minha perspectiva em relação ao trabalho com Roberto, paciente que descrevo a seguir. As dificuldades que vivi, as dúvidas, inseguranças, angústias e a impotência que senti com ele, as muitas horas de supervisão que fiz, deixaram-no como um marco em minha vida. Hoje acredito que tudo isso foi acrescido pela sensação de frustração de sentir não ter tido a possibilidade de colaborar com o desenvolvimento de sua mente. Recorro às minhas vivências com ele para ajudar a colocar em perspectiva as mudanças que observo em meus posicionamentos clínicos e teóricos.

Quando Roberto estava com oito anos, seus pais me procuraram com o intuito de trazê-lo para análise, alegando o fato de ele ser uma criança "muito recolhida, fechada", além de quererem resolver a enurese noturna que apresentava. Fiz uma avaliação baseada em informações da família e em um contato com Roberto. E após passar aos pais minhas conclusões, começamos.

Na época não tinha desenvolvido suficientemente a compreensão da necessidade de incluir um acompanhamento dos pais, de modo a terem a possibilidade de se aproximar do mundo mental do filho, de descobrirem a existência da vida emocional. Estava envolvida na cultura psicanalítica da época: fazer de maneira diferente era como cometer uma heresia2 -não seria análise.

Um dos pontos mais significativos das mudanças que acompanhei em minha prática com crianças e adolescentes se relaciona exatamente a esta questão. Mais tarde, debruçando-me atentamente sobre as contribuições de Klein, pude discriminar melhor seu pensamento, o fato de ela ter acentuado a importância da mãe real e dos que estão em torno da criança para um desenvolvimento mental saudável. Como exemplo, assim se posiciona ela, próximo ao final de sua vida, em "Sobre a observação do comportamento dos bebês" (1952/1982, p. 262):

A cada passo, as ansiedades persecutorias e depressivas podem ser reduzidas ou, segundo o caso, aumentadas pela atitude da mãe; e à medida que as figuras prestáveis ou persecutórias prevalecem no inconsciente infantil é fortemente influenciada por suas experiências reais, primeiramente com a mãe, mas também dentro em breve, com o pai e outros membros da família ... No presente capítulo, sublinhei repetidamente que a mãe compreensiva pode, por sua atitude, diminuir os conflitos do seu bebê e, assim, em certa medida, ajudá-lo a enfrentar, mais eficientemente, suas ansiedades. Uma compreensão mais completa e geral das ansiedades e necessidades emocionais do bebê minorará, portanto, o sofrimento infantil e preparará os alicerces para maior felicidade e estabilidade no resto da vida.

Voltemos a Roberto. Trabalhamos durante quatro anos, com quatro sessões semanais, atendidas com muita pontualidade e dedicação por parte dele. Ele morava a uma distância grande e deslocava-se sozinho de ônibus, pegando-o próximo de sua casa e descendo a uma quadra do meu consultório.

Isto ilustra bem suas relações familiares. Sua mãe, apesar de não trabalhar, não se propunha a acompanhá-lo. Minha impressão dela era de uma pessoa sem condições de compreender a vida mental e sem contenção para as necessidades emocionais de seu filho. Ao observar as dificuldades dela, em nossos encontros de avaliação, encaminhei-a para uma terapia, o que nada adiantou. Ela mesma se dizia uma pessoa muito brava e severa, e atribuía suas condições de personalidade à sua criação russa. O pai, por outro lado, se envolvia totalmente em sua profissão - um cargo importante no governo - e não dispunha de tempo para o filho; segundo Roberto, ele também era alguém de pouca conversa. O pai disse, literalmente, tê-lo rejeitado no nascimento, por ser menino e pela diferença grande de idade em relação aos irmãos - veio quando já não esperavam mais filhos. O pai, em minha observação do funcionamento do casal, me pareceu alguém submisso às posições da esposa. Quem mais se aproximava de Roberto era uma irmã bem mais velha, que na época já morava em outra cidade; eram muito afeiçoados um ao outro.

A minha compreensão na época, pelas informações trazidas pelos pais e pelo que percebia no contato direto com Roberto, era de ser ele alguém com poucos vínculos, com um mundo emocional pobre, sem relações de objeto que favorecessem seu desenvolvimento. Trazia elementos claros de dificuldades emocionais importantes na família, mas eu me orientava pelo tentar trabalhar suas fantasias, ansiedades e defesas como apareciam na transferência. No entanto, não conseguia me limitar a este enfoque. Via-me frequentemente pensando em Roberto inserido em suas relações familiares. Algumas questões, por exemplo, logo me surgiram frente ao quadro que observava: por que ele foi trazido para começar uma análise? O que de fato incomodava os pais? Haveria algo que sentiam como ameaça além dos sintomas descritos? Muitas vezes me ocorria que talvez o fato de perceberem algo nele ligado à sexualidade fosse a real perturbação, pois eram personalidades muito rígidas, de grande religiosidade, para quem, quando muito, era possível falar em "pipi". Ocorria-me que ele poderia ser o escolhido para carregar uma patologia familiar.

Trabalhava com a ideia de que ele não havia desenvolvido os fundamentos para uma vida mental por falhas na relação com a mãe e com o casal parental; via-o às voltas com sentimentos de impotência, não conseguindo criar para si um lugar na família no qual pudesse existir e se reconhecer como indivíduo. A partir de minha vivência interna na relação com ele nas sessões, experimentava dolorosas sensações de exclusão. Como poderia Roberto desenvolver, na análise, uma relação fértil a partir desta configuração familiar? Hoje não me parece que ele, por si mesmo, tivesse condição para tanto. Estou, então, considerando a hipótese de que Roberto carregasse um desastre mental primitivo, que o impedia de desenvolver vínculos fundamentais.

O trabalho analítico acontecia com muitas dificuldades de minha parte; fazia transposições de teorias e de explicações do supervisor para o que observava nas sessões; buscava significados. Sessão após sessão, eu tinha que lidar com minhas aflições. Sentia-me muito só, com a sensação de que eu não existia para Roberto e sem saber como fazer para me aproximar do que se passava internamente com ele. De início, Roberto ficou meses trabalhando com argila. Nada falava, a não ser "Bom dia" e "Tchau". Tudo o que eu lhe dizia dava a impressão de sumir no ar; não observava qualquer expressão de emoção em sua face, ou qualquer sinal em seu corpo, que servisse para eu me agarrar e colocar em palavras como uma resposta sua. Dependia unicamente de minhas referências teóricas e do que, na época, denominava minhas "contratransferências". O "sonhar os eventos imediatos da sessão" e minhas intuições não eram ferramentas conhecidas.

As formas que Roberto fazia com argila não me pareciam expressivas; sugeriam a ideia de que estávamos trabalhando com questões muito regressivas, o que na ocasião me referia à analidade. Eu, porém, não ficava totalmente sem recursos frente ao seu silêncio; tentava encontrar palavras e falar algo para ele; e interpretava o que acreditava serem suas fantasias. Sentia que seria pior para ambos se eu mantivesse um silêncio prolongado. Ocorria-me que Roberto estava atirando conteúdos agressivos, violentos. Abrir mão do xixi, da enurese, era como ficar sozinho, sem espaço e sem armas para lutar. A briga pelo seu relacionar-se fazia-se via enu-rese, com seu pênis atacando os pais, transformando sua braveza em fezes e urina, aparecendo o elemento fogo colocando ácido em tudo. Percebia que Roberto necessitava continência; ao fechar-se, transmitia um medo de se esvaziar. Assim, a enurese tinha várias finalidades.

Passo a descrever algumas formas de interpretar que utilizei:

♦ O medo que tinha de se esvaziar, de desaparecer;

♦ Que me parecia acreditar que tinha de se construir e de se formar sozinho;

♦ Que ninguém o ajudava; que imaginava que não lhe davam o que ele precisava como pessoa;

♦ Que podia contar com minha ajuda; que eu estava ali, ao lado dele, mas que ele temia me destruir;

♦ "Aqui na sessão, nós vemos estas situações que permitem a você se alimentar, receber o alimento para a sua mente. Porém, você necessita segurança para continuar, prosseguir na vida e saber como lidar com ela e com tudo isto";

♦ "Você pode aqui se construir sem me destruir e sem se destruir. Não precisa batalhar comigo, pois esta batalha já acabou";

♦ Que ele não percebia que já não precisava destas batalhas para ir adiante na vida: "Você conseguiu e pode lutar de outras formas";

♦ "Hoje você tem outras condições e outros recursos para lutar";

♦ "... por mais que você jogue urina, parece não adiantar";

♦ "Você está zangado comigo por eu lhe ter dito coisas que não o agradaram. Como manda xixi para as outras pessoas, como o papai e a mamãe, está aqui comigo fazendo o mesmo".

Hoje noto a duplicidade nessa linha interpretativa, juntando a visão de ataques aos objetos com a do estar só para se construir. Acredito que, intuitivamente, buscava um posicionamento que privilegiasse o desenvolvimento mental e não o "tratar" sua patologia. Imagino que estava nos primórdios de uma mudança que levou mais uns quinze anos para se completar, que ocorreu com o meu contato com as ideias de Bion e de Winnicott. Também penso, agora, que uma primeira questão sobre minhas angústias era a de não estar com o referencial teórico de que me valia suficientemente integrado; vejo-me fazendo tentativas de me ajustar a uma forma de pensar que me era externa. Apesar de me sentir desconfortável no contato e achar Roberto com muita dor emocional, parecia-me que parte de sua mente podia evoluir. Baseava-me em algumas evidências; por exemplo: não faltava às sessões; enquanto estava comigo, trabalhava o tempo todo; lenta e gradativamente mudava seu desempenho; ia regularmente para a escola, rendendo o suficiente para passar de ano. Mas eu permanecia com inquietações sobre o seu desenvolvimento, pois também se paralisava no relacionamento comigo. Ele, no entanto, como eu, não desistia. Do nosso contato, parecia extrair algo favorável.

Hoje ao retomar essa experiência, penso que o fator mais importante não estava no que eu dizia (os significados) e sim na experiência de ele poder contar comigo, com a minha condição de contenção, de estar sempre ali nos horários combinados, de não abandoná-lo, de sobreviver a seus ataques (os sentidos que a relação analítica permitia alcançar).

Após um ano de trabalho, a argila ficou de lado e começaram os desenhos, centenas deles, que passaram a criar novas possibilidades de comunicação com ele. Surgiam elementos mais significativos para me situar a respeito de sua mente. Apresentavam-se cenas de guerra de navios e aviões - de avião contra avião ou de navio contra navio, assim como de ataques aéreos a navios, com grandes mísseis explodindo nos céus e nos mares. Porém, seu estado mental de fechamento permanecia. Se eu me detinha em seus desenhos como indicadores de desenvolvimento, parecia-me, pela sequência deles, que a análise estava indo bem, pois sempre os navios eram bem defendidos. Todavia, mantinha-se um incômodo dentro de mim, por continuar a percebê-lo como um robô, e por seu silêncio total.

Após cerca de três anos de trabalho analítico, Roberto passou dos ataques nos desenhos para a montagem de aviões (Ravel). Envolvia-se intensamente nessa atividade; seu isolamento, porém, permanecia, mesmo quando eu lhe fazia perguntas diretas. Não respondia, e quando o fazia, era com poucas palavras. Montava os aviões fechado como uma ostra em sua concha. Minhas tentativas para abordar seus aspectos mentais, simbólicos, fracassavam. Uma exceção foi quando, frente a uma colocação minha, introduzindo aspectos edípicos, quebrou o avião que construía. Achei significativo ter Roberto tido essa crise de raiva, apesar de ter sido a única. Pude colocar a ele o fato de mostrar sua zanga comigo e que assim me possibilitava compreender melhor o que se passava dentro dele: "O único lugar que dá para fazer isto é aqui, na M.; em casa parece que você usa o xixi para mostrar sua raiva; aqui na análise não necessita". Penso ter sido o seu jeito de me forçar a me dar conta da necessidade de ter atenção a aspectos mais primitivos de sua personalidade. Na época, meu referencial me levou a pensar em regressão e ataques ao seio; hoje, pensaria que estava frente a intensas angústias próprias ao continuar de seu desenvolvimento emocional.

O fato de ele apresentar condições melhores, como a prática de montar aviões ali comigo, assim como o ir para escola, locomover-se só pela cidade, vir para as sessões com pontualidade e assim por diante, não era o todo de sua personalidade. Havia uma distância grande entre formas de ajustamento a expectativas sociais e a não elaboração de sua vida emocional, seu fraco desenvolvimento mental, simbólico.

Fiz tentativas de discriminar estas questões e o nível genital, por exemplo, dizendo-lhe: "Seu pênis me parece que serve apenas para você atacar, destruir, ou para se proteger, para não morrer, mas não consegue usá-lo para ter prazer". Eu pensava que ele não podia abrir mão de fazer xixi na cama, porque abandoná-lo seria ficar na terra de ninguém. E também que "poderia deixar de usar o pênis para ataque e usá-lo para coisas bonitas e boas. A única utilidade de sua potência parecia ser a de queimar".

Ainda dentro de questões do nível genital: como eu vinha percebendo manifestações de pouca clareza em torno de sua identidade sexual, quando aparecia alguma possibilidade, trabalhava a questão do masculino e do feminino. Em um determinado momento isto ocorreu com tanta intensidade que me vi colocando: "Às vezes parece que fica difícil você saber se é um homem ou se é uma mulher". Não parecia que pudesse imaginar um casal amoroso: "Será que você sente que foi feito com raiva pelo papai e pela mamãe, papai urinando na mamãe?".

Por esta época eu também fui percebendo que seus pais não estavam podendo valorizar sua análise, devido a certas posturas deles, como atraso de pagamentos, solicitação de redução de sessões, perguntas sobre término do tratamento. Vinham por bilhetes ou ele dizia duas ou três palavras como: "Meus pais querem diminuir as sessões". Se eu questionava o que ele pensava disto, não me respondia, só mantinha uma fisionomia engessada.

Então, após quatro anos, tendo Roberto doze anos, os pais suspenderam o trabalho analítico. De nada adiantou alertá-los da fragilidade da personalidade do filho. Meu ponto de vista era de que seria crítica a interrupção da análise naquele momento. Além de estar em um período de início da adolescência, parecia-me que ele estava em uma corda bamba e que isto retiraria dele uma área de auxílio. Além do mais, percebia dificuldades ligadas à sua identidade sexual. Também o trabalho já feito não me parecia suficiente. Não avaliava ter Roberto alcançado um grau necessário de desenvolvimento mental. O modelo que usei com eles foi o de uma fratura que necessita de tempo para o osso soldar.

Fiquei muito mobilizada, experimentando várias emoções nas quais a sensação de fracasso predominava. Necessitei fazer um trabalho interno de discriminação, tentando distinguir o que me pertencia. Esperava melhores resultados para os quatro anos de trabalho. No entanto, como Roberto voltou a me procurar para análise aos vinte anos, considero que esse trabalho realizado em sua infância tenha deixado sementes significativas.

 

3. A reversão dos significados para os sentidos

Vou agora apresentar descrições clínicas que ilustram o que estou chamando de reversão de perspectiva, do interpretar os significados para valorizar o sentido da experiência clínica.

Se buscar uma expressão que sintetize o que estou chamando de dar preferência ao sentido em vez de ao significado, esta poderia ser a ideia de dar atenção e de formular os estados mentais nascentes a que tenho acesso na sessão.

Gabriel: dois anos e três meses de idade

Já tinham se passado mais ou menos dez minutos da sessão e Gabriel deixou os brinquedos, abriu as portas que iam dar até onde estava a mãe e correu para lá. Eu escutei a mãe tentando impedi-lo de mexer nas revistas da sala de espera, que ele queria rasgar e atirar no chão. Frente a isso, na sala de análise, eu iniciei uma encenação do que percebia estar se passando entre Gabriel e a mãe, usando para isso bonecos. A personagem "Mãe" vai falando alto e brava com "Gabriel", que, por sua vez, vai respondendo. Por exemplo:

Gabriel: "Quero jogar tudo no chão, quero brigar com mamãe".

Mãe: "Não, Gabriel. Não. Não pode"

Gabriel: "Mas eu quero, quero jogar".

Ao perceber o que eu fazia, Gabriel correu de volta para a sala de atendimento e vibrou muito com o que via e ouvia. Mas, após um tempo, voltou para a mãe. Eu retomei a dramatização e ele retornou. Essa cena se repetiu creio que, mais ou menos, dez vezes.

Logo, suas idas até a sala de espera já não eram para ficar com a mãe, e sim para poder voltar, em seguida, à sala de atendimento para assistir à dramatização com a qual vibrava. Olhava-me muito, prestava muita atenção no que eu dizia e se divertia. As falas do "teatro" iam mudando, repetindo o que a mãe dizia na sala de espera, só que a cada vez o tom que eu ia usando era mais enfático e firme, nada tendo a ver com o jeito da mãe, que falava com voz monocórdia e sem qualquer firmeza. Eu repetia dizendo: "Quero brigar com mamãe", "Vou fazer outra vez", "Estou bravo com mamãe". Mais para o fim da sessão fiquei surpresa, pois Gabriel pegava os personagens e os representava brigando, imitando-me. Fazia como se ele estivesse bravo, ele e a mãe brigando, e sua voz (que geralmente é sem modulação, como a da mãe) ficava exaltada, chegando até a dar gritinhos...

José: 50 anos

Chega queixando-se da dor intensa que sente no peito e mostra-me o local com as mãos. À noite, havia acordado com uma sensação de asfixia e dizia para si: "Eu sei que tudo isto não é o coração. Estou ansioso e pela primeira vez consegui me manter com a ideia de que o aperto era angústia". Antes, em um momento como este, ele imediatamente corria para o banheiro para vomitar.

Voltou a dormir e sonhou que a casa estava desabando em cima dele. Ele disse: "De imediato pensei: minha cabeça está desabando. Penso então que estou ficando louco".

Ouvindo-o veio-me a imagem de uma cobra cujo crescimento torna necessária a troca da pele. Digo-lhe que "estamos experimentando juntos o oposto; não é a loucura e sim o perceber-se mudando, saindo de algo, que lhe é muito complicado - o estar às voltas com as questões dos outros e não dar maior atenção a você mesmo".

Respondeu: "É mesmo. Eu não me valorizava e não era valorizado".

Veio-me, a seguir, a imagem de uma ponte em que, ao se passar de um lado para o outro, observa-se, com pavor, um precipício abaixo.

Coloco-lhe a imagem que me ocorreu e acrescento: "Sentir-se em liberdade e voltar-se a si mesmo o deixa assustado". E complemento: "Porém, estamos juntos nesta transição".

Marta: 32 anos

Ao chegar, me pergunta, como cumprimento, se está tudo bem comigo. Eu devolvo a pergunta a ela. Faz com a cabeça que sim. No entanto, a expressão de seu olhar e sua postura mostravam-me que não estava tudo bem. Ficamos em silêncio; aguardo um tempo. Depois, resolvo dizer-lhe o que estava observando (que não estava tudo bem) e questiono o que ela pensava que estava acontecendo. Diz que está tudo muito horrível e fica um pouco mais em silêncio enquanto eu a observo e me observo. Ela afirma que está se sentindo muito aflita, que nada está bem e traz situações em que fica às voltas com sensações de morte. Fala também do momento delicado que está vivendo: o responsabilizar-se por sua própria vida.

Acompanho-a e me vem uma imagem muito forte da luta de um bebê ao ter que crescer e deixar para trás o que lhe era conhecido para enfrentar o novo, assim como também ocorre com as crianças e os adolescentes ao terem de lidar com os lutos e os percalços do caminho. Eu digo a ela:

Nós temos visto juntas o momento delicado pelo qual você vem passando como de crescimento -o deixar de ser filha para ter uma filha [Marta está grávida], e todo o amadurecimento que você vem experimentando, deixando de depender de sua mãe e se sentindo forte para enfrentar sua vida atual.

Anita: 15 anos

Diz que precisa muito me contar a história de sua adoção. Emociona-se pelo fato de saber o quanto os pais lutaram para ficar com ela; compara-os com os pais das amigas e percebe os dela como diferentes: apesar de exigentes, são muito protetores. Percebo que me fala de pontos que andou elaborando fora da sessão, mas a partir do trabalho analítico. São situações que agora começam a surgir como pensamentos, e não mais como descrições de fatos acontecidos: brigas e mais brigas. Isto está acontecendo simultaneamente com uma mudança na forma de estar ali comigo: mostra-se preocupada com suas faltas e atrasos no pagamento. Em determinado momento, digo-lhe que "me parece estar contando de como dentro dela está adotando seus pais, me adotando e, mais importante ainda, se adotando".

 

4. Tecendo algumas considerações

Vejo esta mudança, advinda com Bion, como uma evolução do pensamento kleiniano, e não como um rompimento com ele. As contribuições de Klein continuam fundamentais para nossa compreensão de estados mentais primitivos. O que penso ter mudado em minha experiência foi a escolha de ir trabalhando progressivamente as manifestações mentais partindo do que se apresenta mais à superfície da mente, os sentidos das manifestações como surgem após o trabalho da função alfa. Creio que isto retoma a indicação de Freud na segunda tópica (1923/1976), ao reconhecer a evolução da técnica psicanalítica e apontar que o trabalho do analista tem a ver com o desenvolvimento do ego do analisando. Nesta visão, à técnica kleiniana de interpretação direta e transferencial da fantasia inconsciente, contrapõe-se o identificar significados e trazê-los para a mente consciente do analisando, aguardando que o ego possa vir a elaborar esta compreensão.

Amplio, agora, quatro pontos que levantei nos itens anteriores, destacando desenvolvimentos que identifico ter podido viver nestas três décadas, desde meu trabalho com Roberto.

I. Compreensões advindas de meu trabalho clínico e o contato com vários colegas e autores me levaram a modificar minha maneira de pensar e a forma de trabalhar analitica-mente com crianças ou adolescentes. Passei a dar maior importância à participação dos pais, incluindo-os direta ou paralelamente no trabalho.

Entre outras questões, passei a levar em conta a necessidade de os pais entenderem a vida emocional de seus filhos (Braga, 1996, p. 169). Um modelo que me fez muito sentido foi uma colocação de Sapienza: dentro do aquário não há só peixe3.

Mudei também minha forma de atender os pais que me procuram com pedido de avaliação para seus filhos. Acolho o que falam de comportamentos e sintomas, mas minhas perguntas vão além. Questiono suas preocupações, tento entrar em contato com a forma pela qual percebem a mente do filho, como acompanham a maneira com que eles vêm se conduzindo na vida dele. O passo seguinte é fazer o possível para um contato íntimo e direto com o que eu vivo ali, com eles, naquele momento. Não inicio a análise de uma criança ou adolescente sem antes alcançar esta forma de participação dos pais.

II. Em relação ao referencial teórico, vim sendo progressivamente influenciada pelas ideias de Bion, com sua ênfase no desenvolvimento mental e em formas primitivas de funcionamento psíquico, não simbólicas. Nesta perspectiva, fui deixando de lado a ênfase na psicopatologia da criança e ficando atenta aos impedimentos ao seu desenvolvimento. Mesmo frente a situações nas quais o diagnóstico tem peso, como no espectro autista, vejo-me buscando elementos que possibilitem o surgimento do mental.

O trabalho psicanalítico passou a se basear no observar a mente como um caleidoscópio, com grandes áreas da personalidade em que o simbolizar não acontece, e cujo sentido pode mudar rapidamente. Isto dentro de um setting que permite que eu e o paciente nos sintamos minimamente confortáveis, dentro do desconforto que surge da proposta de grande intimidade entre nossas mentes.

Ao me posicionar assim, eu me vejo como que às voltas com um gigantesco quebra-cabeça, com muita dificuldade em saber de fato do que estou tratando. Consigo colocar algumas pecinhas que delineiam um desenho que me faz sentido, embora perceba ser algo minúsculo frente às outras partes que não percebo, mas que sei que existem. Acredito que outras pessoas teriam acesso a outras imagens deste quebra-cabeça, que lhes permitiriam formar outras configurações. Desta maneira, ampliam-se as chances de perceber a existência de partes ocultas no paciente e no próprio analista. Sidney Klein (1980/1981, p. 182) aponta vantagens nesta abordagem: "menor é o perigo de a análise tornar-se um diálogo intelectual interminável, sem sentido, e maiores as possibilidades de o paciente alcançar um equilíbrio relativamente estável".

Falo então de um trabalho que caminha para a expansão da mente, criando condições para os impulsos serem contidos pela formação de pensamentos, ou seja, condições que permitam que a emocionalidade nas relações possa ser pensada.

III. Destaquei, neste artigo, a possibilidade de reverter a perspectiva nas manifestações simbólicas, deixando de privilegiar os significados compartilhados pelo grupo e tentando ficar limitada ao sentido que posso alcançar sobre o que está se apresentando no momento da relação na sessão.

Uso um modelo para especificar esta forma de pensar: o da ressonância magnética. Vamos ao médico e nos queixamos, por exemplo, de dores no abdômen; ele faz perguntas, examina, apalpa e, ao final, solicita uma ressonância magnética para obter imagens do que está acontecendo internamente, algo impossível de se ver a olho nu. Sintetizo com a maneira interessante com a qual é feita a propaganda de uma clínica de imagem: A imagem por trás da imagem - a imagem compartilhada pelo grupo (o significado) esconde a imagem específica criada pelo indivíduo (o sentido).

Dentro desta abordagem, fico frente a uma diferenciação de que vivemos simultaneamente em dois mundos:

1. O mundo protomental, no qual não há a presença de pensamentos próprios, mas a representação do sensorial ou dos significados comuns ao alcance de todos;

2. O mundo mental, em que encontramos os pensamentos desenvolvidos pelo próprio indivíduo, a partir de suas emoções básicas e de seus desdobramentos: amor, ódio e conhecimento. É a intimidade da mente que nos traz o sentido do que é vivido pelo indivíduo. No cotidiano, não costumamos nos deter nesta dimensão; pelo contrário, a tendência é a de nos evadirmos, de permanecermos no protomental, nos significados.

Creio ter sido esta uma mudança fundamental no trabalho clínico que faço. Partir de uma linguagem que é grupal para o que é meu e que me pertence. Presto mais atenção ao que vem das minhas entranhas, à experiência que eu estou tendo. Passa, então, a ser uma linguagem criada na relação, saindo de um pensamento mais organizado para tentar ser mais intuitiva.

Desta maneira, imagino que, com Roberto, tentaria hoje abrir um espaço com o meu sonhar. Na ocasião, nem eu nem ele parecíamos ter espaço para tanto, apenas para atuar - ele com seus sintomas e eu por minhas falas. Hoje avaliaria esse meu modo de proceder, colocando-me em uma situação mental para favorecer o contato emocional como impeditivo.

Penso ser o que Ferro nos diz sobre a relação do analista com o paciente:

... estar em uníssono com ele, o que quer dizer não estar com ele em busca de verdades objetivas ou históricas, mas na mesma tonalidade afetiva . algo que deve ser construído na relação e por meio daquele "uníssono" que permite uma expansão da mente e da possibilidade de pensar . procurando menos extrair significados e mais construir uma história juntos (1995, pp. 27 e 99).

E:

Uma análise funciona ou não funciona nem tanto por aquilo que o analista diz, mas por aquilo que ele de fato faz com sua própria mente. Se a mente de um analista for impermeável, mesmo se ele disser coisas maravilhosas, não acontecerá nenhuma transformação (2003, p. 58).

IV. Nesta última década, foi adquirindo crescente importância para mim o espectro autista, principalmente a partir de meu aprofundamento nas ideias de Tustin. Com Roberto, hoje, pensaria em alguém com importante funcionamento autístico ocultado por um ajustamento às exigências sociais (Tustin, 1986/1990; Braga, 2011), ideia que na ocasião não alcançava. Talvez meu enfoque se dirigisse mais para estas questões.

O autismo, por suas qualidades de repetitividade, sensorialidade e de reações emocionais não moduladas, foi se revelando uma nova fronteira de investigação psicanalítica. Korbivcher cita André Green: "Tustin influenciou não só aqueles interessados em problemas específicos dos estados autísticos, mas aqueles que também compartilham uma intuição de que o autismo pode desempenhar o papel de um novo paradigma para o estudo da mente" (2008, p. 92).

Meltzer faz uma observação muito específica e orientadora: considera que o autista não vê as coisas com significados ou com sentidos, mas sim concretamente, factualmente. Não é claro se há um mundo psíquico no funcionamento autístico, mas sim borrões de sensações não integradas. Diz ele: "Não tenho certeza se é correto pensar o autismo como um mundo; ele é tão não integrado e sem significado que não estou certo de que queira chamá-lo de um mundo" (informação verbal, 1996).

 

Referências

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Braga, M. C. (2011). Funcionamento autístico: lacunas na área do mental. Texto não publicado. (Trabalho apresentado em reunião científica na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo).         [ Links ]

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Ferro, A. (1995). A técnica na psicanálise infantil. Rio de Janeiro: Imago.         [ Links ]

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Correspondência:
Marli Claudete Braga
Rua José Antoniassi, 320
80810-170 Curitiba, PR
Tel.: (41) 3335-4062
braga_marli@hotmail.com

Recebido em 17.12.2012
Aceito em 23.8.2013

 

 

1 Tradução minha, assim como nas demais citações de obras consultadas em inglês.
2 Uma observação de Ferro (2003, p. 87) vem ao encontro desta minha experiência: "Meu ponto de partida, como candidato, era uma situação na qual se estava absolutamente proibido falar com os pais. E se os pais falavam, era preciso ficar quieto e não responder".
3 Imagem referida como de sua autoria e que escutei da colega Maria L. Wierman.

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