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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.47 no.4 São Paulo Oct./Dec. 2013

 

RESENHAS

 

Novos tempos, velhas recomendações: sobre a função analítica (1912-2012) | Freud - 100 anos depois

 

 

Carlos Cesar Marques Frausino

Membro do Instituto de Psicanálise Virgínia Leone Bicudo da Sociedade de Psicanálise de Brasília (SPB)

 

 

Autores: Ignácio Alves Paim Filho & Lisia Coelho Leite
Editora: Sulina, Porto Alegre, 2012, 151p.
Resenhado por: Carlos Cesar Marques Frausino

Qual a validade de se fazer psicanálise tendo como parâmetro norteador as proposições freudianas? Necessitaríamos de "novas recomendações" para os analistas que seguem tais proposições? As postulações freudianas ainda são atuais? Como o analista, hoje, sustenta e/ou deveria sustentar sua função analítica?

Essas são as perguntas que instigaram Ignácio Alves Paim Filho e Lisia Coelho Leite1 a escrever Novos tempos, velhas recomendações: sobre a função analítica, que dialoga com os escritos freudianos - principalmente a teoria da técnica - a fim de averiguar a compatibilidade deste legado com a clínica contemporânea e com as ditas "novas patologias". Os autores revisitam a obra de Freud e escolhem como objeto de estudo e reflexão a função analítica.

Com esse propósito, transitam desde o texto "Sobre as afasias", de 1891, até o "Esboço de psicanálise", publicado em 1940, após a morte de Freud. Apesar de utilizarem as contribuições de outros psicanalistas - como Marucco, Mezan, Násio, Pelegrino, Rosenfeld, Lacan, entre outros -, a inspiração2 e a metodologia empregada para escrever o livro derivam dos escritos freudianos.

Nesse caminho, revisitam e sublinham a importância das regras fundamentais - atenção flutuante, associação livre, neutralidade e abstinência - para o exercício da psicanálise e vitalizam os shibboleths3 que sustentam o edifício psicanalítico.

O livro nasceu da experiência dos autores nas práticas ligadas à formação analítica (coordenação de seminários, supervisão, grupos de estudos etc), em atividades científicas, na escrita de artigos pontuais e na práxis clínica. Mas não é uma leitura indicada somente para analistas em formação, e sim para todos os que estão dispostos a pensar, aprender e fazer psicanálise.

Como se pode observar ao longo dos capítulos, os autores não têm como meta apenas sistematizar ou historiar as ideias e conceitos de Freud, mas realizar um intenso diálogo interrogativo e investigativo com o legado freudiano, de forma a permitir, inclusive, a criação de novas postulações, teóricas e clínicas, nos momentos de silêncio da obra freudiana, principalmente quando ela se depara com as novas formas de sofrimento psíquico ou as chamadas "patologias contemporâneas".

De forma criativa e ousada, sustentam como a psicanálise e o legado freudiano continuam sendo um método - de investigação, de tratamento das novas configurações de dor psíquica e de produção teórica - contemporâneo e adequado para abordar as novas formas de funcionamento da psique diante das mutações da sociedade4.

Em outros termos, a psicanálise contemporânea avançou no sentido de dar conta de aspectos arcaicos do funcionamento mental, das deficiências dos sistemas representacionais e das questões associadas às problemáticas narcísico-identitárias, entre outras, mas, mesmo assim, os textos freudianos ainda se constituem em um referencial para os que exercem o ofício, impossível, de ser psicanalista.

Nas palavras dos autores, "ratificamos a importância de repensarmos os fundamentos do psíquico, principalmente o arcaico. Poder teorizar, especular, fantasiar esse arcaico é imprescindível para produzir uma sustentação metapsicológica e técnica para as ditas patologias atuais, bem como ressignificar as velhas patologias" (pp. 34-35).

O resultado das reflexões de Paim Filho e Leite é a evidência de um Freud vigoroso e atual, cujo legado merece ser revisitado pelos psicanalistas, pois, como afirma Leonardo Francischelli5 no prefácio do livro:

Se há uma crise em nosso campo, ela não procede do nosso arsenal teórico clínico e sim das cabeças dos analistas que, mesmo cem anos depois do invento da talk cure, não acreditam na potencialidade do método freudiano ... Penso que essa crise advém, também, do pouco conhecimento dos ensinamentos postulados por Freud ou mesmo dos possíveis desvios que sua obra sofreu ao longo do percurso temporal (pp. 9-10).

Os autores dividem a obra em alguns capítulos. O primeiro é uma introdução metapsicológica à questão, a porta de entrada ao trabalho. A função analítica é o tema do segundo. A função analítica e a função de escuta são os focos do terceiro. O quarto aborda a transferência, a mola mestra da técnica psicanalista. A associação livre é o assunto do quinto. Dois artigos escritos individualmente, em um tom conclusivo, encerram a obra.

A gênese do psiquismo - a temática do recalcamento e do inconsciente - é examinada no primeiro capítulo à luz da metapsicologia. Para os autores, o inconsciente tem maior abrangência que o recalcado, e a relação dialética e complementar entre o inconsciente e o psiquismo necessita ser matizada.

Seguindo as ideias de Freud, Paim Filho e Leite dinamizam a interação indissociável entre a técnica e a metapsicologia freudiana. O ponto de partida é visualizar o recalcamento, em seus três tempos, e sua relação com o inconsciente e os destinos pulsionais narcísicos. A partir dessas vicissitudes, buscam refletir teoricamente sobre a fundação do aparelho psíquico, o não recalcado e a estruturação do recalcado. Esse percurso sustenta a ideia de que o sujeito freudiano é constituído na inter-relação do inconsciente recalcado e do não recalcado.

As transformações na sociedade e seus impactos na vida psíquica dos indivíduos conduzirão o sujeito do nosso tempo a viver sob a "égide do narcisismo", com demandas de satisfação imediata, de baixa tolerância às frustrações etc. Desse modo, os analisandos, em sintonia com a cultura contemporânea, instam novas condutas dos analistas, que podem comprometer o setting e promover a corrupção dos princípios teóricos e éticos necessários para a dinâmica do par analítico - elementos que reforçam a importância de o analista assumir o papel de "guardião" do setting, tema abordado no segundo capítulo, dedicado à função analítica.

Os autores postulam que o analista deve ter um compromisso ético com a verdade e a renúncia dos seus desejos - por meio da abstinência e da neutralidade - na condução do processo analítico. Isso requer dele uma árdua tarefa de escutar o desejo do analisando e o seu próprio. Nas palavras de Paim Filho e Leite:

... atingir a conduta de abstinência significa ser o analista um profundo conhecedor de seus próprios desejos e ter capacidade de a eles renunciar. Condição primordial para transitar entre a passividade e a atividade, entre a escuta e a fala, entre a via de porre e a via de levare, ou dizendo em uma linguagem técnica, entre a interpretação e a construção (p. 46).

Nesse sentido, os autores advogam que a função analítica está diretamente relacionada com a função paterna - interdição e renúncia -, vindo a se estabelecer na medida em que o analista trilhar o percurso da heteronomia para a autonomia. É esse caminho que o permitirá exercer, com ética, a sua função produtora da mudança psíquica.

O terceiro capítulo é dedicado à escuta analítica - com a premissa, formulada pelos autores, de que a função analítica é, essencialmente, a função da escuta. Mas o que é a escuta psicanalítica? Para responder a tal indagação, eles utilizam as regras fundamentais da "associação livre" e de sua contrapartida, a "atenção flutuante", bem como os "romances clínicos" freudianos, como Emmy Von N., Dora, o Homem dos Lobos e o Homem dos Ratos, que permitem identificar a construção de tais regras e a constituição desse conceito que demarca um processo presente no par analítico.

A escuta psicanalítica está assentada em um paradoxo, pois busca viabilizar o encontro do analisando com a sua própria verdade - a do seu inconsciente - e ao mesmo tempo utiliza o inconsciente do analista como instrumento para lograr esse objetivo. Essa é sua principal característica: o analista deve escutar o paciente sem privilegiar nenhum aspecto da narrativa dele, deixando que seu próprio inconsciente entre em ação.

Assim, no encontro analítico, a escuta do analista pode ser caracterizada por uma dupla função: por um lado, escutar o movimento do seu inconsciente guiado pela "atenção flutuante", e por outro, escutar o seu paciente guiado pela "associação livre".

Seguindo na construção do conceito da função da escuta, Paim Filho e Leite tecem considerações valiosas acerca da regra da "atenção flutuante". Esses termos caracterizam uma antinomia, duas palavras juntas que, aparentemente, expressam uma contradição, mas que também nomeiam uma situação analítica. Essa mesma aparente oposição está contida na regra fundamental da "associação livre".

Os autores utilizam a metapsicologia para investigar a contradição presente na "atenção flutuante". O analista, na sua condição paradoxal e com compromissos antitéticos - de flutuar e ao mesmo tempo ficar atento à dinâmica dos inconscientes presentes no encontro analítico, de forma a poder isolar o funcionamento do seu inconsciente -, carrega consigo a função disruptiva e conjuntiva, que são os mecanismos que podem permitir uma interpretação e/ou construção analítica. Ou seja, esse processo é a possibilidade de traduzir em palavras a experiência do "aqui e agora", no setting, captada pelo analista.

Em Novos tempos, velhas recomendações, o papel do analista de conjugar e romper tem uma leitura instigante. A "atenção" está vinculada à força de ligação da pulsão sexual, enquanto a "flutuação" está associada à força disruptiva da pulsão de morte, a capacidade de desligar-se.

É função precípua do analista "ouvir" o inconsciente do paciente, mas também é seu dever tentar "escutá-lo" independentemente da estrutura clínica do paciente (na neurose, na perversão e na psicose). Essa construção é, aparentemente, óbvia e redundante, mas ela impõe, per se, inúmeros problemas de ordem técnica e de preservação do setting. Ademais, como realçam os autores, não se pode esquecer "que escutar é mais que ouvir, interpretar é mais que falar, construir é mais que historizar e que o silêncio não é igual à ausência de palavras" (p. 62).

Mantendo-se na trilha de investigar a função analítica na obra freudiana, o capítulo quatro é dedicado à transferência. Os autores denominam esse capítulo de "Fazer trabalhar o amor 'transformador'". Se a "associação livre" é a regra fundamental e o recalque é a pedra angular sobre a qual repousa o edifício analítico, a transferência é a mola mestra do processo analítico ou a pedra angular que sustenta o edifício da técnica psicanalítica, pois sem transferência não existe análise.

Para abordar esse tema, perguntam-se: é possível tecer novos comentários sobre esse conceito? A essa questão, porém, agregam-se outras: qual o espaço que a transferência ocupa na clínica atual? Esse espaço continua sendo o veículo fundamental para a mudança psíquica?

Para começar a responder a tais indagações, os autores afirmam:

... pensamos que, de "novo", não temos nada a acrescentar no sentido do seu lugar [da transferência] como ferramenta técnica, porém entendemos que "de novo" é importante relembrar o lugar do trabalhar a transferência como o caminho por excelência, para que se dê uma real mudança psíquica (p. 71).

Continuando esta reflexão, postulam que talvez "o novo" possa ser um alargamento teórico e clínico da transferência - resultado das pesquisas e das reflexões de psicanalistas contemporâneos - que permita a ampliação da técnica para além das neuroses clássicas. Hoje, a clínica dos pacientes ditos "graves" - por exemplo, a psicossomática, as deficiências dos sistemas representacionais e das questões associadas às problemáticas narcísico-identitárias, entre outras - desafia os analistas sobre quando e de que forma utilizar a transferência.

O criador da psicanálise, ainda no início da construção do edifício psicanalítico, reconheceu o caráter perturbador da transferência gerado pelo surgimento, na análise, do "amor" do paciente que se volta para o analista, "amor" que desempenha um papel, ao mesmo tempo, revelador do passado e de resistência ao relato desse passado - conceitos e processos psíquicos que serão desenvolvidos nos vários textos publicados no século XX, mas que já contêm os elementos centrais da transferência: repetição e resistência.

No desenvolvimento de sua obra, Freud esclarece a ideia de que a transferência é sempre resistência (positiva ou negativa), mas os autores fazem uma dupla leitura dessa assertiva: "de um lado, está a serviço da manutenção do recalque, das forças protetoras do 'Eu'; de outro, está a serviço de fazer falar o inconsciente calado pelo recalque. Portanto, a transferência como resistência está vinculada aos interesses do 'Eu'" (p. 67).

Na continuação das suas reflexões, os autores matizam, elucidam e realçam alguns aspectos da repetição presente no processo transferencial. O primeiro é que os caminhos da repetição, no fenômeno da transferência, se fazem por diferentes direções. E mais: são parametrizados pela estrutura clínica vigente. O segundo está associado às diferenças entre repetição e reprodução. As palavras dos autores são precisas:

... enquanto toda reprodução é uma repetição, a repetição é mais que a reprodução. A repetição refere-se à busca de reviver a experiência de satisfação e/ou à experiência de dor criadora do estado de desejo. [Por sua vez], a reprodução na repetição é a marca do traumático, mundo em que impera o desligado da pulsão de morte. Na clínica, a compulsão à repetição bem como a reação terapêutica negativa são suas manifestações mais fidedignas (p. 73).

Em relação à contratransferência, Freud não desenvolveu o tema - para ele, esse processo é produto dos "pontos cegos" dos analistas, "pontos cegos" que se constituem em óbices para o prosseguimento da análise. Ainda assim, lançou as bases para o desenvolvimento de todas as considerações posteriores feitas pela psicanálise contemporânea.

Nesse sentido, em um primeiro momento, Paim Filho e Leite referendam essa postura freudiana. Mas uma leitura atenta de Novos tempos, velhas recomendações corrobora o entendimento de que a contratransferência constitui-se em um conjunto das reações inconscientes do analista à figura do analisando, resultado do encontro analítico, e consiste em um importante instrumento para a compreensão dos fenômenos da clínica.

O quinto capítulo é dedicado à interpretação e à construção em psicanálise. O subtítulo desse escrito - "da interpretação à construção da regra fundamental" - é a bússola para os autores investigarem o analista como um intérprete da associação livre, mas também como o responsável pela sua construção, por exemplo, nas ditas "patologias atuais". Afirmam os autores:

Julgamos que não apenas não existe um novo instrumento, como compreendemos que este é ainda o mais apropriado método para permitir-nos minimizar o sofrimento psíquico. Acreditamos que assim como é possível interpretar o desejo inconsciente, através da produção de associações é possível também construir a capacidade de associar livremente (pp. 86-87).

Dirigindo-se para a conclusão da visita ao edifício teórico e clínico freudiano, Ignácio Alves Paim Filho apresenta um profícuo e vigoroso texto acerca do legado de Freud, em que destaca e demarca as inflexões características - reformulações, rupturas etc - do pensamento deste. Centra sua leitura nos textos "Análise terminável e interminável" (1937), "Construções em análise" (1937), "Cisão do Eu e o processo de defesa" (1938) e "Moisés e o monoteísmo" (1934-1938) - uma tetralogia, segundo Paim Filho, que ressalta a pulsão de morte, nos seus caminhos e descaminhos, como o vetor principal do acontecer psíquico. De acordo com o autor, esse conjunto de textos é uma reedição dos ensinamentos freudianos técnicos, que se constituem nas recomendações finais para aqueles que exercem a psicanálise. Em síntese, elas visam a relembrar ao analista que ele tem, além das vicissitudes presentes no encontro analítico, o compromisso ético de estar atento ao trabalho do seu inconsciente.

No capítulo final, Lisia Coelho Leite preocupa-se com a especificidade da ética em psicanálise. A autora afirma que, na base da ética no processo analítico, encontra-se o desejo do analista. Nesse sentido, Leite sintetiza as ideias apresentadas ao longo de Novos tempos, velhas recomendações acerca da necessidade de o analista reconhecer seus desejos como uma precondição para o desenvolvimento do processo analítico.

Resenhar é um olhar, uma leitura sobre uma obra. Nesse caso, a resenha não traduz, integralmente, a criatividade, a ousadia e o rigor de Paim Filho e Leite em Novos tempos, velhas recomendações, nesse diálogo com o pensamento freudiano a fim de se pensar as novas formas de sofrimento psíquico.

É uma obra autoral, que demarca a atualidade do pensamento de Freud, com postulações que, talvez, não sejam consensuais entre os analistas. A leitura do livro, entretanto, nos convoca a um diálogo constante com os conceitos freudianos para pensarmos a teoria da técnica psicanalítica à luz das novas patologias contemporâneas - um tema atual que tem papel de destaque na agenda de pesquisa da comunidade dos psicanalistas.

 

Referências

Bloom, H, (2002). A angústia da influência: uma teoria da poesia. Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1973).         [ Links ]

Bloom, H. (2013). Anatomia da influência: a literatura como modo de vida. Rio de Janeiro: Objetiva.         [ Links ]

Freud, S. (1996). Dois verbetes de enciclopédia (Vol. 18, pp. 253-274). In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1923[1922]         [ Links ]).

Hanns, L. A. (2007). Comentário a "Eu e o id". In S. Freud, Escritos sobre a psicologia do inconsciente (L. A. Hanns, trad., Vol. 3). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1923).         [ Links ]

 

 

Correspondência:
Carlos Cesar Marques Frausino
SHIS QI 09, Lote E, Bloco I, sala 310
Ed. Centro Clínico do Lago, Lago Sul
71625-009 Brasília, df
Tel.: (61) 8122-5763
carlosfrausino@gmail.com

 

 

1 Psicanalistas, membros titulares da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SBPdePA).
2 Os escritos freudianos, para os autores, não são apenas o objeto de estudo e o referencial teórico para se refletir os temas contemporâneos da vida psíquica. Ao longo de Novos tempos, velhas recomendações, é possível destacar traços do "espírito" da obra de Freud, como a inquietação e a criatividade, na abordagem do exercício da psicanálise no mundo contemporâneo. Uma boa aproximação do complexo conceito de inspiração pode ser observada nos livros de Harold Bloom, A angústia da influência: uma teoria da poesia (1973/2002), e Anatomia da influência: a literatura como modo de vida (2013).
3 Segundo Luiz Alberto Hanns, em comentário ao texto freudiano "Eu e o Id", de 1923 (no terceiro volume da coletânea Escritos sobre a psicologia do inconsciente, 2007), shibboleth é um termo de origem hebraica usado na acepção de "palavra-armadilha", isto é, palavras que servem para identificar de imediato a origem de um falante. Nos termos freudianos, são palavras que informariam ao leitor a origem psicanalítica do trabalho. Freud definiu, em 1923, no artigo "Dois verbetes de enciclopédia" (1923/1996), as pedras angulares da teoria psicanalítica, ou os shibboleths da psicanálise: o inconsciente, a teoria da resistência e recalcamento (ou da repressão), e a importância da sexualidade e do complexo de Édipo. Paim Filho acrescenta mais um a essa lista: os sonhos.
4 A literatura que aborda esse tema é vasta, mas destaco os trabalhos de Anthony Giddens, David Harvey, Sergio Paulo Rouanet e Zygmunt Bauman, que apresentam, sob diferentes vértices, as mudanças do nosso tempo, nos mais variados campos da sociedade.
5 Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SBPdePA).

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