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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.48 no.1 São Paulo jan./abr. 2014

 

ARTIGOS TEMÁTICOS: MUTAÇÕES E PERPLEXIDADE

 

A psicanálise na China: evolução e desafios

 

Psychoanalysis in China: developments and challenges

 

El psicoanálisis en China: evolución y desafíos

 

 

Sverre VarvinI; Bent RosenbaumII; Tradução Sandra Birger Romani

IAnalista didata, membro da Sociedade Norueguesa de Psicanálise (SNP) e pesquisador do Centro Nacional para o Estudo da Violência e do Stress Traumático, Oslo, Noruega
IIAnalista didata, membro da Sociedade Dinamarquesa de Psicanálise (SDP) e docente do Departamento de Psicologia da Universidade de Copenhagen, Dinamarca

Correspondência

 

 


RESUMO

A China é um país em rápido desenvolvimento, que apresenta necessidade crescente de atendimento psiquiátrico e psicoterapêutico devido a um aumento do sofrimento mental ligado tanto a mudanças na sociedade como a condições traumáticas do passado. O entendimento psicanalítico e as terapias psicanalíticas, cada vez mais, vêm atraindo o interesse dos profissionais e da sociedade. Neste artigo, descrevemos o desenvolvimento da psicanálise na China, e alguns dos desafios envolvidos no ensino da psicanálise e na formação de profissionais em psicanálise e psicoterapia psicanalítica. O conhecimento das diferenças culturais existentes entre a China e o Ocidente é enfatizado.

Palavras-chave: psicanálise; psicoterapia psicanalítica; China; cultura.


ABSTRACT

China is a fast developing country with growing need for psychiatric and psychotherapeutic services due to increase in mental suffering connected changes in society but also with traumatizing conditions in the past. Psychoanalytic understanding and psychoanalytic therapies has had growing interest among professionals and in the public. In this article we describe the development of psychoanalysis in China and some of the challenges involved in teaching psychoanalysis and training professionals in psychoanalysis and psychoanalytic psychotherapy. Awareness of cultural differences between China and the West are underlined.

Keywords: psychoanalysis; psychoanalytic psychotherapy; China; culture.


RESUMEN

China es un país en rápido desarrollo, que presenta una creciente necesidad de atención psiquiátrica y psicoterapéutica debido al aumento del sufrimiento mental relacionado tanto a los cambios en la sociedad como a las traumáticas del pasado. La atención psicoanalítica y las terapias psicoanalíticas están atrayendo un interés creciente entre los profesionales y la sociedad. En este artículo describimos el desarrollo del psicoanálisis en China y algunos de los retos involucrados en la enseñanza del psicoanálisis y en la formación de profesionales del psicoanálisis y de la psicoterapia psicoanalítica. El conocimiento de las diferencias culturales existentes entre China y Occidente también se destaca en el presente trabajo.

Palabras clave: psicoanálisis; psicoterapia psicoanalítica; China; cultura.


 

 

Introdução

O pensamento psicanalítico e as terapias de base psicanalítica estão florescendo na China no campo profissional da saúde mental. Embora existam várias abordagens terapêuticas disponíveis no momento, parece haver uma afinidade especial dos chineses com a psicanálise.

Pode-se perguntar por que isso ocorre. A China tem uma longa tradição, na qual aquilo que é moralmente bom para o coletivo é a prioridade máxima; a harmonia social, a obediência à autoridade e o respeito aos mais velhos estão profundamente arraigados na tradição confuciana. Nesse contexto, a ideia emancipatória da psicanálise pode parecer contraditória em relação à base da cultura chinesa. Entretanto, outra tradição importante na China, o taoismo, parece mais compatível com a psicanálise. O taoismo é uma tradição filosófica e folclórico-religiosa em que o ponto central encontra-se no jogo de forças dinâmicas dentro do próprio indivíduo, entre indivíduos e entre o homem e o meio. Existem semelhanças imediatas; a filosofia do yin e yang evoca o aspecto dinâmico da psicanálise, o que foi muito destacado por estudiosos e psicoterapeutas chineses.

A China é um país em rápido desenvolvimento, que atualmente vive um processo de modernização específico, com uma importante reestruturação da vida econômica e social, o que levou ao surgimento de "sofrimentos da vida moderna", principalmente as depressões, que estão aumentando no contexto chinês. Esses fatores contribuem para a necessidade de novas abordagens psicoterapêuticas em que a psicanálise e a terapia de orientação psicanalítica despertam um interesse crescente.

Nesse contexto, é importante levar em consideração a história violenta e traumática da China. A Revolução Cultural causou grande sofrimento e deixou marcas em amplas parcelas da população. A história anterior não foi menos violenta, e pode-se dizer que, desde as Guerras do Ópio (de 1839 a 1842, e de 1856 a 1860), os chineses foram vítimas de muitas atrocidades, destacando-se a invasão japonesa de 1931 e o que se seguiu.

O presente trabalho é baseado na experiência de ensinar psicanálise e psicoterapia psicanalítica - incluindo a supervisão de centenas de apresentações de casos, bem como encontros terapêuticos psicanalíticos com pacientes - na China, a partir do final dos anos 90. Vindos de uma tradição ocidental em que o entendimento do ser humano é parcialmente baseado em uma lógica aristotélica, autocentrada e dirigida à obtenção de objetivos, foi desafiadora a experiência de nos depararmos com uma compreensão da mente humana amplamente baseada em modos de relacionamento confucianos, centrados na família e orientados por contextos, misturados a preocupações de base taoista com a prática e a forma.

A psicanálise, porém, representa uma maneira de compreender a vida psíquica e sua estrutura conflituosa que, muito embora se origine na tradição ocidental aristotélica, também implica uma cultura judaico-cristã, a qual difere em certos aspectos da lógica linear, dirigida a objetivos, da tradição aristotélica e mostra semelhanças com o pensamento oriental.

A psicanálise é também é um modo de pensar a respeito da especificidade do sofrimento humano e sua inserção na cultura em que se apresenta. Como enfatiza Obeyesekere (1990), o sofrimento individual precisa encontrar formas de representação culturalmente aceitas, e ser contido por elas. Se essas representações forem inadequadas - por exemplo, em sociedades desorganizadas ou traumatizadas, ou que carecem de reconhecimento público ou rituais apropriados para as pessoas afetadas -, o sofrimento individual torna-se particular, idiossincrático e mais doloroso, por não ser dividido com outros com os mesmos problemas. Instala-se, então, um terreno propício para a transmissão de mais sofrimento para as gerações futuras.

A psicanálise teve um papel histórico de dar voz ao sofrimento individual dos neuróticos do final do século XIX na Europa. Esta voz foi explicada por meio de um modelo mental específico e seus processos normais e patogenéticos. O modelo evoluiu para uma teoria mais ou menos coerente acerca da psicopatologia, da personalidade e da forma de tratamento. A aceitação da psicanálise e de modos de pensar psicanalíticos sobre como tratar os pacientes que apresentam sofrimento mental na China, a nosso ver, está baseada tanto na necessidade de ajuda, com o aumento do sofrimento humano, como na noção de que o entendimento psicanalítico representa uma forma de pensar que, de certa forma, é coerente com a mentalidade chinesa. Esta concordância com os "pensamentos confucianos e taoistas" pode ser uma das causas para a esperança de que a psicanálise possa ajudar nas doenças mentais no contexto chinês.

Como ficará claro neste estudo, a criação e o desenvolvimento dos pontos de convergência entre a psicanálise e a cultura chinesa ainda estão em processo. Isso demanda mudanças, ajustes e, não menos importante, transformações em nível conceitual e discursivo, tanto para os analistas ocidentais como para os colegas chineses. A China tem uma história dramática e traumática que afetou grande parte da população. Existem modos específicos de pensar e lidar com a dor e o sofrimento mental causados por estes eventos traumáticos -modos que têm como base as tradições culturais chinesas.

 

História

O interesse pela psicanálise e pela prática das terapias psicodinâmica e psicanalítica na China tem tanto uma história longa quanto uma mais recente.

A história longa teve início em 1912, quando Qian Zhixiu escreveu sobre a psicanálise freudiana. Nos anos seguintes, surgiram vários artigos sobre a relevância da teoria psicanalítica como disciplina clínica e sua importância para diversos campos, como a política, a literatura e os estudos filosóficos. O primeiro trabalho de Freud a ganhar tradução foi "Psicologia de grupo e análise do Ego" (1921) - isso, em 1929; depois, vieram vários outros trabalhos fundamentais, incluindo "Um estudo autobiográfico" (1925).

Entre 1935 e 1939, o dr. Bingham Daí, o primeiro psicoterapeuta com formação psicanalítica, trabalhou na Peking Union Medical College [Faculdade de Medicina de Pequim]. Ele passou sua experiência aos colegas por meio de ensinamentos, supervisão e formação em terapias (Gerlach, 2003). Mais tarde, Adolf Joseph Storfer, um psicanalista e refugiado judeu de Viena, chegou a Xangai, onde publicou artigos de psicanálise que causaram impacto nos psiquiatras e intelectuais chineses (Plänkers, 2010). Entre 1920 e 1949, muitos filósofos, psicólogos e críticos literários traduziram e interpretaram os trabalhos de Freud e de outros psicanalistas, e as questões freudianas inspiraram muitos escritores chineses famosos. Por exemplo, o psicólogo chinês Gao Juefu traduziu o texto de Freud "Introdução à psicanálise" (Zhang, 1989) e escreveu relatórios que avaliavam a nova ciência (Gerlach, 2003). O interesse na importância da psicanálise para a política chinesa era semelhante à evolução ocorrida em vários países europeus nos anos trinta.

Em 1936, o livro Materialismo dialético e psicanálise, de Wilhelm Reich, foi publicado com o título chinês Jingshen fen xi xue pipan, e em 1940, Freud e Marx, de Reuben Osborn, foi publicado com o título chinês Jingshen fen xixue yu ma kesi zhuyi (Varvin & Gerlach, 2011; Gerlach, 2003).

Depois da fundação da República Popular da China, em 1949, as diretrizes centrais da política determinaram o desenvolvimento das ciências e da vida intelectual. Somente após o final da Revolução Cultural, em 1976, e o início da política de abertura em relação ao Ocidente é que se pôde novamente observar um interesse público pela psicanálise. A atenção dada à psicanálise na vida cultural da China aumentou significativamente, e os trabalhos de Freud e de outros psicanalistas foram reimpressos, e novas traduções publicadas.

 

Programas de formação psicoterapêutica na China

A história recente começou em 1983, quando analistas alemães, convidados a dar palestras e seminários em Canton (Guangzhou), participaram de pesquisas em psiquiatria durante uma epidemia de histeria em massa na Ilha Hainan.

De 1997 a 1999, um grupo de analistas alemães da Academia Germano-Chinesa de Psicoterapia ofereceu formação contínua em psicoterapia de orientação psicanalítica para psiquiatras e psicólogos chineses. Eles atuaram em Kunming, Pequim, Xangai, Wuhan e Chengdu. A partir de 2000, sob a liderança do dr. Alf Gerlach, eles implantaram uma formação semelhante em Xangai, em colaboração com o Centro de Saúde Mental de Xangai. Esse grupo oferece programas de formação intensivos, de três anos de duração, que atraíram os principais psiquiatras e psicólogos na China, com o apoio do Serviço de Intercâmbio Acadêmico Alemão (daad), da Academia Germano-Chinesa de Psicoterapia, e de grupos de psicanálise alemães, incluindo a Associação Psicanalítica Alemã (dpv), a Sociedade Psicanalítica Alemã (dpg) e a Associação Alemã de Psicanálise, Psicoterapia, Psicossomática e Psicologia Profunda (dgpt). Os programas de formação extensivos envolvem formação em psicoterapia psicodinâmica do nível básico ao avançado.

Desde 1995, a dra. Teresa Yuan, uma psicanalista argentina que teve formação chinesa, vem ativamente ensinando psicoterapia psicanalítica e oferecendo seminários para o Instituto de Psiquiatria da Criança na Universidade Médica de Pequim. A partir de 2002, passou a ministrar, sistematicamente, seminários de formação em colaboração com o Hospital Anding, em Pequim, sob o comando do professor Yang Yunping. O corpo docente incluía os psicanalistas europeus Bien Filet (Holanda), Sverre Varvin (Noruega) e Julia Fabricius (Reino Unido).

Em 2006, programas de formação em Pequim e Wuhan foram organizados pela Sociedade Psicanalítica Norueguesa (SPN) sob a coordenação de Sverre Varvin, sendo financiados pelo governo norueguês e pelo Hospital Anding/Governo de Pequim.

A ideia básica, tanto do programa norueguês como do programa alemão em Xangai, era formar futuros professores de psicoterapia chineses, isto é, um programa de "formação de formadores". Os programas noruegueses têm tido entre oitenta e cento e vinte participantes, e são organizados em dois níveis. Um grupo avançado, com vários anos de experiência nos programas alemães anteriores feitos em Xangai, aprendia tanto psicoterapia como supervisão de psicoterapia; esse grupo habilitava supervisores para os participantes juniores de seminários subsequentes. Atualmente são docentes e supervisores bem qualificados em programas de formação continuada, além de importantes professores em hospitais e no meio universitário de toda a China.

Os três programas preparados pelo grupo norueguês se organizam da seguinte forma:

♦ programas semanais intensivos, duas vezes ao ano, com palestras, supervisão em grupo e encontros psicoterapêuticos intensivos de curta duração;

♦ exige-se que cada participante conduza dois tratamentos psicoterapêuticos sob supervisão regular: um com um mínimo de cem sessões, e outro com um mínimo de cinquenta sessões. Os supervisores são escolhidos dentre os terapeutas chineses formados em nossos programas, mas alguma supervisão também é ministrada da Europa via Skype;

♦ cada participante deve escrever um trabalho final para graduar-se no programa.

Tanto o programa alemão como o norueguês oferecem uma formação continuada e atraem um número de candidatos superior ao número de vagas.

Vários candidatos chineses passaram algum tempo em departamentos de psicanálise de universidades e hospitais na Alemanha (por exemplo, no Instituto de Pesquisa Sigmund Freud, em Frankfurt), na Inglaterra e nos Estados Unidos, onde também foram submetidos a um período de psicoterapia psicanalítica intensiva.

Um programa americano, a Aliança Psicanalítica Sino-Americana (CAPA), desenvolve projetos na China desde 2008, baseados em formação via Internet e terapias individuais pela Internet.

Em 2011, um programa americano organizado de forma semelhante aos programas alemão e norueguês começou em Wuhan, na China central, e em Pequim iniciou-se um programa de psicoterapia de crianças e adolescentes em cooperação com a clínica Tavistock, de Londres.

Atualmente existem também programas que abordam temas específicos, como apego e psicanálise, em Pequim, e que tratam de pacientes traumatizados na província de Shandong, no oeste da China.

 

Formação psicanalítica

Os diferentes programas de formação psicoterapêutica têm funcionado como uma base de recrutamento da Associação Psicanalítica Internacional (IPA), a fim de iniciar a formação psicanalítica formal na China. A formação psicanalítica completa começou em Pequim, em 2008. Uma precondição para isso ter acontecido foi o início do trabalho da analista didata alemã interina dra. Irmgard Dettbarn, em 2007. Havia nove candidatos em formação psicanalítica em Pequim, três dos quais se tornaram membros diretos da IPA. Uma formação psicanalítica semelhante começou em Xangai, em 2011, onde o dr. Hermann Schultz, de Frankfurt, trabalha como analista didata interino; ao todo, dez candidatos participam deste programa, dois dos quais são de Wuhan, na China central, e fazem sua análise didática no exterior.

 

Situação atual

Existem várias atividades relacionadas à psicanálise em andamento na China. Em 2004, a Associação Psicanalítica da China foi fundada, com 33 membros em Pequim, Chengdu, Guangzhou, Hangzhou, Harbin, Hefei, Xangai, Suzhou, Wuhan e Xi'na. Em 2008, a primeira conexão com a IPA foi estabelecida, com a formação do IPA-centro Aliado da China. Atualmente existem vários importantes centros de trabalho psicanalítico na China:

♦ Pequim, Hospital Anding (prof. dr. Yang Yunping);

♦ Xangai, Centro de Saúde Mental de Xangai (prof. dr. Xiao Zeping e dr. Qiu Jianyin);

♦ Wuhan, Universidade Médica Tongji (prof. dr. Tong Jun e prof. dr. Shi Qijia).

Entre os autores psicanalíticos traduzidos para o chinês estão: Sigmund Freud, Anna Freud, Joseph Sandler, Ralph Greenson, Anthony Bateman e Jeremy Holmes. Um projeto ambicioso de traduzir as obras completas de Freud para o chinês é coordenado pelo dr. Tomas Plankers, do Instituto Sigmund Freud, em Frankfurt. Trabalhos sobre psicanálise têm sido publicados em diferentes periódicos - por exemplo, Psicoterapia Chinesa em Diálogo, editado pelo prof. Shi Qijia, ou nos Arquivos de Psiquiatria de Xangai (Shanghai Jingshen Yixue). Recentemente, um novo periódico intitulado A Psicanálise na China foi lançado pela Karnac, em Londres.

 

Conferências psicanalíticas na China

Em 2009, a Segunda Reunião Anual para a Psicanálise ocorreu em Xangai, com a participação de analistas da IPA de várias regiões. O tema do evento foi A psicanálise na sociedade em modernização, com palestras e oficinas sobre psicanálise clínica, temas teóricos em psicanálise, pesquisa clínica e empírica, psicanálise e pluralismo cultural, bem como valores e desafios da psicanálise em uma sociedade em processo de modernização.

Em 2010, comemorando seu centésimo aniversário, a IPA organizou em Pequim sua primeira Conferência Psicanalítica na Ásia. O evento foi realizado em cooperação com a Associação Chinesa para a Saúde Mental, e reuniu psicanalistas e terapeutas psi-canalíticos de países asiáticos, da Europa, da América do Norte e do Sul e da Austrália. Com mais de quinhentos participantes, a conferência foi muito bem-sucedida. Trabalhos de alta qualidade foram apresentados, tanto por colegas chineses como por colegas de outros países. E acima de tudo, a conferência tornou-se um encontro intercultural, em que a IPA teve a oportunidade de se apresentar na Ásia, e em que os membros da parte asiática da IPA estabeleceram contato entre si e com colegas da IPA do resto do mundo. Foi significativa, por exemplo, certa reconciliação entre os colegas chineses e japoneses, relacionada ao trabalho de Shigeyuki Mori sobre as crianças japonesas na Segunda Guerra Mundial (Mori, 2013).

 

Como desenvolver a psicoterapia psicodinâmica e a psicanálise na China

A estratégia de longo prazo, tanto do programa alemão como do norueguês, foi a de formar um grupo principal de colegas chineses nos princípios essenciais da psicoterapia psicodinâmica. Basicamente foram programas de "ensinar professores". O objetivo era não só desenvolver a competência dos profissionais da saúde mental, mas também sua capacidade de se organizar e se desenvolver como professores para, posteriormente, formar os colegas mais jovens. Essa estratégia foi ampliada ainda mais no programa norueguês, em que grupos de colegas seniores, que tinham recebido sua formação básica no programa alemão, receberam formação como supervisores. Tivemos participantes tanto no nível básico quanto no avançado, bem como na função de supervisores no mesmo programa. Desta forma, os participantes que estavam em formação para supervisores podiam supervisionar os colegas mais jovens como parte de sua própria formação.

Este esquema foi então ampliado quando cursos de formação começaram em Wuhan, e aqueles que haviam recebido formação nos programas alemães - e também, no início, nos programas noruegueses - passaram a atuar como professores junto aos professores noruegueses, não só ministrando palestras, mas também conduzindo terapias breves durante o curso. Houve um aumento na participação de professores chineses em programas sino-noruegueses que ocorreram em Pequim mais tarde.

Desta forma, a competência vem sendo gradativamente desenvolvida em diferentes níveis, com o objetivo explícito de que os colegas chineses possam aos poucos dar conta de sua própria formação.

Esses acontecimentos criaram o pano de fundo para o desenvolvimento do programa de formação de psicanalistas da IPA. Todos os candidatos realizaram previamente, nos programas básicos alemão e norueguês de psicoterapia psicodinâmica, uma formação aprofundada e abrangente.

 

A psicanálise pela internet

A formação em psicanálise da IPA na China ocorreu, principalmente, sem o auxílio da internet. A analista didata dra. Dettbarn ficou em Pequim durante três anos, para depois retornar à Alemanha. Após esse período, ela ainda viajava regularmente para a China a fim de conduzir análises pessoalmente. Nos intervalos, havia sessões por Skype para vários candidatos. O dr. Hermann Schultz, analista didata, tem permanecido em Xangai durante oito meses por ano, de maneira que não se façam necessárias sessões via Skype.

A exceção é o programa americano capa, que, conforme mencionado antes, promove aulas, supervisão e terapia via internet.

As áreas não exploradas da psicoterapia e psicanálise via Skype ou outro tipo de comunicação pela internet têm atraído bastante atenção. As opiniões sobre a adequação do Skype para a íntima regulação de afetos e aspectos não verbais da comunicação terapêutica estão divididas. Há várias pesquisas em andamento nesta área, e muitas questões permanecem abertas. Do ponto de vista clínico, e baseados em nossa pouca experiência, parece-nos óbvio que, quando empregamos estes novos recursos, se desenvolvem processos distintos daqueles das análises convencionais. Além disso, a comunicação via internet é instável e frequentemente apresenta várias interrupções durante uma sessão, o que torna difícil manter a comunicação íntima e não verbal de forma significativa.

Especialmente quando a comunicação psicanalítica se dá entre culturas diferentes, as dificuldades de comunicação e entendimento podem aumentar.

A seguir discutiremos alguns dos aspectos interculturais em jogo, que dizem respeito à práxis da psicoterapia/psicanálise e, principalmente, ao ensino da psicanálise nesse contexto.

 

Mitos: seu papel na compreensão da psicanálise e como transferi-los de uma cultura a outra

Quando os analistas ocidentais ensinam conceitos psicanalíticos a outros, eles o fazem tendo em vista um conhecimento prévio de metáforas e narrativas que ilustram conceitos de forma pictórica e como processo. Por exemplo, a compreensão do estado narcisista é ligada ao mito de Narciso, de 2.500 anos (reapresentado em inúmeras histórias, pinturas e alegorias), e ao lugar do narcisismo no processo de desenvolvimento. Está baseada na ideia de nossa origem mental, que começa em uma visão autocentrada do mundo e continua em um processo de espelhamento da estruturação da identidade. A situação edipiana - uma busca individual da verdade inconsciente sobre si mesmo, ou uma tentativa de integrar o amor simbiótico pela mãe e a agressividade e rivalidade em relação ao pai -, da mesma forma, se relaciona ao teatro grego e suas representações subsequentes, que aparecem em todas as formas de arte e se repetem em livros e romances. Os mitos de Narciso e Édipo nutrem a mente de psicanalistas de diversas formas. Eles contribuem para determinar quem são os personagens principais na dinâmica das relações com objetos internos e quais as funções desses personagens, definindo quem está procurando o que e de que forma: prazer, liberdade interna para sair dos conflitos, consciência pura, verdade, autoconhecimento etc. Com frequência, as funções complexas dos mitos são tacitamente compreendidas dentro de nossa cultura, e muito deste conhecimento tácito não tem como ser passado como tal de um psicanalista ocidental para um colega chinês de forma direta. Esse conhecimento deve ser transmitido por meio de um processo experiencial lento, no qual o psicoterapeuta chinês internaliza e incorpora conceitos à sua técnica terapêutica. Mas também deve repercutir nos mitos e narrativas da China, em que o esforço da mente humana em lidar com processos de transição dos aspectos pré-edipianos não verbais e as experiências edipianas baseadas em linguagem acontece em um contexto diferente. Esse contexto tem bases distintas em textos, mitos, na arte e na literatura. Por exemplo, para alguns chineses, o narcisismo poderá relacionar-se com a história de Lin Dai Yu, uma heroína do livro clássico O sonho das mansões vermelhas, de Cao Xue Qin (1978-1980), ou com o caráter intelectual dos sábios desde a dinastia Qin. Entretanto, a ligação com mitos e figuras literárias precisa ser desenvolvida, e a evolução da psicanálise com base chinesa somente poderá acontecer por meio desse processo dialético entre as prévias conceitualizações ocidentais e chinesas (Schlösser, 2009).

 

Individualismo, independência e interdependência

No mundo ocidental, inspirado pelo Grego, o sujeito pode ser concebido como independente e, independentemente, envolver-se em disputas verbais e debates em um esforço de descobrir, por si próprio, o que os outros tomam como verdade, e se a verdade existencial dos outros é a mesma que ele acha válida. O sujeito é concebido como um indivíduo com características distintas, como uma unidade separada das outras dentro da sociedade, e em grande medida em controle do seu próprio destino. A Die Weltanschauung [orientação cognitiva fundamental], embora com forte determinação da cultura, é vista como sendo predominantemente ancorada no indivíduo ou nos objetos à sua volta. Desta forma, o indivíduo se torna a unidade e o centro da análise. O indivíduo pode ser visto quase como um primeiro plano isolado, enquanto a cultura (família, escola, trabalho, hábitos etc) é vista como um pano de fundo natural para o indivíduo ou como uma série de objetos interpessoais com que o indivíduo pode ou não interagir. É claro que esta é uma caricatura rudimentar, na medida em que se pode contrapor que o aparato psíquico é composto, em parte - através do superego, por exemplo -, de objetos identificatórios com a internalização do grupo (família, amigos) e da cultura. Entretanto, termos como "psicologia individual" e "psicologia bipessoal" mostram o papel central do indivíduo como pessoa com características próprias, que atua em meio a diversas outras constelações pessoais, cabendo um papel menor à ideia de pessoa determinada principalmente pela matriz em que vive.

A língua chinesa tem muitas palavras que qualificam o self em formas relacionais diferentes. Percebe-se na base dessas características que a cultura prefere as matrizes nas quais o self está em harmonia com uma rede de relações sociais de apoio. O rompimento com o grupo, a individualização e a criação de ligações novas e mais satisfatórias não são tradicionalmente vistos como opções possíveis. Isto significa que se dá maior relevância à interdependência do que à independência (Nisbett, 2003).

A distinção entre relativamente independente e relativa interdependência tem um papel importante na compreensão do que pode ser alcançado com a análise.

As seguintes dimensões são importantes:

♦ insistência na liberdade da ação individual versus uma preferência por ações coletivas - essa dimensão afeta toda a compreensão dos processos simbiose-separação-individuação no desenvolvimento do indivíduo;

♦ desejo por diferenciação individual, apercepção criativa, versus uma preferência por mesclar-se com o grupo e o trabalho adaptativo (cf. Bollas, 2013, p. 92) - isso afeta a qualidade da livre associação e da atenção flutuante.

♦ uma preferência pelo status igualitário e conquistado versus a aceitação da hierarquia e do status atribuído - isso interfere na neutralidade, na transferência e na contratransferência.

Existem outras oposições significativas. O psicólogo cultural e pesquisador cognitivo Richard Nisbett enfatiza que

... os chineses acreditam em mudanças constantes, mas sempre com as coisas retornando a algum estado anterior. Eles prestam atenção a uma ampla gama de acontecimentos; investigam as relações entre as coisas; e acham que não podem compreender a parte sem compreender o todo (2003, p. XIII).

Diferentemente, os ocidentais têm uma perspectiva de mundo mais linear e determinista. Eles focam em objetos em evidência e podem facilmente usar seu desempenho pessoal como diretriz para sua maneira de pensar, em vez de usar fenômenos de pequenos e grandes grupos. Além disso, os ocidentais têm uma forte crença de que podem controlar os acontecimentos e processos, pois conhecem as regras que governam o comportamento dos objetos. Relaciona-se a isso a ideia de que todos têm os mesmos processos cognitivos, de que o sofrimento mental é semelhante de uma cultura a outra e, finalmente, de que o pensamento está separado daquilo sobre o que se pensa (Nisbett, 2003).

A maneira de pensar ocidental coloca forte ênfase na categorização e no pensamento lógico, seguindo as leis da argumentação lógica. Muitos fatores causais ou parcialmente causais interferem no raciocínio e na clareza de pensamento, embora a ideia de complexidade também esteja em conformidade com o pensamento lógico. Em geral, existe uma tendência a ter mais categorias com menos fatores determinantes definindo o conteúdo da categoria do que menos categorias e mais determinantes. A explosão do número de categorias no sistema de diagnóstico psiquiátrico (o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM ou a Classificação Internacional de Doenças ICD) nos últimos cinquenta anos é um bom exemplo dessa tendência.

Podem-se ver aqui princípios de pensamento que estão mais em sintonia com a psicanálise, com princípios de sobre ou multideterminação, ou ênfase nas forças de oposição na mente em relação dinâmica entre si.

É importante ressaltar que as conquistas das descobertas de Freud implicaram um rompimento com a dominação do pensamento categórico e a lógica da rigorosa referência das palavras.

As palavras podem ter múltiplos significados, que não dependem apenas da cultura em que estão inseridas, mas também do estado do sujeito falante e da condição do ouvinte. Em muitos aspectos, as maneiras psicanalíticas de ouvir e pensar e a epistemologia psicanalítica estão em conformidade com os princípios de não linearidade, multicausalidade e sobredeterminação, mudanças constantes e falta de conclusão, polissemia, contradição e irracionalidade subjacentes à racionalidade.

Embora a compreensão psicanalítica do inconsciente conflite com algumas ideias fundamentais do pensamento ocidental, ela não se torna automaticamente compatível com a maneira chinesa de compreensão da mente. Esse fato pode ser ilustrado pelo exame de alguns princípios - por exemplo, o da mudança, o da contradição e o da relação ou holismo.

 

Princípio da mudança (Bian Yi Lu)

Este princípio sustenta que a realidade é um processo - ela não está parada, mas sim em fluxo constante. De acordo com a crença folclórica chinesa, a existência não é estática, mas sim dinâmica e mutável. Por ser dinâmica e flexível, os conceitos que refletem a realidade são também ativos, mutáveis e subjetivos em vez de entidades objetivas, fixas e identificáveis.

A psicanálise também acredita no princípio da mudança e na realidade como processo. Entretanto, ao mesmo tempo, a psicanálise enfatiza as estabilidades e fixações dos processos no aparato psíquico. Um dos objetivos da análise é de, por meio de insight, liberar o afeto retido em pontos de fixação, diminuindo a ansiedade, para que as pessoas passem a ter escolhas que não existiam anteriormente. Portanto, os pontos referenciais de ancoragem do Weltanschauung chinês e psicanalítico são diferentes. A questão interessante é como e onde eles se encontram.

 

O princípio da contradição(Mao Dun Lu)

Este princípio afirma que a realidade não é precisa ou clara e inequívoca, mas sim cheia de contradições. Pelo fato de a mudança ser constante, a contradição é constante. O velho e o novo, o bom e o mau, o forte e o fraco, e assim por diante, coexistem em tudo. O mundo é simplesmente uma entidade única, integrada por opostos. De acordo com os taoistas, os dois lados de qualquer contradição existem em intensa harmonia, são opostos, mas estão conectados e controlam-se mutuamente.

Mais uma vez podemos perceber que o princípio da (não) contradição também tem seu lugar na psicanálise. Esse é um dos princípios fundamentais para se trabalhar com o inconsciente. Como tal, deve também ser visto como um princípio viável e uma orientação para a percepção consciente. E assim ocorre quando o princípio da não contradição é análogo à capacidade de integrar sentimentos e pontos de vista opostos. Portanto, para os psicanalistas, o princípio da integração é mais um ponto de chegada do que uma afirmação sobre a natureza do universo ou do aparato psíquico. Para a análise, o princípio da não contradição é afetado por eventos traumáticos ou mesmo por um desenvolvimento normal. (O bebê não pode ter ou considerar o princípio da não contradição como base para sua existência; ele precisa acreditar no bem, por assim dizer - o seio bom, a mãe suficientemente boa, um ambiente que não traga muita ansiedade ou que não seja frustrante demais.)

 

O princípio da relação ou holismo (Zheng He Lu)

Este princípio provavelmente constitui a essência do pensamento dialético. Representa a consequência dos princípios de mudança e contradição. Sustenta a ideia de que nada é isolado e independente, mas de que tudo está conectado. Se realmente queremos conhecer algo por inteiro, devemos conhecer todas as suas relações - como afeta e como é afetado por todo o resto. Qualquer coisa vista como algo isolado é distorcida, pois as partes são significativas somente na relação com o todo, como notas musicais inseridas em uma melodia. O modo de pensamento holístico baseia-se na premissa de que tudo existe em uma integração mística entre o yin e o yang, entidades que são opostas uma à outra, mas que também estão conectadas no tempo e no espaço como uma totalidade.

Novamente, tais princípios se sustentam também na psicanálise, mas o yin e o yang não são conceitos suficientemente elucidativos para satisfazer a epistemologia psicanalítica. Eles podem lembrar a relação dinâmica entre o consciente e o inconsciente, mas não diferenciam os muitos processos da psicopatologia e da chamada normalidade, para os quais a psicanálise precisa de teorias e modelos a fim de se tornar uma disciplina terapêutica e uma ciência.

 

Observações a partir da apresentação de casos

A seguir, abordamos algumas características observadas em apresentações de casos feitas pelos colegas chineses. Elas são frequentemente caracterizadas pelo seguinte:

1. constelações familiares - mais frequentemente abrangendo pais e avós - que estão em desequilíbrio têm prioridade na apresentação; da mesma forma, os problemas e sintomas dos pacientes são em parte apresentados como o problema de como reinstalar o equilíbrio no sistema familiar coletivo, e, em geral, o paciente espera que o terapeuta apresente bons conselhos para que isso aconteça. Mesmo após ter aprendido algumas habilidades psicodinâmicas, é provável que o terapeuta sinta-se tentado a questionar e propor conselhos de como resolver o problema. Essa tendência ao questionamento pode, entretanto, também ter suas raízes na necessidade de se obter uma melhor compreensão da complexidade da situação (o princípio de Zheng He Lu). A atitude de abstinência do analista não combina facilmente com a cultura chinesa de ver o fenômeno em seu contexto mais amplo e de procurar e dar conselhos (que, a propósito, também é a atitude predominante na relação médico-paciente na cultura ocidental);

2. leva algum tempo até que o terapeuta aprenda a mudar o foco de dar conselhos e comece a exercer uma escuta aberta e empática, permitindo que a exploração dos sentimentos, dos conflitos, e a dinâmica intersubjetiva passem para o primeiro plano.

Ao mesmo tempo, não se deve subestimar o esforço do terapeuta de encontrar formas de representar o sofrimento individual dentro de uma matriz cultural em que as necessidades do indivíduo e as formas de expressão do self estão, em grande parte, subordinadas às necessidades da família e do grupo. Além disso, devemos levar em consideração a maneira pela qual as influências traumáticas afetam a possibilidade de representação (Rosenbaum & Varvin, 2007).

 

Conclusão

Os analistas da IPA vêm trabalhando com psicoterapia psicodinâmica e psicanálise na China nos últimos vinte e sete anos. Eles vêm atuando:

1. na formação de um número significativo de psiquiatras e psicólogos em métodos derivados da psicanálise que demonstraram eficácia clínica em várias desordens mentais. Muitos desses profissionais em formação ocupam cargos de liderança em hospitais psiquiátricos chineses, departamentos psicoterapêuticos nos hospitais, departamentos de psicologia clínica em universidades e em agências de saúde do governo chinês;

2. na qualificação dos didatas, habilitados a transmitir uma compreensão psicanalítica e métodos de tratamento para as novas gerações de clínicos;

3. possivelmente seu maior ganho, na compreensão psicanalítica da relação terapeuta-paciente - compreensão também essencial em qualquer tratamento psiquiátrico. Conseguimos mostrar aos nossos profissionais em formação, por exemplo, que fica comprovado que a eficácia da medicação depende muito da qualidade da relação médico-paciente. Neste ponto, a compreensão dos mecanismos de transferência e contratransferência é indispensável para oferecer a medicação dentro da atmosfera emocional mais apropriada. O mesmo vale para outros tratamentos não analíticos em psiquiatria. Uma vez que nossos profissionais em formação são professores em hospitais e departamentos de psicologia, eles podem comprovar que, dentre outros paradigmas de tratamento, como os métodos na linha cognitivo-comportamental, a compreensão da importância da interação inconsciente entre o terapeuta e o paciente (transferência e contratransferência) deve ser valorizada. A psicanálise e as terapias com base psicanalítica são, assim, tanto formas de tratamento como maneiras de compreender a relação entre terapeutas e pacientes em todo tipo de tratamento. Nesse contexto, é pertinente procurar evidências quanto à eficácia do tratamento, como ele está funcionando e o que funciona para quem. Portanto, a pesquisa no contexto chinês, por pesquisadores chineses, se faz necessária e há um interesse crescente em pesquisa entre os colegas chineses de orientação psicanalítica (Varvin, 2008);

4. na formação de futuros psicanalistas na China que farão parte de institutos e sociedades de psicanálise. Houve um esforço considerável por parte dos analistas da IPA, nos últimos vinte e sete anos, em implantar a psicoterapia psicanalítica na China em vários níveis:

♦ para desenvolver a formação e a supervisão em psicoterapia psicodinâmica;

♦ para auxiliar na implantação de organizações profissionais;

♦ para ajudar a integrar terapias e o conhecimento psicanalíticos no que diz respeito aos cuidados dispensados à doença mental em geral;

♦ ajudar no estabelecimento de pesquisa psicanalítica relevante;

♦ conceber uma formação psicanalítica que visa a formar institutos de formação na China.

A China está no momento trabalhando na reforma da saúde mental, que incluirá a formação em psicoterapia como parte da formação de psicólogos clínicos e psiquiatras, comprovando a relevância do trabalho desses programas de formação;

5. na reflexão contínua acerca das diferenças culturais na forma de compreender o homem e seu sofrimento, bem como acerca do contexto histórico e de modernização específico da China, em que a psicanálise deve ainda se desenvolver (Gerlach, Hooke & Varvin, 2013; Scharff & Varvin, 2014).

Resumindo, as três décadas de ensino psicodinâmico e trabalho clínico realizado por psicanalistas resultaram em um bom começo: o pensamento psicanalítico passa a ter uma base sólida no sistema de saúde mental da China, que evolui rapidamente.

 

Referências

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Correspondência:
Sverre Varvin
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Bent Rosenbaum
Alhambravej 1
1826 Frederiksberg, Dinamarca
bent.rosenbaum@dadlnet.dk

Recebido em 10.3.2014
Aceito em 24.3.2014

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