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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.48 no.1 São Paulo Jan./Apr. 2014

 

ARTIGOS TEMÁTICOS: MUTAÇÕES E PERPLEXIDADE

 

Realidade virtual e setting: de costas para o futuro?

 

Virtual reality and setting: turning backs to the future?

 

Realidad virtual y setting: ¿de espaldas para el futuro?

 

 

Alessandra Ricciardi GordonI; Lecy Angélico CabralI; Elsa Vera Kunze Post SusemihlII; Cleusa Gouveia NeryI; Celia Blini de LimaI; Lila Schein SchwartzI; Norma Lottenberg SemmerI; Eloisa MilaniIII; Claudia Starzynski LimaIII

IMembro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP)
IIMembro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP)
IIIMembro filiado à Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP)

Correspondência

 

 


RESUMO

Um grupo de psicanalistas da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo sbpsp percebe a incidência cada vez maior de temas ligados à comunicação virtual em seus encontros clínicos semanais. A reflexão faz-se então necessária a partir da experiência de cada um dos membros e da literatura disponível. Autores como Giovanetti, Dorado de Lisondo, Guignard e Sharff contribuem para a discussão de um ponto de vista psicanalítico, bem como Novaes e Franklin Silva, através de uma abordagem filosófica. Várias vinhetas clínicas são apresentadas.

Palavras-chave: psicanálise; comunicação virtual; realidade virtual; técnica.


ABSTRACT

A group of psychoanalysts from SBPSP becomes aware of the increase in the number of themes related to virtual communication in their weekly clinical encounters. Thus, it becomes necessary to reflect based on the experience of each member and on the available literature. Authors such as Giovanetti, Dorado de Lisondo, Guignard and Sharff contribute to the discussion from a psychoanalytic point of view, as well as Novaes and Franklin Silva, through a philosophical approach. Several clinical vignettes are presented.

Keywords: psychoanalysis; virtual communication; virtual reality; technique.


RESUMEN

Un grupo de psicoanalistas de la SBPSP percibe la incidencia cada vez mayor de temas relacionados con la comunicación virtual en sus encuentros clínicos semanales. De ahí que la reflexión se hace necesaria a partir de la experiencia de cada uno de los miembros y de la literatura disponible. Autores como Giovanetti, Dorado de Lisondo, Guignard y Sharff contribuyen para la discusión de un punto de vista psicoanalítico, así como Novaes y Franklin Silva, a través de un enfoque filosófico. Varios casos clínicos son presentados.

Palabras clave: psicoanálisis; comunicación virtual; realidad virtual; técnica.


 

 

O verdadeiro problema deste século da tecnologia é a desrealização da realidade: a fuga da realidade na imaginação. As coisas não são como estão. Tudo é cada vez mais em sentido figurado. É a tendência
(Heiner Müller).

 

Introdução

Somos um grupo de colegas da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e nos reunimos semanalmente para discutir material clínico. Nossos encontros têm se realizado ao longo de quase uma década e construímos um clima de intimidade e confiança, ao mesmo tempo em que o compromisso com a tarefa nos manteve interessadas na continuidade do trabalho.

O que nós, psicanalistas, temos a dizer sobre as relações no espaço cibernético? Esta questão, apresentada reiteradamente em nossos encontros, nos levou às presentes reflexões.

Ao que parece, o espaço virtual está cada vez mais real no mundo contemporâneo. Com uma frequência cada vez maior, temos observado em nossa clínica questões ligadas à realidade virtual, desde o uso de mensagens de texto na comunicação com os pacientes, até a utilização do computador e jogos eletrônicos no atendimento a crianças ou, ainda, encontros virtuais em substituição às sessões de análise. Ao mesmo tempo, temos ouvido relatos informais semelhantes de colegas, o que nos leva a pensar se não estaríamos diante de modificações no setting. As publicações e reuniões científicas sobre o tema - que, embora esparsas, são bastante oportunas - nos estimularam a compartilhar nossa experiência e a tecer reflexões a respeito dessas novas formas de comunicação que têm permeado com frequência as relações humanas na contemporaneidade.

 

A revolução tecnocientífica e a demanda por pensamento

À guisa de introdução a uma publicação que visa a refletir sobre o momento particular da história em que vivemos, Adauto Novaes (2009) faz considerações sobre o impacto que a revolução tecnocientífica tem exercido. A imagem trazida por ele nos coloca na confluência de dois mundos: um que ainda não começou e outro que ainda não se completou, deixando como tarefa o desafio de compreender e transitar nessa nova condição humana. Segundo ele, os avanços técnicos e científicos são feitos no vazio de pensamento - resta então a tarefa de pensá-los. De fato, ele afirma que a própria existência da sociedade se faz no vazio do pensamento, pois enquanto vivemos não nos dedicamos a refletir. Mas, como afirma Péguy (citado por Novaes, 2009), para não entrarmos no futuro de costas, precisamos encontrar um momento em que o pensamento possa se exercer - e essa tarefa também cabe a nós, psicanalistas.

Nesse mesmo artigo, Novaes cita vários autores, que ressaltam o fato de os avanços técnicos se darem de forma autônoma, prescindindo de maior controle e reflexão; Heidegger, entre eles, expressou-se da seguinte forma: a técnica corresponde a "uma exigência mais potente que qualquer determinação de fins pelo homem ... uma exigência que está acima do homem, de seus projetos e de suas atividades". Leopoldo Franklin Silva, também citado por Novaes, complementa: "Neste cenário desértico, a condição humana mostra sua heteronomia ética, sua desintegração política, sua fragmentação subjetiva, sua alienação histórica, sua regressão existencial, como se o propósito do homem contemporâneo fosse a desinvestidura do humano".

Tais afirmações estão bastante próximas de nossa experiência quando pensamos no ritmo acelerado das inovações tecnológicas que batem à nossa porta sem serem convidadas e entram, muitas vezes sem permissão ou reflexão. De repente, percebemo-nos sujeitas a elas. Isso, porém, não significa que não possamos ter a ação do pensamento. Ao contrário, faz-se necessário, mais do que nunca, iniciar uma profícua troca de experiências e uma profunda reflexão sobre o sentido dessas modificações em nosso trabalho. Pois se os progressos técnicos e tecnológicos podem nos levar a uma quase desinvestidura do humano, nós trabalhamos justamente, no polo oposto, naquele cujo objeto de estudo é o homem, sua mente, suas relações, enfim, a investidura do humano.

Em nossa área, alguns autores relatam suas experiências e indagações. Faremos um breve recorte, relataremos algumas das questões que emergem em nossas discussões clínicas e, por fim, traremos algumas vinhetas na expectativa de estimular uma discussão.

 

As ponderações na psicanálise

Notamos que a interferência da realidade virtual já se discute na literatura psicana-lítica há mais de meia década, mesmo em um tempo em que os avanços tecnológicos ainda não possibilitavam um rompimento tão radical das barreiras de tempo e espaço, como o vivido atualmente. Scharff (2012) comenta que existem trabalhos dos anos 1950 discutindo os resultados de análises por telefone. Nesse mesmo artigo, a autora sugere que para determinados pacientes, como aqueles com dissociações decorrentes de traumas, o atendimento por internet pode ser uma ferramenta privilegiada e facilitar certos momentos do processo analítico. A autora relata, em detalhes, um caso em que os estados emocionais primitivos emergem e são vividos pela dupla.

Remetemos os colegas a essa curiosa exposição em que o uso do skype recriou e reatualizou não apenas conflitos, mas contribuiu significativamente para que a própria situação traumática fosse evocada. Surpreendeu-nos a descrição viva e intensa dos fenômenos que usualmente compõem o processo psicanalítico em toda sua dimensão de comunicação entre inconscientes.

Outra discussão interessante e atual foi aquela gerada nas "Cartas ao editor", de Churcher (2012), no The International Journal of Psychoanalysis, justamente a respeito daquele artigo de Scharff. Trata-se da discussão sobre segurança e privacidade no uso da internet: é possível preservar o sigilo de uma conversa analítica usando o skype? Ao que tudo indica, isso não é possível, e tem sido recorrente a preocupação do psicanalista quanto à segurança e privacidade do setting nessa situação, uma vez que no ambiente virtual o analista não é capaz de se responsabilizar pelo sigilo da conversa analítica.

Alicia Lisondo (2012) relata sua experiência pessoal e as dificuldades encontradas em um momento de crise aguda ao passar de um trabalho presencial para um atendimento por skype. A autora comenta a dificuldade de trabalhar pela internet os estados mentais primitivos nos momentos agudos, e a dificuldade de propiciar um campo emocional para que esses estados se manifestem e possam ser trabalhados pela dupla. Acrescenta, nesse contexto, fatores inerentes à comunicação virtual: dificuldades na conexão, distância física, entre outros.

Essa suposição nos leva a pensar no que é efetivamente possível em uma configuração virtual. Estamos diante de mudanças no setting e estas alteram significativamente o processo psicanalítico?

Sabbadini (2013) discute as possíveis consequências da prática da psicanálise em uma circunstância em que o tempo substitui o espaço, pois a dimensão temporal continua a existir, ao passo que a espacial sofre modificações: o tempo regular da sessão é o ponto de encontro da dupla. Ele aborda a questão da falta da presença física com a dimensão sensorial que a caracteriza. Sabemos que a presença corporal desempenha um importante fator e tem implicações determinantes para o processo: como essa ausência da presença física repercute na comunicação entre a dupla? Nas fantasias que se desenvolvem? Na prática de uma troca entre corpos desencarnados? Corpos sem cheiro, sem toda a mobilização que a presença física traz? O autor levanta uma questão fundamental: "a mera possibilidade de contato físico entre a dupla, seja de natureza erótica, agressiva ou afetiva, é central para a experiência (atual e transferencial) do psicanalista e do paciente".

Em que circunstancias essas alterações no setting seriam toleráveis?

Giovanetti (2011) relata a experiência de atendimento a um paciente predominantemente por skype. Trata-se de um jovem com uma história particular, com um processo identificatório bastante precário. Além disso, e talvez por isso, tenha um trabalho que lhe exige constante locomoção por países diferentes e lhe confere o estatuto de alguém que vive em "migração constante". Os encontros com o analista através do skype têm um estatuto de referência para ele, sejam estes feitos do aeroporto, do escritório ou de qualquer outro lugar em que esteja.

Apoiado nas ideias de Agamben e Benjamin sobre a contemporaneidade, Giovanetti apresenta uma concepção de psicanálise em transformação, inserida e resultante das determinações histórico-culturais. Ao lado da função continente e interpretante do analista, destaca a "função testemunho", daquele que viveu e pode dar testemunho. Giovanetti argumenta que esse acompanhamento é primordial: é o que se coloca diante de nós, analistas, situados que estamos na fratura entre dois séculos e em constante transformação.

Scharff (2010) tem escrito continuamente sobre o tema e contribui para essa discussão argumentando que a psicanálise é, primordialmente, um encontro com uma mente compreensiva. Em um artigo posterior (2013), a autora enfatiza que existem mais semelhanças do que diferenças entre a psicanálise tradicional e a praticada à distância; constata a possibilidade de observar a ocorrência de regressão terapêutica, a apreensão do não verbal por meio de pausas, hesitações, qualidade da voz, choro. A comunicação ocorre principalmente através do som e incrementa o surgimento de fantasias imaginativas, que podem ser mais investidas do que na psicanálise tradicional. Argumenta, ainda, que o processo analítico ocorre, uma vez que tanto o analista quanto o paciente passam a ouvir um ao outro com uma imagem mental colorida pelos afetos correspondentes, com os lapsos e as hesitações que recriam na mente do analista a situação interna do paciente. A comunicação inconsciente pode ocorrer por meio das vias auditiva, visual e sensorial: a linguagem se corporifica e ressoa no sistema sensório-motor - as palavras evocam emoções na dupla.

Sabbadini (2013) entende que a skypanálise já é uma realidade praticada por psicanalistas ao redor do mundo - quer gostemos ou não -, e propõe uma metáfora importante ao citar a descrição feita por Prensky (2001) dos nativos digitais diante dos imigrantes digitais (entre os últimos, encontra-se a maioria dos psicanalistas). Sugere ele que chegará um momento, não muito distante, em que os nativos digitais serão a completa maioria. Contribui significativamente ao depurar as condições fundamentais para que um atendimento à distância possa ocorrer preservando as características fundamentais do processo psicanalítico. Seguindo a tradição freudiana das recomendações à prática da psicanálise (Freud, 1912), afirma que devemos tentar preservar a neutralidade, a abstinência, a privacidade e o anonimato, apesar das condições muitas vezes adversas1, já mencionadas anteriormente e encontradas no mundo virtual; defende que as características que compõem o setting sejam discutidas e combinadas entre a dupla, de preferência em uma entrevista pessoal, uma vez que passa a ser da dupla, e não mais apenas do analista, a tarefa de preservá-lo. Os encontros deveriam acontecer sempre nos horários e dias estipulados, no mesmo local para ambos, replicando as configurações do encontro face a face em vez do uso do divã. A visão do analista seria um elemento importante, como um ancoramento, diante da falta de elementos sensoriais. O silêncio poderia ser mais facilmente suportado se a visão do analista se mantém, já que muitas vezes é equacionado à perda da conexão. Naturalmente, cabe ao paciente fazer as ligações e as interferências ligadas à qualidade da conexão e equipamento se adicionam ao setting, pois afetam a dinâmica transferencial/contratransferencial, e tornam ainda mais complexo o trabalho analítico. Esse novo setting pode ter elementos e limites diferentes, mas sua função continua a mesma: a proteção do processo psicanalítico de intrusões externas - e, acrescentamos, a possibilidade de contarmos com parâmetros fixos que nos permitam observar as oscilações.

Já Guignard (2013) se ocupa da interferência da realidade virtual de uma forma original e reversa: em vez de apenas se perguntar o que nós, psicanalistas, esperamos e queremos do mundo virtual, ela questiona o que os usuários esperam e querem de nós e da própria psicanálise. Isso porque o mundo digital globalizado oferece a expectativa de um preenchimento instantâneo de desejos, a possibilidade de aderir aos três supostos básicos de mentalidade grupal (Bion, 1996) - pareamento, luta/fuga e dependência no lugar do pensar, uma alteração sem precedentes do sentimento de solidão, uma vez de que se está rodeado de "amigos", o borramento das diferenças sexuais e de geração quando qualquer um pode se apresentar da forma como desejar nas relações desencarnadas. A realidade virtual oferece uma ilusão do que é real, uma ilusão a qual se pode facilmente aderir.

Além disso, observa que o funcionamento mental tende mais à percepção e menos à representação. Assim, é enorme a tentação de aderir a representações pré-digeridas que tocam, mas não correspondem às representações do mundo pulsional individual, arduamente forjadas por meio da formação de símbolo e da relação com o objeto (perdido). Ao aderir a estas representações pré-digeridas, pode-se facilmente fugir da dor e entreter-se em um mundo que representa apenas de forma muito distante e indireta o mundo interior do sujeito.

A autora recomenda cautela, pois o analista pode supor que está lidando com afetos mais integrados, pensamento verbal e representações simbólicas, quando de fato o panorama mental pode estar repleto de cisões, negações, idealizações, representações esvaziadas, identificações projetivas patológicas, ou seja, defesas psíquicas primitivas. Essas características compõem um estado muito encontrado em nossa clínica: os estados fronteiriços, com suas fronteiras frágeis e precariamente estruturadas - entre self/ outro, pensamento/ação, realidade externa/interna, mundo real/digital - e facilmente sujeitos à fragmentação, e em especial quando os limites se tornam flexíveis, fracos ou confusos. A autora lembra que esses estados já funcionam em um limiar representativo e simbólico muito pobre, e alerta para o quanto o envolvimento intenso nas relações virtuais pode empobrecer a vida emocional e não favorecer a troca do alimento emocional. O relacionamento real e íntimo é deixado de lado, o que impossibilita o nutrimento da parceria.

 

Questões que se impõem à clínica

Em nossos encontros clínicos, observamos que as novas mídias e tecnologias foram se imiscuindo em nosso modo de trabalhar e em nosso dia a dia. Já não somos surpreendidas quando celulares tocam inadvertidamente, pacientes o atendem durante a sessão, crianças entram com I pad ou querem brincar no pc e recebemos ou mesmo enviamos sms para marcar e desmarcar horários, avisar atrasos etc.

Por outro lado, temos testemunhado o uso destas mesmas mídias e tecnologias no trabalho: crianças que propõem jogos em seus I pads, que são utilizados pela dupla como uma forma de comunicação, inclusive de dinâmicas ou conteúdos inconscientes, uso de sms pela dupla na comunicação fora do consultório, envio de mensagens por correio eletrônico por pacientes em momentos de ansiedade aguda (como uma forma de contato com o analista). Nesses casos, o uso das novas mídias é absorvido no setting analítico como ferramentas usadas pela dupla, independentemente de quem as propôs. Pensamos que a utilização dessas novas tecnologias tanto pode promover o contato e o desenvolvimento do trabalho psicanalítico, como pode funcionar defensivamente, reforçando a alienação, o enclausuramento e dando concretude às ideias alucinatórias de onipotência e controle. Passaremos ao relato de algumas vinhetas clínicas com o objetivo de examinar e discutir alguns dos pontos aqui levantados.

 

Fernando e o lugar extraordinário

Durante algum tempo, no início de seu atendimento, Fernando insistiu em ser atendido por skype. Não se tratava de ausência temporária para viagem de trabalho, mas de ocasiões em que ele acordava atrasado ou tinha mais trabalho para fazer. Eram momentos em que ele podia estar em sua sessão, mas de fato não queria - ou, para ser mais precisa, queria algo mais.

Fernando é um nativo digital. Trabalha em uma empresa em que comunicação e encontros virtuais fazem parte do dia a dia. Toda semana, trabalha "de casa" por pelo menos em um dos dias. É muito sério quanto às suas obrigações: comunica no início do dia o que fará e no final do período presta contas do que efetivamente fez. De uma forma geral, sente que trabalha melhor quando fica em casa, concentrado, do que quando está na empresa. Mas, no entender da analista, sua solicitação de atendimento por skype era algo da ordem de uma transgressão, que esticaria seu tempo, permitiria que ele estivesse em dois lugares ao mesmo tempo e faria dele alguém que, de fato, ele não é. Se isso lhe fosse concedido, o princípio da abstinência seria claramente ferido, como também um grande desserviço em termos psicanalíticos lhe seria prestado.

Embora a analista nunca concordasse com seus pedidos, e interpretasse seus desejos onipotentes (o que lhe causava grande frustração), foi necessário que ele experimentasse na pele o impacto de uma transgressão para que o sentido das interpretações ficasse claro para ele e na dupla. Fernando deveria participar de uma audiência oficial, cujos participantes teriam seus nomes informados previamente. Por um erro, isso não aconteceu, e ele não poderia participar do encontro, o que causaria significativo prejuízo, uma vez que ele era a pessoa a par do caso na empresa. Mas, ele acabou indo a essa audiência usando o nome de uma pessoa ausente, com a anuência do seu chefe. Durante a reunião, a troca foi descoberta, o que causou um enorme constrangimento à sua empresa e a si próprio, em termos profissionais e subjetivos.

O sentimento de culpa e vergonha que sentiu foi compreendido pela dupla analítica como essa tentativa insistente em ocupar um lugar que não é seu por direito, de transgredir os limites de tempo e espaço, que pareceram trazer de volta uma indignação edípica, por não ser o centro do mundo, por não ter suas demandas atendidas e por não querer se colocar como alguém, em um certo sentido, ordinário (que anda com quatro pernas de manhã, com duas ao meio dia e com três ao entardecer). Sua análise ocorre duas vezes por semana no consultório, com o uso do divã, e a dupla compreendeu que ela deverá continuar assim.

 

Alice: uma planta que cresceu sozinha

Alice estava em atendimento há uns dez anos quando foi transferida pela empresa para outra cidade brasileira. Ela é órfã desde criança, e durante todo o primeiro ano de análise chegava ao consultório nos cinco minutos finais da sessão e ficava em silêncio. No segundo ano, chorava em quase todas as sessões. Possivelmente, precisava elaborar o luto pela perda dos pais. Os núcleos melancólicos eram muito profundos e presentes na relação analítica. A partir do terceiro ano, com o vínculo mais bem estabelecido, foi sendo possível reconstruir ou construir aspectos muito precários de sua mente. O seu trabalho profissional teve sempre um papel fundamental para sua sobrevivência financeira, porém a falta de autoestima e confiança em sua capacidade e a dificuldade de se posicionar a atrapalhavam muito.

Quando foi promovida para uma nova função em outra cidade, dizia que aquela promoção era resultado da terapia e ficou muito grata. Não queria interromper a análise e sentia muito medo. A analista concordava - no entanto, recomendou e indicou (depois de um contato telefônico com ele) que ela procurasse outro analista. Mas ela não fez isso. No primeiro ano, ela vinha a São Paulo duas vezes por mês e uma sessão era realizada aos sábados. A paciente insistia em ser atendida por skype, mas a analista trabalhava a separação e reforçava que o desenvolvimento que ela havia conquistado não seria perdido. No entender da analista, isso era muito delicado: a separação implicava perda, e isso não parecia ser suportável para Alice.

No segundo ano, a analista aceitou um atendimento nessas circunstâncias. A relutância se devia às dúvidas quanto a dupla dispor de um espaço emocional que possibilitasse a análise. De fato, mesmo o espaço físico já era difícil, pois ela dividia o apartamento com uma colega do trabalho e a internet só chegava à sala: havia falta de privacidade. Ela pedia para a colega ir ao cinema, para que a sessão pudesse ser feita às 22 horas. Uma sessão por semana. No consultório, ela era atendida duas vezes por semana. A pedido dela, o atendimento era realizado sem a câmera, para ser mais parecido com estar no divã. Isso aconteceu durante um ano e foi muito intenso. A analista, entretanto, sentia falta das condições habituais do setting analítico e a conversa lhe parecia superficial. Ambas sentiam muita dificuldade em aprofundar a conversa e, de comum acordo, decidiram suspender as sessões. Essa experiência pareceu ser importante para a paciente.

No terceiro ano, Alice conseguiu procurar o analista indicado, e quando estava começando a aproveitar a experiência, foi retransferida para São Paulo. Nessa época, retornou à análise, que continua até o momento. Alice falou que aquelas sessões por skype serviam para acalmá-la, mas eram muito diferentes de quando estava com a analista no consultório.

Pensamos que no caso de Alice, a manutenção do contato com a analista era necessário para sua sobrevivência psíquica naquela situação de mudança, mas depois de algum tempo, tornou-se claro para a dupla que aquele tipo de trabalho estava ficando cada vez mais limitado e reeditando um tipo de relação que ela sempre havia sentido como nociva e impeditiva de desenvolvimento. Era chegado o momento da separação e da busca de um trabalho mais rico e profundo com um analista presente. O campo precisava ampliar-se novamente: um contato mais abrangente com uma pessoa diferente já podia ser aceito.

 

Patrícia: sobrecarga, sacrifícios e renúncia?

Patrícia procurou análise no final da faculdade de artes, indicada pela psiquiatra que também medicava sua mãe com grave depressão. Tinha medo de dirigir, de expor seus quadros, e um medo terrífico de ficar como a mãe. O trabalho analítico era intenso, pois Patrícia temia que, com sua história, jamais teria a vida de um ser normal - estava destinada à maldição da mãe: seu destino já estava traçado para ser como o dela. Após seis anos de análise, Patrícia casou-se, voltou a trabalhar e a demonstrar maior conhecimento de seu mundo emocional.

Mal havia saboreado o "mel" do início do casamento, o "fel" de seus temores e estados primitivos inundou novamente sua mente e a relação com seu par quando, na volta da lua de mel, constatou estar grávida. Um mês depois, iniciaram-se os enjoos e vômitos compulsivos. A hiperêmese gravídica (HG) se caracteriza por presença de náuseas e vômitos frequentes e persistentes, que podem progredir até provocar uma internação, o que efetivamente aconteceu com Patrícia. Quando estava internada ou impossibilitada de vir, Patrícia telefonava nos horários de suas sessões e conversava com a analista. Isto se passou há doze anos, e ao conversar com seu supervisor, a analista foi orientada a usar de bom senso. A fragilidade de Patrícia levou a analista a acompanhá-la por toda sua gravidez. Após o parto, fazia comunicações de como estava conduzindo sua relação com o bebê. Sua ansiedade, voz ofegante e chorosa transparecia - o telefone era um fio para desvendar seus labirintos e compartilhar com a analista seu estado emocional. Quando voltou ao consultório, trazia seu bebê.

O uso da internet e do celular também foi útil com outras três pacientes grávidas. Acreditamos que a experiência emocional gere turbulências, especialmente nesses estados; essas pacientes impossibilitadas de um contato presencial utilizaram os recursos eletrônicos possíveis e puderam assim trabalhar suas ansiedades.

 

Dança comigo?

Carol é uma menina de nove anos, meiga, inteligente e triste. Chega por intermédio de uma colega que atende seu pai. A mãe vem à entrevista inicial, mostrando-se muito resistente ao trabalho terapêutico para a filha, mas acaba cedendo porque a vê sofrendo. Os contatos sobre horários são feitos com o pai e com a irmã dele, que é quem traz Carol. A mãe, segundo relato da menina, passa o dia no próprio quarto, deitada. Dificilmente acompanha as crianças em suas atividades, nem mesmo dentro de casa.

Carol passa a ser atendida e encanta sua analista! Solicita que esta a acompanhe em toda atividade que comece a fazer: desenhos, pintura, massinha. Passam um longo período "cozinhando"; fazem com a massinha sempre uma refeição completa: entrada, prato principal e sobremesa. As atividades são feitas pelas duas ao mesmo tempo, só aos poucos a analista pôde ir fazendo alguma coisa diferente da que ela fazia.

Ela sugeriu que fizessem dobraduras, e perguntou se poderiam olhar os modelos na internet. A analista hesita, e embora em dúvida, concede; pensa que poderia ser útil utilizar-se daquela ferramenta tecnológica que tinham em mãos e passam a copiar vários modelos de dobradura.

Em uma sessão, ela pergunta se poderiam assistir um episódio de uma série da TV que sairia naquele dia e de que gostava muito. Novamente surge a dúvida na mente da analista: estariam fugindo do setting ao trazer algo de fora da sala de análise? Novamente a hesitação é superada! Aquilo poderia ser útil para a dupla, já que era muito difícil para Carol falar de suas angústias.

A série "Dance Moms" sobre uma professora e sua escola de dança nos EUA, fazia grande sucesso entre as meninas. Ela ensina dança e coreografias para que as meninas participem de concursos de dança por todo país. As mães acompanham suas filhas nas aulas, nos concursos, as defendem nas competições e disputas entre as meninas; brigam por elas com unhas e dentes. Episódios são baixados e assistidos pela dupla todas as quintas-feiras. Como a série é em inglês, Carol vai gentilmente ajudando a analista a traduzir algumas partes. Aos poucos, a dupla experimenta o desejo de Carol de ser acompanhada, de ter a mamãe para defendê-la, seu sentimento de solidão. Durante alguns meses, assistem juntas àquelas aulas de dança, àquelas disputas, àquelas mães determinadas, brigando e defendendo suas filhas, e podem ir falando sobre os sentimentos de desamparo de Carol ao perceber a falta que sentia de ter uma mamãe que a acompanhasse em suas angústias e desejos, que estivesse ao seu lado.

A flexibilidade da analista permitiu-lhe acompanhar sua paciente; ela usa os recursos disponíveis, reais e virtuais, e não hesita em arriscar: a dupla desbrava caminhos desconhecidos e experimenta o novo quando a analista ousa utilizar recursos virtuais e a paciente aceita sua companhia.

 

Considerações finais

Estamos diante de uma nova situação, o uso da comunicação digital globalizada é um fato da contemporaneidade, cada vez mais presente na vida diária e ainda com mais frequência na dos jovens. Eles são nativos digitais (Prensky, 2001), praticamente nasceram com os dedos na tela de um PC, iPod, iPhone etc. Não há como negar essa realidade, e concordamos com Novaes quando ele nos convoca a pensar: essas mudanças vão adentrando quase sorrateiramente nosso dia a dia e nossa prática psicanalítica. É necessário, portanto, que a reflexão se dê! Somente quando tomamos em consideração tais mudanças, temos alguma chance de exercer nossa profissão mantendo nossa identidade como psicanalistas e o que é essencial à prática da psicanálise. O presente trabalho é um movimento nesta direção: as discussões e leituras foram mobilizando nossa atenção para o que acontece em nossa prática, e suscitando reflexão.

Indagamos repetidas vezes se a interferência da realidade digital e virtual provoca modificações no setting. Bem, o setting não se define apenas pela frequência ou duração das sessões ou pela localização espacial dos encontros, mas por um setting interno do analista, produto de sua própria experiência e convicção no método psicanalítico. Isto rege seu trabalho e o ajuda a compreender o que pode estar se passando quando solicitações, as mais variadas, irrompem no processo entre a dupla - por exemplo, como o que ocorreu no caso de Fernando e sua solicitação em ocupar um lugar extraordinário. Ou, ainda, no caso de Carol, que usa os recursos disponíveis no computador para expressar seus anseios e suas frustrações para uma analista atenta, sintonizada com suas necessidades e disposta a acompanhá-la.

Mas o que pensar diante da prática da psicanálise por skype, quando esta se exerce rotineiramente em um processo psicanalítico? Podemos pensar nessa interiorização do setting como uma condição necessária, mas talvez ainda não suficiente. Isso porque, como afirma Sabaddini (2013), um encontro que prescinda das condições do espaço comum à dupla deve ser constantemente tomado em consideração em sua especificidade, e necessitaria de um setting diferenciado na medida em que altera de forma significativa a qualidade da experiência entre a dupla e, consequentemente, as condições de observação psicanalítica. Seriam as condições do setting recomendadas por Sabbadini - manutenção do mesmo horário e local para as sessões, uso da poltrona bem como neutralidade, abstinência e privacidade - suficientes para guiar o psicanalista nesta nova modalidade? Percebemos o artigo de Giovanetti (2011) como um esforço nesta direção; não é fortuita sua concepção de transformação constante, de um vir a ser tão fluido: ele parece trabalhar no limiar do humano, e resgata para o contato humano vital, ainda que virtual, seu analisando.

Embora Scharff afirme com veemência que na psicanálise à distância as semelhanças são maiores que as diferenças, que há ocorrência de regressão, associação livre, atenção flutuante e mesmo de comunicação não verbal, nos perguntamos, com Dorado de Lisondo, se é possível manter as condições que nos permitam contato com o mundo mental do paciente e com a própria constituição do campo psicanalítico. É preciso observar cuidadosamente e refletir sobre as condições de observação da dupla, sobre as possibilidades de isolamento do paciente ou de repetição de situações que seriam mais nocivas do que benéficas, como no caso de Alice.

Nessas circunstâncias, o uso de novas tecnologias poderia, inadvertidamente, reforçar um movimento defensivo de alienação e enclausuramento - ou, ainda, dar concretude a ideias alucinatórias de onipotência e controle. Essas novas configurações demandam de nossa parte uma observação e reflexão ainda mais constantes, pois facilmente podemos nos enganar supondo que determinadas brincadeiras na análise de crianças, por exemplo, possam corresponder a reedições ou enactments de situações genuínas de seu mundo interno quando, na verdade, podem ser mera evocação de representações pré-digeridas do mundo virtual, às quais nosso pequeno paciente adere para evitar o contato com a dor real.

Toda sessão de análise é vivida como a repetição de um processo de união-separação. Em um setting convencional, temos as condições necessárias, embora muitas vezes não suficientes, para a observação dos desdobramentos que se manifestam em termos transferenciais e contratransferenciais. O que dizer de um setting virtual? A comunicação mais constante e por vezes continua dos meios virtuais é um elemento que precisa ser cuidadosamente pesado. Isto não criaria a ilusão de não separação na dupla? Ou de acesso imediato? Mais demandas à nossa capacidade de observar e pensar! Finalmente nos vem à mente a questão das indicações e contraindicações de uma análise por skype a partir de um elemento mesmo do setting: sua manutenção é compartilhada por analista e paciente, cabe a ambos a responsabilidade de recriar as condições físicas e tecnológicas que possibilitam a sessão. Mas como compartilhar tal responsabilidade com pacientes fronteiriços ou em períodos de regressão?

O que virtualmente se cria e recria em um mundo digital virtual? Situações fictícias vividas como reais? Situações possíveis dentro de um universo em que as condições de encontro se transformam a cada dia? Encontramos na descrição de Guignard (2013) ressonâncias com Leopoldo Franklin Silva na questão que transparece nesse rompimento tão radical com o que compõe o humano. Nesse afã de agilidade na comunicação, de contato imediato, de acessibilidade total, podemos perder os limites, ver borradas as diferenças, corrompidas as noções de tempo e de espaço e, com isso, evadirmo-nos das experiências de frustração, perda e dor.

Entretanto, tal tem sido a realidade com a qual nos defrontamos; Lígia Alcântara do Amaral costumava afirmar diante do novo: "É o que existe! O que nos resta é pensar a respeito".

 

Referências

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Giovanetti. M. F. (2011). Sobre transferências e migrações. Revista Brasileira de Psicanálise, 45(2),95-104.         [ Links ]

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Correspondência:
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Recebido em 27.1.2014
Aceito em 12.3.2014

 

 

1 Embora possamos lutar para permanecer trabalhando dentro do princípio de que os desejos expressos sejam interpretados em vez de atuados, sabemos que o anonimato é uma ficção, se pensarmos sobre o neologismo "dar um google" no meu analista. Tal exposição sem precedentes de nossas publicações, participação em congressos etc, não nos impede, entretanto, de continuar interpretando, por exemplo, a curiosidade do paciente sobre nós.

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