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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.48 no.1 São Paulo jan./abr. 2014

 

LANÇAMENTOS

 

Lançamentos

 

 

De l'exaltation

 

 

Paul Denis
Paris: PUF, 2013, 190p.

Paul Denis, membro da Société Psychanalytique de Paris, antigo diretor da Revue Française de Psychanalyse, autor de vários artigos e livros - como Emprise et satisfaction: les deux formants de la pulsion e Rives et dérives du contre-transfert -, nos apresenta mais uma importante obra reunindo treze artigos publicados ao longo dos últimos anos - artigos que, embora possam ser lidos independentemente, mostram uma integração que auxilia o leitor que pretenda estudá-los em sua totalidade. Como se destaca no livro, a exaltação é um afeto que foi muito pouco investigado pelos psicanalistas. Aparece nas discussões de Freud com Romain Rolland sob a forma de "sentimento oceânico" ligado ao sentimento religioso, o que sempre provocou em Freud intensa desconfiança. A exaltação certamente aparece em muitas situações religiosas ou sectárias, mas também em fenômenos de massa, quer ocorram em estádios, concertos, manifestações de rua ou encontros políticos. Em cada um de nós, esse afeto particular se revela quando ocorrem aqueles movimentos do Eu pelos quais este se amplia, se estende, triunfa, alarga seu campo, descobre ou conquista um novo território. Nós o encontramos neste livro seja compondo o estado amoroso, seja nas ocasiões dominadas pela raiva, além de na conquista da identidade e na busca do ideal. Abordando um assunto da mais alta importância, extremamente oportuno devido aos atuais acontecimentos sociais em nosso país, esta obra vem contribuir, com sua profundidade e clareza, para ampliar o conhecimento a respeito do mundo afetivo do ser humano.

 

A repetição na experiência analítica

 

 

Colette Soler; Elisabeth Saporiti (trad.)
São Paulo: Escuta, 2013, 168p.

Este livro de Colette Soler, fruto dos seminários por ela coordenados em 2009-2010, agora traduzidos para o português, convoca o psicanalista atento a seus cuidados clínicos, a seu rigor e a sua vigilância ética, que percorre a interrogação permanente dos operadores clínicos orientadores de seu trabalho, que revisite a noção de repetição, exposta por Freud em 1914 ("Recordar, repetir e elaborar"). Esta se mostra como um desafio na clínica psicanalítica, visto que irrompe no tratamento obstaculizando a transferência e seu manejo. Lacan, em 1964, reapresenta a repetição não somente como um dos quatro conceitos fundamentais da psicanálise, mas também como um ponto de virada em seu próprio pensamento teórico-clínico, que o fez colocar o Real no centro da orientação ética, determinando a direção da cura e a lógica do seu fim. Esta obra de Soler constitui uma boa oportunidade para rastrear as diversas maneiras pelas quais Lacan buscou elucidar este problema clínico - os comentários rigorosos da autora destacam que "é necessário captar o fundamento de todas as fórmulas que Lacan produziu sobre a repetição e perceber que todas elas contradizem a ideia comum que se tem sobre ela". Para Freud, a psicanálise consistia tanto na experiência quanto na especulação que esta exigia. O livro de Soler, nesse sentido, é bastante didático ao convidar todo psicanalista a colaborar, com suas inquietações clínicas e com suas práticas, a partir das teorias que lhe servem de alicerce, para a manutenção do discurso da psicanálise no mundo atual.

 

Elasticidade e limite na clínica contemporânea

 

 

Luís Claudio Figueiredo
Bianca Bergamo Savietto
Octavio Souza (Orgs.)
São Paulo: Escuta, 2013, 340p.

Esta obra é fruto de reunião científica promovida pelo Instituto de Psicologia da USP, da qual participaram vários psicanalistas e pesquisadores nacionais, juntamente com René Roussillon, e em que se discutiu a questão da elasticidade da técnica psicanalítica no contexto de uma clínica psicanalítica que se opõe à doutrinação, mas que se percebe afeita ao paradoxal. Nesse evento, debateram-se também as relações entre psicanálise e psicoterapia, que instigaram reflexões a respeito dos desafios suscitados à manutenção de uma situação analítica receptiva a pacientes-limite, que carregam em si um sofrimento indescritível. Desde que Freud postulou a ação das pulsões de destruição, dirigindo nossa atenção para os pacientes capazes de regressão a formas equivalentes à psicose, o problema dos obstáculos à eficácia da terapia psicanalítica veio ao primeiro plano das discussões entre os psicanalistas. Ainda são muitas as controvérsias sobre as variações técnicas e o tipo de escuta que os analistas utilizam para dar conta desses pacientes. Dividido em duas partes, que correspondem às duas grandes conferências realizadas na referida reunião científica, este livro é composto por dezenove artigos - nove na primeira parte e dez na segunda - e por uma apresentação feita pelos organizadores. Os artigos derivam das intervenções feitas nas discussões sobre as conferências, bem como dos textos produzidos com base nas discussões que emergiram no encontro. Sendo assim, o livro é resultado de um trabalho coletivo que se desenvolve, há vários anos, em diversos grupos de pesquisa, seja no âmbito universitário, seja no âmbito da clínica particular de seus componentes, a partir do cruzamento de diferentes tradições psicanalíticas, que permitem o reconhecimento da complexidade do pensamento de Freud na busca da reinvenção das teorias e práticas psicanalíticas desafiadas pela contemporaneidade.

 

Por uma psicanálise viva

 

 

Homero Vettorazzo Filho
Departamento Formação em Psicanálise (Org.)
São Paulo: Primavera Editorial, 2013, 256p.

Este livro é uma homenagem póstuma ao admirado e respeitado psicanalista Homero Vettorazzo Filho, médico, professor, supervisor e membro do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Os trabalhos aqui reunidos, publicados ao longo da carreira do autor, oferecem ao leitor a experiência de um encontro vivo, implicado e profundo, digno do que este psicanalista se propunha quando do atendimento de seus pacientes e de seus encontros com os colegas de profissão. Na primeira seção do livro, aparecem dois textos nos quais o autor se apresenta: o primeiro é um fragmento da transcrição de um debate oral, publicado em 2010, no qual Homero Vettorazzo Filho compartilha seu percurso profissional e a constituição de sua identidade como psicanalista; o segundo texto, único inédito deste volume, apresentado como memorial à sbpsp para a passagem a membro efetivo da instituição, dá a conhecer, para além do psicanalista, um pouco do homem, revelando seus vínculos, suas relações afetivas e seu amor pela vida. A segunda seção da obra é composta por dez trabalhos publicados entre 1998 e 2010, que foram mantidos como originalmente escritos. Nessa coletânea de artigos, podemos encontrar a recorrência de sua preocupação com a abertura do campo analítico e com a constituição do "Eu", temas que marcaram seus interesses de pesquisa.

 

Reverie e interpretação: captando algo humano

 

 

Thomas H. Ogden
Tania Mara Zalcberg (trad.)
São Paulo: Escuta, 2013, 256p.

Este livro, componente da coleção Kultur, dirigida por Alberto Moniz da Rocha Barros e Elias Mallet da Rocha Barros, com tradução de Tania Mara Zalcberg, destaca importantes aspectos da obra de Ogden - certamente, um dos maiores autores da psicanálise contemporânea -, abordando temas como vitalidade/desvitalização, emergência da perversão no tratamento psicanalítico, formas de linguagem usadas na sessão de análise e, acima de tudo, o assunto que lhe dá título: reverie e interpretação. Nessa obra, o conceito de reverie é submetido a intensa análise. Essa noção, que ocupa lugar nuclear na psicanálise atual e que, na perspectiva do autor, engloba a de contratransferência, constitui-se pelo modo como metáforas são criadas no encontro analítico, as quais, por sua vez, dão forma à experiência do analista no que diz respeito às dimensões inconscientes de sua relação com o paciente. Utilizando-se de sua técnica analítica para estabelecer com o leitor um diálogo em que o discurso viaja ao gosto da experiência emocional evocada pelo texto, contando com a capacidade imaginativa do leitor, postula que "o senso de vitalidade e de desvitalização de um dado momento da sessão analítica seja talvez o índice mais importante do processo analítico". Sempre atento ao modo como as palavras e a linguagem usadas recairão sobre seu leitor, busca travar uma conversa próxima e íntima com todo aquele que queira conhecer seu pensamento, sua compreensão da técnica psicanalítica e os pensamentos que percorrem a mente do analista. Tratando do possível surgimento de uma encenação perversa na relação analítica, bem como de suas causas, nos oferece a ideia do "terceiro analítico intersubjetivo", que se faz presente no "decorrer de uma experiência analítica ininterrupta" a representar o sonho sonhado no transcurso de uma análise. Tal empreendimento nos obriga a revisar aspectos da técnica da análise de sonhos, assim como a maneira como a linguagem é utilizada para apreender e transmitir o sentido da delicada interação ocorrida em uma experiência humana.

 

Obras incompletas de Sigmund Freud

 

 

Sigmund Freud
Gilson Iannini (Ed. e coord. da coleção)
Pedro Heliodoro Tavares (Coord. da coleção e da tradução)
Emiliano de Brito Rossi (trad., Vol. 1)
& Pedro Heliodoro Tavares (trad., Vol. 2)
Belo Horizonte: Autêntica, 2013, 170p. (Vol. 1) e 162p. (Vol. 2)

Ao leitor brasileiro dos trabalhos de Freud é oferecido o lançamento da mais nova coleção dos escritos do pai da psicanálise, as Obras incompletas de Sigmund Freud. Iniciativa da editora Autêntica, sob a editoria de Gilson Iannini, que divide a responsabilidade da coordenação da coleção com Pedro Heliodoro Tavares, também coordenador da tradução, a presente edição disponibilizou até o momento dois volumes: Sobre a concepção das afasias: um estudo crítico e As pulsões e seus destinos (edição bilíngue). O primeiro tem a tradução de Emiliano de Brito Rossi, também autor do "Posfácio"; o segundo, com a tradução de Pedro Heliodoro Tavares, é acompanhado de três ensaios: "Sobre a tradução do vocábulo Trieb", de Pedro Heliodoro Tavares; "Epistemologia da pulsão: fantasia, ciência, mito", de Gilson Iannini; e "Uma gramática para a clínica psicanalítica", de Christian Ingo Lenz Dunker. É sempre louvável o esforço de traduzir diretamente da língua alemã para o português o trabalho de Freud. Sabe-se há muito tempo das dificuldades impostas ao leitor das obras de Freud em nosso país, por conta de traduções que vêm do inglês, e não diretamente do alemão. Nos últimos tempos, tal problema tem sido sanado por iniciativas como esta que temos o prazer em divulgar. A presente coleção se divide em duas linhas principais: uma organizada tematicamente e outra dedicada a volumes monográficos. Cada volume recebe um tratamento singular que determina se a edição será bilíngue ou não, além de poder ser acompanhado por ensaios e textos explicativos. O primeiro volume apresenta o primeiro livro escrito e publicado por Freud, e que permaneceu inédito no Brasil, Sobre a concepção das afasias. Só isso já justificaria sua leitura, embora possamos acrescentar a importância desse texto para a compreensão dos escritos posteriores de Freud, bastando lembrar como a relação fundamental entre o psiquismo e a linguagem pauta o pensamento freudiano. O segundo volume traz um dos conceitos básicos para o entendimento do trabalho de Freud: o conceito de pulsão. A tradução de Trieb tem longa história de discussão no meio psicanalítico. Compreender adequadamente o significado trazido por Freud por meio desse conceito permite ao praticante e ao estudioso da psicanálise fundar solidamente o pavimento de seu percurso clínico e teórico.

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