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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.48 no.2 São Paulo Apr./June 2014

 

INTERCÂMBIO

 

Permanência do objeto edipiano

 

The permanence of the Oedipal object

 

Permanencia del objeto edípico

 

 

Jean-Claude RollandI; Tradução Claudia Berliner

IPsicanalista, membro da Associação Psicanalítica da França (APF)

Correspondência

 

 


RESUMO

Os homens penam para renunciar aos objetos a que os vincula sua sexualidade infantil. Parte desses objetos permanece conservada na memória inconsciente, dando força e vida às múltiplas manifestações da psicopatologia. Foi para essa inércia, para esse poder patogênico da libido, que Freud foi ficando cada vez mais sensível, à medida que sua pesquisa e sua teorização avançavam - a pulsão de morte podendo ser considerada sua versão mais radical. O tratamento analítico trabalha para restaurar as condições dessa renúncia, voltando a dar figura a esses objetos recalcados ou introjetados e submetendo-os ao processo da enunciação, que os liberta de sua carga erótica e os constrange à sublimação. Também retoma, amplificando seus efeitos, o procedimento próprio do sonho, que é a ferramenta do trabalho do luto. O texto tenta examinar em detalhes as operações específicas desse procedimento, em particular as diferentes desconexões (significante/significado, conteúdo ideativo/envoltório conceitual) e as transposições incessantes das moções de desejo entre linguagem de imagem e linguagem verbal.

Palavras-chave: renúncia; sonho; tratamento analítico; objeto edipiano; relação de objeto; interpretação analógica; endereçamento; linguagem de imagem; linguagem verbal.


ABSTRACT

Men suffer in order to renounce the objects which attach them to their childhood sexuality. Part of these objects is preserved in the unconscious memory, giving strength and life to the multiple manifestations of psychopathology. It was towards this inertia, towards this pathogenic power of libido that Freud became increasingly sensitive as his research and theorizing advanced, the death drive possibly being interpreted in its most radical version. The analytic treatment works with the objective of restoring the conditions of this renunciation, once again giving shape to these repressed or introjected objects and submitting them to the process of enunciation, which liberates them of their erotic charge and forces them towards sublimation. It also deals with and amplifies the effects of the procedure of the dream, which is the tool for the work on mourning. The text attempts to examine the specific operations of this procedure in detail, particularly the different disconnections (signifier/signification, ideational content/conceptual involucre) and the incessant transpositions of the motions of desire between image language and verbal language.

Keywords: renunciation; dream; analytic treatment; Oedipal object; object relation; analogic interpretation; addressing; image language; verbal language.


RESUMEN

Los hombres sufren para renunciar a los objetos que los vinculan a su sexualidad infantil. Parte de estos objetos permanece conservada en la memoria inconsciente, fortaleciendo las múltiples manifestaciones de la psicopatología. Fue para esta inercia, para este poder patogénico de la libido que Freud fue adquiriendo mayor sensibilidad en la medida en que su investigación y teorización avanzaban, el impulso de muerte pudiendo considerarse como su versión más radical. El tratamiento analítico trabaja para restaurar las condiciones de esta renuncia, volviendo a dar forma a estos objetos reprimidos o introyectados y sometiéndolos al proceso de enunciación, que los libera de su carga erótica y los restringe a la sublimación. También retoma, amplificando sus efectos, el procedimiento propio del sueño, que es la herramienta de trabajo del luto. El texto intenta examinar en detalles las operaciones específicas de este procedimiento, en particular las diferentes desconexiones (significante/significado, contenido ideacional/envoltorio conceptual) y las transposiciones incesantes de las mociones de deseo entre lenguaje de imagen y lenguaje verbal.

Palabras clave: renuncia; sueño; tratamiento analítico; objeto edípico; relación de objeto; interpretación analógica; direccionamiento; lenguaje de imagen; lenguaje verbal.


 

 

Parece, o que é novidade, que a ciência alemã está tendendo a ficar mais familiarizada com a psicanálise. Talvez esteja, aos poucos, descobrindo sua verdade, com exceção, é claro, do complexo de Édipo, que necessita de um período de latência e da passagem de uma geração (Freud & Binswanger, 1995, p. 216).

Esse comentário, endereçado por Freud a Binswanger numa carta de abril de 1918, não é pessimista. Incorpora o fato de que a ciência psicanalítica avança enfrentando resistências, cuja força varia conforme a natureza de seus conteúdos. Entre estes, aquilo que concerne à natureza edipiana do homem suscita o mais forte repúdio, inclusive no seu próprio inventor, como veremos a seguir. A observação também admite a ideia de que só uma mudança profunda das mentalidades permitirá que as forças lógicas da mente acolham esses avanços. As noções de "latência", de "passagem de uma geração" referem-se a temporalidades menos lineares e mais trágicas do que um simples progresso dos conhecimentos e das técnicas. O desenvolvimento da psicanálise não está dissociado de uma transformação do humano.

A descoberta do complexo de Édipo impõe-se a Freud num contexto que poderíamos qualificar tanto de científico (ele já escrevera os Estudos sobre a histeria e está compondo A interpretação dos sonhos) quanto de transferencial, pois, nessa mesma época, mantém intensa correspondência com Fliess, com quem se entrega a uma autoanálise. Aliás, é por meio de uma carta a ele que podemos datar essa descoberta com precisão.

Em 3 de outubro de 1897, ele lhe escreve:

Só posso indicar que meu velho [seu pai] não desempenha nenhum papel ativo em meu caso [...], que minha geradora [sua babá] era uma mulher feia, mas inteligente [...], que me ensinou a ter uma opinião elevada sobre minhas próprias capacidades [...], que, mais tarde, minha libido voltada para a matrem foi despertada por ocasião de uma viagem feita com ela de Leipzig a Viena, em que certamente me foi dado vê-la nudam [...], que saudei a chegada de meu irmão um ano mais novo com maus sentimentos (2006, p. 339).

Nesse tempo de infância do Édipo, a figura dessa sexualidade infantil continua um tanto "sulpiciana" e alegre, seus objetos (uma mãe desejável, um velho pai) são familiares. À medida que a pesquisa penetra nas camadas profundas da alma e nas origens da psicogênese, essas figuras da libido edipiana irão se tornar mais sombrias e o próprio afeto revelará uma coloração nitidamente mais destrutiva. Não será este o ponto que irei desenvolver, e sim o fato de que é somente em 1924, 27 anos depois, que Freud voltará explicitamente a esse complexo, perguntando-se por que e como se produz seu declínio:

do que ele perece é algo que ainda não foi esclarecido; as análises parecem ensinar: devido às desilusões dolorosas que ocorrem [...]. Outra concepção dirá que o complexo de Édipo deve necessariamente cair porque o tempo de sua dissolução chegou, assim como caem os dentes de leite quando chega a vez dos dentes definitivos (1923/1992a, p. 27).

Causa espanto essa formulação falsamente fútil e irônica - "como caem os dentes de leite" -, que assimila a sexualidade edipiana a um pedaço da natureza.

A verdade é que o apego aos objetos edipianos é, no começo da vida, toda a sexualidade do infans (ela irá se ligar incidentalmente e de maneira mais ou menos importante à sexualidade do corpo que ela "perverte"). Essa sexualidade é totalmente estranha aos princípios vitais elementares; sua única preocupação é possuir o objeto, ser possuída por ele, gozar dele, e ela poderia representar, por excelência, o princípio do prazer, que, também ele, terá de desaparecer ante o princípio de realidade. É uma sexualidade alheia à razão, inconciliável com os ideais que definem o devir humano e que, no entanto, diferencia muito especificamente o homem dos outros seres vivos. Ela aparece nas origens da humanidade, na horda primitiva, e se transmite aos indivíduos de geração em geração. É também uma sexualidade polimorfa, inapreensível, que inicia e sustenta indiferentemente as correntes erótica, estética e religiosa da vida mental, e que só ganha forma e estabilidade ao cair sob o peso do interdito.

É, portanto, uma sexualidade ameaçadora para a vida por sua tendência sacrificial e que só se manifesta por meio das defesas que suscita; é uma fonte de confusão para o funcionamento do aparelho psíquico; seu declínio, bem como a renúncia aos objetos eleitos por ela, apoia-se incontestavelmente no trabalho de civilização: a proibição do incesto canaliza o afeto edipiano para os sistemas de parentesco e de filiação. Mas esse declínio também decorre de uma necessidade natural, donde, talvez, a comparação com a queda dos dentes de leite.

Destaco porque, para mim, é importante que uma hipótese tão revolucionária, descoberta pela psicanálise, tenha encontrado confirmação em outro campo científico, esta observação de Georges Bataille:

É a instabilidade das formas, percebida na regra do incesto, que fornecerá o modo de apreender um objeto tão móvel que pareceria inapreensível. Com efeito, curiosamente, o objeto do desejo sexual humano, o objeto que excita esse desejo, não pode ser definido de maneira precisa. Na sua forma, é sempre uma concepção arbitrária da mente e como que um capricho cerebral: no entanto, ele é universal! Só isso, a regra do incesto, universal, mas de modalidades variáveis, é que poderá torná-lo familiar para nós. O mundo erótico é, na sua forma, fictício, é o análogo de um sonho, e não há melhor maneira de se acostumar com essa esquisitice do que ver formarem-se os limites arbitrários de um mundo oposto, onde a sexualidade é proibida.

Também é verdade que, seja qual for a força dessa necessidade e a alienação com que essa atividade erótica ameaça o destino humano, o homem resiste a esse declínio e renuncia apenas parcialmente a seus apegos primeiros. É essa a fonte essencial da sua doença psíquica, bem como das múltiplas desordens que paramentam sua vida comum. Freud compara essa renúncia a uma mutilação: "Já a primeira fase da cultura, a do totemismo, implica a proibição da escolha de objeto incestuoso, talvez a mutilação mais profunda que a vida amorosa humana tenha sofrido no correr dos tempos" (1929/1992b, p. 290).

* * *

Ora, é sempre por causa do sofrimento infligido a eles por esses restos de apego edipiano que os pacientes nos consultam. Para além de suas particularidades próprias, que requerem procedimentos técnicos diferentes, todos os sintomas têm em comum conservar e satisfazer um certo quantum de libido edipiana. E entrarei frontalmente no meu tema afirmando que o tratamento deve sua força terapêutica e seu sucesso ao fato de que ele se inscreve nessa tradição da renúncia, que ele renova seu espírito.

Quanto às operações "naturais" de renúncia, tudo leva a crer que são complexas, desconfortáveis, dolorosas até, e muito lentas, e que se dão automaticamente, silenciosamente, sem a intervenção da consciência (a consciência seria, antes, uma consequência de seu declínio). O mesmo deve ocorrer, portanto, quando esse declínio é retomado na análise: o que, no tratamento, trabalha em prol da renúncia exige a penumbra da inconsciência, ainda que tais operações se deem por intermédio da língua, parente tão próxima da consciência e da reflexividade; o paradoxo é que a língua é aí convocada em sua mais extrema materialidade.

O que trabalha em prol da renúncia exige do analisando e do analista uma submissão absoluta à expressão dos processos inconscientes que, em seu tempo, trataram a libido edipiana. É esse trabalho do tratamento, explicitado apenas lenta e tardiamente (e pertencente à modernidade na história do pensamento clínico), que quero explorar, tanto no tocante às forças e aos automatismos que ele põe em jogo quanto no tocante a suas implicações transferenciais e contratransferenciais. Esses processos inconscientes trazem a marca dos processos primários na sua vertente criativa, o que mostram estas linhas de Freud relativas ao processo em jogo no sonho:

Mas o que torna o sonho tão inestimável para nossa compreensão das coisas é o fato de que o material inconsciente, ao penetrar no eu, traz consigo seus modos de trabalho. Isso quer dizer que os pensamentos pré-conscientes nos quais encontrou sua expressão são tratados, durante o trabalho de sonho, como se fossem partes inconscientes do isso, e no outro caso, o da formação do sonho, os pensamentos pré-conscientes que foram buscar o reforço da moção pulsional inconsciente são rebaixados ao estado inconsciente [...]. O trabalho onírico é, portanto, essencialmente, um caso de elaboração inconsciente de processos de pensamento pré-conscientes (1940/2010, p. 257).

* * *

Outro eixo de minhas colocações será estabelecer a proximidade entre o trabalho do tratamento e o trabalho do sonho, a proximidade de suas implicações e de seus efeitos. Tal como o tratamento, mas de maneira espontânea, natural, o sonho retoma a renúncia não realizada aos objetos edipianos. O sonho estaria naturalmente a serviço de um remanejamento da economia psíquica, uma função que extrapola a simples realização do desejo, e que Freud também descobre tardiamente em "Além do princípio do prazer". Mas, inversamente, também podemos dizer que o tratamento desenvolve de modo metódico e em grande escala essa propriedade do sonho, e a experiência mostra que a conjunção desses dois processos, o do sonho e o do tratamento, amplifica suas respectivas capacidades. Sabemos em que medida, no desenvolvimento do pensamento freudiano, as explorações do enigma do sonho e do trabalho psicoterapêutico do tratamento foram solidárias e se enriqueceram mutuamente.

Podem-se inferir daí algumas operações próprias do tratamento, mas que nele permanecem ocultas, operações que o sonho desvela mais abertamente. Em geral, o sonho é breve, sua totalidade é fácil de abarcar, ao passo que o tratamento opera na lentidão e na repetição. O conteúdo do sonho é intensamente compacto, muitas vezes da ordem da fulgurância, e, sobretudo, ele conjuga o jogo de imagens próprio do sonho sonhado (o sonho como processo) e o relato, que é sua lembrança. O sonho opera, portanto, em dois tempos, ali onde o tratamento permanece sujeito à continuidade.

Esse discurso do sonho, ou sobre o sonho, é narrativo (ele pretende dizer o que aconteceu) e, ao mesmo tempo, está a serviço da censura psíquica e deforma algumas de suas partes, mas preenche uma terceira função sobre a qual gostaria de insistir, uma função que o aproxima muito estreitamente da função que o método analítico atribui ao discurso associativo: qual seja, que suas palavras e sua gramática leem as imagens, decifram suas significações e seus referentes. Por meio do desenvolvimento do tratamento, a imagem do sonho se abre, por exemplo, para a memória infantil - ela tenta figurar, de forma indireta, mediante uma representação retirada da atualidade perceptiva, um objeto interno herdeiro dos primeiros apegos; em seguida, as palavras do relato que refere essa imagem tentarão, por sua vez, decifrar o tipo de correspondência que liga esse objeto interno, abolido quanto à sua figura, a seu representante perceptivo.

Pierre Fédida (1985) propôs a ideia de que um trabalho de memória da fala continua o trabalho de memória da imagem. O relato de sonho de um paciente evocou a pessoa real que ali figura; depois, mais cedo ou mais tarde e como que incidentalmente, associa com um personagem da infância - o pai, por exemplo. A interpretação que compete ao analista fazer impõe-se a ele, que indica ao analisando que "o homem no sonho seria uma alusão ao pai", assim como a partitura musical impõe ao pianista seu dedilhar. A interpretação não repousa numa adivinhação; opera aqui sobre uma física da fala1, que dispõe seus significantes segundo as relações que possam manter com as formações do inconsciente.

Recorro a essa metáfora da técnica pianística para compensar uma carência: é muito difícil fazer aparecer essa função do discurso, pois significa cometer em relação a ele uma pequena traição, uma espécie de sacrilégio - pois equivale a postular que o discurso não diz, mas faz. Devo reconhecer a verdade dessa conclusão da experiência, embora seja uma colocação que me é dolorosa. Talvez seja o que acontece com qualquer colocação consequente no campo da teoria. Freud chamou a metapsicologia, no momento em que ela se impôs a ele, de "filha de minhas noites e de minha dor". Temos, portanto, de admitir que a associação que assim opera nessa forma de discurso rompe com a enunciação; ela é decifração.

A expressão poética que, como o sonho, conjuga, no mesmo movimento, atividade de imagem e de fala oferece-nos um exemplo dessa função leitora da fala: o poema intitulado "O rei dos elfos" (Goethe, 1995, pp. 400-403) põe em cena a tragédia de uma criança, em agonia, debatendo-se entre um pai desesperado para salvá-la e a figura aterrorizante, persecutoria, de um objeto interno, o rei dos elfos, chamando-a para a morte. O menino alerta o pai, quer partilhar com ele sua alucinação: "Você não vê, pai, o rei dos elfos?" A versão alemã desvenda o procedimento poético empregado por Goethe invertendo, imperceptivelmente, a ordem das palavras na frase, como que para informar o leitor que pai e rei dos elfos são uma única e mesma pessoa. Ele escreve: "Siehst Vater, du den Erlkonig nicht?", descartando o pronome sujeito do verbo, que deveria estar imediatamente depois deste na forma interrogativa (o certo seria dizer: "Siehst du, Vater..."), e deslocando-o entre o qualificativo e o complemento de objeto, o que se traduz assim: "Você não vê, pai, você o rei dos elfos?"; em outras palavras: "Você não vê, pai, que é você o rei dos elfos?".

Não se trata de uma licença poética, mas de uma construção semântica que faz a poesia. O mesmo trabalho sobre a estrutura semântica do discurso faz a fala do sonho e a fala associativa. Temos de convir que o tratamento nos põe em presença de uma fala estranha para nós e que essa fala é a única mediação de que dispomos para conhecer a fonte inconsciente da imagem; é essa função do relato cuja escuta privilegiamos.

No tratamento, ao contrário do sonho, essas duas operações da imagem e da língua estão temporalmente disjuntas, mas continuam igualmente solidárias. Depois de uma interpretação, por exemplo, o paciente se cala por muito tempo; devemos pensar, já que a mente nunca fica inativa, que ele está absorto num intenso trabalho de imagens. Quando retomar a palavra, escutaremos seu discurso associativo como estreitamente ligado a essa experiência interior, que poderia ser definida como sonho dentro do sonho, a regressão própria da experiência analítica somando-se à da experiência onírica. Poderemos, então, inferir as imagens que o processo transferencial, mediante o silêncio, gerou. Pois, nesse contexto, estamos no coração da experiência transferencial, que é o analogon do processo de sonho. O material perceptivo recolhido pelo paciente concernente à pessoa do analista, seu hábitat, seus hábitos, é moldado pelo processo primário, tal como o pintor trabalha sua tinta, para figurar o objeto edipiano ao qual a atividade erótica infantil, despertada pela experiência, não renunciou.

Entre o desaparecimento "formal" do objeto, por ocasião do recalcamento, e seu lento reaparecimento, por meio da transferência, entre ausência e presença, história e fantasia, esse coração da experiência analítica está marcado por uma estranheza à qual ambos os protagonistas têm de se acomodar, assim como têm de se acomodar à sua luz crepuscular. Isso evoca a bela fórmula de Paul Claudel tentando qualificar a emoção suscitada pelos retratos de Rembrandt: "Esses homens, essas mulheres, travaram conhecimento com a noite, voltam a nós [...] completamente banhados de uma luz emprestada da memória" (1935, pp. 78-79).

Uma fantasia de desejo inconsciente se atualiza na cena da transferência e, portanto, se realiza e sofre extemporaneamente uma simbolização.

* * *

Podemos, devemos nos espantar com o fato de que uma repetição do infantil se transforme logo em representação, e isso segundo um movimento que tem toda a aparência de um automatismo. A solução desse enigma, no cerne da criatividade do processo primário, poderia ser dada pela natureza híbrida da operação que determina o nascimento da representação: uma representação se constrói a partir de um traço perceptivo pré-consciente (composto de uma imagem sensorial e um envoltório de linguagem), ao qual se junta um traço mnê-mico inconsciente (que perdeu, ou não recebeu, inscrição psíquica) e uma moção de desejo que permaneceu prisioneira de sua fonte edipiana. Esta última contribui com sua energia animando psiquicamente a representação, e o percepto lhe dá uma forma, orientando sua eficiência. Se for preciso, o envoltório linguístico do traço mnêmico se liga ao do percepto.

Assim, a ligação de uma formação inconsciente com um percepto, que cria a imagem mental, conjuga, sob risco de colisão, uma atividade perceptiva virtualmente aberta para toda a questão do conhecimento e uma fantasia de desejo voltada para a imediata descarga erótica, duas atividades totalmente opostas quanto a seu espírito e a sua economia. Ela conjuga, sob risco de embaralhar suas fronteiras, o mundo mais objetivo e o mundo mais íntimo, o do autoerotismo. Faz enfrentarem-se afeto e forma. O misto assim produzido não tem equivalente na natureza: a representação é pura criação psíquica. O sonho e o tratamento são ateliês que garantem sua fabricação.

Desse ponto de vista, exige-se de nós examinar as condições contratransferenciais capazes de dar a essa produção toda a sua amplitude.

* * *

A separação entre a representação sexual e seu afeto, e a conexão deste com uma representação que lhe convenha e não seja inconciliável são processos que se dão na consciência. Apenas podemos supor sua existência, mas nenhuma análise clínico-psicológica o pode demonstrar (Freud, 1894/2005, pp. 10-11).

É essa a via que conduz ao declínio do complexo de Édipo, segundo Freud, quem insiste aqui tanto na inconsciência desse processo quanto na necessidade, para apreendê-lo, de construir uma especulação metapsicológica. Aprofundada, essa mesma especulação deverá admitir que a passagem de uma representação a outra (entenda-se, de um objeto edipiano a um objeto da realidade) será garantida pelo jogo dos significantes. Por isso, o recurso à noção de objeto é indispensável para a compreensão desse processo, que pode in fine resumir-se à substituição de um objeto pertencente à realidade exterior por um objeto interno, que pode ser uma representação. O processo vale como uma espécie de excreção do objeto edipiano.

O desvio a que recorremos, passar pelo sonho para compreender o trabalho do tratamento, soma-se, portanto, ao desvio que a língua nos impõe para ter acesso ao inconsciente. Um terceiro desvio, pela teoria da relação de objeto, nos é imposto, desde que se incluam a instância do isso, de onde partem os investimentos passionais e sacrificiais do objeto, e a instância do eu, que neutraliza sua violência e se encarrega de parte do fardo edipiano sob a forma do narcisismo e da autoridade do supereu. Sinto-me um pouco inquieto ao enfatizar tanto essa noção, como se afirmasse que essa estrutura fantasística, essa estrutura de desejo, representa a matriz organizacional do aparelho psíquico: uma moção de desejo (abrindo para o autor da fantasia a via da subjetividade) erige uma representação como seu objeto "erótico" e, a partir desse esquema basal, instaura no mesmo movimento uma experiência de satisfação de tipo alucinatória e o modelo de um estar no mundo, de uma relação objetal do sujeito com seus mundos externos.

Essa insistência na relação de objeto não visa a uma redução da teoria analítica, que, como sabemos, é muito extensa e pede uma abordagem multifocal. É simplesmente que, nesse ponto, a exigência teórica de uma representação abstrata do funcionamento psíquico e a exigência clínica de dispor de uma ferramenta que explicite o efeito psicoterapêutico do tratamento convergem por completo. A noção de relação de objeto ocupa, pois, o cerne do que Jean Laplanche designou como "intricamento teorético-prático", instaurando o tratamento como "lugar pulsional ou sexual puro" (1987, pp. 149-153). E é possível, e até provável, que tal teoria seja inspirada ao analista por sua formação e também lhe seja transmitida, no próprio coração da experiência, por uma certa aptidão de seu discurso interno para captar, para além dos sentidos, a realidade do mundo. Ocorre-nos então esta observação de Freud:

Tanto aqui como ali [qualquer outra ciência da natureza], a tarefa consiste em pôr a descoberto, por trás das propriedades (qualidades) do objeto de pesquisa diretamente dadas por nossa percepção, uma outra coisa, que depende menos da relatividade de nossos órgãos sensoriais e se aproxima mais do que se presume ser o real estado das coisas. [...] O ganho proporcionado pelo trabalho científico que parte de nossas percepções sensoriais primárias consistirá em penetrar nas correlações e relações de dependência existentes no mundo externo e que podem, de maneira mais ou menos confiável, ser reproduzidas ou refletidas no mundo interno de nosso pensamento, e cujo conhecimento nos torna aptos a "compreender" algo no mundo externo, a prevê-lo e, eventualmente, a modificá-lo. É de maneira totalmente semelhante que procedemos em psicanálise (1940/2010, p. 294).

Entende-se nessa formulação de Freud uma primeira definição do pensamento metapsicológico, pensamento visionário transmitido ao analista por sua experiência contratransferencial. É no texto "Bate-se numa criança" que Freud explicita mais claramente essa concepção do funcionamento psíquico: a fantasia infantil e erótica "sou amado pelo pai", conservada e facilmente reconhecível na sua versão regressiva masoquista como "apanho do pai", organiza definitivamente a vida sexual de alguns pacientes, ou uma certa vida sexual de qualquer paciente.

Alegra-me encontrar sob a pena de Walter Benjamin, e proveniente de uma experiência literária finalmente próxima da experiência analítica, uma conclusão análoga:

A tristeza (Trauer) é a disposição mental em que o sentimento dá uma nova vida, como uma máscara, ao mundo deserdado, a fim de desfrutar, ante sua visão, de um prazer misterioso. Todo sentimento está ligado a um objeto a priori e sua fenomenologia é apresentação desse objeto [...]. Pois os sentimentos, por mais vagos que possam parecer à introspecção, correspondem, como comportamento motor, a uma estrutura objetal do mundo (Benjamin, 1985, pp. 150-151).

E é verdade que nas camadas profundas da vida psíquica, poupadas, pelo recalque ou pela clivagem, da obra transformadora da renúncia, da sublimação e das diversas transposições de pulsões, nessas camadas às quais o processo transferencial e onírico oferece um novo palco de ação, é de fato essa estrutura de desejo que absorve, de maneira exclusiva, o interesse do sonhador ou do analisando. Quer ele pense em imagens (ou seja, sonhe, diria o senso comum), quer ele fale, é a esse objeto, personificado no personagem do sonho ou na pessoa do analista, que ele se dirige e se oferece por inteiro.

Essa problemática da transferência, na medida em que autoriza a figuração pelo analista de um objeto edipiano, chama a que se faça uma distinção entre personificação, disfarce e identificação. Tomemos o exemplo do Hamlet, de Shakespeare. Qualquer um, desde que não esteja preocupado em convencer seu ouvinte, pode encarnar grosseiramente o papel desse herói emprestando-lhe sua voz e seus traços. Para figurar fielmente o personagem que o autor extraiu de sua inspiração, para desvendar suas dúvidas, seu desamparo e a humanidade trágica de que ele é símbolo, é preciso todo o talento e o enorme trabalho de um ator profissional, e nem todos o conseguem. Mas para identificar o personagem histórico a que Shakespeare recorreu para sua criação poética, bem como os motivos pessoais que o sustentaram nessa criação, é preciso um trabalho bem mais longo de erudição, de historiador, que ninguém até hoje alcançou definitivamente.

O reconhecimento do objeto que estrutura a fantasia organizadora da trama transferencial ou onírica passa por essas três etapas, que obedecem, cada uma, a operações diferentes. A imediatez da transferência, assim como do sonho, evoca magicamente, mas aproximativa e fugidiamente, o objeto; a segunda etapa, que se desenvolve na duração e na repetição das sessões e dos sonhos, e pela multiplicidade das tentativas e retomadas, constrói uma representação do objeto que pretende se aproximar de sua verdade originária. O trabalho de rememoração, que anima de maneira contínua o desenrolar do tratamento, tende a reencontrar e a reconstituir, de modo mais penoso e sempre tardio, as circunstâncias históricas que presidiram a escolha do objeto e, sobretudo, as condições traumáticas que determinaram sua interiorização como objeto interno. Freud reconheceu esse poder de rememoração no sonho em primeiro lugar; em A interpretação dos sonhos, ele escreve:

A memória do sonho abarca muito mais coisas que a do estado de vigília. O sonho traz de volta certas lembranças esquecidas pelo sonhador, que lhe eram inacessíveis no estado de vigília [...]. Além disso, o sonho traz à tona conteúdos que não podem provir nem da maturidade nem da infância esquecida pelo sonhador. Devemos considerá-los uma parte da herança arcaica que a criança, influenciada pelo que seus ancestrais viveram, traz consigo ao mundo, antes de toda experiência própria (Freud, 1940/2010, pp. 256-257).

* * *

É a segunda etapa desse trabalho de figuração que irá nos interessar primeiramente, porque, a meu ver, é uma das proposições mais significativas da prática analítica atual. A interiorização do objeto, sua elevação ao estado de res cogitans, sua representação, não é de mesma natureza conforme seja efeito de um recalque, que lhe conserva sua tópica de objeto, exterior ao eu, contentando-se em alterar sua forma, sua figura, ou seja efeito de uma introjeção, que lhe retira sua exterioridade, sua objetalidade, identificando-a ao eu. Mas as consequências que essas operações acarretam no plano psicopatológico não são tão diferentes.

No caso do recalque, a representação - que se torna irreconhecível pelas transformações a que foi submetida regressivamente pelo afeto edipiano (a transformação, por exemplo, da figura do pai na do rei dos elfos) - vale como substituto pleno do objeto exterior, comanda as condutas e as emoções, escapa pontualmente ao juízo de realidade que exigiria sua conformidade a um modelo externo, ao objeto de origem; tendo se libertado de sua fonte perceptiva, ela se tornou pura imago. Ocorre aí um desligamento da dupla constituição pulsional e perceptiva da representação, tal como a vimos em operação no sonho e no tratamento, e tal que podemos pensar que esses dois processos a restaurarão.

No caso da introjeção, a dissolução do objeto no eu equivale a sua abolição e a sua participação, como o eu e em concorrência com ele, no controle da motricidade, da percepção e da consciência. O supereu é o modelo desses objetos: ele é um objeto estritamente interno, que rompeu de maneira irreversível qualquer vínculo ou filiação a um objeto real, evoluindo de modo independente dele e permanecendo, paradoxalmente, estranho ao eu, fora dele. Nessa perspectiva, que só leva em conta a tópica psíquica, indagamos como a língua, no tratamento, pode mudar alguma coisa. Embora não a tenha resolvido, Freud se preocupava com essa questão: numa carta a Jung, fala de uma "direção na qual ele também pesquisa, o arcaico regressivo que ele gostaria de dominar melhor por meio da mitologia e do desenvolvimento da linguagem" (1975, p. 381).

Mas o que essas operações também têm em comum é garantir ao objeto edipiano sua conservação, sua "indestrutibilidade", esclarece Freud. A perda da realidade, pontual no que concerne ao recalque, claramente mais maciça com a clivagem, com a desfiguração do objeto indo até sua radical negatividade na introjeção melancólica, tem in fine como efeito entravar parcialmente o declínio da atividade edipiana, sustar a necessária substituição do objeto incestuoso por um objeto pertencente ao mundo externo.

* * *

Proponho-me a examinar agora, mais precisamente, algumas das operações realizadas pelo sonho e pelo tratamento, tentando extrair as qualidades, ainda pouco conhecidas, do processo primário que põem em jogo. A refiguração do objeto, deformado pelo recalcamento e pela regressão, ou abolido no seu destino de introjeção, é o que primeiro se impõe a nós, pois parecería que essa figuração é a condição de um desinvestimento de sua carga edipiana, a condição de sua dessexualização. Só é possível renunciar a um objeto figurado, reconhecido quanto a suas origens e nomeado. Essa seria a lei que condiciona o declínio do complexo de Édipo, e é por meio desse trabalho de figuração que o tratamento concorre para isso.

Essa figuração procede por tentativas, como um pintor que se entrega a esboços antes de "capturar" [tenir], como dizia Cézanne, definitivamente seu motivo. Cada sonho, cada sessão, tal como os dias enlutados de Penélope esperando o retorno de Ulisses, submetem ao tear da figuração "a sombra do objeto", a repetição que aqui desvela sua figura positiva, restauradora. Trata-se de ligar uma certa formação inconsciente, despertada pelo desejo, a um percepto atual que tenha com a primeira uma afinidade qualquer.

Mas a ligação do traço mnêmico ao percepto atual supõe que este tenha sido despojado de seu equipamento significante, ou seja, de tudo aquilo por meio do qual, na esfera cognitiva do pensamento, ele é reconhecido e nomeado; pareceria que o processo do sonho não se serve passivamente do material perceptivo à sua disposição, mas que o trata previamente; uma parte do trabalho do sonho, anterior à figuração, é dedicado a esse tratamento; é um despojamento temporário, que dura apenas o tempo que dura a imagem assim realizada. Quando essa ligação se desfaz, a imagem se dissolve. É assim que os sonhos são esquecidos e, provavelmente, é também assim que se esquece o que ocorre no tratamento. O percepto voltará, então, a encontrar seu equipamento semântico, aumentado de uma nova significação. Um efeito indireto, adicional, a posteriori, dessa operação de figuração é o incremento da massa pré-consciente, pelo menos de sua carga polissêmica, em detrimento da substância inconsciente. É inútil precisar que são mudanças infinitesimais, raramente observáveis, impossíveis de medir, mas que temos de inferir.

* * *

Outro tipo de transformação afeta o objeto representado pela imagem. Se, por sua feitura, esta se aproximar um pouco, mas o suficiente, da verdade daquele, se ela se oferecer para "representá-lo", mesmo que seja pontualmente, então algo de sua carga edipiana seca. Pensemos na fórmula que veio à cabeça de Freud a respeito do tratamento da histeria: "Flavit et dissipati sunt" (2006, p. 280)2. Desvelado, o objeto perde brilho e força de atração. Como o templo garante ao deus sua potência sagrada, as criptas psíquicas garantem ao objeto edipiano sua indestrutibilidade, sua força assustadora e seus efeitos patogênicos. Eliminadas essas condições, essa força perde vigor. Nada impede de pensarmos que essa força sagrada do objeto interno vê-se agora substituída por uma certa qualidade estética de sua lembrança. A lei de Lavoisier segundo a qual "nada se perde, nada se cria" vale para a libido edipiana, cujo declínio se confunde com sua sublimação espiritual (cf. Rolland, 2006).

Contrariando as aparências, não há nada de mágico nesses efeitos do sonho e da imagem. Pacientes que terminaram sua análise e passam por um luto recente retomam um tratamento para sonhar e se livrar da dor. É esse poder performativo da língua que constitui a força da análise. Freud não sabia disso.

É interessante notar que o sonho, quando reativa as tramas de desejo ligadas ao objeto, desperta, nas instâncias conscientes e defensivas do aparelho psíquico, que nunca ficam totalmente adormecidas, angústia e dor (angústia relacionada com o caráter alienante dessa sexualidade; dor ligada à perda que essa trama tinha negado). A secagem, a dessexualização tratam essa dor, reconciliam essas instâncias com um processo que, primeiro, as desestabilizou. Estabelece-se, assim, entre o processo do sonho e a funcionalidade geral do aparelho, uma relação complexa e conflituosa, feita de aversão e de aceitação, que condena esse processo à efemeridade e o obriga a privilegiar a fulgurância. Para que ela ocorra, o eu do paciente tem de suspender sua atividade e deixar o campo livre para as operações de ligação/desligamento próprias do processo primário. A margem de manobra do analista também é estreita: ele tem de se apagar diante de seu objeto, suspender sua atividade egoica e submeter seu trabalho interpretativo ao ritmo e aos desafios desse trabalho da figuração. O "pensando em" com que geralmente formulo minhas interpretações apenas visa a acompanhar ou a rematar esse movimento da figuração.

Dou um exemplo. Um paciente escutou recentemente "sexo" no seu nome, significante este que, de fato, ocupa a metade de seu sobrenome; imediatamente lhe ocorre uma súbita interrogação sobre o sentimento de insatisfação que colore todas as suas experiências e seu discurso obstinadamente queixoso. Até ali, esse sentimento lhe parecia natural, "a consequência normal de sua vida igualmente miserável", diz ele. "Curioso isso...", acrescenta, com uma voz surpreendentemente grave. Depois pensa num sonho em que uma jovem mulher o informa que ela se prostitui para comprar roupinhas de marca para seu bebê. Ela tem um rosto triste. Suas admoestações morais fazem com que ela o deixe. Ele se recrimina: que mal há em ela fazer o que lhe dá prazer, mesmo que seja contrário a toda razão?! Eu digo: "Mesma ideia de 'contrário a toda razão', prostituir-se por roupinhas de bebê". Várias analogias retomam a ideia do sentimento de insatisfação. Digo: "É pensando nisso o rosto triste da prostituta do sonho". Ele pensa então no discurso moralista com que seu pai o atormentava interminavel-mente no seu quarto, à noite, a respeito de seus resultados escolares ruins. "Portanto, seria uma alusão a você mesmo, a jovem mulher do sonho, e ao seu pai, você nesse sonho". O des-velamento do objeto edipiano acarreta ipso facto o desvelamento do tema da fantasia. Pela primeira vez, o curso pesado, repetitivo, dessa já longa análise se inverte.

***

Assim entendido, o trabalho de figuração próprio do sonho também poderia ser a operação que sustenta o trabalho do luto e se opõe ao sepultamento do objeto para sua conservação melancólica. Existem muitas analogias entre esses três processos: do sonho, do tratamento e do luto. Compreende-se então que, independentemente das resistências quase físicas, ligadas à natureza inconciliável dos sistemas do eu e do isso, que limitam o desenvolvimento natural do declínio do complexo de Édipo, uma recusa ativa, de natureza afetiva, pode entravar esse processo, como Penélope desfaz de noite o que teceu de dia; é o que se observa nas análises difíceis, nas quais os pacientes consideram a conservação do precioso objeto edipiano essencial para a sua própria sobrevivência e opõem ao tratamento o que o analista, irritado, chama de reação terapêutica negativa. Em A câmara clara, Roland Barthes fala de sua mãe e de seu luto impossível:

Dizer diante de uma tal foto "é quase ela" era-me mais dilacerante que dizer diante de tal outra "não é de modo algum ela". O quase: regime atroz do amor, mas também estatuto decepcionante do sonho [...]. Com frequência sonho com ela [...], mas jamais é inteiramente ela: ela às vezes tem, no sonho, alguma coisa de um pouco deslocado, de excessivo: por exemplo, jovial ou desenvolta - o que ela jamais era; ou ainda, sei que é ela, mas não vejo seus traços [...]. Sonho com ela, eu não a sonho (Barthes, 2002, p. 843, itálicos do autor).

O autor percebe com acuidade e expressa muito bem a função de desenlutamento garantida pelo sonho, que, por isso, suscita sua aversão, sonho de que o aparelho psíquico teve, mais ou menos tardiamente, de se dotar para liberar o ser da sujeição a seus objetos primeiros.

***

O trabalho de figuração, o papel da imagem são predominantes no que concerne ao levantamento do recalque. O tratamento da introjeção do objeto no eu exige uma operação, agora da fala, em sua aptidão para diferenciar as instâncias do eu e do objeto, instaurando ou reinstaurando o diálogo amoroso necessariamente inscrito desde o começo na trama de desejo, diálogo congelado com a elevação do objeto à posição de supereu. É uma operação difícil de compreender e de explicitar; não fomos muito longe nessa via. É uma operação que aparece tardiamente na análise, quando muitos dos problemas foram resolvidos e nos perguntamos por que o paciente continua seu tratamento. Entendemos, então, que um trabalho subterrâneo se produz, espontaneamente, por meio do enquadre, de sua continência e de uma criatividade específica do discurso. Eu digo "trabalho do discurso", na verdade, mais precisamente, de sua função gramatical, que restabelece um "você" a partir de um "eu", não originário, mas produto secundário e híbrido de uma identificação, e muito pouco diferente, no seu anonimato, de um "ele". Infere-se disso que a introjeção procede, no nível semântico, por abolição das estruturas gramaticais que opõem um eu a um objeto. Com a fala associativa, há, portanto, a instauração de uma distância que estende o espaço psíquico, arquiteta-o de maneira diferente, assim como a perspectiva abriu o quadro para a sua profundidade, e é um benefício considerável para o pensamento, além de ajudar a entender por que certos pacientes prolongam por tanto tempo o tratamento.

A expressão poética pode nos esclarecer a esse respeito. Gosto da poesia, mas não é ela que me interessa aqui - é a palavra poética no que, por sua natureza e seu desenvolvimento, se aproxima da essência da palavra analítica e a esclarece.

Pauca meae, que se pode traduzir por "Alguns versos para a minha", é o quarto livro das Contemplações; foi dedicado por Victor Hugo à morte de sua filha Léopoldine e ao seu luto. Contém duas dezenas de poemas dispostos em ordem cronológica e cuja escrita estendeu-se por uma dezena de anos. Nele podemos seguir o caminho trilhado pelo poeta na via do luto, desde a prostração inicial e sua tentação melancólica ditas nos seguintes versos...

Parecia-me [...]

Que eu a ouvia rir no quarto ao lado,

Que era impossível, enfim, que ela estivesse morta,

E que eu iria vê-la entrar por esta porta!

(Hugo, 1973c, p. 214)

até o poema final, que assume, na dor, a separação e encerra o trabalho do luto:

Agora, ó meu Deus! que tenho essa calma sombria

De poder doravante

Ver com meus olhos a pedra onde sei que na sombra

Ela dorme para sempre (Hugo, 1973a, p. 227)

Impressiona nessa obra que, no começo, a querida morta - cujo nome, aliás, nunca aparece - é evocada exclusivamente na terceira pessoa, como mostram estes versos do primeiro poema:

Oh! Quantas vezes eu disse: Silêncio ela falou!

Vejam! Eis o ruído de sua mão na chave!

(Hugo, 1973c; itálico meu)

... à medida que o poema se desenvolve, aparece um modo dialógico exclusivo que culmina no poema que está na boca de todos:

Partirei. Vê, sei que tu me esperas.

[...] porei sobre teu túmulo

Um buquê de azevinho e de urze em flor.

(Hugo, 1973b, p. 226; itálicos meus).

Tal transformação de fundo do discurso deve se produzir na análise; ela nos escapa, se dá sem o concurso do eu, dos eus do analista e do paciente. Uma última palavra sobre isso: é provável que o que torne possível essa operação seja a distância irredutível que separa a transferência para o analista do endereçamento a este. Pela transferência, o objeto se encarna no analista e, naturalmente, induz a fala a se endereçar a ele. Por meio do endereçamento, o analisando fala com a própria pessoa do analista. Mas essa fala fala exclusivamente desse objeto, se confunde com ele. Temos, pois, o paradoxo de uma fala que fala com o objeto de quem ela fala, que mistura ambas as operações normalmente separadas, enunciação e representação, que diz e faz, um ser híbrido, uma criação da mente, reconciliando a intimidade do mundo interior com a comunidade que a língua traz em si. Se, pela interpretação, eu de fato designo o objeto em que pensa inconscientemente o paciente, então ele pode, de novo, dirigir-se a mim enquanto interlocutor atual e neutro. A libido vinculada a esse objeto alimenta ou passa a produzir uma fala nova. Assim é retomado incessantemente o processo associativo; assim o tratamento realiza o que Jean Laplanche denomina de neogênese da sexualidade. A recusação [refusement] que, do lado do analista, funda o método analítico culmina numa escuta que repara exclusivamente nos jogos dos significantes relacionados com a emergência das formações inconscientes. Essa recusação pertence à linhagem da renúncia: seleciona apenas a fala oriunda do desligamento afetivo e consecutiva ao deslocamento da representação. A essa capacidade natural da língua, desvelada com a descoberta da associação livre, mas que permaneceu desconhecida para seu inventor, o tratamento deve sua eficiência.

* * *

Quer seja desde A interpretação dos sonhos, quando ele hesita entre as designações de Übersetzung ("tradução") e Übertragung ("transferência") para denominar as transformações dos pensamentos do sonho em imagens, ou mais tarde, no artigo "A negação", parece que Freud tinha em mente, sem explicitá-la, a ideia de que o processo primário em ação nessas duas atividades mentais, o sonho e o tratamento, tinha o poder de desligar, de separar um conteúdo ideativo de seu invólucro expressivo. Por exemplo, em "A negação", a propósito do famoso "Minha mãe, não é ela", Freud escreve: "Damo-nos a liberdade, por ocasião da interpretação, de fazer abstração da negação e de extrair o puro conteúdo da ideia incidente" (1925/1992c, p. 167).

A palavra "transposição" convém a esse comércio que permite a um conteúdo ideativo ligar-se ora à linguagem de imagem, que lhe oferece seu poder de presença e de consolação até a alucinação, ora à linguagem verbal, que lhe dá, ao contrário, seu poder de negação e sua força de abstração. Conforme ela seja de natureza semiológica ou semiótica, a expressão trata diferentemente o conteúdo ideativo, e percebe-se todo o benefício que, sob o controle do princípio do prazer, sonho e tratamento podem tirar disso para a gestão do sofrimento psíquico e a obra de dessexualização. Essa desconexão abre para a instauração de uma nova corrente na relação significante/significado: ela acrescenta à corrente comum, na qual um significado chama um significante, uma corrente retrógrada, que liga ao significante, despojado de seu significado tradicional, um significado "inconsciente" condenado à negatividade.

Podemos avaliar aqui o caminho percorrido: na primeira época de sua investigação -estou pensando no caso Emmy von N., dos Estudos sobre a histeria -, Freud procede à tradução do sintoma ou do sonho em linguagem verbal. O relato clínico nada mais é, então, que o "relatório", numa linguagem científica, do acontecimento analítico. O processo analítico contemporâneo privilegia o descolamento do sintoma e de seu conteúdo ideativo e a infiltração da língua por este último, uma transposição, não uma tradução. O sintoma perde, assim, toda consistência, tal como a pele velha abandonada pela cobra na muda.

Com efeito, a propósito da passagem de um modo de expressão a outro, não se pode falar de tradução, no sentido de que é impossível antecipar a maneira como um pensamento verbal aparecerá numa imagem e de que não é possível estabelecer um dicionário dessas correspondências. Estamos aí no campo da invenção, da criatividade, que só tem analogia com o trabalho poético. Assim, no sonho do "filho queimando", relatado no começo do capítulo 7 de A interpretação dos sonhos, o pensamento doloroso que anima o pai de ver o filho morto ainda vivo, segundo seu desejo, recebe consolo sob a forma de uma imagem que lhe mostra o filho de pé interpelando-o.

Mas a analogia entre sonho e tratamento, que nos foi útil, tem de parar aqui. Pois o sonho apenas transforma os pensamentos em imagens, creditando-lhes uma realização de desejo que tanto chamou a atenção dos primeiros analistas, a ponto de minimizar as outras consequências dessa operação. Ele não sabe fazer o inverso, reverter a imagem em discurso. É certo que o relato do sonho o faz, mas o relato do sonho é uma ferramenta exclusivamente da análise. "Ninguém", escreve Freud, "pode praticar a interpretação dos sonhos como atividade isolada; ela é uma parte do trabalho analítico" (1925/1992d, p. 178).

O tratamento, ao contrário, não cessa de jogar com essas transposições com o propósito de servir à figuração e à rememoração. Elas impõem ao analista uma escuta "focada", que se atém a reparar exclusivamente nas correspondências que se estabelecem de modo natural entre discurso e manifestações infraverbais. Pois a regra de dizer tudo convoca apenas a fala, ela é inoperante sobre as imagens que a transferência convoca. Dou um exemplo.

Devido a seus muitos compromissos profissionais, esse paciente falta a várias sessões, mas esse motivo real serve a uma fobia do contato, que interpreto metodicamente sempre que percebo um indício dela. Ele faltou a semana passada toda e conta seu sonho: um menininho põe seu sexo no seu ânus. Evoca a namorada de quem gosta apaixonadamente, mas que é também problemática; ele acha que ela tem com ele um comportamento infantil. Eu digo: "Uma alusão a ela esse menino". Isso o surpreende e o faz pensar imediatamente numa certa carícia que ela lhe faz quando fazem amor. Depois ele pensa que ela tem uma transferência paterna com ele, que ele deveria ser mais tolerante, mas que ele mesmo reproduz uma atitude infantil um tanto birrenta, quando exige presença, atenção, espaço demais dela. Digo: "Aquele menino também seria uma alusão a você". Ele avalia que a namorada tem prazer de estar com ele, mas que tem medo de sua dominação e, então, toma distância. Digo: "Seria a ideia oposta à da distância, a proximidade sexual do sonho, e seria também a ideia de tomar distância não vir a semana passada, portanto, seria também uma alusão a mim, o menino do sonho". Essa interpretação suscita uma agressividade contra mim ou um medo, que ele formula. Digo: "O medo de minha dominação". Pensa então na sua mãe, na sua autoridade, na sua possessividade...

O mesmo pensamento, relativo ao desejo e ao medo de uma dependência erótica, se manifesta sucessivamente na semiótica do gesto, do acting que consiste em não vir às sessões, depois na semiótica da imagem do sonho e depois na semiologia da linguagem. Essas múltiplas transposições permitem a exumação do objeto originário abolido: a mãe sedutora da infância.

***

O último ponto que gostaria de examinar, antes de concluir esta exposição, concerne a esse estado da língua que o tratamento nos dá a ver quando o conteúdo ideativo se destacou dela e ela continua a soar nas operações tão misteriosas da analogia, em que a significação se apaga em prol de jogos sintáticos como a repetição: um mesmo conteúdo ideativo repetindo-se em expressões verbais múltiplas, ou uma mesma expressão verbal referindo-se a conteúdos ideativos próximos, mas diferentes; esse uso aparentemente insensato da língua apoia-se em procedimentos comuns a ela - repetições desse tipo existem no princípio que rege a homofonia ou a sinonímia, mas aqui são objeto de um forçamento, de uma caricatura.

De onde vem essa língua assim desnudada, e que função, que certamente não é linguística, ela garante? Ela é sem dúvida transmitida junto com o pacote heteróclito da língua materna. Reduzida à horizontalidade dos significantes, liberta do vínculo vertical significante/significado, ela procede às articulações sonoras das palavras ou dos sistemas consonantais, às suas interversões e outras concatenações. Continua sendo uma estrutura, decerto abstrata, mas altamente organizada. Será ela essa estrutura própria da negação, que acompanha a enunciação, mas não se reduz a ela? Será ela essa face "latente" do discurso no qual focamos exclusivamente nossa escuta por causa do poder que ela tem de organizar a vida psíquica, e porque é por intermédio dela que nossas interpretações têm um efeito transformativo?

Para mim, foi uma descoberta surpreendente, que, para ser adquirida, exigiu toda uma vida, toda a herança de meus mestres e predecessores, todo o apoio de meus colegas, toda a inteligência daqueles que confiaram em mim para que eu os escutasse. Pois, assim como Émile Benveniste afirma que são os atos de fala cotidianos que desequilibram e transformam os sistemas linguísticos, podemos dizer que são todos os atos analíticos que obrigam a teoria a uma incessante transformação.

Essa descoberta, portanto, é tão surpreendente quanto os efeitos que ela não cessa de produzir in situ no cotidiano da prática. Como poderia eu ter previsto, por exemplo, que a depressão que afeta tal paciente estava relacionada com uma moção homossexual geradora de um conflito psíquico, descoberta tardiamente no tratamento por meio de um jogo de palavras em torno do significante "um outro homem"? Nessa sessão, ela diz que, para aplacar o conflito conjugal, ela quis almoçar com o marido, o qual, por sua vez, desistiu de encontrar com um amigo. Ele lhe falou de seus ciúmes, devidos ao fato de ela encontrar outros homens. Eu disse: "Mesma ideia de um outro homem, esse amigo" Então ela falou da homossexualidade do marido, depois da sua e da sua relação com uma mulher divorciada, com quem, se ela mesma se divorciasse, sem dúvida viveria. A possibilidade de falar dessa tendência sexual foi uma coisa nova e inesperada. Ao contrário do que eu pensava até então, o responsável pela cura não foi esse "tornar consciente", mas a supressão de seu contrainvestimento. O conflito conjugal e a depressão estão na continuidade direta das operações de linguagem que garantiam esse recalcamento e consistiam num congelamento de certo material semântico e no recurso a modalidades sintáticas particulares (dando a seu discurso um aspecto de maneirismo bastante pronunciado, interjeições, repetições e obstruções). Tudo isso de repente se fluidificou. A atribuição, por projeção, à pessoa do marido de sua própria homossexualidade, bem como sua convicção de que ele seria o agente responsável por sua dor e pela frustração de seu desejo feminino, tudo isso estava determinado por uma organização linguageira pouco conhecida, que a interpretação tornou subitamente caduca. Não nos enganemos sobre a aparente magia dessas "palavras" interpretativas: na sessão anterior, uma enésima briga com o marido, relatada por ela, fora vinculada por mim à transferência. Ela acusava o marido de querer que ela lhe fosse sexualmente submissa e tinha decidido não viajar com ele no mês de agosto. Eu mencionara, então, a ideia de que ela podia estar pensando na nossa separação das férias (que eu tinha acabado de lhe anunciar) e que ela também podia sentir-se submetida por mim. E que ela tinha pensado em mim ao pensar nele nessa briga. Então, ela deu a entender o quanto essa intervenção a aliviava. A mediação transferencial, que descola uma certa fixação do desejo ao objeto substitutivo e permite adivinhar, para que ocorra tamanha potencialidade de deslocamento, que é outro o objeto que está em questão, essa mediação transferencial, portanto, realizou previamente um trabalho que a segunda interpretação concluiu.

O conflito antigo e poderoso entre duas tendências libidinais, que o recalcamento pretendia tratar anulando uma delas, não foi magicamente pacificado pela interpretação. Esta só dissociou duas representações, cuja condensação garantia o recalcamento, o desejo homossexual de gozar e o fato de se separar do marido, que ela não sabia ser a condição da primeira. Ambas as representações recuperaram sua autonomia e integridade; é uma ampliação do espaço psíquico; o desejo homossexual vai poder recuperar sua trama e seu objeto que é, podemos antecipá-lo, a mãe.

Noto que a inspiração da interpretação relativa a um outro homem foi o legado freudiano e a fórmula "Eu não o amo, é ela que o ama". Mas o que inspirou Freud a construir essa bela fórmula talvez tenha sido apenas o poder que a linguagem tem de capturar o conteúdo das moções inconscientes. Na sua teorização, Freud poderia não ter procedido diferentemente de nós nessa sessão.

A interpretação transferencial, que também é analógica - "Vocêpensou em mim ao pensar no seu marido nessa briga" -, é exigida pelo deslocamento (cuja projeção é uma variante "dura" do fato da coerção à introjeção) e pela desativação parcial da função perceptiva da realidade, a qual leva o sujeito a só reconhecer no outro o que ele conhece de seu objeto originário. Por isso, o objeto transferencial virgem serve para capturar, por reflexo, indução, re-presentação, a figura abolida do objeto. A intensidade do afeto contribui para isso, mas também uma deiscência pontual entre a camada linguageira e a camada perceptiva.

* * *

Portanto, e se essa língua que o método analítico convoca fosse, como negação, a instância que comandou, na origem, o declínio do complexo de Édipo, a proibição do incesto, a instância responsável pelas operações do recalcamento, que separou um interior de um exterior, que controlou, nas moções de desejo, o que pode ser acolhido no eu e o que nele tem de ser recusado, negado?

A escuta dessa língua, seu tratamento pela fala associativa e pela interpretação modificariam sua economia e, por meio disso, modificariam a relação consciente/inconsciente que organiza o espaço psíquico, tanto sua arquitetura quanto sua significatividade.

 

Referências

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Correspondência:
Jean-Claude Rolland
1350 Route de Charnay, 69480
Morancé, France
jean.claude.rolland@wanadoo.fr

Recebido em 17.2.2014
Aceito em 18.3.2014

 

 

1 Tomo a expressão de Paul Éluard (1986), que se refere na sua arte poética a uma "física da poesia".
2 "Ele [Jeová] soprou e eles foram dispersados". Freud retoma a inscrição gravada na medalha inglesa cunhada para comemorar a destruição da armada espanhola.

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